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IHGB: 180 anos / Revista do IHGB / 2018
Este número da Revista propõe, em especial, uma homenagem aos 180 anos de fundação do IHGB. Considerado por seu primeiro presidente, o Visconde de São Leopoldo, como um representante das ideias da Ilustração, o que significava associá-lo à civilização, à ciência, à filosofia da história e à polidez, o Instituto aparece, nas palavras de seu atual presidente Arno Wehling, como símbolo intelectual dos novos tempos da independência. E, passados quase 200 anos, os valores que marcaram sua fundação permanecem. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro continua em sua missão de produzir conhecimentos mantendo a guarda de uma “casa da memória” constituída não só de acervos, mas que pensa e interpreta o Brasil; uma instituição de preservação do patrimônio cultural do país, fiel aos valores de sua fundação, mas que se mantém aberta às novidades, a fim de compreender o presente para informar o julgamento sobre a realidade com as quais está por vir. Daí resulta um de seus principais objetivos: combinar história e memória.
Nessa direção, os três primeiros textos deste número voltam-se para o próprio IHGB. Sem constituírem artigos de louvação, referem-se à importância desta instituição enquanto centro de conhecimento. O primeiro, de Isadora Tavares Maleval, pretende destacar o tratamento que seus integrantes deram a alguns acontecimentos do seu tempo, ou seja, o Segundo Reinado, usando números da R.IHGB como fontes. Beatriz Piva Momesso, por sua vez, examina os resultados e as possibilidades da escrita da História Política do Segundo Reinado a partir do arquivo do Senador Nabuco de Araújo (1813-1878), doado ao IHGB em 2001. Por fim, Arno Wehling, em texto curto, destinado a marcar os 180 anos, salienta o papel de Pedro II na história do IHGB.
Em seguida, Antonio Celso Alves Pereira discute a situação política e militar de Portugal no início do reinado de D. João IV, tomando como fonte principal o Sermão de Santo Antônio, que Antônio Vieira pregou em Lisboa, na Igreja das Chagas, em 1642. Os últimos três textos da seção “Artigos e ensaios” tratam de temática da atualidade, embora situados em distintas conjunturas históricas. Érica Sarmiento discute a historiografia e a utilização de fontes para a temática da imigração, relacionada, em particular, ao associativismo, a partir da análise comparada da imigração galega ocorrida em duas cidades receptoras de fluxos migratórios ibéricos no período da Grande Imigração (1880-1930), Rio de Janeiro e Buenos Aires. Luís Fernando Cardoso e Cardoso, Petrônio Medeiros Lima Filho e Flávio Leonel Abreu da Silveira evidenciam as memórias de resistência do grupo quilombola de Bacabal (localizado no município de Salvaterra, na ilha do Marajó, PA), que vive há mais de três séculos em território reivindicado por particulares. Para tal, analisam as táticas criadas por essa população para manter-se diante do poder político e econômico exercido por fazendeiros e pelo agronegócio representado por empresas nacionais e internacionais. Por fim, o estudo de Bruno Rotta Almeida parte de propostas do século XVIII, a fim de ressaltar o debate em torno da humanização da prisão e mostrar, em seguida, o surgimento dessa discussão no Brasil e o desenvolvimento das práticas punitivas durante o século XIX, como também o papel insuficiente exercido nos séculos XX e XXI pelos instrumentos normativos nacionais e internacionais de proteção à dignidade humana.
Na seção “Comunicações”, há o trabalho do filólogo e membro da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara sobre Antônio de Moraes Silva, o grande dicionarista brasileiro na virada do século XVIII para o XIX.
Na parte “Documentos”, encontra-se o trabalho da professora e sócia honorária do IHGB, Vera Lucia Cabana de Queiroz Andrade, que, utilizando a riqueza dos arquivos da instituição, propõe interpretar o legado cultural da Viscondessa de Cavalcanti, representado pelos estudos históricos que realizou, com destaque para a contribuição que deu à numismática.
Para finalizar o número, a resenha de Marcia Maria Cruz trata do livro Contribuições para a história do IHGB: entrevistas concedidas a Rogério Faria Tavares, que reúne 36 entrevistas de 36 sócios do IHGB, contando sua vida e sua obra e que hoje integram o acervo do projeto “Memória dos sócios”. Trabalho de fôlego, mais que apropriado para celebrar os 180 anos de uma instituição, que se afirma como Casa da Memória.
Aproveitem!
Lucia Maria Bastos P. Neves – Diretora da Revista.
NEVES, Lucia Maria Bastos P. Carta ao leitor. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, v.179, n.478, p.11-13, set./dez., 2018. Acesso apenas pelo link original [DR].