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História e Mídia / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2010
O Conselho Editorial e Consultivo da Revista História em Reflexão (REHR) apresenta para seus leitores a VIII Edição do periódico eletrônico. A temática do dossiê dessa edição, foi escolhida devido à crescente produção que envolve o uso das mídias, seja como objeto ou fonte de investigação histórica. Com imensa satisfação publicamos o dossiê História e Mídia, a fim de colaborar com as discussões dos historiadores acerca da utilização da imprensa na pesquisa histórica, assim como enriquecer o conhecimento acerca do tema.
Ao idealizarmos esse dossiê levamos em consideração a crescente produção acadêmica que se utiliza a imprensa como fonte e objeto de pesquisa. Além disso, tomamos como referência a crescente influência da mídia no cotidiano das sociedades, já que se utiliza de uma estratégia que procura inserir nas publicações o que é ansiado pelo seu público. A respeito desse aspecto, Robert Darton menciona em O Beijo de LamouretteMídia, Cultura e Revolução que devemos escrever para “imagens de pessoas”, as mais leigas possíveis (1990, p.71). Assim, entendemos a mídia como portadora de um discurso ideológico pelo qual procura influenciar os discursos, propondo representações carregadas de aspectos simbólicos. O fato das publicações dos diversos veículos da mídia se apresentar cada vez mais acessíveis, fez com que o mundo midiático fosse parte inerente do convívio diário humano.
Na historiografia brasileira que discute a imprensa, temos diversos autores e autoras que apresentaram propostas de metodologias que, sem dúvida, auxiliaram muitos dos trabalhos publicados nesse dossiê da REHR, são eles: Tânia Regina de Luca, Maria Helena R. Capelato, Nelson Werneck Sodré, entre outros. Tais autores apresentaram várias maneiras de se pensar historicamente, especificamente, a mídia imprensa. Destacam-se as colocações de De Luca ao considerar o fazer história “dos nos e por meios dos periódicos” através de um texto que merece a atenção dos historiadores, que foi publicado no livro Fontes Históricas organizado por Carla Bassanezi Pinsky (2005). De forma geral, as discussões acerca do universo midiático são muito amplas, dessa maneira a REHR procurou colaborar e apresentar textos que enriquecem tal historiografia.
Na atualidade, percebe-se um crescente aumento de trabalhos ligados à mídia considerada de “massas” como a televisão, rádio, Internet, por exemplo. No Brasil a popularização da mídia no final do século XX e início do XXI, fez com que muitos historiadores ligados à programas de pós-graduação se debruçarem à discussão acerca da cybercultura e do cyberespaço. Em geral, esses termos da atualidade apresentam a emergência de novos espaços de sociabilidade de um ambiente virtual que, com esse tipo de mídia cada vez mais próxima da população, anunciam um tempo em que a Internet permanece inerente ao convívio social de muitos. De certa maneira, assim como outros meios de comunicação, o ambiente virtual têm a Internet como um objeto que vem merecendo atenção dos historiadores, seja pelo apelo ao consumo que possui ou por ser uma ferramenta que auxilia e coloca o internauta em outra esfera de relacionamento humano.
A respeito do dossiê desse semestre (julho- dezembro / 2010) informamos que está repleto de artigos relacionados ao “universo da mídia”, além daqueles norteados por temas livres. A somar, resenhas e uma entrevista são apresentadas também nessa edição. De início temos o artigo Quantas grafias compõem a historiografia? Multimídia e novas linguagens em História de Genaro Vilanova Miranda de Oliveira, o qual cita que as mídias audiovisuais e sonoras que ainda não têm a atenção que merece da historiografia. Conforme o autor seus questionamentos estão centrados na possibilidade de pesquisadores, professores e alunos de História escreverem a partir de “alfabetos” baseados em sons e imagens e não apenas em textos de arquivos. Em um estudo que chama atenção, apresenta-se um método não convencional de escrita, a historiomidiografia. Através de uma proposta metodológica Oliveira propõe o uso de editores de imagem, de som e de ferramentas de Web design para ampliar as formas de narrar à disciplina histórica.
Em a Imprensa e Política no Brasil: considerações sobre o uso do jornal como fonte de pesquisa histórica, Márcia Pereira da Silva e Gilmara Yoshihara Franco discutem a utilização da imprensa como fonte de pesquisa focando as análises do político. As autoras colocam a imprensa como fenômeno da modernidade situando historicamente o advento da mídia imprensa no contexto brasileiro. Dessa forma, são analisados especificamente os jornais utilizando uma abordagem bibliográfica que pretende auxiliar àqueles que se iniciam na escrita histórica.
O trabalho Escrita histórica e escrita midiática: a produção de sentidos históricos e o acontecimento emblemático contemporâneo produzido por Sônia Meneses também compõe esse rol de artigos. Através desse estudo Meneses problematiza entre outros fatores os conhecimentos e acontecimentos históricos do mundo contemporâneo conforme as relações história e mídia. Dessa forma, a autora discute a influência da mídia no processo histórico, relacionando a formação e a relação do acontecimento midiático com o acontecimento histórico.
O trabalho de Juliana dos Santos Pereira e Fabiano Coelho Considerações sobre o “milagre econômico” brasileiro na imprensa douradense (1970-1973) se utiliza do campo político para analisar o discurso da imprensa da cidade de Dourados do atual Mato Grosso do Sul acerca do “milagre econômico”. Dessa forma, os autores apresentam o comportamento do periódico Folha de Dourados diante de um fenômeno que conheceu o surto desenvolvimentista do setor industrial e de sua infra-estrutura. De modo geral, o estudo procura analisar as representações do impresso diante as ações do Estado.
Diego Abelino José Maximo Moreira traz seu artigo O começo do rádio no antigo sul de Mato Grosso: instalação das primeiras empresas e seus objetivos (1930-1970). Nesse trabalho, Maximo analisa a instalação de emissoras de rádio nas seguintes cidades do atual Mato Grosso do Sul: Corumbá, Dourados, e Campo Grande. O autor leu em consideração a origem, capital e dificuldades enfrentadas pelas empresas. Conforme as colocações contidas no texto os proprietários eram de diversas localidades, localizados até mesmo fora do Estado de Mato Grosso.
No que se refere ao artigo A construção fílmica do passado: imagens e narrativas do movimento belicista de 1930, André Luiz dos Santos Franco discute sobre as representação fílmica contida em “Revolução de 1930” de autoria e direção de Silvio Back. O filme remonta ao ano de 1980, cinqüenta anos após o movimento civil militar que, através de um golpe, colocou no poder Getúlio Vargas. De acordo com o autor, o processo histórico onde se localiza o conflito serve de objeto para que o historiador possa compreender os métodos e técnicas utilizadas para originar a representação fílmica.
A seguir apresentamos aos leitores a sessão de Artigos livres dessa edição da REHR, iniciamos com o trabalho de Miguel Pacífico Filho Consenso, anacronismo e violência: a historiografia brasileira sobre a escravidão, que procura colocar em primeiro lugar fatores sobre a historiografia que versa sobre a escravidão, a partir de um confronto entre formulações que possuem sua base no consenso e aquele que considera a violência entre senhores e escravos como sendo plausível. Sendo assim, o autor salienta como tais debates se fundamentaram sob argumentos de anacronismo. Para além de tais questões elucidadas no texto, o autor expõe apontamentos mencionando alguns fatores que demonstra que tais debates extrapolam o universo acadêmico, situando por fim, o seu trabalho de doutoramento na discussão.
Luciano Demetrius Barbosa Lima apresenta o artigo Entre Cabanos e plebeus: a presença da história clássica romana na obra Motins Políticos. O autor toma como referência o livro Motins Políticos ou história dos principais acontecimentos políticos na Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835 do historiador Domingos Antônio Raiol, para abordar questionamentos acerca da utilização por intelectuais brasileiros do século XIX, de fatores ligados à sociedade greco-romana. Lima através de seu estudo percebe tais referências em meio a uma descrição de conflitos políticos-sociais do Pará no texto de Raiol. O autor trata as menções à história Greco-romana a partir da noção de representação.
O artigo de Eder da Silva Silveira Estudo de caso e micro-história: distanciamentos, características e aproximações busca refletir sobre duas modalidades de pesquisa: o Estudo de Caso e a Micro-História. Atravéz de seu estudo o autor objetiva sinalizar algumas das principais características, distanciamentos, relações e aproximações entre Estudo de Caso e Micro-história.
No texto História Oral, Memória, História de Rodolfo Fiorucci sobre o uso da história oral e as publicações acerca da memória na trajetória epistemológica da disciplina histórica. No decorrer de seu texto Fiorucci faz uma breve explanação referente ao uso da história oral no Brasil e, além disso, trata dos métodos e teorias dessa vertente historiográfica.
O artigo do historiador José Costa D’Assunção Barros cujo título A escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento faz uma análise acerca do movimento dos Annales e suas respectivas fases que o compõe. Ao levar em consideração a sua importância para a historiografia, Barros trata de aspectos específicos que versam sobre a identidade dos Annales quanto um movimento. Desse modo, são analisados fatores ligados a interdisciplinaridade, a problematização da História, e as novas proposições nas formas de conceber o Tempo. Conforme esse entendimento o autor situa a discussão levando em consideração os novos rumos do saber histórico promovido pelos intelectuais ligados às fases tal movimento.
Rodrigo Machado da Silva apresenta o artigo Nas páginas descritivas do passado: a escrita da história como discurso para a civilização que traz um estudo sobre o que o intelectual mineiro Diogo de Vasconcellos discute a respeito da função e concepção de História. Através de livros de tal autor, como História Antiga Média de Minas Gerais Rodrigo M. da Silva analisa a construção e recepção da narrativa histórica na produção desse intelectual. Outro ponto abordado é aquele onde o autor do artigo analisa, é sobre a retórica utilizada para inserir Minas Gerais no que o estudioso mineiro tange como “ápice da civilização ocidental” durante o limiar do período republicano brasileiro.
Breno Mendes publica na presente revista uma análise cujo título Nossa (cordial) Revolução: o legado dos desterrados em sua própria terra remonta sua análise em algumas questões referendadas por Sérgio Buarque de Holanda que tiveram relevo na historiografia brasileira. Ao tratar de um tema que vincula esse historiador de renome, Mendes aborda de duas categorias referidas por Holanda: “cordialidade” e “nossa revolução”. O autor propõe analisar nesse texto o lugar social de Raízes do Brasil e na tentativa colocada pelo autor de uma “superação do passado”. Em linhas finais, o autor articulação entre conceitos que foram propostos por R. Koselleck e F. Nietzsche na narrativa de Holanda.
José Carlos da Silva Cardozo produziu e publica seu artigo O Juizado de Órfãos e a organização da sociedade nos anos iniciais do século XX, nesse texto, Silva estuda a atuação do Juizado de Órfãos da capital Gaúcha, Porto Alegre. Conforme os argumentos do autor, a instituição auxiliou para a regularização social de famílias da cidade, as quais enfrentavam uma situação de desagregação familiar, envolvendo menores durante o início do século XX. A partir de fontes que possuem informações sobre as tutelas dos menores, o autor percebe os valores morais nas decisões e desfechos de tutelas dos adolescentes e crianças.
Em Roma Locuta: Causa Finita? O repto da Igreja brasileira ao papado de João Paulo II texto elaborado por Lucelmo Lacerda, que procurou observar a formação do Cristianismo da Libertação e a oposição do Vaticano quanto à posição da primeira. Em seu texto o autor percebe a independência do modelo eclesial vinculados à Teologia da Libertação no interior da Igreja do Brasil. A partir de uma vasta bibliografia e entrevistas o autor propõe reordenar o relacionamento da Santa Sé e Igrejas locais.
Nesta edição a Revista Eletrônica História em Reflexão teve a honra de poder entrevistar o professor Jose Augusto Valladares Padua, professor do Departamento de História da UFRJ, que se dedica a pesquisar e escrever sobre a História Ambiental, figurando como um dos mais respeitados intelectuais brasileiros nesse campo. Influenciado por Warren Dean, seu livro Um Sopro de Destruição: Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888) é, certamente, uma indispensável leitura para os interessados na temática Ambiental sob a ótica do conhecimento histórico.
Para fechar essa edição da REHR, publica a resenha produzida por Ismael Gonçalves Alves, cujo livro resenhado é História da infância em Pernambuco organizado por Humberto Miranda e Maria Emília Vasconcelos.
A Equipe que compõe a REHR deseja para os leitores um ótimo aproveitamento dos textos publicados. Agradecemos a todos a credibilidade confiada e que o labirinto da História apresentado nessa edição colabore para as reflexões de todos!
Camila Cremonese Adamo
Fabiano Coelho
Daniele Reiter Chedid
Cássio Knapp
Fernanda Chaves de Andrade
(Editores)
Dourados-MS, Verão de 2010.
CREMONESE, Camila Adamo; COELHO, Fabiano; CHEDID, Daniele Reiter; KNAPP, Cássio; ANDRADE, Fernanda Chaves de. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 4, n.8, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]