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A História da Construção em Portugal – Alinhamentos e Fundações – MATEUS (LH)
MATEUS, João Mascarenhas. (Coord). A História da Construção em Portugal – Alinhamentos e Fundações. Coimbra: Edições Almedina, 2011. Resenha de: FERNANDES, José Manuel. Ler História, n.61, p.194-195, 2011.
1 Integrada na coleção «Cidades e Arquitetura», dirigida por Carlos Fortuna e José António Bandeirinha, a obra A História da Construção em Portugal – – Alinhamentos e Fundações foi coordenada pelo engenheiro João Mascarenhas Mateus, e publicada nas Edições Almedina S.A. de Coimbra, em 2011.
2 A obra constitui-se no resultado direto da I Conferência sobre a História da Construção em Portugal, realizada em 2010 no CIUL – Centro de Informação Urbana de Lisboa, pela iniciativa do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, funcionando de algum modo como atas do referido encontro, e contando a edição ainda com o apoio da empresa STAP, por via de Vítor Coias, desde há muto ligado aos temas de reabilitação urbana.
3 João Mascarenhas Mateus tem um percurso académico e formativo que o recomenda para a temática que agora desenvolveu e aprofundou: nascido em 1964, é investigador do CES, e doutorado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico da UTL; fez o mestrado na Universidade Católica de Lovaina, na área das Ciências da Arquitetura, Conservação de Monumentos e Sítios Históricos.
4 A História da Construção constituiu-se paulatinamente como disciplina autónoma desde há décadas em alguns países, nomeadamente em Espanha e Inglaterra; mas em Portugal avança ainda nos seus primeiros passos – donde a oportunidade deste livro é fundamental, como um quase primeiro documento congregador de metodologias, temáticas e áreas de estudo específicas.
5 A pertinência de uma História da Construção, abrangente e compreensiva, é imensa, desde a desvalorização da temática construtiva tradicional que a Arquitetura Moderna, assente no total domínio das novas tecnologias (aço, betão), encetou ao longo do século XX. Trata-se de uma área de conhecimento que, estruturante no seu domínio, permite articular de uma forma renovada a História da Arquitetura, com a da Engenharia, com a das Ciências e Técnicas – sem esquecer a ligação aos domínios da Economia, da Sociologia, da Antropologia.
6 Efetivamente, a construção e as suas longas, seculares e enraizadas tradições vive e depende do mundo dos materiais, da arquitetura, das obras e suas estruturas, dos técnicos, operários e comunidades especializadas, e dos respetivos custos, investimentos e iniciativas.
7 Em Portugal, quase tudo estava ainda por fazer, no aspeto do estudo e do conhecimento das múltiplas interações historicamente havidas entre todos estes domínios. É este trabalho que o livro aqui apreciado enceta, em termos organizados e projetivos: ao longo dos oito textos que inclui, os seus oito autores vão abordando assuntos que se completam e para os quais preparam o leitor, sucessivamente. A formação diferenciada desses mesmos autores facilita essa concretização, e justifica a sua inclusão.
8 Num plano introdutório e sistematizador, surgem: o texto do coordenador, que procura na apresentação dos trabalhos incluídos uma síntese dos temas fulcrais da história da construção em Portugal; e o trabalho por Santiago Huerta, que sistematiza as tradições, as características e o percurso recente da disciplina internacionalmente.
9 Nos seis textos seguintes, organizados cronologicamente, cada contributo refere seis temas concretos, dentre os muitos possíveis, que apontam para estudos de caso pertinentes e quase sempre incontornáveis: o estaleiro medieval de obra e os seus agentes mais diretos, com o caso do Mosteiro da Batalha (por Saul António Gomes); o longo processo da construção do Palácio da Ajuda (aqui em articulação com os temas provindos da História da Arte, suas contradições e sucessos), por José Monterroso Teixeira; e a essencial temática da construção pombalina, aqui sintetizada (talvez demasiado) por Jorge Mascarenhas.
10 Os três textos seguintes estabelecem-se já no plano dos tempos industriais e pós-industriais: a construção dos caminhos de ferro na fase oitocentista, referindo-se aos aspetos da produção e utilização do ferro, do aço, às questões de produção nacional e de importação, ao domínio das comunidades de operários e à industria (por Magda Pinheiro); os primeiros exemplos das obras em betão armado executadas no país, nomeadamente pontes e depósitos de água, por uma famosa firma nacional da especialidade, no arranque de Novecentos (por André Tavares); e o caso profissional e de personalidade criativa do grande engenheiro Edgar Cardoso, no tema da conceção de pontes, por Manuel Matos Fernandes.
11 Muitos outros temas ficam certamente por tratar – para só citar dois, os relacionados com a produção nacional da construção nos espaços coloniais, ou o da construção no quadro da arquitetura popular ou vernácula – mas os caminhos básicos ficam abertos ou apontados, e os seus temas de investigação lançados; e, ainda, de algum modo, desejadas e previstas as próximas iniciativas de reunião científica que permitirá avançar mais o conhecimento neste ramo. O livro cumpre, pois, os seus objetivos essenciais, de apresentação do estado da questão em Portugal, de sistematização e de abertura do conhecimento a uma área fulcral do saber técnico-artístico.
José Manuel Fernandes – Arquiteto