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Olhares sobre o Medievo: fronteiras e problemas / Faces da História / 2015
O Dossiê dedicado aos estudos vinculados a Idade Média parece-nos que veio em boa hora, no sentido de firmar posição deste recorte espaço-temporal tanto no que se refere à relevância sobre os debates da medievalidade no campo da historiografia, como por valorizar a importância de se “fazer” e “ensinar” História Medieval no Brasil.
As assertivas acima apresentavam menor importância no cenário do país no momento em que o dossiê foi proposto, há quase um ano atrás. É certo que a história é encantadoramente dinâmica e está incondicionalmente ligada ao tempo presente. Assim sendo, nosso dossiê coloca-se em circulação hoje, em plena discussão sobre as alterações relacionadas ao ensino de história propostas em um projeto ligado ao Ministério da Educação (MEC), no qual se cria uma Base Nacional Curricular em que a Antiguidade e o Medievo são convidadas a se afastar das nossas salas de aula.
Desta maneira, postulamos que este dossiê se configura, não apenas como uma simples coletânea de textos, mas também como um grito de alerta quanto à importância da reflexão histórica sobre esse período. O roteiro de leituras que os artigos aqui publicados fornecem ao leitor, mostra a dinâmica destes estudos no que se refere a sua relação com problemas da sociedade contemporânea e o quanto esse exercício de alteridade pode contribuir para nossa formação social, cultural e política, posicionandose, portanto, de lado oposto a esta possível ingerência Estatal.
Partindo desta premissa, acreditamos que o dossiê “Olhares sobre o Medievo: fronteiras e problemas” tem por escopo apresentar ao leitor um amplo painel da História Medieval. Deste modo, a variedade de temáticas apresentadas pelos diferentes autores, possibilitam aos estudantes, pesquisadores, professores e demais leitores interessados, uma reflexão crítica, não apenas do processo histórico em questão ou de suas infinitas possibilidades de abordagem, mas também sobre a relevância de se manter tal campo da História no currículo escolar.
O artigo que abre o dossiê “O rei e a lei”, de autoria de Olga Pisnitchenko, faz uma análise acerca das relações entre realeza e direito medieval na Baixa Idade Média Ibérica. A partir de algumas reflexões em torno das obras jurídicas de Alfonso X, a autora realiza uma análise sobre a representação real a partir de três obras legislativas de Alfonso X: Fuero Real, Especulo e Siete Partidas. Em tais fontes podemos ver que o rei, apesar de ser apresentado tanto como o juiz e o legislador supremo, ao ser idealizado como persona publica, deve atuar sempre colocando em primeiro plano o bem do reino, e não sua vontade pessoal.
O segundo texto, de autoria de Rodrigo Prates de Andrade, intitulado “Repensar as muitas Idades Médias: os Estudos Medievais e a Historiografia Nacional”, voltase para a “eterna” questão do porque se estudar Idade Média no Brasil. O objetivo deste texto é problematizar um discurso corrente nas esferas acadêmicas nacionais e internacionais que atribui a Idade Média uma fase embrionária ou intermediária do processo histórico.
O terceiro artigo, “Aqui jaz Arthur: literatura arturiana no medievo e seu reflorescimento na Idade Contemporânea”, de Caio Fernando Flores Coelho, propõe analisar obras literárias chaves que criaram múltiplas versões da lenda arturiana durante a Idade Média, bem como, a retomada deste mote na Idade Contemporânea induzida, no século XIX, pelo Romantismo.
O quarto trabalho, de Vinicius Cesar Dreger de Araujo, que tem como título “Limites saxonicarum – Fronteiras militares na Inglaterra Anglo-saxônica e na Saxônia continental, séculos IX e X”, disserta sobre o conceito de fronteira como categoria para análise da Idade Média. O autor procura debater, dentro de uma perspectiva comparativa, as fronteiras militares estabelecidas entre os Anglo-saxões e Escandinavos na Inglaterra e as constituídas pelos Saxônios e Bávaros, contrapunha-se a Eslavos e Magiares entre os séculos IX e X.
O quinto texto, “Definindo Alteridade: um estudo sobre as noções de Raça e Etnia nas Siete Partidas e na Primera Crónica General de España de Afonso X”, de Carolina Ferreira de Figueiredo, propõe problematizar as noções sobre raça e etnia no período medieval. Para tal, a autora elegeu duas fontes documentais produzidas no tempo do governo de Afonso X, uma de cunho jurídico, a Siete Partidas, e outra de estilo cronístico, a Primera Crónica Generalde España. A escolha desses documentos e deste monarca se justifica pela intensa (e nem sempre pacífica) convivência entre cristãos, mouros e judeus no período estudado.
Como sexta produção do dossiê, temos o artigo “Entre a arte e a ciência: as visões sobre a cartografia medieval”, de Thiago José Borges. Neste trabalho, o autor disserta sobre as percepções e proposições que, em díspares contextos historiográficos, permearam o entendimento, a descrição e a sistematização dos testemunhos legados pela produção cartográfica medieval.
Finalizando nosso dossiê, apresentamos a entrevista com um dos mais importantes medievalistas brasileiros, o professor Hilário Franco Junior, que enriquece o debate em torno da produção científica sobre a relação entre medievo e a contemporaneidade, ao abordar por meio de um diálogo profícuo, temas ligados ao ofício de historiador, assim como questões voltadas diretamente ao panorama político e cultural brasileiro.
Ligia Cristina Carvalho
Pâmela Torres Michelette
Raquel de Fátima Parmegiani
João Paulo Charrone
CARVALHO, Ligia Cristina; MICHELETTE, Pâmela Torres; PARMEGIANI, Raquel de Fátima; CHARRONE, João Paulo. Apresentação. Faces da História, Assis, v.2, n.2, jul / dez, 2015. Acessar publicação original [DR]