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História do Cristianismo | Paul Johnson
O objetivo de Paul Johnson em seu livro “A historia do cristianismo” é descrever e analisar o desenvolvimento da Igreja Cristã durante os vários séculos de sua existência. A presente resenha tem a intenção de apontar as principais idéias dos três primeiros capítulos desse livro.
Um ponto que fica bem claro no texto lido é que em nenhum momento do período analisado o cristianismo se mostrou uma religião uniforme, sem divisões internas e unidas na luta contra seus inimigos externos. Muito pelo contrário durante os primeiros nove séculos de sua existência a comunidade cristã esteve dividida sendo que cada facção interna lutava para se impor sobre as demais.
O primeiro desafio do cristianismo foi manter -se vivo e futuramente se sobrepor ao judaísmo. Jhonson inicia sua discussão sobre o cristianismo a partir desse ponto. A Igreja crista se originou dentro do judaísmo palestino. Por essa razão é extremamente importante Ter uma idéia a respeito da religião judaica existente nos dias de Jesus.
O judaísmo do primeiro século da era cristã se tratava de uma das religiões extremamente exclusivistas, apocalípticas e belicista. Os judeus criam que eram propriedade do Deus verdadeiro e esse Deus iria alterar a ordem social e política estabelecida através de uma intervenção sobrenatural que culminaria com o aniquilamento da presente ordem estabelecida e daria início a uma nova era onde os eleitos (os judeus) se tornariam à classe dominante do mundo. Essa intervenção divina seria efetuada através da pessoa do Messias (salvador), um líder político, religioso e militar. Esse conduziria os judeus à vitória sobre as forças do mal.
Nem todos os judeus moravam na Palestina. Muitos deles estavam espalhados por diferentes pontos do Império Romano. Na realidade o número de judeus que viviam fora da região palestina era maior do que seus conterrâneos palestinos. Esses dois grupos divergiam quando a estratégia de proselitismo. Os judeus helenistas, como eram conhecidos os judeus da diáspora geralmente eram cidadãos ricos, receptíveis à cultura greco-latina e viam o Império como agente facilitador para a expansão de sua ideologia religiosa. Os judeus da palestina, ao contrário, eram retrógrados, xenofóbicos e em sua maioria viam na guerra armada à única forma de concretizar seus ideais político – religiosos.
O cristianismo surge dentro desse contexto. Por essa razão o primeiro desafio dessa religião infante é sobreviver dentro desse conturbado mundo religioso e depois conseguir superá-lo. Para conseguir manter -se vivo no concorrido e conturbado contexto religioso judaico, o cristianismo contou apoio de judeus influentes, tanto dentro do Palestino quanto fora dela, que se tornaram cristãos. Esses se tornaram os primeiros líderes da Igreja e tiveram grande influência sobre a mesma.
Essa liderança, porém se tornou um grande obstáculo quando o cristianismo, a partir do apóstolo Paulo, começou a se tornar uma religião internacional e inter-racial. Nesse momento os judeus começaram uma reação que ameaçou a sobrevivência do cristianismo. O cristianismo apenas conseguiu sobreviver a essa ameaça e se tornar uma religião internacional porque a Igreja cristã de Jerusalém envolvida na revolta judaica contra o Império Romano foi destruída no ano 70.
Se durante os primeiros quarenta anos de sua existência o cristianismo se dividiu basicamente entre judeus e gentios nos próximos séculos as divisões internas do cristianismo se multiplicaram em proporções inimagináveis para os cristãos do primeiro século. De acordo com Jhonson, isso se deveu principalmente devido à vocação de atrair os diferentes grupos sociais e culturais contido dentro da ideologia cristã.
A existência desses diferentes grupos sócio – culturais no interior do cristianismo levou a um problema que tem desafiado a Igreja ao longo dos séculos. Os diferentes grupos de cristãos, preocupados em buscar uma resposta racional a sua fé encontravam diferentes alternativas para explicar a verdade. A acomodação dessas diferentes idéias e a formação de um sistema teológico e ideológico próprio foi o segundo desafio da Igreja.
Para responder a esse desafio a Igreja se preocupou em instituir um cânom dos escritos cristãos bem como em estabelecer uma hierarquização mais complexa em seu interior. Tanto o cânom quanto a hierarquização da Igreja estavam ligados a um fator, a origem apostólica.
Dessa forma a Igreja estabeleceu que apenas documentos escritos pelos apóstolos originais ou a alguém diretamente ligados a esses teriam valor normativo nas questões religiosas ou teológicas. Quanto à supremacia das diferentes congregações, seriam considerados importantes aqueles que tivessem sido originalmente dirigidas por um dos primeiros vultos cristãos. Segundo essa idéia, esses apóstolos que haviam recebido autoridade diretamente de Cristo ao lhe impor as mãos transferiram esse poder aos seus sucessores graças à transmissão feita através do mesmo rito.
O surgimento e existência de novas heresias durante os primeiros séculos do cristianismo foi um poderoso fator na criação de um cânon ortodoxo, bem como da progressiva hierarquização da Igreja. Esse processo de hierarquização se completou com a oficialização do cristianismo no início do século IV por parte do imperador Constantino.
Constantino se tornou imperador no início do século quatro, após derrotar Majêncio na ponte do rio Mílvio e no ano 313 juntamente com seu co-imperador Licínio tornou a religião cristã oficial dentro do Império Romano. Esse ato pode ser considerado como a conseqüência lógica de um processo que vinha se desenvolvendo desde a metade do século III. Nesse momento os cristãos eram um grupo numeroso e ao mesmo tempo muito bem organizado. Eram muito mais homogêneos em suas práticas e posições diante do Império. O cristianismo, nesse período se tratava de uma opção universalista à antiga e decadente religião civil romana. Nesse momento o velho Império tinha de tomar uma decisão: exterminá-la ou oficializá-la. Constantino optou por seguir o segundo caminho.
Constantino era um líder de visão reconciliadora e foi com o objetivo de manter vivo o Império romano que elaborou o edito de Milão. O problema é que a Igreja, agora apoiada pela máquina estatal, tratou de firmar -se como representante única do cristianismo e passou a perseguir aqueles que representassem ameaça a seus ideais de supremacia. A máquina estatal muitas vezes foi colocada a serviço da ortodoxia, por entender que uma ameaça à mesma representava também risco a ordem estabelecida.
Essa relação entre Igreja e Estado fez com que os papéis de liderança eclesiástica e civil fossem de certa forma confundidos e unificados. Nos dias de Constantino o imperador muitas vezes se envolveu nas disputas teológicas e religiosas para conseguir manter a ordem na Igreja. Por outro lado muitas vezes o bispo romano, bem como bispos de outras sedes episcopais importantes tomassem decisões no campo civil.
Com a oficialização do cristianismo católico a divisão entre o clero e o laicato cresceu de maneira vertiginosa. Os líderes cristãos se tornaram verdadeiros representantes de poder político, financeiro e principalmente aqueles que liderassem sedes episcopais de cidades importantes. Na segunda metade do século IV a Igreja se tornara a maior força do mundo romano ocidental rivalizando apenas com o imperador que então estava instalado em Constantinopla.
Nesse processo de ascensão da Igreja Cristã, a Igreja de Roma foi a maior beneficiária. O poder do bispo da cidade de Roma sobre as demais sedes que já era grande aumentou mais ainda. Desde seu início a Igreja de Roma era considerada rica. Além de sustentar um grande número de funcionários ligados à estrutura da Igreja ela prestava assistência a 1500 órfãos e viúvas. Além disso, nos debates teológicos que ameaçaram dividir a Igreja nos quatro primeiros séculos, o bispo romano sempre esteve ao lado da ortodoxia. O apoio do Imperador no quarto século apenas contribuiu mais um pouco para que a força da Igreja e do bispo de Roma crescesse mais ainda. Nem todos cristãos viam com bons olhos essa ligação com Império e uma separação entre o laicado e o clero. Isso ocorreu principalmente nas regiões mais distantes das sedes católica. O século IV foi marcado pelo recrudescimento da defesa das idéias da Igreja Católica por um lado e da reação de cultos heréticos bem estabelecidos nas periferias do Império. Jhonson destaca que essas disputas revelam muito mais do que simples querelas religiosas. As mesmas são sinais grupos cristãos periféricos ao cristianismo oficial representavam o desejo de sobrevivência de uma cultura provincial para que o Império era considerado universal e ao mesmo tempo parasitário.
Jhonson deixa claro que a diversidade religiosa e as divisões internas do cristianismo não impediram que o mesmo tivesse uma reação enérgica e eficiente contra seus inimigos externos. Isso ficou bem claro na reação cristã à tentativa de Juliano o “apóstata” ressuscitar a religião romana estatal. Tal campanha foi desastrosa e resultou em completo fracasso. Nos dias de Juliano o Império se tornara cristão e não retornaria de maneira alguma ao antigo sistema religioso.
Os próximos séculos (V – IX) representaram um período de reestruturação do Império Romano. A parte ocidental do Império se fragmentou e fundiu -se ao mundo germânico dando origem a uma nova civilização. O lado oriental se rendeu ao Islamismo. Dentro dessa realidade a Igreja Romana se adaptou continuou viva e graças à força do papado, a união com o Império Franco -Carolíngeo e teorização política da teologia agostiniana se tornou o maior poder do período conhecido como Idade Média. Esse poder seria decisivo na formação da Europa moderna.
Daniel da Rocha Junior – Graduação em História FAFIUV
JHONSON, Paul. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2003. Resenha de: ROCHA JUNIOR, Daniel da. Sobre Ontens. Apucarana, p.13-19, 2007.
Homeopatia: medicina interativa/ história lógica da arte de cuidar | Paulo Rosembaum
O livro de Paulo Rosembaum, Homeopatia: medicina interativa, história lógica da arte de cuidar, apresenta uma análise desta prática médica, abordada através de suas questões epistemológicas, com a qual visa identificar suas bases, mapear suas necessidades e estabelecer propostas de fundamentação empírica, considerando para tal as diversas alternativas hoje disponíveis. Aponta este levantamento como pré-requisito à elaboração de um programa de pesquisas que seja apto a suportar as características da racionalidade, garantindo-lhe desenvolvimento e validação científica.
O presente trabalho é resultado da dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo no Departamento de Medicina Preventiva, defendida em junho de 1999 sob a orientação do prof. José Ricardo C. M. Ayres. Este assinala no prefácio as questões que lhe provocaram a experiência de lidar com este campo do saber e os pontos de vista invocados pelo autor. Leia Mais
O Brasil e a questão judaica: imigração, diplomacia e preconceito | Jeffrey Lesser
As sociedades conformam determinadas noções através das quais se identificam, reconhecem-se e são reconhecidas, conferem sentido e legitimidade a si mesmas, às suas estruturas, às suas instituições, às práticas e às relações dos indivíduos que as compõem. O processo de imposição e de generalização, de produção da adesão a essas noções, é concomitante ao de sua naturalização, isto é, de negação do seu caráter histórico e social. É como crenças, portanto, que elas se afirmam e operam, orientando as percepções e as ações dos indivíduos.
O que têm feito as ciências sociais, em boa medida, é relativizar algumas dessas noções, desencantá-las restituindo seus vínculos históricos, remetendo-as aos espaços e às relações sociais a partir dos quais são produzidas e que, ao mesmo tempo, contribuem para produzir. É preciso reconhecer, entretanto, que nem sempre este exercício de relativização se mostra possível, incorporando também o cientista social noções impostas que, desse modo, terminam por se constituir em obstáculos a uma efetiva compreensão dos processos sobre os quais se volta. Leia Mais
Cicatriz do universal | Sander Gilman
Freud, em Moisés e o monoteísmo, comparou o ego a um tecido cicatrizado. Essa metáfora médica, proposta em um momento já relativamente sólido da psicanálise como saber independente da medicina, não deixou de ser notada por Sander Gilman em sua ‘leitura judaica’ da obra do fundador da psicanálise.
Para Gilman, a cicatriz evoca muito fortemente a judaicidade de Freud — vivida por este de modo intenso e real, tanto corporal quanto simbolicamente, ao longo dos 16 anos em que o câncer o afligiu. Pois elas — cicatriz e judaicidade — estão associadas, no saber médico de então, à sífilis e ao câncer, remetendo-nos a uma longa série de pesquisas e debates sobre a propensão ou imunidade dos judeus a essas doenças, o que, por sua vez, remete às várias abordagens “racialistas” da especificidade judaica, e especialmente, porém num plano mais geral, às categorias subjacentes, como loucura, doença, alteridade. Cicatriz, ainda, remete à marca judaica por excelência, a marca física da (ou representada pela) circuncisão: marca ambígua, tão carnal quanto simbólica, que não cessa de demandar (e receber) interpretação. Leia Mais