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Helsinki – Helsingfors – Historic Town Atlas. Scandinavian Altas of Historic Towns – HIETELA et al (LH)
HIETELA, Marjatta; HELMINEN, Martin; LAHTINEN, Merja. Helsinki – Helsingfors – Historic Town Atlas. Scandinavian Altas of Historic Towns. Comissão Internacional de História das Cidades, 2009. (Plano detalhado de Helsingfors stadt de 1:2500 de 1878). Resenha de: PINHEIRO, Magda. Ler História, n.59, p. 288-291, 2010.
1 O Atlas de Helsínquia e da sua região, da autoria de Marjatta-Hietala, Martin Helminen e Merja Lahtinen, insere-se num projecto internacional de Atlas das Cidades promovido pela Comissão Internacional para a História das Cidades. Dada esta circunstância é prefaciado pelo seu presidente, Michel Pauly, da Universidade do Luxemburgo.
2 Publicar a cartografia das diversas fases da evolução do tecido urbano nas cidades europeias foi desde o início desígnio muito importante da Comissão Internacional para a História das Cidades. Em 1955, quando a associação foi fundada, muitas cidades europeias ainda tinham sinais evidentes da destruição causada pela II Guerra Mundial e o debate sobre a reconstrução nem sempre se saldava na opção por manter o tecido urbano pré-existente aos bombardeamentos. O estudo das estruturas urbanas na sua longa duração implicava a existência de instrumentos de trabalho disponibilizáveis para os investigadores e para os técnicos, assim como a sua comparabilidade. Em 1968, no congresso realizado em Oxford, as linhas comuns foram formuladas de forma flexível através do estabelecimento de alguns itens indispensáveis a cada volume publicado. Logo em 1969 saiu o British Atlas of Historic Towns. Nas últimas quatro décadas foram publicados atlas de cidades alemãs, escandinavas, belgas, francesas, Islandesas, Irlandesas Italianas, austríacas e suecas. Novos projectos de publicação envolveram nos anos 90 a Polónia, a Roménia, a República Checa e a Suíça. Já no século XXI, na Alemanha, Croácia, Hungria e Grécia prepararam-se novas publicações. A coordenação tem sido assegurada por Anngret Simms e Ferdinand Ollp, constituindo um grupo dentro da ICHT. Até 2008, um total de 400 atlas de cidades foram produzidos no âmbito deste projecto1.
3 Espanha e Portugal têm permanecido alheios a este movimento, razão pela qual Howard B. Clarcke, da Royal Irish Academy, publicou um memorando de aconselhamento para a Península Ibérica que discute as bases de comparabilidade estabelecidas nos anos 60 e os ajustamentos a que têm sido sujeitas. Fora da organização internacional, foi publicado pelo Centro de Cultura Contemporânea da Universidade de Barcelona, em conjunto com a Universidade Politécnica da Catalunha, um Altas Histórico das Cidades Europeias que inclui as cidades de Lisboa e Porto mas não assegura a comparabilidade.
4 A comparabilidade assegurada pela organização internacional prende-se com a existência da publicação de peças tipo, de que um mapa cadastral na escala de 2500 por 1000, apresentando a cidade pré-industrial é o elemento essencial. A data considerada ideal para este mapa é 1830, mas isso depende das circunstâncias locais, visto que o mapa publicado não é uma reconstituição. Deve ser um plano cadastral da época. Ainda do mesmo tipo será o mapa regional de uma escala inferior 25 por 1000 ou, na sua inexistência, de 100 por 1000 também geralmente da primeira metade do século XIX. A publicação inclui necessariamente um mapa actual de referência, preparado pelo organismo oficial com essa atribuição em cada país. Mapas interpretativos sobre as fases de crescimento urbano, mapas de épocas anteriores, ilustrações e outros mapas exprimindo informação sócio-topográfica, de distribuição, económica ou de outra natureza também são desejáveis.
5 Na verdade muitas cidades conheceram fortes remodelações antes de 1830, este é evidentemente o caso de Lisboa. Os mapas existentes ou reconstruídos de períodos anteriores podem e devem ser elementos importantes nestas publicações. As fotografias aéreas podem também ser relevantes elucidando sobre a evolução do tecido urbano. Os Atlas comportam ainda um texto histórico explicativo com elementos fotográficos relacionados com a evolução do tecido urbano. No caso da cidade de Helsínquia, este estudo conta com a colaboração da conhecida historiadora Marjatta Hietala.
6 Alguns dos atlas publicados procuraram uma dimensão regional o que torna o financiamento mais fácil e fornece um enquadramento desejável. Nas cidades que se tornaram metrópoles, naturalmente, este aspecto foi contemplado. O Altas Histórico de Helsínquia, que aqui recenseamos, tem essas características e é um volume inserido na colecção de atlas das cidades escandinavas. Trata-se de um infolio cujos estudos são publicados em inglês e finlandês.
7 Publicado no aniversário do grande fogo de Helsínquia de 1808, este atlas contem informação sobre a cidade desde 1550. Em Helsínquia os vestígios desse período são apenas arqueológicos e o primeiro plano contendo a divisão das propriedades corresponde ao período de 1696/1707.
8 Naturalmente o mapa dos quarteirões atingidos pelo incêndio tem destaque no atlas por estar na origem dos planos que configuraram o actual coração da cidade antiga. O texto do atlas compreende um largo espectro de informações sobre o desenvolvimento da cidade. Nesse estudo são abordados os problemas do urbanismo sem esquecer elementos como a habitação e da sua precariedade. A existência em 1850, nas margens do plano aprovado em 1825, de habitação precária e degradada é referida. O aumento das despesas públicas da cidade entre finais do século XIX e princípios do século XX é associado às melhores condições de vida oferecidas aos habitantes cujo número cresceu após a construção da primeira gare ferroviária, em 1862. O porto com docas secas foi ligado à rede ferroviária em 1895. Os primeiros sinais de suburbanização, fora dos limites administrativos da cidade, estavam então a manifestar-se.
9 Foi então que as divergências sobre o urbanismo se manifestaram pondo em confronto os defensores das «beautifull street vistas» e os da eficiência das redes de transporte. A primeira escola valorizava os princípios estéticos e a diversidade. As novas ideias chegaram a Helsínquia através de viagens, exposições e leituras sobretudo das obras de Camillo de Sitte2. Em 1898 um primeiro concurso público de ideias para o plano de Helsínquia teve lugar.
10 O planeamento enfatizou edifícios públicos e comunicações mas a cidade veio encontrar limites na especulação imobiliária pelo que começou a comprar terrenos para poder implementar o seu planeamento. Em 1917, Helsínquia transformara-se na capital do novo país, em 1916-18 o plano da área metropolitana foi elaborado por Elie Sarinen e Jung.
11 As destruições devidas à II Guerra Mundial, muito sentidas, parecem ter sido limitadas e a cidade retomou o seu crescimento no pós-guerra. Lotes de terreno foram então distribuídos aos veteranos, viúvas e órfãos. Os limites administrativos foram alargados em 1946. Uma evolução evidenciada no mapa. O Atlas de Helsínquia traça a história do planeamento da área metropolitana assim como do crescimento da forma urbana e da inovação arquitectónica, aspectos de que a Finlândia se orgulha particularmente. Este traço marca aliás a identidade urbana nos seus aspectos estratégicos.
12 Helsínquia, que tinha crescido rapidamente até aos anos 20 do século XIX, conheceu dificuldades no período posterior à II Guerra Mundial, quando a Finlândia teve de pagar pesadas indemnizações à União Soviética. Na segunda metade dos anos 50, porém, a cidade recomeçou a crescer. Para documentar as transformações das vivências do espaço urbano posteriores a este período, são eleitas algumas ruas. Graças a esta abordagem documenta-se a evolução da ocupação das áreas centrais com as modificações do uso das áreas construídas. Merece também particular destaque o estudo do desenvolvimento área portuária, situada na ilha de Katapanokka, que recebeu actividades provenientes de zonas agora ocupadas pelos russos.
13 A emergência de novas centralidades representadas por shopping centers é também documentada, iniciando-se o seu estudo com a abertura, em 1950, da primeira loja em regime de self-service. Uma realidade que substituiu progressivamente a dos Departments Stores. Estes, em Helsínquia, situavam-se na antiga zona central anexa à Esplanade, existindo desde finais do século XIX.
14 Está também documentada através de mapas e imagens a história das redes de transporte colectivo na cidade e na metrópole. Ainda aqui enfatiza-se a qualidade arquitectónica de equipamentos, como a gare Central do arquitecto Elie Saarinen, datada de 1914.
15 Naturalmente é visível a influência da obra de Marjatta Hietala neste trabalho, pois estão amplamente descritas e documentadas em capítulos especiais as evoluções e localizações de serviços sociais, como a educação, a religião, as bibliotecas e os teatros, os jardins infantis e as instituições de saúde3.
16 Parece-nos assim particularmente importante que os historiadores portugueses possibilitem uma história comparada das cidades portuguesas integrando esta rede que estabelece sobre bases sólidas uma história comparada das cidades.
Notas
1 Howard B. Clarke, «Joining the Club: a Spanish Historic Town Atlas?», Royal Irish Academy, p. 23.
2 P. 60.
3 Hietala, Marjatta, 1987, Services and Urbanization at the turno f the century, the diffusion of Inn (…)
Magda Pinheiro – CEHC – ISCTE-IUL