O uso dos conceitos: uma abordagem interdisciplinar | José D’ Assunção Barros

Em épocas de negacionismos, cada vez mais produções sólidas necessitam entrar em pauta para desenvolver o conhecimento histórico e consequentemente o científico. Nesse sentido, que a obra O uso dos conceitos: uma abordagem interdisciplinar de autoria de José D’ Assunção Barros e publicada no ano passado pela editora Vozes se evidencia. Ela que possui como proposta discutir como os conceitos são relevantes para as pesquisas interdisciplinares é dividida em duas partes. Na primeira parte, discute a articulação dos conceitos e a relevância da interdisciplinaridade; e na segunda, demonstra sua articulação com a área de música. Leia Mais

Telling Children about the Past. An interdisciplinary perspective – GALANIDOU; DOMASNES (H-Unesp)

GALANIDOU, Nena; DOMMASNES, Liv Helga. (Eds). Telling Children about the Past. An interdisciplinary perspective. Ann Arbor, IMP, 2007, 324 p. Resenha de: FUNARI, Raquel dos Santos. História [Unesp] v.28 no.2 Franca  2009.

O ensino de História é uma prática interdisciplinar, como sabem aqueles que estão em sala de aula. Este livro acadêmico procura dar conta dessa necessária interação de matérias, quando se procura tratar do passado com as crianças. O volume divide-se em quatro partes: 1. Perspectivas cognitivas e psicológicas; 2. Mídia impressa e digital; 3. Museus e sítios culturais; 4. Escolas e salas de aula. Os autores provêm dos Estados Unidos, França, Grécia, Grã-Bretanha, Noruega, Brasil, Romênia e Espanha, mais da metade dos quais são do sexo feminino. Tanto no mundo, como no Brasil, a maioria dos historiadores, dos professores de Histórias, educadores de museus, editores e redatores de revistas dedicadas ao passado é constituída de mulheres. A História é contada no feminino!

As organizadoras do volume começam por explicar o uso da expressão “contar o passado”, pois consideram que se trata de uma comunicação de ida e volta, termo menos autoritário que o tradicional “ensinar”. O livro começa por mostrar como os desenvolvimentos cognitivos fazem com que as crianças experimentem o passado como presente. Patricia J. Bauer detalha esta especificidade das mentes infantis. Na mesma linha, Robyn Fiovush relaciona a construção autobiográfica infantil e a pesquisa das reminiscências familiares (a famosa “árvore genealógica”). Alan Costall e Ann Richards tratam da representação do passado por imagens.

O estudo da mídia, como meio de narrar o passado para as crianças, merece destaque, a começar pelos filmes dos estúdios Disney, por Helaine Silverman. Maria Economou volta-se para o uso de jogos eletrônicos sobre o passado, enquanto Nena Gelanidou estuda os relatos sobre as origens humanos e o paleolítico nos livros infantis ilustrados. Os museus e os sítios arqueológicos aparecem como contextos para historietas maravilhosas, segundo Christos Boulotis. As exposições em museus servem para que Andromache Gazi produza um quadro, muito original e instrutivo, sobre como montar uma exposição histórica para crianças. A leitura deste capítulo seria muito importante para todos os que trabalham em museus históricos voltados para crianças. A partir de um estudo de caso, Lauren E. Talalay e Todd Gerring mostram como a mumificação egípcia poder atrair as crianças para um conhecimento original do Egito antigo. Os casos do Brasil e da Romênia, referentes à História nas escolas e em museus, mostram como nem sempre se identificam com uma visão elitista do passado, assim como a importância de um discurso e uma narrativa ao gosto infantil.

A publicação deste volume constitui parte de um movimento mais amplo, em direção a um ensino de História mais preocupado com as necessidades e interesses das crianças. A experiência na sala de aula, nos museus, nas editoras, constitui elemento central para o sabor realista e fecundo deste livro. Os capítulos partem de experiências cotidianas, da vivência prolongada e fertilizadora, no ensino de História. São estudos de caso, sempre bem fundamentados na teoria, mas também atentos aos desafios da prática e do convívio e interação com as crianças. Vale, por fim, lembrar o caráter interdisciplinar das iniciativas, pois contar o passado é uma tarefa multifacetada. Reflexões interdisciplinares como esta serão também bem vindas em nosso país.

Raquel dos Santos Funari – Doutora pelo Programa de Pós-graduação em História – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UNICAMP – 13081-970 – Campinas – SP – Brasil. E-mail: raquelsfunari@uol.com.br.