História, educação e interdisciplinaridade / Revista Brasileira de História / 2010

O número 60 da RBH apresenta o dossiê “História, educação e interdisciplinaridade”, o qual traduz a expressiva dimensão que os debates sobre o ensino de História vêm assumindo nos meios acadêmicos brasileiros. Se por muito tempo os professores universitários de História foram resistentes a esse tipo de reflexão, o volume e a diversidade de artigos recebidos mostra uma positiva mudança em direção ao aprofundamento das questões relativas ao ensino da disciplina.

Os textos que compõem o dossiê procuram refletir sobre o saber escolar, entendido aqui como uma construção histórica, ou seja, como um produto de seu tempo, guardando muito do contexto em que foi elaborado. A perspectiva de que o ensino deve ser pensado em sua historicidade é um passo importante para entendermos a constituição da História como uma disciplina acadêmica e escolar, bem como as relações entre a carreira acadêmica e a formação docente no contexto brasileiro. A ideia básica do dossiê é contribuir para o debate sobre a formação dos docentes e apresentar subsídios para pensarmos sobre as funções e o alcance do ensino de História, tanto no passado como nos dias de hoje.

O dossiê é composto de sete artigos: Marcos Antônio da Silva e Selva Guimarães Fonseca analisam tradições de debate sobre ensino de História no Brasil desde a ditadura de 1964-1984. O artigo discute as mudanças, permanências, conquistas e perdas na história da disciplina. Destaca a importância da cultura escolar, a necessária continuidade da escola como instituição e o diálogo com formas não escolares de ensino. Aryana Lima Costa nos apresenta um artigo sobre a extensão na formação dos profissionais, pensando o papel que cabe (ou caberia) aos cursos de História na contemporaneidade através de atividades concebidas para extrapolar os muros das universidades. O texto de Maria Aparecida Bergamaschi e Juliana Schneider Medeiros analisa como a educação escolar indígena no Brasil foi imposta aos povos originários desde os primórdios da colonização, com o intuito de catequizá-los e civilizá-los, e de que maneira, coerentes com suas cosmologias, esses povos mantiveram um modo próprio de educação. O artigo de Maria Rita de Almeida Toledo e Daniel Revah apresenta um estudo sobre a revista Escola e a política educacional do regime militar a partir da difusão da reforma de ensino instituída pela Lei 5.692, de 1971. Outro texto que versa sobre a problemática do ensino durante a ditadura militar é de autoria de Elaine Lourenço e enfoca memórias da atuação docente no período. O artigo de Helenice Aparecida Bastos Rocha trata de um problema existente na escola brasileira que afeta diretamente o trabalho de ensino e aprendizagem de história: as condições de seus alunos no que se refere ao domínio da leitura e da escrita. Considerando o quadro apresentado, a autora sinaliza algumas alternativas para o ensino de história no Ensino Básico. Finalizando o dossiê, Ricardo de Aguiar Pacheco analisa as ações educativas em museu e suas relações com o ensino de história.

Os demais artigos deste número focalizam temáticas variadas. O texto de Raquel Discini de Campos analisa a atuação do médico carioca Floriano de Lemos na região Noroeste Paulista, na década de 1920 e procura situá-lo como personagem possuidor de uma trajetória emblemática a uma geração de intelectuais que intencionou mapear, analisar e organizar discursivamente o interior do país nas primeiras décadas do século XX. Francisca L. Nogueira de Azevedo e Roberta Teixeira Gonçalves estudam um documento do século XIX intitulado Novella pollítica e sentimental, e o ponto central do artigo é a análise da narrativa novelesca, no sentido de perceber os elementos discursivos utilizados como persuasão em defesa da Espanha. Ana Carolina Eiras Coelho Soares busca entender as relações entre os espaços urbanos do Rio de Janeiro oitocentista e as relações de gênero expressas na narrativa de José de Alencar em seus romances urbanos femininos: DivaLucíola e Senhora. O artigo de Andrea Dupuy focaliza como os primeiros núcleos populacionais da América Hispânica eram abastecidos de carne e o impacto do estanco, sistema de monopólio voltado para assegurar um eficiente fornecimento de alimentos às cidades. Para finalizar, Maria Helena Versiani apresenta alguns valores correlacionados à ideia de República presentes em um repertório de práticas políticas que tiveram lugar na sociedade brasileira, na segunda metade da década de 1980.

Conselho Editorial


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.30, n.60, 2010. Acessar publicação original [DR]

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