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Lugares de poder, produção e circulação de saberes pedagógicos / Revista História da Educação / 2013
Este dossiê apresenta alguns resultados da investigação de um grupo de pesquisa sobre história cultural da escola e dos saberes pedagógicos, cujo objetivo geral é compreender as práticas e os processos educativos, em seus regimes de historicidade, como produtos de uma construção cultural em articulação com sua dimensão social.
Nessas investigações, conceitos como representações, práticas, apropriações e materialidade dos objetos culturais são fundamentais porque sublinham a importância das operações de atribuição de sentido coletivas e, ao mesmo tempo, a liberdade relativa dos agentes, cujas práticas contribuem para a construção do mundo social e permitem a historicização da linguagem das fontes e dos lugares de produção das mesmas.
Os trabalhos reunidos se reportam a um dos eixos articuladores das referidas investigações e objetivam determinar estratégias de produção, de difusão e imposição de saberes pedagógicos e de modelização das práticas escolares. Para essa análise, toma-se a noção de lugares de poder isoláveis, proposta por Michel de Certeau.
Para o início do século 20, a investigação de Rogéria Isobe aborda o serviço de inspeção técnica do ensino como estratégia de produção de um modelo escolar em Minas Gerais, no âmbito da Reforma João Pinheiro. A autora discute o modo como o inspetor técnico atuava sobre a prática docente, a partir de um lugar de poder determinado, o lugar de um intérprete autorizado cuja ação visava a aproximar as práticas dos professores das regras estabelecidas na conformação de um determinado modelo escolar de educação em Minas Gerais.
Já o artigo de Ana Clara Nery analisa o processo de constituição da Biblioteca da Escola Normal de Piracicaba (1896-1950). A biblioteca é tomada como lugar de poder no importante processo de constituição de repertórios culturais, pedagógicos ou não, dos docentes formados nessa instituição. Para tanto, a autora analisa as formas pelas quais se organiza e se dissemina uma determinada cultura pedagógica ao selecionar, ordenar e disponibilizar um conjunto de saberes, próprios da profissão docente numa biblioteca escolar.
Os artigos de Marta Carvalho e Maria Rita Toledo tomam coleções de livros destinadas à formação de professores como lugares de poder que organizam e conformam modelos de leitura e formação docente. A primeira investiga os dispositivos textuais e editoriais de territorialização do livro Educação moral e educação econômica, de Sampaio Dória, integrante da coleção Biblioteca de Educação, organizada por Lourenço Filho como estratégia de configuração do campo dos saberes pedagógicos no final da década de 1920. A autora sustenta que, ao enquadrarem Dória como pedagogista social, esses dispositivos situam-no no que o editor entendia como periferia do programa de renovação da escola brasileira que a coleção buscava promover.
Maria Rita Toledo aborda as quatro edições da tradução de Como pensamos, de John Dewey, na coleção Atualidades Pedagógicas, e os sentidos atribuídos a esse texto, ao longo do século 20, pelos sucessivos editores da coleção. Para tanto, toma por objeto os dispositivos editoriais e tipográficos de apoio à leitura – orelhas, prefácios, notas de rodapé do tradutor – acrescidos a cada uma das versões, e destaca os deslocamentos que os editores produzem nas representações sobre a obra de Dewey e do próprio autor.
O artigo de Daniel Revah focaliza a editora Abril como lugar de produção de representações sobre a educação escolar nas décadas de 1970 e 1980, nos periódicos ESCOLA e Nova Escola. Ao comparar as edições inaugurais, o trabalho analisa o modo como cada periódico busca situar-se diante de seus leitores, mas também em face de conjunturas políticas diversas (ditadura versus democracia). São analisados os editoriais de apresentação e as capas das primeiras edições, junto com as reportagens correspondentes e outros elementos dessas edições inaugurais.
O último artigo, de Alexandre Godoy, analisa o periódico Escola Municipal (1968- 1985) como dispositivo de difusão e implantação de um novo modelo escolar produzido pela Secretaria de Educação do Município de São Paulo, na transição entre a sociedade disciplinar e a sociedade de controle. Além de desvendar os caminhos da produção e circulação da materialidade do impresso em suas diferentes fases, estabelece relações entre o modelo escolar paulistano, o tipo de leitor desejado pela publicação e as políticas municipais de educação do período.
Daniel Revah
Maria Rita de Almeida Toledo
Organizadores do dossiê.
REVAH, Daniel; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 17, n. 39, Jan / abr, 2013. Acessar publicação original [DR]