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História da educação matemática | Cadernos CEDES | 2021
Desde, pelo menos, os anos 1930, no Brasil, anunciam-se tensões entre a matemática, como campo disciplinar e o ensino de matemática. Em realidade, constitui anacronismo, a esse tempo, denominar “campo disciplinar matemático” o lugar ocupado por professores que ministram cursos de matemática no ensino secundário. Em sua quase totalidade, são eles engenheiros. É somente a partir de finais da década de 1930, tendo em vista o surgimento das faculdades de filosofia, que se passa a ter professores formados em matemática.
As tensões relativas ao ensino de matemática, cujo ícone foi Euclides Roxo – professor de matemática e diretor do Colégio Pedro II (ele mesmo com formação em engenharia) –, de fato representam embates que colocam, de um lado, os professores com inserção no campo educacional e, de outro, os engenheiros sem afinidade com as discussões educativas. A proximidade ao campo educacional de professores de matemática, como Euclides Roxo, também pode ser explicada por reflexos do movimento internacional do início do século XX, tendo à frente o eminente matemático Félix Klein. Àquela altura, fica posto o desafio a todos os países de estabelecerem continuidade dos ensinos secundário e superior em matemática. Isso faz emergir, de modo inédito, entre os matemáticos, o interesse pelo ensino elementar de sua disciplina. Leia Mais
História da educação matemática em perspectiva Iberoamericana: relações entre campo disciplinar e ciências da educação / Revista História da Educação / 2020
No Brasil, desde a década de 1990, com os chamados Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998), tem-se a inclusão das possibilidades didático-pedagógicas da História da Matemática no ensino. Em realidade, livros didáticos das primeiras décadas do século XX, vez por outra, utilizaram referências à História da Matemática para o ensino dessa disciplina (MIGUEL; MIORIM, 2004). Porém, em razão desse reconhecimento oficial curricular, pelos PCN, passou-se a uma maior valorização e incremento de estudos sobre o papel da História da Matemática no ensino de matemática nas últimas décadas. A História da Matemática, dessa maneira, firmou-se como, eminentemente, um expediente didático a serviço do ensino de matemática.
Se as últimas décadas viram o enorme crescimento de estudos sobre o uso didático da História da Matemática no âmbito escolar, integrando o saber profissional do professor de Matemática, isso parece não ter sido acompanhado pela pesquisa em História da Matemática. No seio mesmo dos congressos e reuniões relativos à História da Matemática mais e mais vem circulando, em número bastante significativo, trabalhos sobre História da educação matemática – Hem [2]. Um estudo realizado por Mendes (2014) revelou que mais da metade de todos os trabalhos escritos no âmbito da História da Matemática, de 1990 a 2010, no Brasil, em realidade, não trataram de História da Matemática; referiram-se a estudos de História da educação matemática. E, ao que tudo indica, na década seguinte, essa tendência tornou-se ainda mais acentuada, com crescimento exponencial de estudos sobre Hem. Essa representatividade de modo crescente das pesquisas sobre Hem veio a permitir a criação de congressos nacionais e internacionais sobre História da educação matemática [3]. Leia Mais
História da Educação Matemática e Formação de Professores que Ensinam Matemática / Cadernos de História da Educação / 2017
A produção de pesquisa em História da Educação Matemática tem crescido significativamente nos últimos anos. Pesquisadores têm focado temas distintos, seguindo fundamentações diversificadas em abordagens profícuas e criativas. Os trabalhos de investigação nessa área têm sido realizados em várias instituições espalhadas pelo país. Edições temáticas sobre História da Educação Matemática têm sido publicadas por conceituados periódicos nacionais e internacionais e, além dos inúmeros grupos de pesquisa brasileiros já consolidados, há muitos grupos que, embora criados mais recentemente, já apresentam produção consistente.
Um primeiro evento internacional voltado à discussão das pesquisas atuais no campo, o I Congresso Ibero-americano de História da Educação Matemática (CIHEM), foi realizado na Universidade da Beira Interior, em Covilhã, Portugal, no mês de Maio de 2011 (http: / / www.apm.pt / encontro / cihem.php), com presença marcante de brasileiros. Ainda durante esse I CIHEM, pesquisadores lá reunidos, considerando a grande expansão e vitalidade da produção brasileira, decidiram organizar um evento nacional. Esse evento foi batizado de I Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática – I ENAPHEM –, realizado em novembro de 2012, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB, em Vitória da Conquista (http: / / enaphem.galoa.com.br). A ele seguiu-se, em novembro de 2013, o II CIHEM, ocorrido em Cancún, no México. Em termos nacionais, veio o II ENAPHEM, realizado na UNESP, em Bauru, estado de São Paulo, em 2014. Em 2015, realizou-se o III CIHEM, em Belém, no Pará; em 2016, o III ENAPHEM teve lugar em São Mateus, Espírito Santo, na UFES. Entre os dias 14 e 17 de novembro de 2017 realizou-se o IV CIHEM na cidade de Múrcia, Espanha. E já está agendado para 2018, em Campo Grande, MS, a realização do próximo ENAPHEM. Todos esses eventos científicos resultaram num número imenso de textos e reflexões sobre história da educação matemática. Parcela significativa desses estudos voltaram-se para o debate do papel da história da educação matemática na formação de professores. Esse, aliás, foi o tema principal do último ENAPHEM. Tal debate fez emergir a defesa de constituição de uma rubrica curricular para a formação de professores intitulada “História da Educação Matemática”. Várias têm sido as experiências realizadas na introdução dessa rubrica para a formação de professores. Este Dossiê, leva em consideração textos que sistematizam essas experiências em diferentes instituições. Há também, estudo internacional (Portugal) que se orienta na mesma direção dos demais brasileiros, em termos de análise da trajetória profissional dos professores que ensinam matemática, numa abordagem a ser tratada pela história da educação matemática.
Acreditamos que o Dossiê terá papel fundamental para impulsionar e subsidiar debates futuros, bem como dar referências para diversas outras iniciativas aqui não tratadas.
Wagner Rodrigues Valente – Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Professor Livre Docente do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo – Campus Guarulhos, SP. Coordenador do GHEMAT – Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática. E-mail: ghemat.contato@gmail.com
VALENTE, Wagner Rodrigues. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 16, n.3, set. / dez., 2017. Acessar publicação original [DR]