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Entre livros e cartas e entre a escrita e a leitura: uma história das palavras / História Revista / 2010
Rizoma, platôs, criação órfã. Técnicas do corpo, leitura em voz alta, leitura silenciosa. Letramento, escrita, oralidade. A literatura e a memória de uma boneca de pano. A Arte e as correspondências. Epistolografia, amizade e estoicismo. Retórica, soberania e escrita. As cartas e a história intelectual. Leitura e multiplicidade. Devir-leitor e devir-escritor. O hipertexto e a textualidade eletrônica. O corpo, as práticas de escrita e as práticas de penitência. O Estado, a escolarização e o acesso às letras. Monteiro Lobato, a literatura infantil e o leitor. Robinson Crusoé e Sexta-Feira. Sêneca e a filosofia antiga. O gênero epistolar e as práticas de escrita. As correspondências e a história das edições. A ciência e a epistolografia. Memória e corpo. Roma, México e Taubaté. Leitura e apropriação cultural.
Eis alguns dos temas tratados neste dossiê que apresenta um conjunto de ensaios e artigos sobre livros e cartas e sobre a escrita e a leitura. Em nossa atualidade, há um vivo interesse intelectual por esses temas. Este interesse pode ser visto de inúmeras maneiras. Há, por exemplo, aquilo que poderíamos denominar de perspectiva do luto. Assim, a relevância dos estudos sobre a troca de correspondências e sobre o epistolário de escritores, artistas e políticos seria um sintoma ou teria apenas se tornado possível pelo falecimento desta prática. Quer dizer, a sua importância no interior das ciências humanas decorre de sua atual insignificância social e cultural.
A perspectiva aqui assumida é outra. O que se anuncia há alguns anos como revolução digital se liga a uma profunda transformação nas práticas de escrita e de leitura e de objetos tradicionais como os livros e as correspondências. A emergência da escrita digital e da textualidade eletrônica reconfigura de modo radical práticas afetivas e intelectuais; transforma radicalmente objetos tradicionais. É justamente na novidade irredutível produzida por este acontecimento em que se inscreve o objetivo deste dossiê. Os textos aqui reunidos são suscitados por esta atualidade; ligam-se, de alguma forma, a este desejo de atualidade.
Três grandes eixos estruturam este dossiê. De um lado, um conjunto de reflexões sobre a história da leitura, das relações entre corpo e leitura (adestramento e letramento) e a atualidade dos modos de ler. De outro, análises consistentes sobre as relações entre literatura e leitura (apropriações). Finalmente, estudos sobre correspondências a meio caminho entre as práticas de escrita e as práticas de leitura. Estes três grandes eixos estão atravessados por um interesse ou por uma preocupação de seus autores: aquela de uma história das palavras e de sua errante circulação.
Fechando a organização deste volume, publicamos duas resenhas críticas a propósito dos dois últimos cursos de Michel Foucault no Collège de France, os de 1983 e 1984, ainda inéditos em português. A primeira, escrita por Celso Kraemer e a segunda, por Céline Clément. Isto mostra que a História Revista segue preocupada em trazer aos seus leitores análises de importantes e recentes publicações que a conectem com o que vem sendo editado de mais novo no mundo internacional das ciências humanas.
Marlon Salomon
Organizador do Dossiê
Comissão Editorial
Maria da Conceição Silva
Armênia Maria de Sousa
David Maciel
Luciane Munhoz de Omena
Heloisa Selma Fernandes Capel
Adriana Vidotte
SALOMON, Marlon; et al. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 15, n. 1, jan. / jun., 2010. Acessar publicação original [DR]