Topos e Tropos: as construções dos espaços nas narrativas literárias / Revista Espacialidades / 2020

Topos & Tropos: as construções dos espaços nas narrativas literárias é o dossiê temático que visa reunir artigos de pesquisas científicas que investigam os liames e distanciamentos entre os discursos literários e as narrativas históricas. A linguagem, por meio dos tropos – figura de linguagem – é o instrumento mais emblemático da alquimia humana, capaz de transmutar o imaterial em concreto e também sublimar todas as palavras que buscam a certeza de sua definição. O instrumento da linguagem, presente em obras literárias, permite verificar experiências de novas espacialidades, através das sensações cognitivas e das sensibilidades afetivas.

Os artigos selecionados para este dossiê analisam os espaços discursivos da linguagem moldando a historicidade do enredo. Por meio das narrativas cosmológicas e espirituais, da interioridade do sertão, do crescimento urbanístico, das relações de dominação política, étnicas, de gênero e da casa que para Gaston Bachelard em sua obra A Poética do Espaço é o nosso ponto arquimédico diante do mundo. Já o enredo literário, por meio do tropo linguístico, pode ser associado ao estilo de produção historiográfica.

Essa abordagem é, entre outras, resultado da investigação presente no quadro proposto por Hayden White ao analisar os tropos narrativos na meta-história, demonstrando uma relação entre as escolhas estéticas dos enunciados discursivos dos historiadores com suas perspectivas políticas. Por exemplo, a utilização do recurso estilístico da metáfora escrito em enredos historiográficos, correlaciona-se com as convicções políticas e epistemológicas que refletem o entendimento dos historiadores sobre o que é a História.

Todo historiador é um escritor e tal como o crítico literário Peter Turchi abordou em seu livro Maps of the Imagintation, todo escritor é um cartógrafo, pois se utiliza do conhecimento geográfico preexistente que, somado ao imaginário, constrói o espaço do enredo literário. Portanto, o historiador tem a sensibilidade e capacidade para investigar e ressignificar os acontecimentos de outrora estabelecendo relações entre o espaço, topos, e as figuras de linguagens, tropos presentes nos enredos das fontes consultadas: romances, contos, novelas, poemas, crônicas, cartas e diários.

Abrindo o dossiê temático temos o artigo de Larissa Cristhina Giron Ferreira, mestranda em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), intitulado Letras que subvertem: expressões da religiosidade feminina na Europa do século XVI, que descreve as experiências femininas durante momentos das Reformas Religiosas, no século XVI. Analisando as trajetórias de Jeanne de Jussie e Marie Dentière, uma freira e uma adepta do protestantismo calvinista, respectivamente. Neste trabalho são levados em consideração os artifícios que essas personagens utilizaram para refletir sobre o seu meio, sobretudo, a leitura, a escrita e as relações de gênero. Todos estes pontos estão inseridos em uma temporalidade da Europa francófona no século XVI, local que sofreu os impactos do poder de circulação de ideias viabilizado pela utilização da imprensa.

Paralelamente a esse processo de criação dos espaços por meio da escatologia, tem-se o artigo Catábase permanente na escrita romanesca do memorial de Aires: a tanatografia de um proscrito escrito por Augusto Rodrigues da Silva Junior, professor de Literatura Brasileira, da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com Marcos Eustáquio de Paula Neto, mestrando em Literatura pela UnB. Nesse artigo os autores analisam a obra de Machado de Assis, Memorial de Aires (1908), sob a perspectiva da mundividência cínica expressa no diário do diplomata narrador. A catábase, narrativa mítica sobre a ida ao submundo, permite a composição do manuscrito enquanto proscrito e anotador da atualidade viva. A escrita do conselheiro é elaborada como um romance-diário, por intermédio da crítica tanatográfica, escrita sobre os falecidos, quando se realiza uma interpretação crítica do insulamento como estratégia de criação da narrativa que se revela cínica e irônica.

Contemplando ainda as discussões do dossiê, temos o artigo Dracula and Nineteenth Century Anxieties: reverse-colonization, homosexuality, female sexuality and madness, escrito por Erica Sudário Bodevan, mestra em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora de inglês pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Campus Almenara. À luz do conceito de colonialismo reverso proposto por Stephen D. Arata, a autora aborda sobre a moralidade e as relações de gênero e sexualidade no romance Dracula de Bram Stoker (1897) inserido nas circunscrições espaciais da Inglaterra vitoriana. A obscuridade vampiresca seduz suas vítimas fazendo-as serem voluntariamente corrompidas, ato que representa as transgressões aos códigos cristãos estabelecidos pela moralidade vitoriana. Através do personagem estrangeiro do Drácula, natural da Transilvânia, evidencia-se as ansiedades inglesas do século XIX, em particular, os medos dos imigrantes realizarem uma colonização reversa por meio dos costumes e também, a sexualidade feminina, homossexualidade e os distúrbios psicológicos. Portanto, a derrota do vampirismo significa restaurar a ordem social legítima imposta pelo imperialismo da Era Vitoriana.

Em sequência, temos o artigo escrito em coautoria por Bárbara Inês Ribeiro Simões Daibert, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e Tatiane Carvalho de Morais, mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com o texto: Memórias apagadas: o abolicionismo e a voz-liberdade de Maria Firmina dos Reis no século XIX. O artigo analisa as narrativas de Maria Firmina dos Reis que tratavam da representação do preconceito estrutural e delimitações oriundos da escravidão vigente e da dominação patriarcal. Firmina, professora e afrodescendente escreveu ao longo do século XIX, estabelecendo a construção de um espaço social que refletia o racismo e o patriarcalismo dominantes, alterando diretamente a constituição do espaço dentro e fora de sua narrativa.

A partir de outra perspectiva, tomando como eixo central o conceito da topofilia, abordado pela geografia de Yi-Fu Tuan, que descreve sobre como são criadas as sensações de lugares por meio das afeições sentimentais, na qual concebem as paisagens naturais que são ressignificadas a partir de uma identidade regional. Nesse dossiê temos: o sertanejo, nas delimitações do semiárido cearense, tanto em Sobral como em Russas; as margens pernambucanas do Rio Capibaribe e o idílico interior de Guimarães Rosa.

Adiante temos o artigo A construção do espaço e da memória sonora da cidade de Sobral e da seca de 1877-1878 em Luzia-Homem, de Débora Maria Martins Braga, graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Nesse artigo é analisado o processo de construção da memória sonora do período da Grande Seca na cidade de Sobral (CE), entre os anos de 1877 e 1878, a partir do romance naturalista-regionalista de Luzia-Homem de Domingos Olímpio. Essa análise histórico-literário compreende que a memória sonora é tida como um espaço de totalidade de sons que compõem a realidade, carregada de significados multiculturais e identitários compartilhados pelo grupo, neste sentido, encara a cidade como um espaço praticado e dinâmico.

Já sobre o ponto de vista de Russas (CE), será exposto por Ruan Carlos Mendes, doutorando em História Social pela Universidade Federal do Ceará, o artigo O tempo na escrita de um espaço: a cidade de Russas-CE na obra do escritor Airton Maranhão. Mendes pesquisa a obra literária de Airton Maranhão (1950 – 2015) e mostra como o autor constrói a memórias, atribuindo para a escrita a capacidade formuladora de sentidos para o passado e para as espacialidades, uma arte ficcional desejosa “de dar tempo ao espaço”. O autor analisa a concepção de temporalidade e memória na obra do escritor de Russas (CE) e compreende seus usos e acionamentos em uma prática de escrita pela qual visou dotar um espaço – o seu “torrão natal” – de uma inscrição na história.

Sobre a formação da espacialidade do Rio Capibaribe, temos o artigo Literatura e História na obra O cão sem plumas de João Cabral de Melo Neto, de Aurora Cardoso de Quadros, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Nesse texto a autora analisa as representações narrativas do Rio Capibaribe, realizando sua crítica em uma perspectiva histórica e poética. Como resultado do estudo, pode-se entender a constatação de que a história está na poesia, como a poesia está na história, numa interação cooperativa e complementar.

E no caso da interioridade onírica, tem-se o artigo O Sertão de Guimarães Rosa e suas armadilhas: uma leitura de “-Uai, eu?”, escrito por Glener Ochiussi, doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). O artigo analisa o conto “-Uai, eu?”, publicado por João Guimarães Rosa em 1967. Refletindo por meio da história dos espaços sobre os distanciamentos e as aproximações entre o discurso literário e a narrativa histórica. O artigo aborda a possibilidade de utilizar a literatura como fonte histórica, com fundamento metodológico de A invenção do Nordeste e outras artes, de Durval Albuquerque Júnior (2011), problematizando a temática do espaço e sua respectiva importância para a interpretação de “-Uai, eu?”.

Nesse dossiê, tem-se artigos sobre as literaturas abordando as questões do autoritarismo nas áreas lusófonas: o Regime Militar no Brasil e os efeitos da ditadura salazarista nas ex-colônias lusitanas na África. A literatura também pode narrar sobre os espaços da dor, por meio das relações políticas que estabelecem novas formas de controle e dominação dos espaços. Observa-se a literatura como uma forma de descolonização do conhecimento, por meio da memória identitária e da resistência aos espaços de repressão.

O Brasil não é a Europa do Holocausto: K. – Relato de uma busca e uma nova perspectiva do Brasil durante a ditadura militar, escrito por Thaís Sant’Anna Marcondes, doutoranda em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), aborda o livro K. Relato de uma busca de Bernardo Kucinski sobre a consideração da construção espacial do Brasil ditatorial pela narrativa. Observa-se os aspectos do livro que remetem ao universo labiríntico de Kafka, em O processo; a caracterização dos espaços marcados pela repressão; e o olhar crítico de estranhamento de um estrangeiro sobre a ditadura militar no Brasil. Para isso, a autora recorreu a definição de não-lugar desenvolvida por Augé (2009), a fim de pensar de que forma a ficção de Kucinski caracteriza alguns espaços da estrutura repressiva como locais de passagens que não criam identidades, nem relações, mas tensão solitária; locais onde o indivíduo precisa estar sempre provando sua inocência.

Já na perspectiva da literatura africana, segue o artigo A casa como espaço de materialização do processo de luto na poética de José Craveirinha, escrito por Nathália Soares Pinto, mestranda em Literaturas Africanas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), neste artigo a autora investiga o espaço da casa em poemas do livro Maria, do poeta moçambicano José Craveirinha e discute a relação concebida entre homem e espaço por intermédio da composição de um espaço literário que concretiza o luto. Já, sob a perspectiva psicanalítica de Freud, estabelece o espaço da casa como um território em que se materializa o luto após a perda do ser amado.

Ainda nessa abordagem, segue o artigo Homem, Águas, Fronteiras e Palavras: José Eduardo Agualusa e a construção da identidade em trânsito, escrito por Welligton Costa Borges, mestrando em História pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). A investigação busca analisar as possibilidades conferidas pela narrativa literária de um escritor luso-angolano a partir da abordagem de Stuart Hall sobre o “individuo fragmentado”. O objetivo é analisar a identidade do escritor, o angolano José Eduardo Agualusa de ascendência luso-brasileira, enquanto sujeito múltiplo tomando sua experiência de descentramento identitário: territorial e transnacional. Trata-se de perceber como sua obra faz um movimento que é um espelho e sua experiência de ampla circulação pelas nações lusófonos em uma gama extensa de países e línguas.

Por fim, a abordagem da literatura como a criação científica do espaço urbanista moderno, segue o artigo: Guiando os viajantes, ensinando os transeuntes: o porto de Natal no discurso de Manoel Dantas, escrito por Khalil Jobim, mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O autor analisa notícias publicadas no jornal A República para traçar as maneiras de percorrer a cidade de Natal no começo do século XX, a partir das ideias de intelectuais natalenses nesse período, procurando verificar de que maneira o porto de Natal passou a integrar tais itinerários de viagem no espaço citadino, pela visão de Manoel Dantas na obra Natal daqui a cinquenta anos escrita em 1909.

A “Seção Livre” deste Volume traz três artigos com temas que relacionam os conceitos de território, identidade, espaço, lugar e outros, que ajudam a conduzir importantes reflexões sobre temas como: a invisibilidade indígena, o apego emocional aos lugares com base na obra cinematográfica Aquarius (2016) e a construção do imaginário social sobre a criminalidade a partir do discurso médico.

O primeiro destes artigos é intitulado Território e identidade na ‘Terra mãe do Brasil’: a invisibilidade indígena na cidade de Porto Seguro – Bahia, dos autores Sebastião Cerqueira- Neto, doutor em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA); Ana C. Pinheiro bolsista PIBIC-EM / IFBA e Ricardo de Almeida Cunha mestre em Ciências e Tecnologias Ambientais pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), que tem como objetivo principal contribuir com a decodificação de uma dicotomia estabelecida entre território e identidade dentro de uma escala local. Uma das justificativas para a produção desta pesquisa leva em conta uma tentativa de invisibilização dos indígenas no território de Porto Seguro, sendo esta uma ação contínua e acentuada pela globalização do turismo de massa.

Em seguida, no texto Espaço, lugar e territorialidade: análises sobre apego emocional ao lugar com o filme Aquarius (2016), dos autores Maria das Graças Alencar Viana, bacharela em Saúde pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e graduanda em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA); Liz Melo de Sá Barreto graduando em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBA), e Diego Carvalho Corrêa, mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), se discute por meio do longa-metragem Aquarius (2016) conceitos de espaço, lugar, territorialidade e apego aos lugares, tendo em vista as ações da personagem Clara, frente aos avanços da especulação imobiliária que atingiu a cidade de Recife (PE). Esta análise vê o edifício Aquarius, como um “lugar”, que se constituiu por uma consequência das relações do espaço e de suas percepções sobre ele. O apego evidenciado pela protagonista ao edifício foi a base para a materialização da territorialidade como sentimento de pertencimento e a razão pela qual ela resistiu às persistentes ofensivas da Construtora Bonfim.

Finalizando esta sessão o artigo de Patrick Moraes Sepúlveda, mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), versa Sob a ordem do progresso: A construção do imaginário social soteropolitano sobre a criminalidade a partir do discurso médico com o intuito de avaliar a introdução das teorias antropológicas na cidade do Salvador, em específico, a contribuição do Dr. Nina Rodrigues para a construção do imaginário social entre as décadas finais do século XIX e o início do século XX. Recorte em que se percebem mudanças na estrutura social e a ascensão da classe média, que sob a influência dos vislumbres ideários de progresso alterariam a configuração dos espaços urbanos e consequentemente o cotidiano da população local.

Sobre as últimas produções literárias acerca de espaços e as relações de identidade de gênero e sexualidade, a historiadora pesquisadora do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP, Sabrina da Paixão Brésio, mestra e doutoranda pela Faculdade de Educação da USP, resenhou o romance de Nicole Dennis-Benn: BemVindos ao Paraíso (Here Comes the Sun). Traduzido para o português por Heci Regina Candiani, é o primeiro romance de Nicole Dennis-Benn e retrata sobre o cotidiano afetivo situado em Montego Bay, costa norte da Jamaica, através do olhar pós-colonial de quatro protagonistas negras: Margot (irmã mais velha), Thandi (irmã mais nova), Delores (mãe) e Verdene Moore (amante). A autora, Nicole Dennis-Benn, nasceu na Jamaica e mudou-se para os Estados Unidos aos 17 anos para cursar medicina. Fez mestrado em Saúde Pública, mas deixou sua atuação como pesquisadora na Universidade de Columbia para se dedicar à escrita. Lançou o romance em 2016, publicado pela Editora Morro Branco em 2018. A obra chamou a atenção da crítica especializada vencendo o prêmio Lambda Literary Award.

Finalizando este Volume da Revista Espacialidades na sessão “Entrevista”, recebemos valorosas contribuições do professor doutor Luiz de França Costa Lima Filho. Professor emérito do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ, que atua há mais de 50 anos nas áreas de Teoria da Literatura, Literatura Comparada e Crítica Literária, sendo também bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Nesta entrevista, Costa Lima discorre sobre sua trajetória de pesquisa nessas áreas; discute como a mímesis têm sido trabalhada em suas pesquisas; faz apontamentos sobre dilemas da pesquisa histórica que tem como fonte a Literatura; enquanto crítico literário faz colocações a respeito de como os escritores podem construir espaços que narram a história em suas obras e ainda esboça considerações sobre a presença e impacto da literatura nesse milênio.

O Editor Chefe e a Equipe Editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma excelente leitura!

Andressa Freitas dos Santos (UFRN) – Editora de texto (normatização)

Clara Maria da Silva (UFRN) – Editora Gestora

Douglas André Gonçalves Cavalheiro (UFRN) – Secretário Geral

Edcarlos da Silva Araújo (UFRN) – Secretário de Comunicação e Mídias Sociais

Francisca Rafaela Mirlys da Silva (UFRN) – Editora de texto (normatização)

Giovanni Roberto Protásio Bentes Filho (UFRN) – Editor

Lígio José de Oliveira Maia (UFRN) – Editor Chefe

Matheus Pinheiro da Silva Ramos (UFRN) – Editor

Rannyelle Rocha Teixeira (UFRN) – Editora

Ristephany Kelly da Silva Leite (UFRN) – Editora

Rodrigo de Morais Guerra (UFRN) – Editor

Thiago Venicius de Sousa Costa (UFRN) – Vice Editor Gestor

Tyego Franklim da Silva (UFRN) – Gerenciador do site

Victor André Costa da Silva (UFRN) – Editor


MAIA, Lígio José de Oliveira et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.16, n. 02, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Protagonismos Indígenas no Espaço Escolar / Revista Espacialidades / 2020

A sociedade atual, cada vez mais heterogênea, tem mostrado a necessidade de reconhecimento e representatividade dos diversos grupos que a compõe e nos seus mais variados âmbitos, seja político, econômico ou cultural. No Espaço escolar não seria diferente, este que pode ser entendido como um espaço de vivências sociais capaz de amalgamar a diversidade existente, assume uma posição de extensão da sociedade e, portanto, também precisa assegurar o princípio da equidade. Desse modo, o presente dossiê visa trazer discussões que privilegiem a participação direta ou indireta dos povos indígenas no processo educacional, que entre lutas e desafios, tem consolidado importantes conquistas de direitos no Brasil, como por exemplo, desde a Constituição de 1988 até ao Decreto Lei nº 6861, de 27 de maio de 2009 – no qual aprovava e definia a organização da Educação Escolar Indígena –, passando pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008 com a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena na Educação básica da rede pública e privada.

No decorrer da História do Brasil, os índios tiveram lugares bem específicos, em grande medida aqueles de negação e esquecimento. Contudo, uma onda de movimentos liderados por grupos indígenas em prol da defesa de seus direitos ganhou ainda mais força durante a década de 1970, período que marcou o início das articulações sociais de resistência às políticas repressivas dos governos militares. Desde então, os índios têm buscado ainda mais assumir os rumos de suas próprias histórias, construindo suas narrativas, protagonizando-as, e efetivando sua participação nos mais diversos espaços.

Aqui, o fio condutor dos debates levantados será a noção espacial, em vista que esta constitui o foco e escopo da Revista. Portanto, através dos diálogos que intersecionam o Protagonismo indígena e o Espaço escolar, reforçar-se-á a importância de abordagens que tratem dos grupos indígenas e de suas demandas, principalmente, do dever de se oferecer elementos que corroborem para a construção de uma consciência social voltada ao respeito da alteridade no meio escolar. Sendo assim, esse dossiê torna-se pertinente no sentindo da valorização da educação pautada na diversidade sociocultural e linguística dessa parcela da população, na sua reafirmação identitária e na manutenção de sua cultura.

Destarte, as pesquisas apresentadas neste dossiê através de diferentes abordagens, metodologias, fontes e arcabouço teórico, cumprem com um objetivo em comum: servirem de contribuição para endossar os debates em torno dessa temática.

Abrindo o Dossiê temático, Arthur Ramalho Freire, mestrando em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, contribuiu com sua pesquisa “As intervenções estatais na Educação Escolar Indígena: da colonização a política pública, uma análise bibliográfica”, na qual realizou uma discussão perpassando por diversos momentos históricos em que os índios do Brasil foram submetidos a ações educativas pelo Estado, muitas delas impositivas. Na ocasião, portanto, o autor tratou desde o ensino proposto nas missões jesuíticas até àquele operacionalizado pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Já no artigo “Educação escolar indígena: o processo de gestão como forma de organização e respeito aos conhecimentos”, escrito por Oséias Poty Miri Florentino, pedagogo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Mariana Ferreira Bayer e Suzete Terezinha Orzechowski, ambas Professoras do Departamento de Pedagogia da UNICENTRO. Os autores analisam a gestão democrática de escolas indígenas no município de Mangueirinha, no Paraná, sendo uma Guarani e outra Kaingang, identificando o envolvimento dos índios nesse processo através de visitas de campo e levantamento bibliográfico e documental.

Em sequência, há outro estudo em uma comunidade Kaingang, porém, localizada no município de Redentora, no Rio Grande do Sul. No trabalho “O espaço reservado à formação de professores em uma comunidade Kaingang”, os autores Juliana Tatsch Menezes, Especialista em Linguagem e Docência pela Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Ânderson Martins Pereira, doutorando em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e Ariane Avila Neto de Farias, doutoranda em Letras na Universidade Federal do Rio Grande – UFRG, por meio de entrevistas realizadas com Professores da Escola indígena, investigaram como se dava a prática do ensino de Língua Portuguesa e se essa atendia às determinações oficiais.

Em seguida, a próxima discussão visou elaborar mapas mentais da Reserva Indígena Caramuru Paraguaçu, no Sul da Bahia, afim de servir como material didático na escola indígena local. Portanto, o trabalho “Etnomapeamento na Reserva Indígena Caramuru Paraguaçu” foi resultado de uma pesquisa integrada por Adriana Silva Souza, graduanda da Licenciatura Intercultural Indígena no Instituto Federal da Bahia – IFBA, Campus Porto Seguro, juntamente com os Docentes da mesma Instituição de Ensino, Ana Cristina de Sousa, Carla Sandra Silva Camuso e Leonardo Thompson da Silva. O grupo de pesquisadores realizou um levantamento histórico da ocupação do território Pataxó Hãhãhãe, coletando dados referentes às construções espaciais desse povo que viessem a subsidiar o etnomapeamento.

Para encerrar esse dossiê temático, apresentou-se o artigo “O índio na escola do imperador: retomada de terreno por indivíduos que foram expulsos de seus espaços originais”, cujos autores, Marcello Miranda Ferreira Spolidoro e Beatriz Mota Ferreira, respectivamente, doutorando e mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, analisaram o aumento da comunidade indígena na instituição pública federal de educação Colégio Pedro II. Além da observação desse movimento, ao qual eles atribuíram como “retomada de terreno”, foi colocada em questão também a importância da descolonização do currículo escolar, objetivando a valorização de práticas pedagógicas contra-hegemônicas.

O presente volume contou ainda com outros quatro trabalhos na Sessão livre, sendo o primeiro deles de autoria de Thaina Morais Avelino Maia, mestranda em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, intitulado “Da cidade imaginada à cidade escrita: o espaço urbano na narrativa do livro Constantinopla (1889)”. Neste artigo, a autora propôs uma análise do relato de viagem do escritor italiano Edmondo De Amicis (1846-1908) à capital do Império Otomano e de suas impressões descritivas também imbuídas de suas leituras fantasiosas.

O artigo seguinte, “Integralismo ‘racial’: a figura do judeu no projeto nacional brasileiro de Gustavo Barroso (1930)”, de Cícero João da Costa Filho, Doutor em História pela Universidade de São Paulo – USP, versa sobre o caráter antissemita presente nas produções bibliográficas do chefe de milícias Gustavo Barroso (1888- 1959) e, em especial, daquelas que tratavam do seu projeto de nação baseado na elite e no estado forte. Cícero Costa Filho apresentou as concepções integralistas, as noções de raça e o conservadorismo que compunham as narrativas de Gustavo Barroso sobre como deveria ser o Brasil de acordo com sua visão.

Já Lucas Aleixo Pires dos Reis, graduando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, no artigo intitulado “O espaço senegambiano: uma percepção de conformação espacial a partir do comércio de ferro – século XVI” abordou a conformação das relações sociais na Senegâmbia através do comércio interno de ferro. Por meio da análise de relatos de viajantes, o autor problematizou a hierarquização existente entre povos ao norte e povos ao sul da região, baseando-se nos espaços sociais construídos durante o século XVI.

Por fim, Cristiane da Rosa Elias, mestranda em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, contribuiu com o seu trabalho “Língua, colonização e resistência: uma discussão sobre os usos da linguagem”. Nele, a autora objetivou refletir a respeito das formas de dominação exercidas sobre a linguagem, entendendo-a como meios de disseminação de modos de ser e pensar. Dessa maneira, associou as línguas africanas a uma alternativa de resistência desses povos, em enfrentamento ao sistema colonial e as estratégias de submissão dos grupos.

Esse volume também contou com a contribuição, na sessão “Entrevista”, do Professor José Luiz Soares ou Luiz Katu como é mais conhecido, sendo uma das principais lideranças indígenas do Rio Grande do Norte, cacique da aldeia Catu, que fica entre os municípios de Goianinha e Canguaretama, e é interlocutor não apenas dos Potiguara, mas também de outros povos indígenas do estado junto aos agentes governamentais. Essa entrevista compõe o trabalho de dissertação “‘Não há conflito se for feita releitura’: a experiência escolar dos Potiguara do Catu no contexto de convivência intercultural numa escola não indígena (Goianinha / RN, 2015-2019)”, de autoria de Tiago Cerqueira Santos vinculado ao Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA UFRJ / UFRN), e contou com a preparação, discussão e contribuições do professor Lígio José de Oliveira Maia, Professor Associado do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Como Professor e articulador de movimentos de luta, Luiz Katu detalhou as ações executadas na tentativa de dirimir os preconceitos e os estigmas sofridos, ressaltando a importância das Escolas Indígenas João Lino e Alfredo Lima, localizadas no estado Potiguar, e do seu exercício político também enquanto docente, assim como sua preocupação com o ensino da História nas escolas não indígenas. Além disso, a liderança concedeu informações sobre os desafios enfrentados e os avanços conquistados no Catu, e pontuou ainda as principais dificuldades que passam os alunos egressos das duas Escolas Indígenas da aldeia as quais ele leciona, após a conclusão do Ensino Fundamental I.

Sendo assim, o primeiro número de 2020 da Revista Espacialidades apresenta aos leitores e às leitoras um conjunto de artigos acompanhado de uma rica entrevista, afim de corroborar com o preenchimento de lacunas na historiografia referente ao protagonismo indígena, em especial no âmbito escolar. Através das investigações e pesquisas elaboradas pelos autores e autoras, estimulam-se os diálogos e as problematizações, e assim, enriquecendo os debates históricos.

O Editor Chefe e a Equipe Editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma excelente leitura!

Clara Maria da Silva (UFRN) – Vice Editora Gestora

Douglas André Gonçalves Cavalheiro (UFRN) – Editor

Edcarlos da Silva Araújo (UFRN) – Gerenciador do site

Lígio José de Oliveira Maia (UFRN) – Editor Chefe

Ristephany Kelly da Silva Leite (UFRN) – Editora Gestora

Rodrigo de Morais Guerra (UFRN) – Secretário de Comunicação e Mídias Sociais

Thiago Venicius de Sousa Costa (UFRN) – Editora de texto (normatização)

Victor André Costa da Silva (UFRN) – Secretário Geral


MAIA, Lígio José de Oliveira et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.16, n. 01, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Índios e Espaços: visibilidade e protagonismo históricos / Revista Espacialidades / 2019

Cada vez mais articulados, os povos indígenas nas Américas têm conquistado espaço e atuado nas mais diversas áreas. Grupos antes negligenciados, agora ocupam lugares de destaque nos meios políticos, artísticos, acadêmicos, religiosos e todos os mais que permeiam a sociedade. Se hoje o número de trabalhos acadêmicos que buscam explicitar os protagonismos e agências indígenas aumentaram é porque houve uma renovação teórico-metodológica contra a perspectiva na qual, por muito tempo, estes povos apareciam na história nacional de maneira alegórica, datada e estereotipada, pouco condizente com sua realidade e com os processos históricos pelos quais passaram desde o momento do contato.

Impossível não destacar a aproximação entre a Antropologia e a História para o enriquecimento das produções acadêmicas sobre estas populações e para o adensamento teórico das discussões desenvolvidas nas Universidades, que não se limitam ao meio acadêmico. O diálogo com outras disciplinas, como a Geografia, gerou pesquisas sobre os elementos culturais característicos de povos específicos sendo determinantes para migrações e estabelecimento de assentamento, bem como o diálogo com a História do Direito possibilitou compreender as bases legais para o trabalho (escravo ou livre) dos índios desde o período colonial.

Perceber integrantes destes povos ocupando espaços na sociedade que antes lhes eram negados ou aos quais eram desestimulados a ocupar, como as Universidades, o Congresso Nacional, ou mesmo o cotidiano de centros urbanos, nos faz perceber a importância de relatá-los historicamente como o são: agentes de suas próprias histórias. Expor artigos sobre as articulações políticas destes povos em momentos cruciais de nossa história nacional, sobre a importância de seus elementos culturais em sua organização social, sobre sua constante busca por direitos enquanto povos diferenciados, traz à luz a atuação constante e imprescindível desta população nos processos históricos nos quais estão inseridos.

Neste sentido, o dossiê Índios e Espaços: visibilidade e protagonismo históricos reúne artigos que mostram, de diversas formas, como os povos indígenas atuam e atuaram nestes diferentes espaços e como suas agências são imprescindíveis na escolha de seus elementos culturais diacríticos, formação de seus grupos e na luta por seus direitos, além de trazer artigos que contemplam discussões conceituais que vêm sendo travadas no universo acadêmico nos últimos anos.

Exemplo disso é a discussão sobre os conceitos de território e territorialidades nos estudos sobre os processos de transformação do meio em que os povos indígenas coloniais habitavam e como estes tiveram que lidar com estas transformações, como mostra Marcos Felipe Vicente, doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF, no artigo de abertura deste dossiê, intitulado “Transformação dos espaços indígenas coloniais: algumas reflexões conceituais”.

Da mesma forma que os conceitos estão sendo revistos, a historiografia de partes específicas do país também está sendo revisitada, como a região sul de Minas Gerais, que teve grande importância no período colonial pelas minas auríferas que abrigava. Gustavo Uchôas Guimarães, professor de História na rede pública de Minas Gerais, no artigo “O trabalho de visibilização dos indígenas nos estudos sobre Minas Gerais: o caso sul-mineiro de Virgínia e seus arredores” propõe uma revisão histórica do que vem sendo produzido sobre esta região, mais especificamente sobre a Serra da Mantiqueira e o rio Verde.

O terceiro artigo desta edição traz um debate historiográfico sobre as contribuições e limitações do Estruturalismo enquanto vertente explicativa de análise dos povos indígenas, a partir de respostas às críticas tecidas por Claude LéviStrauss, publicadas no periódico L’Homme, em 2001. O artigo “Críticas ao Estruturalismo na virada do século: o debate nas páginas de ‘L’Homme’ e ‘The Americas’ (2001-2003)”, escrito por Caio Rodrigues Schechner, mestrando em História Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, traz este debate tão caro ao campo da História e das Ciências Sociais.

Em “À luz da ‘civilização’: representações indígenas nas narrativas dos viajantes (MT, séc. XIX-XX)”, Carlos Alexandre Barros Trubiliano, Professor Adjunto de História da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, utiliza a análise de discurso nos relatos de viajantes para perceber como o Estado de Mato Grosso e seus habitantes eram representados nestes relatos. Também utilizando crônicas, relatos e cartas de viajantes e conquistadores, Bruno Oliveira Castelo Branco, doutorando em História Moderna pela Universidade Federal Fluminense – UFF, investiga a etapa inicial de colonização do Paraguai, analisando a problemática das categorias de trabalho atribuídas aos povos Guarani, em “‘Paraíso de Maomé’, terra de escravos: as categorias de trabalho indígena Guarani na etapa inicial da conquista. Paraguai e Rio da Prata (1541-1556)”.

Assuntos também importantes nas produções acadêmicas sobre os povos indígenas são as questões de migrações e mobilidades espaciais. “Xukuru-Kariri: mobilidades espaciais indígenas em Alagoas na segunda metade do século XX”, escrito por Adauto Santos da Rocha, mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, e Edson Silva, Professor Titular de História na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, buscam evidenciar as mobilidades dos Xucuru-Kariri que residem em Palmeira dos Índios-Alagoas, para trabalhos sazonais, discutindo os percursos entre as cidades nas quais os trabalhos são realizados e as aldeias Xukuru-Kariri, durante a segunda metade do século XX.

Partindo da região Nordeste para o Norte do Brasil, no sétimo artigo do dossiê, de Daniel Belik, Doutor em Antropologia Social pela Universidade de St. Andrews-Escócia, procurou compreender as experiências espaciais dos indígenas na Amazônia ao percorrer caminhos pela floresta e como a relação deste bioma com povos externos a ele ocorre de forma distinta em “Caminhos Indígenas: Espaços de movimentação pela Amazônia”.

“Migrações Terena para a periferia de Campo Grande (MS): a manutenção de relações tradicionais de parentesco em contextos urbanos”, escrito por Luiz Felipe Barros Lima da Silva, mestrando em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, e Victor Ferri Mauro, Docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, também abordam a temática dos deslocamentos. Além de analisarem os deslocamentos espaciais de um pequeno grupo Terena, os autores investigam a manutenção de redes de parentesco e compadrio.

Vinícius Alves de Mendonça, graduando em História pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, analisa as pinturas corporais dos indígenas Jiripankó enquanto elemento representativo da memória e da identidade étnica deste povo, no artigo “História e grafismos: estudos sobre a pintura corporal entre os indígenas Jiripankó”. Assim como os Jiripankó tem em suas pinturas corporais um elemento representativo da memória, os Kaingang acionaram elementos identitários culturais na luta pela demarcação de suas terras. A paisagem, juntamente com outras atividades culturais, apresenta-se como lugares de memória que foram fundamentais para a consecução da demarcação da Terra Indígena Toldo Pinhal-SC, exposta no artigo “Places of memory and cultural re-signification in the indigenous land Toldo Pinhal, Brazil” escrito por Jesssica Alberti Giaretta, graduada em História pela Universidade Federal da Fronteira do Sul – UFFS, e Jaisson Teixeira Lino, Professor Adjunto na mesma instituição e Doutor pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro(UTAD) de Portugal.

Por fim, o último artigo desse dossiê, intitulado “Um quase eterno reencontro: Ailton Krenak e a Assembleia Nacional Constituinte (1987)” e escrito por Rômulo Rossy Leal Carvalho, graduando em História pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, e Rafael Ricarte da Silva, Professor Adjunto da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Neste artigo, os autores analisam as participações dos indígenas nos processos da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), especialmente, a atuação de Ailton Krenak, da comunidade Krenak.

Na sessão “Entrevista” do presente volume, contamos com a colaboração da Professora Doutora Patrícia Maria de Melo Sampaio, pesquisadora premiada da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, que durante toda sua vida acadêmica se debruçou no estudo das desigualdades, buscando compreender o universo do trabalho dos povos indígenas, africanos e as fronteiras existentes entre estas populações.

Fechando este volume, contamos com a contribuição do Doutor Francisco Cancela, Professor Efetivo da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, na sessão “Corpo documental”. “Leis municipais ou posturas da câmara e concelhos desta Vila de Porto Alegre: Notas para o estudo sobre política e administração nas vilas de índios”, apresenta as posturas municipais da câmara de uma vila de índio da antiga capitania de Porto Seguro chamada São José de Porto Alegre, lançando notas para futuras pesquisas sobre política e administração das Vilas de índios.

Desta forma, o presente volume da Revista Espacialidades busca corroborar com os estudos que versam sobre os múltiplos aspectos da experiência indígena e sua atuação nos mais diversos espaços. Através de artigos que abordam aspectos teóricos e metodológicos da produção acadêmica sobre estes povos, que trabalham suas migrações e / ou deslocamentos espaciais, bem como elementos culturais distintivos e sua atuação na política e na luta por seus direitos, busca-se contribuir de maneira proveitosa com esta temática tão importante e necessária.

O Editor Chefe e a Equipe Editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma excelente leitura!

Clara Maria da Silva (UFRN) – Editora de texto (normatização)

Douglas André Gonçalves Cavalheiro (UFRN) – Editor

Edcarlos da Silva Araújo (UFRN) – Gerenciador do site

Lígio José de Oliveira Maia (UFRN) – Editor Chefe

Ristephany Kelly da Silva Leite (UFRN) – Editora Gestora

Rodrigo de Morais Guerra (UFRN) – Secretário de Comunicação e Mídias Sociais

Thiago Venicius de Sousa Costa (UFRN) – Vice Editor Gestor

Victor André Costa da Silva (UFRN) – Secretário Geral


MAIA, Lígio José de Oliveira et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.15, n. 02, 2019. Acessar publicação original [DR]

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