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História Ambiental e Migrações / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2014
Por muito tempo a História foi vista como uma disciplina que enfocava as correlações sociais, políticas e econômicas, sobrepujando outras categorias de análise. No entanto, esta premissa foi superada e outras relações passaram a ser vistas como fundamentais para a compreensão da própria disciplina da História. Segundo o historiador Donald Hughes, a História Ambiental pode adicionar bases e perspectivas a conceitos tradicionais dos historiadores: guerra, diplomacia, política e economia, revelando relações entre esses conceitos e o mundo físico [1].
Partindo deste mesmo pressuposto, o Dossiê de História Ambiental e Migrações, número 23 de Fronteiras, a Revista Catarinense de História, visa analisar a problemática ambiental com enfoques distintos em sua relação com a sociedade.
Marlon Brandt, em Agricultura e urbanização na paisagem do município de São José-SC (Séculos XVIII a XX), procura analisar as transformações da paisagem do município de São José, SC, partindo da ocupação açoriana no século XVIII, até a intensificação do crescimento urbano e adensamento demográfico na década de 1970, que foram modificando espaços que antes assumiam uma feição caracteristicamente rural em bairros densamente povoados.
Sandro Dutra e Silva busca identificar a postura de enfrentamento à natureza presente nos discursos da Marcha para Oeste, no artigo O desbravador do Oeste e as narrativas do enfrentamento e devastação da natureza na construção da Rodovia Belém-Brasília. Com a finalidade de identificar as representações do desbravador do Oeste, por meio da criação da imagem heroica de Bernardo Sayão, o texto procura se fundamentar nos pressupostos teóricos-metodológicos da História Ambiental, e baseia-se em diferentes fontes e documentos para caracterizar as representações da natureza no imaginário social brasileiro das décadas de 1940 a 1950.
Dando enfoque nas migrações contemporâneas, Emerson César de Campos e Michele Gonçalves Cardoso, em Migrações internacionais e família: experiências de migrantes criciumenses em configuração transnacional, analisam como o município de Criciúma tem se destacado pelo elevado número migrantes que partem da cidade rumo aos Estados Unidos ou para a Europa, em especial a Itália. Esses processos migratórios promoveram novos arranjos familiares e desempenham um importante papel na manutenção do projeto migratório e das novas configurações familiares. Soeli Regina Lima, também aborda a temática de migração no artigo Migrações e desenvolvimento local: um estudo biográfico. A autora analisa a trajetória de Luís Szczerbowski numa perspectiva bibliográfica, para entender o desenvolvimento econômico na cidade de Três Barras, em Santa Catarina.
Roberta Barros Meira procura comparar a importância recíproca entre natureza, imigração e agricultura, nos discursos dos diferentes atores ligados diretamente a questões como a ocupação e defesa do território e a transição da mão de obra escrava para a livre em Entre a experiência e a fantasia: natureza, agricultura e imigração no Brasil do Império.
Em História Ambiental do(s) Agreste(s) de Pernambuco: As ações humanas no ambiente natural sob a ótica dos indígenas e dos estudos acadêmicos (Séculos XIX – XX), Edmundo Monte aborda as mudanças ocorridas no ambiente natural do atual Agreste pernambucano, como consequência das ações humanas na região, sobretudo entre os séculos XIX e XX, para atender os ideais de progresso da nação.
Jackson Peres analisa como se deu a exploração dos recursos naturais na região da Baixada do Maciambú, no artigo A exploração dos recursos naturais no Porto dos Patos entre os séculos XVI e XIX. O autor mostra como os navegadores, desde o século XVI, usufruíram dos recursos naturais, especialmente de água, lenha e caça, bem como dos alimentos produzidos pelos indígenas que viviam na região.
Em Discussões acerca da necessidade de instalação de colônias agrícolas no sul de Mato Grosso (1889-1920), foi feita uma análise com base na colônia de Terenos, sobre a primeira experiência de colonização pública naquele estado. No artigo, Vinicius Rajão da Fonseca faz uma discussão entre a configuração da fronteira no sul de Mato Grosso, nas décadas finais do século XIX, e os discursos sobre a necessidade da colonização do estado, através da instalação de núcleos coloniais agrícolas.
Simoni Mendes de Paula, em A utilização dos recursos energéticos no rio Itajaí-Açú (SC), analisa os projetos para a produção de energia elétrica no rio Itajaí-Açú, em Santa Catarina. No último quartel do século XIX, indústrias como a Hering e a Karsten iniciaram sua produção utilizando-se da energia hidráulica produzida na região do Testo Salto. Nas décadas seguintes, empresas como a Empresa Eletricidade do Salto e a Empresa Força e Luz ratificaram o potencial hidrelétrico do vale do Itajaí com a construção de usinas hidrelétricas.
A mandioca e os carros de boi: ruralidades de uma Ilha ao Sul do Brasil, de Giovana Callado Ferreira, discute as mudanças produzidas pelo processo de urbanização na Ilha de Santa Catarina nos espaços outrora considerados “rurais”. Através da prática do cultivo da mandioca, da produção da farinha e da reemergência dos encontros dos donos de carros de boi, o texto mostra que apesar dos discursos vigentes apontarem para o esvaziamento das práticas de ruralidade, as trocas promovidas entre o “rural” e o “urbano” permitem perceber um universo sócio cultural muito mais complexo do que supunha a velha dicotomia entre o campo e a cidade.
Misael Costa Corrêa, em Alectoromaquia: Os galos de briga dentro da história ambiental, traz aspectos historiográficos da espécie gallus gallus e aponta vestígios de sua provável origem na Ásia, onde, desde muito cedo, a antropização possibilitou sua domesticação e posteriormente sua difusão pelo mundo. Mostra, também, aspectos que tangem à prática das brigas de galos, seus aspectos legais e morais.
Em Ciência e Natureza nas páginas da Revista da Escola de Engenharia de Porto Alegre (1914-1930), Fabiano Quadros Rückert aborda as relações entre a Escola de Engenharia de Porto Alegre e o governo do Partido Republicano Rio-Grandense, e mostra como esta oferece subsídios para compreensão do perfil editorial da EGATEA, destacando questões referentes ao uso da Ciência para exploração da Natureza e o processo de modernização das atividades agrárias no Rio Grande do Sul da Primeira República.
Este número traz ainda a seção de Resenhas, com a resenha da obra Vidal, Vidais: textos de Geografia Humana, Regional e Política, apresentada por Carlos Alberto Menarin.
Esperamos que os leitores possam fazer um ótimo proveito dos mais variados textos apresentados neste número.
Nota
1. HUGHES, Donald. Environmental History and Older History. In: GANDARA, Gercinair Silvério (orgs). Natureza e Cidades: viver entre águas doces e salgadas. Goiânia: PUC / UNIEVANGÉLICA Goiás, 2012. p. 25.
Samira Peruchi Moretto
Eunice Sueli Nodari
Organizadoras do Dossiê de História Ambiental e Migrações
MORETTO, Samira Peruchi; NODARI, Eunice Sueli. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.23, 2014. Acessar publicação original [DR]