História do ensino de geometria e de desenho / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2016

É com enorme prazer e satisfação que aceitei o convite para ser a editora responsável pelo terceiro número da HISTEMAT, com a singularidade de contemplar artigos sob uma mesma temática: História do ensino de geometria e de desenho. Trata-se do primeiro número temático da HISTEMAT, que reuniu investigações com foco em dois saberes escolares: o Desenho e a Geometria. Os artigos analisam uma multiplicidade de aspectos, como as rivalidades entre as propostas para o ensino de desenho e de geometria, as conexões com as artes, ciências, jogos, tecnologias, a participação na formação de professores, assim como suas especificidades para os diferentes níveis de escolaridade.

O primeiro artigo, de Glaucia Trinchão, retoma a sua tese de doutorado “O DESENHO como objeto de ensino: História de uma Disciplina a partir dos Livros Didáticos Luso-Brasileiros Oitocentista” de 2008, referência primeira dos estudos sobre a história do ensino de Desenho no Brasil e amplia sua narrativa com estudos recentes. Na sequência, o pesquisador francês e autoridade internacional nos estudos sobre história do ensino de Desenho e da Geometria, Renaud D‘Enfert, nos apresenta a disputa pelo desenho geométrico na escola primária e secundária francesa, do final do século XIX e início do século XX.

Três artigos discutem o Desenho em diferentes estados brasileiros. O processo de escolarização da disciplina Desenho da Escola Normal de Belo Horizonte é minuciosamente examinado por Ismael Neiva e Thais Fonseca, revelando as confrontações entre o desenho geométrico e o desenho artístico nos programas de 1906 a 1946. O artigo de Jorge Gaspar e Lucia Villela aborda o ensino de Desenho nos programas do Distrito Federal no final do século XIX e início do século XX analisando as mudanças na obra Perspectiva de Observação. E, completando a tríade, Thaline Kuhn e Cláudia Flores analisam o ensino de Desenho dos programas dos grupos escolares catarinenses realçando a educação dos sentidos e da observação.

Finalizando os artigos que tiveram como objeto de investigação o Desenho, o parecer de Rui Barbosa e as revistas pedagógicas cariocas e paulistas são tomados como fontes por Marcos Guimarães e Wagner Valente para concluir que o saber a ensinar e para ensinar Desenho defendidos por Barbosa são, em certa medida, reapresentados nos discursos veiculados pelos periódicos pedagógicos.

Este número da HISTEMAT apresenta, ainda, para os cinco próximos artigos, o ensino de geometria como objeto de investigação e levam em consideração resultados de dissertações de mestrado defendidas entre 2014 e 2015, no âmbito do projeto “A constituição dos saberes elementares matemáticos: A aritmética, a Geometria e o Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970” desenvolvido pelo GHEMAT – Grupo de Pesquisa em História da Educação Matemática.

Claudia Frizzarini e Célia Leme analisam a matéria Formas presente nos programas do estado de São Paulo de 1894, 1925 e 1934 e estabelecem um diálogo com a mesma rubrica escolar em tempos atuais. Ivanete Santos indaga sobre a diferença entre Geometria e saberes geométricos nos estudos de Sergipe e dos demais participantes do projeto supracitado. Os saberes geométricos nos programas do primeiro ano primário da região sudeste nas décadas de 1930 a 1950 são objeto de estudo de Juliana Fernandes e Rosimeire Borges, apontando que todos os programas trouxeram instruções para que os alunos pudessem relacionar os saberes geométricos ao seu cotidiano. Márcio D’Esquivel e Claudinei Sant’Ana analisam mudanças e permanências dos saberes geométricos para o ensino primário na Bahia entre 1835 a 1925 evidenciando uma progressiva definição de papeis distintos para o Desenho e a Geometria. Referências e práticas da professora Alda Lodi são examinadas por Silvia Barros e Cristina Oliveira destacando que a Geometria ensinada às normalistas passava pelo estudo dos objetos que as rodeavam, propondo situações simples e corriqueiras da vida cotidiana.

Vicente Garnica apresenta projeto de pesquisa do GHOEM – Grupo de História Oral e Educação Matemática, cujo objetivo central é a tradução de livros antigos para o português, discutindo duas obras: de Lacroix e de Lewis Carroll no que diz respeito à História do ensino de Geometria. Os pesquisadores portugueses Anabela Teixeira e Jorge Silva apresentam jogos antigos que envolvem conceitos geométricos examinando suas potencialidades pedagógicas. Encerra o número, o artigo de Vincenzo Bongiovanni que nos traz exemplos e relatos de experiência vivenciada com a chegada da tecnologia na disciplina de Geometria ministrada em cursos de formação de professores em Educação Matemática.

Como já dito, o presente número aglutina resultados de pesquisas relevantes para o processo de consolidação da área específica de história da educação matemática. Em particular, é surpreendente a quantidade e qualidade de estudos que tomam como centro da investigação os saberes escolares, propriamente os saberes de desenho e de geometria, um campo promissor para a Educação Matemática, compreender os processos de organização e transformação desses saberes ao longo do tempo. É preciso ainda ressaltar e valorizar o impulso que se identifica nas pesquisas desenvolvidas de forma coletiva em projetos de âmbito nacional e internacional, como parte significativa dos artigos publicados neste número.

Sucesso à HISTEMAT e vamos em frente!

Uma excelente leitura!

Maria Célia Leme da Silva


SILVA, Maria Célia Leme da. Apresentação. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.2, n.2, 2016. Acessar publicação original [DR]

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