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Polifonia e Latinidade / Projeto História / 2006
Polifonia – Latinidade / Projeto História / 2006
O mundo polifônico da América Latina – multiverso reconhecido não apenas como organização sonora, mas como modos de ser, formas de manifestação cultural, artística, educacional, política, econômica e, portanto, de práticas sociais historicamente determinadas – é retomado nesse novo número da Projeto História com reflexões que se inserem numa perspectiva historiográfica que faz valer as vozes dos indivíduos e categorias sociais subalternas. Américas, que foram conquistadas por estrangeiros que impuseram suas maneiras particulares de ser, que tentaram aniquilar, constranger, impedir povos inteiros de manifestarem livremente suas próprias culturas, mas que encontraram lutas, barreiras e resistências, forjando no complexo histórico novas categorias modais.
A forma particular de se instaurar a modernização pela destruição das sociedades conquistadas, com o legado do escravismo, matrizou um espaço induzido de objetivação do capital, cuja reprodução atrófica reitera a subalternidade do arcaico, no qual o historicamente novo paga alto tributo ao historicamente velho. Estas entificações particularizam formações economicamente subordinadas, tipos de sociabilidades profundamente assimétricas, modos autocráticos de dominação dos proprietários, que praticam o liberalismo excludente avesso aos processos revolucionários constituintes. E como disse um filósofo: no plano cultural, estas formações se tornam incapacitadas de olhar para si com os próprios olhos e traçar um horizonte para seus dilemas específicos na universalidade dos impasses mundiais.
O debate historiográfico é contemplado nas páginas de Polifonia e Latinidade pelo historiador venezuelano Roberto López Sánchez. Este autor questiona seus pares que dão as costas para os processos de conflito e mudança que abalam nossas sociedades. Partindo do suposto de uma “crise de paradigmas”, busca combater o convívio sem resposta ao retorno da narrativa positivista, aparentemente neutral e objetivista, assim como o domínio de uma história fragmentada do subjetivismo pós-moderno, ambos eurocêntricos. Ante os resultados do novo liberalismo que aprofundou as mazelas do capitalismo latino-americano, ante a crença na superioridade da civilização ocidental sobre as comunidades indígenas, colonizadas e subjugadas, o autor mostra a função social de um corte historiográfico que potencializa a razão dos vencedores: a história como fator de dominação. A crítica tem, portanto, a função de apontar o caráter histórico, cambiante, das formas sociais e do papel protagonizante dos novos sujeitos históricos.
Também o questionamento do positivismo e do pós-modernismo, encontra-se na entrevista de Irma Antognazzi feita com o emérito historiador latino-americano Alberto Plá, na qual a autora enfatiza sua batalha por construir um pensamento crítico. Este historiador que se notabilizou por seus estudos sobre o movimento operário que irrompe em Rosário – a cidade lembrada na história Argentina como a sede do desencadear sangrento da última ditadura militar -, mas que se viu obrigado a se exilar no México, onde atuou na pós-graduação da UNAM e de onde retornou em 1985. Sempre atuando na docência e na investigação sobre a História da América, produziu inúmeros livros e artigos, dentre os quais destacamos: El modo de producción asiático y las formaciones econômico-sociales Inca y Azteca; História y Socialismo; América Latina em el siglo XX: economia, sociedad, revolución; Introducción a la historia del movimiento obrero e Mundialización y crisis en América Latina.
José Luis Fiori se dedica a uma questão central. Qual é a posição da América Latina na nova quadra mundial, na qual os Estados Unidos se lançam para impor sua soberania imperial ao tempo em que China e Índia se agigantam no comércio mundial? Uma vez que na nova arquitetura, com o processo de globalização financeira mundial, a utopia anunciada de uma paz universal não se consumou, nenhuma das conquistas do “presidente da guerra” se vale de algum tipo de negociação. Fiori destaca que os EUA já ocuparam em seu expansionismo várias partes do mundo, territórios da antiga União Soviética, de seus aliados do Pacto de Varsóvia, da região do Báltico e da Europa Central, do Paquistão, e, após os ataques às Torres Gêmeas a 11 de setembro de 2001, a retomada do mando no Afeganistão, a destruição de Bagdá e o descontrole da guerra civil no Iraque. Nessa nova conjuntura, o autor examina a doutrina estratégica do governo americano com sua teleologia imperialista, o “direito ao ataque preventivo”, a fim de conter qualquer rival que o defronte. Há uma nova geografia do capitalismo e no reino do capital, reconhecendo a escassez das fontes de energia, a ambição imperial de Bush busca um redesenho do mapa energético. Como entronizar um novo imperialismo “aceitável ao mundo dos direitos humanos”? Qual a necessidade histórica de uma integração latino-americana oposta aos ditames da ALCA? Se na América Latina, segundo o autor, não houve nenhum tipo de disputa hegemônica, após a substituição da dominação inglesa pelos EUA, quem se habilitaria com a expansão chinesa nesse canto do planeta ?
Edward Said assegurou, certa feita, que A cultura (…) é uma fonte de identidade, e, aliás, bastante combativa, como vemos em recentes ‘retornos’ à cultura e à tradição. De posse desse enunciado, a historiadora Kátia Baggio mergulha no olhar de um viajante ímpar: as representações e imagens de Erico Veríssimo sobre o México e o contraste com os EUA. Artigo denso e de fina sensibilidade, a autora examina o tema da alteridade, da imagem do outro e de si mesmo. O arguto literato se pergunta: “como é possível existirem, tão próximos, países tão diferentes um do outro” e, como a “americanização” intervém na cultura desses povos? Este relato de viagem não é meramente um relato. Trata do multiverso mexicano: a história, a geografia, o teatro, os gestos, a linguagem, os sítios arqueológicos, os frutos nativos, os animais, a música, a religiosidade, entre os vários aspectos da sociedade mexicana. As impressões se sucedem. O romancista nos injeta impressões de cidades como Puebla, Oaxaca, Taxco, Cholula e tantos outros pueblos. Além disso, sempre pela pena de Baggio, este humanista socialista nos revela seu encontro com José Vasconcelos e David Alfaro Siqueiros. A atenção apaixonada para os afrescos dos muralistas mexicanos recebe a sua pertinente especificação. Acentua a dramaticidade de Orozco, a monumentalidade da obra de Siqueiros, as posições de Rivera, Tamoyo e José Guadalupe Posada. Segundo Baggio, o viajante assinalava que o traço essencial do povo norte-americano era o fazer, a lógica do pragmatismo racional. O do mexicano era o ser, a magia, a paixão. “Y quién sabe?”, afirma Veríssimo, o Brasil possa vir a ser um dia a desejada síntese desse dois povos.
“Quatro cenas hispano-americanas e uma breve cena brasileira”. Com esta enigmática formulação, o historiador Júlio Pimentel Pinto tenta definir determinado traçado e estilo nas narrativas dos anos 90. Escritores mexicanos, entre os quais Ignácio Padilla, Jorge Volpi e Eloy Urroz, defendem “o livro contra a externalidade da motivação estética”. O colombiano Medina Reyes assume a “absoluta subjetividade do texto literário”. De sua parte, o chileno Alberto Fuguet refuta a tradição do realismo mágico. Posição compartilhada por Cabrera Infante: “Seguramente o caminho do realismo mágico se fechou completamente”. E, por fim, a posição brasileira: polemizando sobre a “Geração de 1990”, o escritor Marcelo Mirisola se autodefine como produto de filmes comerciais e não diretamente de livros. Qual o significado do termo geração? O historiador com sua peculiar erudição e concisão tenta mostrar como esta geração visa à revisitação do passado e a sua instalação num lugar no presente. Examinando o Manifesto da “Geração Crack” que se ancora nos cânones de Cortázar, Borges, Carlos Fuentes e Piglia, entre outros, o historiador mostra as confluências e a ausência de uma única linha, recusando, no polêmico remate, o realismo mágico como “signo identificador da América Latina”.
Se os conquistadores intentaram de modo consciente dilapidar, tanto material quanto culturalmente, as sociedades subjugadas, há, todavia, resguardos notáveis graças aos esforços de historiadores e antropólogos em preservar traços da vida cotidiana, dos mitos, da cultura material, dos povos indígenas. Num estudo rigoroso, José D’Assunção Barros examina um objeto histórico poucas vezes investigado: a música indígena brasileira. O suposto do autor é o de que esta leitura, mediada por outra cultura, realiza filtragens e apropriações históricas. Há que se entender, como especifica o autor, que uma cultura (…) atribuirá diferentes significados e funções sociais às suas produções sonoras. Como explicar e refigurar a música do “novo mundo”? Além do trabalho do pintor-viajante Jean Baptiste Debret, a pesquisa mostra como Spix e Martius, pesquisadores austríacos, registraram melodias folclóricas e indígenas que são referências até os dias que correm. Outro estudo importante é o do musicólogo Luciano Gallet que atestou em fonogramas colhidos pela Missão Rondon intervalos que se aproximam dos quartos de tom. Para além desses preciosismos, Barros busca inscrever essa música em seu contexto social.
O violão brasileiro tem sido fértil em revelar virtuoses e compositores. O próprio VillaLobos nos legou composições para o instrumento e um modo de tocar que se popularizou mundo afora. Precursor da harmonia presente na bossa nova, autor de músicas de filmes consagrados, o violonista Laurindo Almeida (1917-1995) seguia como “ilustre desconhecido”, em especial em sua própria terra. Em tradução de Cliff Welch, o historiador Dário Borim faz a garimpagem sobre o itinerário, as composições, as concepções do violonista de Prainha, hoje Miracatu. Em 1932, ferido na guerra constitucionalista, Laurindo encontra-se com outro gigante do violão brasileiro: Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-1955). O fato do violonista ter-se radicado nos Estados Unidos, superando as fronteiras nacionais, impediria de compreendermos sua latinidade, sua peculiaridade musical? Laurindo foi mestre na execução das melodias espanholas, italianas, o cool jazz, mas, era exímio no choro, no baião, no samba, na bossa nova. Quem não se emociona ao ouvir sua versão de Na Baixa do Sapateiro de Ary Barroso?
A polifonia de Astor Piazzolla é vivamente revelada por seu amigo Mauricio Berú. O cineasta argentino, exilado e radicado na capital paulista, relembra traços da personalidade do compositor de Adiós Nonino, sua obsessão, intransigência e energia criadora. O autor de Certas Palavras com Chico Buarque (1980), produziu um dos primeiros clipes do cine latino-americano, precisamente documentando um ensaio do grupo musical de Piazzola (1921-1992). A película Quinteto (1970) serpenteia a música do compositor argentino com o fluxo e a movimentação nas ruas da cidade de Buenos Aires. Em situações diversas, com a presença de Piazzolla, o cineasta captou entrevistas, apresentações, depoimentos, conversações nos Cafés da cidade portenha. Mauricio Berú possui arquivo inédito sobre a vida do músico.
Este número dedica ainda várias páginas ao tema da educação, abordado por reconhecidos especialistas que tratam do assunto em tessituras históricas distintas, mas que permitem ao leitor perceber a influência norte-americana no desenvolvimento de preceitos e práticas educacionais, desde a década de 50, em países latino-americanos, particularmente no Brasil. Gabriela Soares demonstra como o rechaço à intervenção norte americana nas guerras hispano-americanas do final do século XIX faz emergir, a partir de uma reimersão no passado político colonial, autores escritores com a convicção de estarem criando não só uma literatura, mas uma consciência mesmo do continente, a de pertencimento à Ibero-América. O reconhecimento de uma base cultural comum, ampliada para América Latina quando se tratava de incluir aí o Brasil, leva inúmeros literatos e intelectuais a se engajarem em um movimento que visava estreitar laços entre os países que compunham o continente e a valorizar a multiculturalidade através de trocas e intercâmbios em várias áreas. Neste sentido, a autora analisa as iniciativas de vários destes intelectuais, dentre os quais destaca a poetisa e educadora chilena Gabriela Mistral, que, inclusive, passou a residir no Brasil para melhor processar esta integração, assim como as preocupações de Cecília Meireles, Alfonso Reyes e Monteiro Lobato para ampliarem o conhecimento sobre o continente, enfatizando a necessidade de um diálogo entre seus intelectuais e a promoção de ações, particularmente na área educacional.
A influência norte-americana, mais diretamente na área educacional é analisada também em outros momentos da história latino-americana por especialistas como Iraíde Barreiro e Mirian Warde. A primeira traz um assunto ainda pouco abordado pelos historiadores, ou seja, as políticas educacionais para o mundo rural latino-americano, enquanto Mirian Warde aborda a trajetória do pensamento de Anísio Teixeira, ambas a partir da década de 1950. Destaca-se em seus artigos a ampla base documental que subsidiou suas análises, possibilitando ao leitor o conhecimento de aspectos históricos nos quais se fundam práticas e preceitos educacionais. Iraíde Barreiro demonstra como no contexto da guerra fria foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER) cujos trabalhos não se restringiram somente à sala de aula, mas atingiram toda a comunidade rural, em várias frentes como a saúde, o lazer, o esporte, para contribuir na formação de um corpo regrado. A partir de uma noção de cultura centrada no mundo urbano, sinônimo de modernidade, reativam-se, segundo ela, estereótipos negativos sobre o homem do meio rural. Convênios e acordos firmados entre ministérios brasileiros e a Inter-American Educational Foundation, Inc. (Cooperação subordinada ao Office of Inter-american Affairs, agência do Governo dos Estados Unidos), possibilitam maior aproximação interamericana, mediante intercâmbio intensivo de educação, idéias e métodos pedagógicos entre os países. A estes preceitos se somam, conforme a autora, a influência do filósofo cristão de Jacques Maritain e do Pe. Lebret, para os quais a educação comunitária, do grupo e centrada no indivíduo, deveria ser enfatizada como forma de superar o dilema capitalismo / socialismo por meio da “solidariedade”, da “humanização” das relações entre indivíduos e entre as classes sociais.
Em Mirian Warde encontramos os fundamentos dos preceitos educacionais e editoriais do inicialmente católico Anísio Teixeira, o qual, a partir da década de 1950, assume como seu grande referencial a pedagogia de Dewey e o pragmatismo de Henry Ford, de que resulta uma síntese entre o fordismo e a pedagogia pautada na experiência inteligente, acrescida, posteriormente das influências de dois de seus professores norte-americanos: Counts e Kilpatrick. Da correspondência de Anísio Teixeira com seu antigo mestre e amigo Counts, Warde destaca também o desapontamento deste autor ante a indiferença deste último para com a ditadura brasileira que, inclusive, o atinge e à sua família, embora isso não tenha afetado sua convicção na democracia norte-americana.
Nesse sentido, demonstra como este educador dedicou os últimos anos de sua vida – após ter sido compulsoriamente desligado dos cargos públicos que exercia (direção da Capes e do Inep, reitoria da UnB, e membro do Conselho Federal de Educação) –, à série editorial Cultura, Sociedade e Educação, na qual se destaca sua firme convicção nos preceitos liberais, particularmente os norte-americanos, exemplares, segundo ele, da realização da democracia e da pacificação dos interesses sociais, por força da (re)criação do liberalismo, que teria ganhado um sentido plenamente original pela inclusão dos problemas sociais em sua pauta.
Este número da Projeto História traz ainda, como é de praxe, notícias sobre pesquisas em andamento no mundo acadêmico e, nesse sentido, selecionou textos que se destacam pelo ineditismo das fontes utilizadas, de que é um exemplo o estudo sobre os conflitos sociais resultantes da higienização de Fortaleza, no século XIX.
A análise do canto de Carlos Drumond intitulado A rosa do povo aproxima o plano estético da literatura ao seu avesso, conforme afirma o próprio pesquisador, o campo da história; enquanto, na área da política, o informe sobre os estudos relativos ao governo Cárdenas, nos anos 30, se aproxima(m) da preocupação de outro pós-graduando preocupado com a análise da turbulência vicenciada, em pleno século XXI pela Argentina e Venezuela, consideradas como as nações latino-americanas com modelos de sistemas bipartidários consolidados. E, para finalizar, o estudo do pensamento de José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange Española Tradicionalista, antecede a apresentação das resenhas críticas dos livros de Serge Gruzinski, de Juan Carlos Mechoso e do historiador uruguaio Miguel Aguirre Bayley. O primeiro trata da modernidade e identidade latino-americana, o segundo, analisa o movimento anarquista e Bayley a história cultural.
Esperamos que, também com este número, o leitor se sinta contemplado em suas inquirições sobre aspectos da história latino-americana, que vem em continuidade ao número anterior: Américas.
A presença italiana em nossa cultura, como bem o sabemos, é muito relevante. Em fins do século XIX, Don Quixote – jornal ilustrado de Angelo Agostini (1843-1910), localizado à rua do Ouvidor, 109, dava o seu tom para os enfrentamentos de Antonio Conselheiro. O historiador e desenhista Gilberto Maringoni se pergunta: como esse italiano, abolicionista convicto, que denunciou as monstruosidades do regime escravista esposava (d)as concepções conservadoras acerca dos habitantes do Belo Monte, temendo o destino da própria República? Com suas ilustrações sensíveis, o caricaturista, jornalista e militante político, é desvendado numa minuciosa analítica. Os desenhos de Agostini sobre a escravatura mostram cenas de sadismo, torturas, castigos e mutilações que, como o demonstra Maringoni, mereceram o elogio de Joaquim Nabuco à Revista Illustrada, destacada como “a bíblia abolicionista do povo”. O autor perpassa as caricaturas do desenhista italiano e as examina num paralelo com a visão de mundo de Nabuco que refuta a “grande degringolada” da ordem política que sustenta a escravidão deixando, porém, intangível a estrutura econômica assentada no latifúndio. E, nessa visão de mundo, em decorrência da passividade dos escravos sem revolta, acabar-se-ia num conluio entre governo e senhores. Para Maringoni, Angelo Agostini, liberal convicto ao se contrapor ao movimento de Canudos, manifestava a ideologia de nossa elite excludente, produto de nossa modernização conservadora.
Por meio da perquirição dos escritos de dois amigos italianos, que se direcionam para a região platina, Eduardo Scheid aborda a penetração do ideário de Mazzini na então República Rio-Grandense e na cidade de Buenos Aires que assiste a posse de seu primeiro presidente constitucional, Bartolomé Mitre. Os jornalistas italianos se separam ao chegar em Montevidéu. Esta filiação ideológica faz com que um deles, Luigi Rossetti, acentue em especial o caráter internacional das lutas dos partidários da liberdade contra as tiranias em todo o mundo. Gian Battista Cuneo, tornando-se responsável pelas últimas edições do jornal O Povo, tentará, assim como o amigo Rossetti, aplicar o ideário messiânico e religioso de Mazzini no contexto político local. Mazzini clamava por princípios duradouros da humanidade e recusava o egoísmo individualista. A questão que o autor tenta decifrar é a chave histórica: quais razões levaram esses ideólogos a abandonarem o ideário mazziniano?
As disputas e partilhas de territórios invariavelmente estiveram no fundo de conflitos bélicos. No cenário da guerra do Paraguai, em meados do século XIX, a aventura de sujeitos itinerantes e anônimos, com seus registros fotográficos, propiciou modelos imagéticos duradouros. É no próprio campo de combate que florescem valores culturais formativos dos grupos sociais litigiosos. Com este foco, o historiador Airton José Cavenaghi se debruça no desvendamento do outrora “Sertão desconhecido”, a região noroeste do território paulista. Perscruta por meio de mapas da Expedição de Taunay e fotografias dos itinerantes, o imaginário que se cola nesses deslocamentos das paisagens urbanas. Regiões, outrora desconhecidas pelos poderes constituídos, ganham visibilidade e, graças a esses registros, passam a se constituir como identidades de grupos sociais e econômicos, forjando um mecanismo mnemônico de identidade coletiva.
Além disto, o caráter polifônico desse continente transparece também no relato dos estudos que versam tanto sobre produções coletivas de artistas do Canadá, EUA, Austrália, Espanha, França, Dinamarca e Brasil, entre os anos 90 aos dias atuais, como expressão do ativismo contemporâneo; quanto sobre os sentidos e as funções sociais que transparecem em produções artísticas e literárias latino-americanas. Neste sentido, o sempre visitado líder Che Guevara atrai a atenção de dois pesquisadores que nos mostram sua dedicação: um ao resgate das representações e significados políticos que a morte de Che Guevara surtiu para os movimentos de esquerda e meios artístico e musical na América Latina; outro às representações deste ícone das lutas revolucionárias na canção latino-americana.
Vera Lúcia Vieira
Antonio Rago Filho
Editores científicos
FILHO RAGO, Antonio; VIEIRA, Vera Lúcia. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v. 32, 2006. Acessar publicação original [DR]