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História e Africanidades / Sæculum / 2011
A revista Saeculum, com o dossiê “História e Africanidades”, traz à comunidade acadêmica e, esperamos, a um público não acadêmico, questões sobre a história e as populações negras, procurando reconhecer, valorizar e (re)significar as práticas culturais africanas no território brasileiro.
Os autores e as autoras dos estudos presentes nesse dossiê utilizam intensamente do diálogo da História com outras áreas do conhecimento – Antropologia, Pedagogia, Direito e Sociologia –, assim temos dez artigos de diferentes regiões do Brasil, que utilizaram de temas e abordagens diversas para evidenciar as características da escravidão no Brasil; biografias de intelectuais negros e ações pedagógicas do Movimento Negro na contemporaneidade. Do exterior temos um artigo sobre a catedral do Congo, um “lugar mítico” com uma memória, que contribuiu, na atualidade, para formação de identidades culturais.
São duas as resenhas que compõem o presente dossiê, cujos livros são O Navio Negreiro, de autoria de Marcus Rediker, e Ações Afirmativas: a questão das cotas, organizado por Renato Ferreira, ambos foram publicados em 2011 e tratam de assuntos envolvendo as relações raciais do Brasil. O primeiro aborda o tráfico transatlântico que possibilitou a formação da sociedade brasileira, forjada com base na exploração da mão-de-obra de africanos escravizados e de seus descendentes. Uma história ainda presente na atualidade, uma vez que, o “passado escravista” não passou e retoma-se a questão da “herança escravista” como um dos elementos para se compreender as desigualdades raciais no Brasil. Sendo que ativistas da luta antirracista e seus aliados têm defendido as políticas de ações afirmativas no ensino superior como um dos caminhos para minimizar as assimetrias raciais. Desde então, no debate público muitas polêmicas foram evidenciadas e formaram movimentos favoráveis e contra as Ações Afirmativas, assim, a publicação do livro de Ferreira contribui ao trazer ao público visões jurídicas sobre o tema aludido, nos mostrando como o Brasil avançou na formalização de direitos, contudo, precisamos transformar os discursos legais favoráveis à igualdade social em oportunidades para que as pessoas negras possam superar as injustiças sociais / raciais.
Dando continuidade à discussão do tema das relações raciais brasileira, temos a entrevista com o professor José Jorge de Carvalho, da UnB, que aborda temas variados, como a religião afro-brasileira, o folclore, a mestiçagem na América Latina, o “racismo no ensino superior”, a intelectualidade negra e os movimentos políticos negros, destacando, assim, vários elementos que propiciam reflexões sobre a identidade brasileira e as injustiças sociais na contemporaneidade.
Finalizando, desejamos a todo(a)s uma boa leitura e reflexões sobre as relações raciais nesse início do século XXI e, ao contrário de muitos de nossos antepassados, não vamos ignorar ou negar a ideologia da democracia racial presente em nossa contemporaneidade. Vamos enfrentar esse debate, tão necessário para a ampliação da cidadania.
Os Editores
Editores. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.25, 2011. Acessar publicação original [DR]