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Lexico de termos technicos e scientificos ainda não apontados nos diccionarios da língua portuguesa | A Terminologia Zoologica e Scientifica em geral e a deficiencia dos grandes Diccionarios Portuguezes | Inopia scientifica e vocabular dos grandes diccionarios portugueses | Afonso d’Escragnolle Taunay
Introdução: Afonso d’Escragnolle Taunay
O professor, historiador, tradutor e lexicógrafo Afonso d’Escragnolle Taunay (Florianópolis, 11-06-1876 – São Paulo, 20-03-1958) era filho de Alfredo d’Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, e Cristina Teixeira Leite Taunay. Cursou a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde se formou em Engenharia Civil em 1900. Tornou-se professor auxiliar de física e química da Escola Politécnica de São Paulo em 1904 e professor catedrático na mesma Escola a partir de 1910, onde lecionou Física Experimental, acumulando a docência acadêmica com aulas de ciências no Colégio São Bento. Exerceu vários cargos públicos, tais como diretor do Museu Paulista de 1917 a 1946, gestão na qual foi feita a transição do que incluía a seção de História Natural para o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, permanecendo o Museu Paulista como o atual museu histórico com esse nome.1 Organizou ainda o Museu Republicano de Itu, também pertencente à USP.
Foi também diretor dos Museus do Estado de São Paulo desde 1923, encarregado do Governo Federal para reorganizar a Biblioteca e o Arquivo do Ministério das Relações Exteriores em 1930, professor na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo entre 1934 e 1937. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico de São Paulo, da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras (1929) e da Academia Portuguesa de História. Leia Mais
História Econômica e Social do Estado de São Paulo 1850-1950 | Francisco Vidal Lun e Herbert S. Klein
Em 1950, São Paulo era o mais importante centro econômico populacional do país. No século XXI, o estado de São Paulo poderia ser classificado como a 36a maior economia do mundo em termos do PIB gerado (450 bilhões de dólares, em 2010) e a 31a nação do mundo, em termos da população (41,2 milhões, em 2010).
Essas constatações, trazidas por Luna e Klein nas primeiras páginas do livro, tornam-se mais surpreendentes e contrastantes, quando os autores destacam que, um século antes, em 1850, São Paulo não tinha qualquer relevância econômica, populacional e política no Império ou na nação brasileira. Em menos de um século, São Paulo ascendeu à principal estado do país, posição consolidada com a República. Leia Mais
Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa – JANCSÓ; KANTOR (HE)
JANCSÓ, István; KANTOR, Íris. (orgs.). Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Imprensa Oficial; Hucitec; Edusp; Fapesp, 2001. 2v. 992p. (Coleção Estante USP – Brasil 500 anos, 3). Resenha de: RODRIGUES, André Figueiredo. História & Ensino, Londrina, v.8, p. 157-160, out. 2002.
A ligeira mulata, em trajes de homem
Dança o quente hmdu e o vil batuque;
E aos cantos do passeio inda se fazem
Ações mais feias, que a modéstia oculta.1
o poeta e jurista Tomás Antônio Gonzaga em suas Cartas Chilenas aludiu ao lundu e ao batuque, respectivamente, canto e dança, muito populares nas festas mineiras do século ‘I’11 como ele, alguns historiadores observam as festas, ou melhor, as manifestações da cultura popular como um lugar de subversão, de transgressão à norma disciplinadora do poder. Gonzaga, por ser aristocrata e moralista, vê a festa como uma grande promiscuidade, onde se misturam brancos, negros e mulatos, chegando mesmo a comparar Vila Rica em festas (atual Ouro Preto) às cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra.
Ao historiador, seguindo uma tradição herdada da Sociologia e da Antropologia, ficou a percepção que as manifestações populares nos dão acesso às experiências cotidianas de segmentos da população que ficaram por muito tempo silenciados. Daí o fascínio pela festa, um cenário privilegiado para observação do universo cultural dominante e, também, ambiente onde se encontra mesclado elementos próprios da cultura popular, com suas tradições, seus símbolos e suas práticas, constituindo-se num espaço de grande sociabilidade.
Assim, entender esse espaço, mostrar pesquisas que estão em andamento e fazer um balanço da produção recente sobre as festividades na América portuguesa e, conseqüentemente, suas implicações na formação da nacionalidade e da cultura nacionais, são os objetivos da edição da coletânea Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa, organizada pelos professores e historiadores István Jancsó e lris Kantor.
O livro, fruto de um seminário internacional realizado na USP em 1999, reúne 49 artigos escritos por pesquisadores brasileiros e portugueses, que se preocuparam em compreender as manifestações coletivas (festas, cerimônias, ritos, atos de sociabilidade, etc.) que influenciaram na construção de nossa identidade nacional. Segundo os organizadores, as festas são um dos pontos principais da imagem que o brasileiro faz de si mesmo e do estrangeiro sobre o país. Para grande parte da população, elas significavam um instrumento fuga ao controle exercido pelo Estado absolutista, com o qual sempre tivemos uma relação de sofrimento e de antagonismo. O Estado criado por nossas elites nunca foi um instrumento de harmonia, mas sim de desagrega1ção, pois jamais ele foi utilizado como mecanismo de identificação e de libertação.
Comu as festas coloniais nem sempre tinham a mesma dinâmica nem os mesmos objetos de pesquisa e, portanto, não podiam ser abordadas da mesma forma e através dos mesmos instrumentos analíticos, a obra pode ser dividida em três grandes momentos: um primeiro que trata das festas religiosas ligadas aos jesuítas e a catequese dos indígenas; um segundo período ligado ao processo de consolidação da sociedade urbana desde fins do século XVII e durante a centúria seguinte, notadamente em Minas Gerais. Isso se explica devido à urbanização ocorrida ao longo do setecentos, resultado de uma extensa rede de centros urbanos, e à diversificação da economia através do comércio, do artesanato, da mineração (do ouro e de diamantes), da agricultura e da pecuária. Somam-se a esses dados ainda o contingente populacional, a estrutura administrativa e a constituição de um mercado consumidor interno.
Nas sociedades urbanas, muitas festas, seguindo o modelo ditado pela metrópole, cultuavam o rei e/ou se dedicavam aos ritos processuais católicos, como as celebrações da Semana Santa, do Triunfo Eucarístico e do atual “Corpus Christi”. Mas, ao lado destas festividades, tínhamos também a existência de um número quase que incontável de festas de caráter popular.
Nas interessantes “subversões e inversões da ordem festiva”, uma das divisões do livro que pode ser incluída nesse segundo momento, nota-se que conhecemos muito pouco das festas de caráter político não oficial que integravam o cotidiano das vilas coloniais. Um exemplo dessas curiosas celebrações jocosas que utilizavam signos de poder ocorreu em 1732, quando desafetos do governador dom Lourenço de Almeida promoveram-lhe enterro simbólico, por ocasião de sua partida da capitania de Minas Gerais, enquanto outros celebraram uma missa paródica pela sua alma que, julgava-se, ardia no inferno.
Outras formas de resistência à ordem festiva e social vieram através da circulação de cartas e sátiras anônimas que insuflavam a população à rebeldia, ou ainda através da existência de representações teatrais, como a “Serração da Velha” -cerimônia caricata que ocorria na época da Quaresma, onde um grupo de foliões serrava uma tábua, aos gritos estridentes e prantos intermináveis, fingindo serrar uma velha que, representada, ou não por algum dos vadios da banda, lamentava-se num berreiro. A Velha representava uma entidade maléfica (3 morte) ou algo grotesco que perturbava a felicidade ou dificultava a conquista legítima de alguma coisa. Nesses casos, a festa era um “lugar por excelência capaz de tornar realidade uma das exigências básicas dos protestos: a mobilização popular, que constituiu recurso imprescindível da prática amotinadora a fim de garantir poder de pressão às suas exigências” (p. O terceiro momento é o das “festas na corte portuguesa”, período que se inicia com a transmigração da família real lusitana para o Brasil e vai até a nossa Independência. Nesse instante, as festas tornaram-se mais seletivas e as músicas se apresentaram com novos elementos funcionais, técnicos e estéticos, devido à importação de novos instrumentos musicais e a enriada de novos ritmos na corte dom João Além dos dois volumes que compõe a obra, encontra-se encartado no primeiro exemplar um belo CD com 26 músicas que acnrnpanharam o universo sonoro festas na América portuguesa, desde as tradiçôes medievais, no século XIII, até as práticas indígenas, religiosas e afro-americanas do século XVIII. A apresentação coube ao historiador e músico Maurício Monteiro c a direção artística à Ana Maria Kieffer.
Referências
GONZAGA, Tomás Antônio. Carta 6ª: Em que se conta o resto dos festejos. In: Cartas Chilenas. Edição organizada por Pereira Furtado. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.143.
André Figueiredo Rodrigues – Mestre em História Social / FFLCH-USP.
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A Torre Kubitschek: trajetória de um projeto em 30 anos de Brasil – PIMENTEL (VH)
PIMENTEL, Thais Velloso Cougo. A Torre Kubitschek: trajetória de um projeto em 30 anos de Brasil. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1993. Resenha de: LANNA, Ana Lúcia Duarte. Varia História, Belo Horizonte, v.10, n.13, p. 176-177, jun., 1994.
O presente livro foi, onginalmente, apresentado como dissertação de Mestrado em H1stóría Social na UNICAMP, e ganhou o XII Prêmio Diogo de Vasconcelos (da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais), o que possibilitou a sua publicação. Partindo da história de um conjunto habitacional, o Conjunto Juscelino Kubitschek (CJK), Situado no centro da capital mineira, a autora buscou compreender o “processo que transformou o ‘tempo das Ilusões’ em tempo da desconfiança e os sentimentos que se movem em torno desses prédios, na cidade que os abriga e nas pessoas que os hab1tam”. (pág 20)
Idealizado por Juscelino Kubitschek, quando governador do Estado, e projetado por Niemeyer, o conjunto habitacional foi estudado pela autora, que acompanhou através dele a trajetória de 30 anos de Brasil. O trabalho, organizado em 4 capítulos, revela o CJK como “síntese de uma realidade contraditória, entre a idéia, nascida num momento fecundo da história do país e de seu povo, e a sua própria história enquanto obra, experiência real vivida por pessoas de outro tempo” (pág 138)
No primeiro capítulo, a análise reca1 sobre a arquitetura enquanto representação da civilização, símbolo de poder, ícone da modernização e do progresso. Os monumentos arquitetônicos, a partir do século XIX, devem ser compreendidos enquanto expressão do poder triunfante da burguesia. A arquitetura moderna, inserida neste processo, é vista como parte das vanguardas do século XX. Sua proposta associa técnica, velocidade e uma inovadora relação entre moradia individual e coletiva que a obriga a pensar sobre o espaço urbano. Projeta para o futuro e defende a liberdade de criação e experimentação de novas idéias, independente do sentido político de sua aplicação.
A obra de Niemeyer, visto como arquiteto do poder, será, de acordo com a autora, capaz de cumprir esta função simbólica de representar um certo 1deal de progresso que, projetando o futuro, questiona ao mesmo tempo a tradição. Belo Horizonte, enquanto uma cidade que deveria ser ao mesmo tempo moderna e tradicional, reúne uma quantidade significativa de obras de Niemeyer, aí edificadas sob o patrocínio do Estado, o que segundo a autora “espelha a forma como os grupos socia1s dominantes comandaram as reformas urbanas e administrativas necessárias à confirmação de sua hegemonia”. (pág. 39)
No segundo capítulo, Thais Pimentel realiza um apanhado da ideologia naclonal-desenvolvlmentista. Destaca conteúdo simbólico dos anos 50 corno “anos dourados”, o papel do ISEB, o crescimento das cidades e a Crescente atuação do Estado criador de uma Ideologia que prega a prosperidade, a 0rdem e a soberania. A pratica autoritária do Estado no comando da economia e sociedade brasileira pode ser percebida na forma como se dec1d1u a construção do CJK. Tanto o conjunto residencial quanto Brasília têm a forma material do desenvolvimentlsrno e podem ser vistos como símbolo e síntese desta época, imagem e semelhança do projeto de dominação da fração burguesa dominante, para quem a busca da harmonia social ora tão cara. O CJK é apresentado como um “balão de ensaio” revelando a tragédia e a glória dos anos 50.
No capítulo 3, o leitor poderá acompanhar a história da construção do CJK. Os empresários envolvidos, a participação e atuação do Estado e dos condôminos, em geral da classe média. A decisão de real1zar o CJK e as críticas e resistências ao projeto são apresentadas como indicadoras da prát1ca populista de poder onde o consenso é obtido a posteriori. As dificuldades enfrentadas na realização do empreendimento, a descrença e desmoralização que passaram a envolver o projeto ocasionadas sobretudo pelos sucessivos atrasos e elevação dos custos são então abordados. O Estado promotor do desenvolvimento bancaria o proJeto até 1964.
Mas esta trajetória tortuosa, a demora da execução e as características mesmas da cap1tal mineira vão fazer deste um lugar de suspeição. A sua proposta Inovadora de um morar colet1vo, voltada para o futuro, quando consolidada, encontra um país que rejeita o coletivismo. A aglomeração de pessoas v1sta como perigosa, em especial nos anos 70 quando os apartamentos ficaram prontos, reforça o medo que o local provoca Trabalhando com dicotomias como o interior do prédio – organizado e limpo, face a um exterior – Sujo e com Impressão de uma confusão permanente, ou moradores satisfeitos frente a uma população assustada e apreensiva, a autora vai mostrando o v1ver no CJK e o v1ver em uma cidade em expansão. Analisa ainda as transformações que o projeto trazia sobre o morar e como elas foram sendo alteradas ao longo dos anos e usos que os prédios tiveram As fachadas de v1dro fazem deste um panóptico ao avesso onde a cidade controla o interior.
A leitura do livro é int1gante pois a partir da análise de um monumento a autora consegue traçar a história de um país. O texto é de leitura fluente e agradável e interliga análises macro e micro, revelando na concretude como a cidade, através do granito e concreto, expressa os valores soc1a1s dominantes. Mostra ainda como a atuação de múltiplos atores interfere, altera e red1rec1ona os monumentos construídos em ruínas virtuais. A Torre Kubitschek é cicatriz v1sível na modernidade.
Ana Lúcia Duarte Lanna – Professora da FAU-USP e doutora em História Social pela USP.
[DR]