Repensar los exilios políticos latinoamericanos del siglo XX desde los márgenes | Revista de Historia y Geografía | 2021

En la última década, las historiografías del Cono Sur de América Latina vienen experimentando el notable crecimiento de los estudios sobre los exilios políticos. Si bien los exilios masivos de las llamadas “dictaduras de la Seguridad Nacional” han concentrado el mayor interés, en parte por el carácter masivo o más numeroso de esos movimientos poblacionales, pero en no menor medida por impulso de las heterogéneas políticas públicas nacionales de Memoria, Verdad y Justicia, el campo reconoce hoy una pluralidad tan grande de experiencias, subjetividades, lógicas y procesos de emigración política del pasado más próximo o más lejano, interrogados desde marcos disciplinarios y arsenales teórico-metodológicos tan diversos, que resulta difícil afirmar cuáles son sus señas de identidad.

Partiendo de tal estado de cosas, en este número de Revista de Historia y Geografía se incluyen cuatro aportes sustantivos que, en una temporalidad que recorre el siglo XX pero que hace foco en las dos coyunturas más significativas para la producción de exilios masivos, interpela el objeto “exilios políticos” desde los márgenes del campo de estudios. Leia Mais

Direitos humanos e políticas de memória / História – Questões & Debates / 2020

O Dossiê que temos a satisfação de apresentar ao olhar crítico dos leitores da Revista História: Questões & Debates, reafirma nossas convicções sobre as exigências que a história nos impõe em não permitir apagamentos, silenciamentos, ocultações e censuras em face de experiências traumáticas que afetaram (e afetam) o cotidiano do Brasil e da América Latina. Elaborar o traumático por meio de um trabalho de memória, como destacou Elizabeth Jelin (2002), implica colocar uma distância entre o passado e o presente. Mas esta distância implica igualmente em não recusar as interações dinâmicas e as contínuas reapropriações que marcam as temporalidades históricas. Significa, ao contrário, recordar que algo ocorreu, e ao mesmo tempo, reconhecer a vida presente e os projetos futuros. Levando em consideração as circunstâncias políticas passadas e presentes que repercutem no modo pelo qual as nossas sociedades produzem suas representações; preocupados com os processos históricos que maximizam as situações de vulnerabilidade de grupos sociais e comunidades, e atentos à lição de Jelin, nossa crença é que são cada vez mais urgentes as reflexões que congregam o binômio “direitos humanos” e “memória”. Quer nos parecer, portanto, que tal urgência está plenamente contemplada no conjunto dos artigos que compõem este Dossiê. Um Dossiê tecido por narrativas plurais; construído pelas vozes da persistência, e, sobretudo, concebido pela coragem de não tangenciar ou se omitir diante da responsabilidade de enfrentarmos um duplo desafio: educativo e político.

É imperativo destacar dois aspectos. Primeiro, o potencial crítico e analítico alicerçado sob o binômio “direitos humanos” e “memória” e em seus desdobramentos temáticos possíveis, é o que temos nos empenhado em desenvolver no âmbito de uma rede de investigadores brasileiros e de outros países que, afortunadamente, tem se ampliado nos últimos anos, justamente, a partir de interesses comuns de pesquisa e pelo intenso grau de similitudes entre seus objetos de estudo. Destarte, os debates gerados no Grupo de Pesquisas DIHPOM (Direitos Humanos e Políticas de Memória), sob coordenação da pesquisadora e professora Marion Brepohl, têm auspiciado uma série de publicações e encontros científicos que contribuem para refinar e reformular as percepções sobre o mundo no qual atuamos. Em segundo lugar, reforçamos como estatuto epistemológico de nossas práticas, a opção por uma vertente profundamente crítica tanto em relação ao uso instrumental e etnocêntrico da noção de direitos humanos; quanto aos modismos que inflacionam e despolitizam o conceito multiforme de memória. É sob tal orientação que se organizam os nove artigos oferecidos ao leitor pelo Dossiê “Direitos Humanos e Políticas de Memória”.

No artigo que abre o Dossiê, de título “Desafios para a história nas encruzilhadas da memória: entre traumas e tabus”, Marcos Napolitano enfoca as categorias de trauma e tabu vinculando-as à análise dos processos de memorização e suas conexões com o conhecimento histórico, sobretudo, na apreensão dos períodos marcados por violências extremas. O autor constrói uma reflexão em que visualiza o “trauma” como categoria recorrentemente apropriada pelo campo de saberes historiográficos; enquanto o “tabu” é identificado como uma espécie de negação produzida pelos perpetradores das violências e seus herdeiros. Ambos são mobilizados para analisar e compreender as mutações na memória hegemônica da ditadura militar brasileira.

Em seguida, Diogo Justino no artigo “Uma responsabilidade pelo que não fizemos? A memória como fundamento da responsabilidade histórica em Walter Benjamin e Reyes Mate” explora as relações entre memória e história a partir de um diálogo entre Benjamin e Reyes Mate. Justino pauta sua análise pensando os vínculos entre passado e presente, centrais na reflexão do filósofo alemão, conectando-os com a noção de memória da injustiça como fundamento de uma ideia de responsabilidade histórica em Reyes Mate. O autor conclui que a operação de pensar o presente a partir do passado, incluindo as experiências de injustiça, é como pensar sobre as responsabilidades que as gerações do futuro possuem em relação às gerações do passado.

No terceiro artigo, “La violencia dictatorial y la violencia estatal de largo plazo en el Cono Sur de América Latina: entre lo excepcional y lo habitual”, o historiador argentino Daniel Lvovich propõe uma série de perguntas e vinculações entre as modalidades mais gerais da violência estatal contra a próprias populações, e as formas de violência especificamente políticas instauradas pelos estados nos períodos ditatoriais. Para Lvovich, a violência política representa a potencialização em escala geométrica da violência cotidiana previamente existente e que atinge as comunidades nacionais, tendo como alvos involuntários os setores mais vulneráveis da população.

Magdalena Figueredo Corradi e Fabiana Larrobla Caraballo, em “Una aproximación a la metodologia de investigación de los crímenes de lesa humanidad en las dictaduras del cono sur. La experiencia del Equipo de Investigación Histórica (EIH) – Uruguay”, tratam do processo de construção de uma abordagem metodológica cujo enfoque trandisciplinar, permite às autoras trazer ao leitor o exitoso trabalho realizado durante mais de quinze anos na investigação sobre os crimes cometidos pelo estado uruguaio dentro de seu território, e no marco do Plano Condor. O empenho sistemático no âmbito do EIH tem como princípios contribuir para os processos de verdade, justiça e reparação em relação às graves violações de direitos humanos cometidas pelas últimas ditaduras do século XX no cone sul, mas também almeja gerar um campo de estudo que possa ampliar o escopo de metodologias favoráveis ao trabalho dos investigadores.

As percepções do direito internacional humanitário quanto à reparação jurídica e ao direito à memória são desenvolvidas por Melissa Martins Casagrande e Ana Carolina Contin Kosiak, no artigo “Reparação jurídica e direito à memória: o papel das sentenças condenatórias internacionais e estrangeiras sobre desaparecimentos forçados”. As autoras propõem que sentenças condenatórias referentes às violações de direitos humanos cometidas em períodos ditatoriais têm um duplo papel: prover reparação jurídica às vítimas e / ou aos seus familiares; assim como produzir meios documentais que permitam o acesso ao passado contribuindo para a consolidação do direito à memória. O recorte temático mais específico repousa na atuação transnacional da Operação Condor e as suas responsabilidades no desaparecimento forçado de opositores das ditaduras na América do Sul entre as décadas de 1960 e 1990.

No artigo seguinte, de título “Los refugiados chilenos residentes en Argentina como un ‘problema de seguridad nacional’, 1973-1983”, Maria Cecilia Azconegui estuda as repercussões do golpe pinochetista no cenário político argentino. Azconegui explora os impactos provocados pelo ingresso de milhares de refugiados chilenos no território argentino, e analisa as mudanças nas percepções e nas políticas de governo com respeito a esses refugiados. A autora sugere que, gradativamente, os chilenos passaram a ser considerados uma ameaça cuja permanência na Argentina devia ser objeto de regulação, controle, e mesmo, repressão, eliminação física ou expulsão, a despeito dos mecanismos de proteção proporcionados pelo ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Ao relacionarem as Comissões da Verdade e a literatura no artigo “Experiências de ditadura na Argentina e no Brasil: notas sobre a reelaboração da memória a partir da literatura”, José Carlos Freire e Alexandre Fernandez Vaz discutem aspectos gerais sobre a Justiça de Transição ocupando-se do papel assumido pela CNV – Comissão Nacional da Verdade implantada no Brasil em 2011. Em perspectiva comparativa, os autores refletem sobre a CONADEP na Argentina, e trazem à luz quais as possíveis contribuições da literatura de testemunho a partir de dois relatos: K. Relato de uma busca de Bernardo Kuncinski (2011), e Mi nombre es Victoria, de Victoria Donda (2009). Os autores concluem que tanto os trabalhos das Comissões instaladas nos dois países em temporalidades distintas, como a diferença entre as duas narrativas literárias sobre desaparecimentos evidenciam a dificuldade do Brasil em elaborar o seu passado ditatorial.

Na sequência, Leandro Brunelo e Angelo Priori no artigo “Resistência democrática versus graves violações dos direitos humanos durante a ditadura militar no Paraná: a atuação dos advogados na defesa dos presos políticos” problematizam o Inquérito Policial Militar 745 (IPM 745), que, durante a ditadura militar brasileira, apurou o envolvimento dos comunistas na suposta organização do partido no estado do Paraná em 1975. Os autores contrapõem as instituições políticas que controlam e formulam leis, e os advogados de defesa das pessoas presas que denunciaram as violações dos direitos humanos. Ao ressaltarem as disputas que ocorriam em um campo específico, o jurídico, Brunelo e Priori demonstram os modos pelos quais agentes díspares na escala do poder travaram uma batalha legal e jurídica, e, por sua vez, como os advogados valiam-se do mesmo substrato burocrático-legal fomulado pelo estado para tornar menos rígidos os limites da lei e do campo jurídico.

Encerra nosso Dossiê, o artigo escrito pela historiadora Carla Cristina Nacke Conradi: “Gênero, memória e ditadura: a militância política de Lídia Lucaski no Paraná”. Neste artigo, Carla Conradi aborda a complexa relação entre gênero e ditadura, partindo de uma escrita sobre a história da ditadura civil-militar no Paraná, por meio da memória autobiográfica de uma militante paranaense. A autora retrata o retorno que Lídia Lucaski faz ao seu passado e como esse relato está entrelaçado pelas análises que Lídia, a protagonista, tece sobre sua militância política. Conradi destaca que, muito mais do que narrar sua trajetória, Lídia problematiza a relação que tem no presente com sua memória, dimensionando sua capacidade de arquivar o passado ou de fazer apropriações das experências vividas.

Este volume da Revista História: Questões & Debates conta ainda com três artigos em sua Seção Livre. “Saber histórico e desenvolvimento das competências de leitura e escrita no currículo oficial do estado de São Paulo”, de Jorge Eschriqui Vieira Pinto, pelo qual o autor argumenta como o saber histórico de sala de aula a partir do desenvolvimento de leitura e escrita pode se tornar uma importante ferramenta cidadã dos alunos. Na sequência, Diogo da Silva Roiz e Tiago Alinor Hoissa Benfica, em “Elza Nadai: a formação da papisa do ensino de História”, apresentam a trajetória intelectual de Elza Nadai, no intuito de visualizar os locais institucionais e as proposições teóricas que edificaram a área de pesquisa de ensino de História. Por fim, no artigo “Estado do conhecimento sobre história da alimentação indígena no Brasil”, Tamiris Maia Gonçalves Pereira, Sônia Maria de Magalhães e Elias Nazareno discutem as recentes abordagens desenvolvidas no âmbito da História da Alimentação, com foco específico na alimentação indígena.

Os organizadores deste Dossiê desejam agradecer a contribuição de autoras e autores na concretização de mais esta edição da Revista, e, sobretudo, a generosidade pela qual as editoras acolheram a nossa proposta.

Uma boa leitura!

Angelo Priori (Universidade Estadual de Maringá)

Marcos Gonçalves (Universidade Federal do Paraná)

Silvina Jensen (Universidad Nacional del Sur)

Organizadores


PRIORI, Angelo; GONÇALVES, Marcos; JENSEN, Silvina. Apresentação. História – Questões & Debates. Curitiba, v.68, n.1, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Exílio e Afastamento: considerações sobre uma hermenêutica da distância? / Tempo / 2019

A semântica dos deslocamentos é complexa: apátridas, deslocados, fugitivos, clandestinos, desenraizados, imigrantes, emigrados e muitos outros termos compõem um campo vasto. Uma avaliação terminológica rigorosa seria necessária para ordenar uma mescla de registros que descrevem situações jurídico-sociológicas, referências a condições existenciais e termos que remetem a contextos históricos. De todo modo, esse conjunto indica condições de profunda instabilidade e insegurança (Nouss, 2015).

Nessa galeria lexical, o termo exílio destaca-se. Consideramos que a amplitude de significados associados a essa categoria sustenta uma importância conceitual e metodológica específica: a experiência exílica representa um núcleo existencial / jurídico / social comum a todos os fenômenos de mobilidade forçada em nossa contemporaneidade, de tal modo que ela pode permitir a compreensão de outras terminologias sem recobrir suas especificidades.

Utilizar o termo exílio para tratar de milhões de trajetórias de deslocamento que balizaram a experiência coletiva e global do último século indica, por conseguinte, uma reconfiguração do sentido de exílio. A trajetória exilar trama uma relação tensa entre histórias e memórias, constitui biografias tocadas pela ruptura e pela descontinuidade e produz relatos que aspiram a uma coerência imaginária – esforços narrativos que lançam desafios às categorias de tempo, espaço e identidade.

Vivendo na crise dos Estados nacionais europeus depois de 1918, os exilados da contemporaneidade deslocaram-se por uma geografia instável, na qual o passado de suas existências desaparece para dar lugar a um futuro radicalmente novo, em que eles não têm pertencimento garantido, e sua tarefa de sobrevivência é um desafio físico e de produção de sentido. O presente dossiê conta com estudos sobre as diversas dimensões da experiência exilar contemporânea, trabalhos que analisam testemunhos, ações institucionais e campos de conhecimento surgidos como desdobramento dos eventos violentos associados ao fato exilar. No entanto, pensar o exílio é uma proposição que vai além do estudo de caso. Os trabalhos publicados nesta edição da revista Tempo partem da experiência do exílio para discutir as relações complexas da história com a literatura, com o campo psicanalítico e com práticas políticas diversas.

Possibilidades de análise

O exílio tem sua origem na velha prática do banimento, mas os exilados sem pátria são uma criação do Estado do século XX. Muitos pertencem à extensa galeria de personagens do deslocamento: os expatriados moram em outro país, geralmente por motivos pessoais ou sociais, sem sofrer as mais rígidas interdições; os emigrados gozam de uma situação ambígua, em que a possibilidade de escolha não lhes foi de toda retirada; funcionários coloniais, missionários, assessores técnicos, mercenários e conselheiros militares podem, em certo sentido, viver longe de sua pátria, mas não foram banidos. No entanto, o surgimento massivo de exilados sem pátria foi uma dimensão severa de sucessivas crises políticas, ideológicas e militares ocorridas nas primeiras décadas do século XX. Milhões de homens e mulheres movendo-se em uma extensão territorial global; esse é o cenário que configura a dimensão do contemporâneo.

Nesse sentido, ao considerar as transformações que marcam nosso presente, François Hartog (2013) observa que o homem deslocado foi uma figura importante na lenta construção de uma nova forma de historicidade. Atualizando o conceito de “brecha”, o autor afirma que a temporalidade vivida pelos deslocados de nosso tempo ocorre no interior de um gap temporal, em que o tempo histórico está suspenso, um tempo desorientado, situado entre dois abismos: um passado que não está abolido, mas que nenhuma orientação pode oferecer, e um futuro do qual não se faz ideia de como será. Vivendo em um tempo em trânsito, esse deslocado, exilado entre distintas temporalidades, será um observador agudo desse novo tempo.

Nesse sentido, os exilados foram os primeiros a transformar a experiência dos horrores do século XX em objeto de pensamento. Por isso, sua contribuição ao pensamento crítico foi, e ainda é, tão fundamental para a escrita da história. O desenraizamento nacional, a perda do trabalho, das ligações familiares, da língua e do contexto social e cultural transformam o exilado em um personagem dotado de uma condição fundamental para a construção de uma análise crítica do mundo contemporâneo: a condição do estranhamento e da distância.

Acompanhamos Traverso (2012) em sua proposição, ou seja, no que ele denomina hermenêutica da distância. Vivenciando o estranhamento proporcionado pelo afastamento que lhe foi imposto, os exilados e apátridas são obrigados a observar, sem nenhuma empatia, o mundo do qual foram expulsos e enfrentar eticamente o mundo para o qual se dirigiram. Crítica e compromisso (ético) são as bases da hermenêutica, quase existencial, que se tornam incontornáveis para o estrangeiro radical. A potência presente no exilado desse novo tempo é ao mesmo tempo sua tragédia, ou seja, sua impossibilidade de retorno, uma vez que o mundo material, jurídico, cultural ou pessoal foi aniquilado, transformando a distância em impossibilidade. Nesse caso, o lugar de exilio torna-se também espaço imaginativo. Diante do novo mundo de acolhida e com um futuro às vezes imprevisível pela frente, muitos reinventam suas identidades e trajetórias de vida. Um novo começo, com outro nome, religião e profissão, marca as histórias desses desenraizados.

Cabe, portanto, uma breve reflexão sobre as relações entre a experiência exilar e a escrita literária. Said (2002), ao ler Lukács, sustentou que o romance, forma literária criada a partir da fantasia, emana de uma realidade marcada pela instabilidade, na qual sujeitos comuns, mesmo os itinerantes e deserdados, pensam poder construir um mundo novo. No romance, diferentemente de na epopeia, o destino é desdito, e apresentam-se às personagens e aos leitores outros mundos possíveis. Podemos nos perguntar de que modo a literatura do exílio assumiu seu lugar como um topos da experiência humana. Ou ainda como se realiza a experiência dos intelectuais e escritores exilados, na medida em que o exílio impacta diretamente seu ofício, a saber, a produção da inteligibilidade sobre si e seu entorno. Essas questões mobilizam Federico Gerhardt na escrita de seu artigo “Decir (en) el exilio, en el siglo XX: cuestiones terminológicas, literarias y editoriales. Aproximaciones con vistas al exilio de la Guerra Civil española”, sobre os dilemas e impasses dos escritores espanhóis exilados a partir da derrota republicana e pelo início do governo franquista.

No campo dos estudos sobre trajetórias de intelectuais, publicamos os textos de Benedetta Calandra, “Cultural philanthropy and political exile: the Ford Foundation between Argentina and The United States (1959-1979)”, e de Luiza Nascimento dos Reis, “O exílio africano de Paulo Farias (África ocidental, 1964-1969)”. A partir de casos coletivos ou individuais, ambas trazem importantes contribuições para a compreensão da participação de pesquisadores latino-americanos na formação dos campos disciplinares nas áreas de ciências sociais.

Calandra faz uma análise das políticas de financiamento e apoio a intelectuais argentinos fomentada pela Fundação Ford, nos Estados Unidos. O artigo estuda a atuação da agência americana a partir de 1959, momento crítico das relações interamericanas durante a Guerra Fria. A pesquisa está baseada em fontes com informações sobre as ações que permitiram a diversos intelectuais escaparem das perseguições políticas iniciadas no final da década de 1950 na Argentina.

O trabalho de Luiza Nascimento, por sua vez, apresenta a trajetória de um intelectual negro brasileiro após o Golpe de 1964. Em seu artigo, a autora descreve, a partir da correspondência de Farias com Pierre Verger, não apenas um percurso exilar, mas principalmente elementos para compreendermos a construção do campo de estudos africanos no Brasil.

O sujeito exilado sai sem saber se retorna à sua pátria. Seu projeto político e de vida foi derrotado, e, a partir desse dado, ele poderá ou não se reinventar no exterior, ou simplesmente desistir. Suas perspectivas, entre elas a do fim do exílio, orientarão a forma com que ele se relacionará com seu passado, deixado na terra natal, e recriará seu presente e futuro. Fato é que o exílio impõe a ruptura com um mundo de referências basilares, obrigando o exilado à inescapável experiência do desenraizamento (Todorov, 1999). A diferença está no que fazer a partir dessa experiência, que, em um primeiro momento, expressa apenas perdas dolorosas.

O luto doloroso decorrente da sobrevivência e a dificuldade do retorno são um campo de estudos que radicaliza o compromisso ético dos historiadores e cientistas sociais com seu presente. A mobilização de testemunhos como fonte para a pesquisa e a atenção para as trajetórias individuais e coletivas em um contexto de reconstrução são problemas analisados por Mario Ayala em seu artigo “‘Reaparecer en el exilio”: experiencias de militantes argentinos sobrevivientes de desaparición forzada en Venezuela (1979-1984)”. O autor aborda com competência os problemas surgidos no processo de chegada a outro país e as relações, por vezes tensas, entre os diversos agentes presentes no processo exilar.

Em uma abordagem próxima, na qual sobressai o tema do pós-exílio, María Soledad Lastra analisa o processo de elaboração conceitual do termo “retorno”, relacionando-o com o campo dos direitos humanos e da saúde mental. Em seu texto “‘Dejar de ser síntoma con el silencio’: la inscripción del exilio-retorno en el campo de la salud mental en la posdictadura argentina (1983-1986)”, a autora criteriosamente analisa a produção teórica e clínica das equipes de saúde mental de instituições argentinas dedicadas à recepção de exilados argentinos nos anos 1980, trazendo uma abordagem original sobre o problema do retorno.

Ao editarmos este dossiê, acreditamos apresentar ao leitor a possibilidade de avaliar o tema tão incômodo quanto presente de forma complexa e múltipla. A experiência do deslocamento, que hoje atinge milhões de seres humanos, não é apenas um tema que desafia os conceitos legais ou a norma jurídica. Mais do que isso, como categoria trágica, o exílio / deslocamento é parte do lento e desafiador processo de nossa contemporaneidade de redefinição de nossas concepções de tempo, espaço e cultura.

Referências

AGAMBEN, G. O que é ser contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. [ Links ]

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. [ Links ]

HARTOG, F. Regimes de historicidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. [ Links ]

NOUSS, A. La condition de l’éxile. Paris: Editions de La Maison des Sciences de l’Homme, 2015. [ Links ]

QUADRAT, S. (Org.). Caminhos cruzados: história e memória dos exílios latino-americanos no século XX. Rio de Janeiro: FGV, 2011. [ Links ]

SAID, E. Reflexões do exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. [ Links ]

TODOROV, T. O homem desenraizado. Rio de Janeiro: Record, 1999. [ Links ]

TRAVERSO, E. L’histoire comme champ de bataille: interpréter les violences du XXe siècle. Paris: La Découverte, 2012. n. 359 [ Links ]

Silvina Jensen – Universidad Nacional del Sur (UNS) – Bahia Blanca- Buenos Aires, Argentina. Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas-CONICET – Buenos Aires, Argentina. E-mail: sjensen@criba.edu.ar
http: / / orcid.org / 0000-0002-9166-8852

Mauricio Parada – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: mauriciobparada@gmail.com http: / / orcid.org / 0000-0003-2959-5215


JENSEN, Silvina; PARADA, Mauricio. Apresentação. Tempo. Niterói, v.25, n.2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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