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Isaac Newton and the Study of Chronology: Prophecy, History and Method | Schilt Cornelis J.
Cornelis J. Schilt | Imagem: Corpus Newtonicum
Al pie de su monumento funerario en la Abadía de Westminster se lee que Isaac Newton fue un intérprete diligente, sagaz y fiel de la Naturaleza, de la Antigüedad y de la Sagrada Escritura (Naturae, Antiquitatis, S. Scripturae sedulus, sagax, fidus interpres). El segundo elemento, la Antigüedad, es el que menos esperable resulta para el público de hoy: se refiere a la prolongada dedicación del genio inglés a los estudios de cronología. Esta ardua disciplina, hoy olvidada, servía como punto de encuentro de biblistas, astrónomos y anticuarios; perseguía una datación precisa de los sucesos de la Antigüedad con vistas a la integración, en una única línea temporal coherente, de las dispares cronologías ofrecidas por los relatos bíblicos y las narraciones de los historiadores paganos. La punta de iceberg de los desvelos cronológicos de Newton fue la póstuma Chronology of Ancient Kingdoms Amended (1728), una obra que Richard Westfall juzgó “de un tedio colosal”, solo leída por “el reducidísimo grupo de quienes por sus pecados deben atraversar el purgatorio que representa” (Never at Rest, Cambridge, 1980, p. 815).
A Contribution to the Newtonian Scholarship: The “Jesuit Edition” of Isaac Newton’s Principia | Paolo Bussotti e Raffaele Pisano
The Mathematical Principles of Natural Philosophy (Philosophiae Naturalis Principia Mathematica in Latin), hereafter Principia, a three-volume tour de force written by Isaac Newton, and published in 1687, is the seminal work in the history of modern physics. American theoretical physicist and Nobel laureate, Steven Weinberg, remarked in his 1972 work on cosmology and gravitation that “all that has happened since 1687 is a gloss on the Principia” (apud Pask, 2013, 14).
The second edition of the Principia was published in 1713, and reprinted and corrected in 1714, incorporating a more comprehensive theory of the Moon, the motions of comets, and the precession of the equinoxes, and, at the end of the whole book, the famous general scholium. The third edition of the Principia was published in 1726. Newton made some additions to the third edition, including new explanations for the resistance of fluids in “Book 2” (which resumes “Book 1”, De motu corporum, “On the motions of bodies”), as well as a more detailed explanation for the Moon’s orbit and the role of gravitation, and, in “Book 3” (De mundi systemate, “On the system of the world”), new observations of Jupiter and the comets. The first translation into English was published in 1729, by Andrew Motte, based on the 1726 third edition of the Principia. Leia Mais
Newton’s Philosophiae Principia Mathematica “Jesuit”. Edition: The Tenor of a Huge Work | Paolo Bussotti e Raffaele Pisano
Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (em latim, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica), doravante somente Principia, obra de três volumes escrita por Isaac Newton, e publicada em 1687, é a obra seminal da história da física moderna. O prêmio Nobel de Física, Steven Weinberg, teórico de campos, ao refletir sobre a Física, em seu livro de 1972, sobre cosmologia e gravitação, afirmou que “tudo o que aconteceu desde 1687 é um comentário (ou polimento) dos Principia” (apud PASK, 2013, p. 14). A segunda edição dos Principia foi publicada em 1713 – e reimpressa e corrigida em 1714 –, contendo uma teoria da Lua mais completa, assim como dos equinócios e dos cometas. A terceira edição dos Principia foi publicada em 1726. Newton acrescentou na terceira edição novas explicações sobre a resistência dos fluidos no Livro 2 (continuação do Livro 1, De motu corporum, em português, “Sobre o movimento dos corpos”), assim como explicações mais detalhadas sobre a órbita da Lua e o papel da gravitação, e, no Livro 3 (De mundi systemate, em português, “Sobre o sistema do Mundo”), novas observações sobre Júpiter e os cometas. A primeira tradução para o inglês foi publicada em 1729, por Andrew Motte, a partir da terceira edição dos Principia de 1726. A chamada “Edição Jesuíta”, foco do projeto de Bussotti e Pisano, baseou-se também na terceira edição de Newton, publicada entre 1739 e 1742, em quatro volumes, pelos escolásticos Thomas Le Seur (1703-1770), François Jacquier (1711-1788), frades franceses, e Jean Louis Calandrini (1703-1758), matemático suíço. Esta edição contém um número de comentários, explicações e adendos aos Principia, já não mais do próprio punho de Newton. Leia Mais
Measuring the New World – SAAFIER (VH)
SAFIER, Neil. Medindo o Novo Mundo: Ciência do Iluminismo e América do Sul. Chicago: University of Chicago Press, 2008, 387p. Resenha de: COLACIOS, Roger Domenech. Varia História . Belo Horizonte. v. 27, n. 46, jul / dez. 2011.
Qual o formato do mundo? Seria achatado ou inchado nos polos? Este questionamento provocou um debate científico entre inglês e francês no século XVIII, os primeiros a entender a posição de Isaac Newton de um planeta achatado em suas extremidades, os últimos favoráveis à argumentação de René Descartes dos polos inchados. Como resolver este problema? Um fim de realizar medições que comprovaram uma outra teoria, expedições científicas foram enviadas, em 1737, para duas partes do mundo: uma para Quito, na América Espanhola, com Louis Godin, Pierre Bouguer e Charles-Marie La Condamine, e outra para a Lapônia, liderada por Pierre-Louis Moreau de Maupertuits. Ao final, segundo os savants envolvidos na controvérsia, Isaac Newton estava correto.
Este é o pano de fundo do histórico Neil Safe em Medindo o Novo Mundo: Ciência do Iluminismo e América do Sul , publicado em 2008 e ainda sem edição no Brasil. Uma disputa entre academias que levou seus membros a partir de uma pesquisa de comprovação de teorias e hipóteses com respeito à circunferência do mundo. Mas este não é o foco principal da obra: sua análise está voltada para os resultados desta expedição científica para o Novo Mundo, com os desdobramentos do trabalho e a apropriação do conhecimento adquirido junto aos “nativos” (indígenas, mestiços e espanhóis), que, assimilados e transformado pelos europeus, ganhou novo sentido, perdendo a identificação de suas origens mistas.
A problemática de Safier está direcionada para duas questões: o que foi alterado na prática das ciências empíricas quando esta mudou de local de atuação – no caso da Europa para o Novo Mundo? E também o que foi alterado nos locais por onde estes cientistas passaram? Esses questionamentos são respondidos por Safier tendo como ferramenta de análise o que chamou de intercâmbios e plataformas transnacionais na construção do conhecimento científico a partir de dois vieses: 1) transformação do conhecimento obtido, adaptando-o aos padrões europeus em seu sentido estético, seja textualmente ou cartograficamente; 2) apropriação do conhecimento obtido e sua incorporação (devidamente transformado) no corpus científico europeu, pelo valor (commodities) na economia do saber, uma forma de apagar o que foi feito anteriormente e controlar desta forma os discursos acumulados.
O autor monta um palco onde diversos atores promovem a interação e o intercâmbio de conhecimentos científicos entre áreas transnacionais com a intenção de compreender a trajetória do conhecimento adquirido na viagem extraeuropeia de La Condamine. A estratégia narrativa segue a mesma lógica em todo o texto: inicia os capítulos e a introdução utilizando um recurso teatral, no qual monta um cenário onde insere os protagonistas que irá analisar na sequência. A partir da cena enquadrada, faz a contextualização dos fatos centrais ou das trajetórias dos objetos científicos gerados com as expedições (como mapas e livros), associando essa estratégia às negociações entre os atores principais; neste caso, trabalha com os elementos não-normativos, mais voltados para questões políticas e de interesses pessoais.
Essa estratégia faz o autor beirar a ficção literária em sua escrita, mas logo na continuação do texto aparece o problema que pretende responder e/ou a chave-interpretativa – o trabalho de transformação estética e textual, nas modificações e seus sentidos, e demais assuntos internos da apropriação de um saber ou de um objeto pelos cientistas europeus -colocando, assim, a análise histórica em primeiro plano. Um jogo de cena, onde os atores envolvidos, sejam eles cientistas ou não, desempenham papéis na trama que está sendo montada: a obtenção de conhecimento a partir de métodos científicos europeus e com a associação da experiência nativa. As práticas científicas são colocadas num espaço socialmente ocupado, embora com características diferentes das encontradas na Europa, mostrando as ciências como circunscritas pela sociedade e como uma encenação material.
As fontes do autor são variadas: livros, mapas e cartas. Não somente de La Condamine, mas de muitos outros atores que estiveram envolvidos na trama de Safier, ou participaram indiretamente, como Humboldt e suas impressões, mais de cinquenta anos depois, do local onde foram realizadas as medições da circunferência terrestre. Suas fontes são o material produzido por vários atores nativos ou europeus e suas consequentes modificações no terreno da Europa.
O recorte histórico de Safier não é preciso. Navegando por meados da metade do XVIII, apresenta apenas o momento inicial, especificamente a partir de 1739, quando uma peça teatral (que dá o mote ao trabalho de Neil Safier) foi encenada na Vila de Tarqui, local dos trabalhos dos cientistas europeus no Novo Mundo. Uma montagem na qual os nativos representam os cientistas, com seus instrumentos e toda a estrutura gestual particular do trabalho científico. Esta pantomima, como entende Safier, teria enchido os olhos de La Condamine, tanto por ter sido homenageado pelos nativos, quanto pela reprodução exata de suas atitudes e gestos. Mas a pergunta do autor que segue a esta descrição do teatro é o ponto principal para a compreensão de seus objetivos no livro: Qual o sentido desta representação, tanto para os europeus quanto para os nativos?
Para responder a esta questão, o movimento narrativo feito por Safier passa por três estágios de interação e apropriação do saber: material, visual e textual. Procurando descrever e analisar a transformação do conhecimento, o primeiro movimento parte da construção de um marco: as Pirâmides de Yaruqui, um monumento para a perpetuação do saber. Essas esculturas, erguidas pelos nativos a partir da ideia de La Condamine, representaram quando finalizadas apenas o papel dos europeus na empreitada. Quando os cientistas as descreveram na Europa foram apagados os laços com os seus construtores braçais, diluindo a interação no campo material entre dois espaços: as pedras e braços do Novo Mundo e a realização intelectual dos savants europeus. As pirâmides erguidas nos dois locais de medição da circunferência do mundo seriam, numa primeira análise e justificativa de La Condamine, a demarcação dos pontos utilizados como referências geodésicas para quando fosse necessária a verificação dos resultados ou a realização de novos trabalhos.
O segundo movimento vem da transformação visual desta interação entre dois espaços distintos, mediante a construção de mapas do Novo Mundo. O capítulo quatro, Correcting Quito, representa este movimento, trazendo a análise do processo de constituição de mapas (Carta de La Província de Quito – 1750) produzidos nos ateliers de artistas e gravadores na França, sob a tutela de D’Anville. Essas representações cartográficas foram baseadas nas anotações de Pedro Maldonado, que participou de expedições com La Condamine, com a consequente adaptação aos requisitos estéticos da Europa e a perda da identidade autoral, com a inclusão de vários autores, mas terminando com La Condamine como o principal.
O último movimento, a apropriação textual, tem como exemplo o capítulo seis, “Incas in the King’s Garden“, no qual Neil Safier trabalha com uma das diversas traduções da obra de Garcilaso de La Vega sobre a cultura e história Inca. A análise do autor utiliza a versão francesa, reorganizada como um livro de História Natural e, principalmente, apropriada pelo Jardin du Roi para promover a “instituição” e a sua importância na introdução de novas espécies alimentícias na França.
A obra de Neil Safier apresenta uma assimetria. Apesar de sua intenção, ele não promove plenamente a interação do conhecimento entre os espaços transnacionais, pois toda a análise é baseada em textos e representações gráficas europeias. É pela narração de La Condamine que o autor descreve a encenação indígena, pelas cartas trocadas entre D’Anville e La Condamine que irá compreender as manipulações cartográficas. A obra de Garcilaso é modificada apenas por europeus, por exemplo. O olhar do autor é assimétrico, tendo em vista que o filtro é proveniente apenas de um lado da balança, o de cima, europeu. Não temos a palavra direta do outro lado. Em alguns momentos aparece um contexto híbrido, com a presença das correções (muitas não efetuadas) de Maldonado, ou a descrição (embora breve) do livro de Garcilaso. O seu foco de fato é a obra e a figura de La Condamine, as táticas e estratégias deste na própria modelação como um renomado membro da Academia de Ciências da França e, consequentemente, como um savant de sua época. Portanto, são as apropriações deste ator das transformações, das interações e do “esquecimento” que proporcionam, na utilização dos saberes de outro contexto social, outro espaço de criação de conhecimento, o Novo Mundo.
Essa assimetria, entretanto, não tira o mérito do livro. A obra deve ser colocada junto às demais da historiografia sobre esta transposição de saberes entre espaços, antes entendidos na clivagem entre centro e periferias, e agora como núcleos diversos de produção de conhecimentos e ciências. Neste sentido, a obra de Neil Safier, somada aos trabalhos de Kapil Raj sobre as trocas entre ingleses e indianos e também Jorge Cañizares-Esguerra quanto ao papel “esquecido” dos países ibéricos na constituição das ciências modernas na Europa, traz novos aspectos das colonizações europeias, as suas interações com os nativos, sejam autóctones ou colonos.
Roger Domenech Colacios – Doutorando em História Social – FFLCH / USP. Av. Luciano Gualberto, 315, CEP: 05508-900. Cidade Universitária, São Paulo-SP / Brasil. rdcolacios@usp.br .