História e Cinema / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2010

O número 18 de Fronteiras – Revista Catarinense de História é o primeiro a ser publicado de forma exclusivamente digital, através da World Wide Web, no sítio eletrônico da ANPUH-Seção SC. Esperamos com isso ganhar mais agilidade na produção e na disseminação da revista e alcançar um número maior de leitores!

A publicação on line está também associada ao projeto RCH Digital, desenvolvido pela Diretoria da ANPUH-Seção SC (Gestão 2010- 2012), e que objetiva disponibilizar na rede mundial de computadores, no sítio eletrônico da entidade, todas as edições do periódico, desde 1990. Cada edição da revista registra, a sua maneira, debates, percepções, fazeres e perspectivas do campo historiográfico. Ao procurar garantir o acesso à totalidade dos números editados da Revista Catarinense de História (em 1998 transformada em Fronteiras – Revista Catarinense de História), a Diretoria da ANPUH-Seção SC quer contribuir para uma melhor avaliação das propostas e dos projetos delineados na publicação, ao longo de sua trajetória, através de diferentes sujeitos e a partir de distintos lugares de fala. Em suma, a análise de rupturas e permanências, balanço ao qual os historiadores costumeiramente se entregam e que merece ser efetuado também em relação a esse periódico teimosamente editado há 20 anos.

Neste número 18, que é relativo a 2010 mas que, lamentavelmente, pôde ser editado apenas em 2011, os anos 1960 e 1970 estão significativamente presentes, em todas as seções da revista.

No dossiê História e Cinema, aquele período histórico é abordado em três artigos: “Travessuras em superoito milímetros: o cinema em liberdade de Torquato Neto”, de Edwar de Alencar Castelo Branco; “O terceiro cinema em Florianópolis: duas ficções e um documentário experimentais (1968 a 1976)”, de Sissi Valente Pereira; e “Imagens e história da industrialização no Brasil: a pesquisa histórica e a produção do documentário Libertários”, de Lauro Escorel Filho (1976), de Rafael Rosa Hagemeyer.

As “travessuras” torquateanas são remetidas a dois filmes em superoito, feitos em Teresina, que Torquato Neto roteirizou, dirigiu e nos quais atuou: O Terror da Vermelha e Adão e Eva do Paraíso ao consumo. Através de Torquato Neto, busca-se pensar percepções e ações de uma geração de jovens que, em vários locais do país, interrogavam seu mundo e, em especial, sua relação com a linguagem. Temas que são discutidos em livro organizado pelo autor do artigo e que é, aliás, objeto de uma das resenhas que compõem este número 18, elaborada por Fábio Leonardo Castelo Branco Brito. Sissi Valente Pereira aborda três filmes de curta-metragem que, entre 1968 e 1976, em Florianópolis, dialogaram com o cinema experimental, revelando preocupações estéticas, filosóficas e políticas peculiares, bem como novos olhares sobre a cidade. Já o artigo de Rafael Rosa Hagemeyer convida à reflexão sobre as interações entre Cinema e História a partir de um instigante relato sobre as condições de produção do documentário Libertários. Problematiza as relações do filme com os temas e os materiais de arquivo nele enfocados (relativos à experiência anarquista brasileira do início do século XX) e com o próprio momento histórico em que foi produzido.

Debruçando-se sobre outro período, Bianca Melyna Filgueira, em “A mise-en-scène do Estado Novo e os filmes premiados pelo DIP: reflexões metodológicas para uma análise”, ensaia a análise do filme Pureza, de 1940, premiado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP.

Em um dossiê onde predominam experiências cinematográficas no Brasil (enfocadas em quatro dos cinco artigos), José Luis de Oliveira e Silva se diferencia por trazer reflexões acerca de uma produção estadunidense, Atividade paranormal, de 2009. O autor concentra-se na análise dos elementos próprios à construção da narrativa de terror mobilizados no filme, dando destaque para a forma com que são nele agenciadas as categorias de tempo e espaço. Note-se que o artigo também dialoga com questões abordadas em outros textos do dossiê, como os limites tensos e tênues entre o documental e o ficcional cinematográficos.

Mesmo fora do dossiê, dois outros artigos continuam a tematizar manifestações artísticas. Em “Entre imagem e história – Lindonéia”, Mara Rúbia Sant’Anna e Monike Meurer propõem reflexões sobre o contexto político e cultural brasileiro na segunda metade dos anos 1960 a partir da personagem “Lindonéia”, presente em obra pictórica de Rubens Gerchman e em canção de Caetano Veloso interpretada por Nara Leão. Já em “Sinais em trânsito: Roadsworth e a arte de asfalto”, Daniel Pereira Xavier de Mendonça destaca as obras de artista canadense contemporâneo que relê os signos urbanos, desafiando sua banalidade ao propor conexões inesperadas e desenhos inusitados no asfalto pisado pelos passantes – intervenções que desestabilizam os olhares sem negar a transitoriedade de sua presença.

O último artigo apresentado é justamente aquele que foi primeiramente enviado para este número da revista, ainda em fevereiro de 2010. Augusto da Silva e Adenilson da Rosa, em “Antes do Oeste Catarinense: aspectos da vida econômica e social de uma região”, problematizam, sobretudo a partir de inventários post mortem, aspectos econômicos e sociais, entre o final do século XIX e 1930, da região que ficaria conhecida como “Oeste Catarinense”, oferecendo preciosos elementos de reflexão acerca de sua história.

A propósito do centenário da morte de Joaquim Nabuco, comemorado em janeiro de 2010, fecha o número da revista a resenha de Ademir Luiz da Silva, sobre o livro O encontro de Joaquim Nabuco com a política: as desventuras do liberalismo, de Marco Aurélio Nogueira. Aos autores, nossos agradecimentos por colaborarem com a revista.

Aos leitores, nossos votos de uma boa e proveitosa leitura.

Janice Gonçalves


GONÇALVES, Janice. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.18, 2010. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê