1499: o Brasil antes de Cabral – LOPES (RMAE)

LOPES, Reinaldo José.  1499: o Brasil antes de Cabral. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2017. 246 p. Resenha de: CAVLAC, Carolina Limonge. Uma incursão à pré-história brasileira. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, v.31, p.131-134, 2018. LOPES, Reinaldo José.

Este livro do jornalista Reinaldo José Lopes, publicado em 2017, é uma incursão ao universo pré-histórico da região hoje chamada Brasil. Ele publicou outros livros de divulgação científica: Além de Darwin (2009), Os 11 maiores mistérios do universo (2014), Deus: como Ele nasceu (2015), Luz, ciência e muita ação (2016) e Darwin sem frescura (2019). Lopes é também repórter, colunista e blogueiro do jornal Folha de S.Paulo. É autor do blog Darwin e Deus e youtuber, com o canal “Reinaldo José Lopes – Darwin Deus Tolkien Mozart”. Além de escrever sobre história e pré-história, Lopes tem grande interesse por narrativas de ficção com temas medievais e as influências histórico-culturais que as permeiam.

Nesta obra, Lopes traz informações para um público abrangente, que vai de curiosos não acadêmicos a estudiosos de várias áreas de conhecimento – arqueologia, história, antropologia, sociologia, paleontologia, biologia, geologia, geografia etc. Ele oferece um texto de leitura fluida, com muito bom humor e embasamento científico. Com incursões explicativas, nas seções explicação técnica” aborda assuntos específicos, como datação radiocarbônica, análise genética e isotópica, e deriva linguística, incluindo ainda assuntos mais complexos e que não são o tema central da narrativa, deixando o leitor inteirado do que há por vir.

Na introdução “O passado não é mais como era antigamente”, o autor trata brevemente de alguns dos principais temas abordados no livro: a chegada dos seres humanos nessa região onde é hoje o território brasileiro, as hipóteses sobre essa chegada e as descendências dos povos nativos atuais, a famosa Luzia (nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado na América do Sul, de uma mulher, que foi descoberto numa gruta da Lapa Vermelha/MG), as comunidades criadoras dos sambaquis, o surgimento da agricultura da Amazônia, a chamada “terra preta de índio”, algumas sociedades pré-históricas que se estenderam da Amazônia central até o litoral oceânico e em direção ao Alto Xingu, a complexidade linguística registrada nesse território e uma contextualização do limiar entre a pré-história e a história propriamente dita. O autor trata de uma questão genética, comentando algumas pesquisas que abordam a descendência da população brasileira atual, incluindo a dos povos nativos, mostrando que no Brasil também ocorreu o padrão de colonização humana amplamente difundido no mundo: os homens dos grupos vencidos são mortos ou escravizados, e as mulheres viram concubinas.

[…] Para ser mais exato, entre 20% e 30% dos brasileiros vivos hoje descendem de uma tataravó índia, como mostra o mtDNA (DNA mitocondrial). Enxergar com mais clareza a ascensão e queda de povos e culturas do Brasil pré-histórico abre, portanto, uma janela com vista para o passado familiar remoto de quase todos nós (Lopes 2017: 23).

Finaliza a introdução trazendo uma questão para seus leitores: como o que está sendo descoberto sobre a pré-história do antigo território do Brasil pode ter implicações no modo de vida que temos hoje? No capítulo um, “Quem é você, Luzia?” o autor traça um contexto “pré-histórico” faunístico da cena sul-americana há cerca de 12 mil anos, quando viveu Luzia. Ossadas de muitos exemplares da megafauna extinta encontradas nessa região e em outros locais do Brasil, como as preguiças gigantes (Catonyxcuvieri, Eremotheriumlaurillardi), o dente-de-sabre (Smilodonpopulator), os tatus gigantes, conhecidos como gliptodontes, os toxodontes, parecidos com o hipopótamo, e macrauquênias, parecidas com lhamas de tromba. O autor foi bem feliz na contextualização da megafauna, mas o achei bem diplomático ao tratar da extinção desses grandes mamíferos, mantendo-se longe da discussão atual da ciência: mudanças climáticas versus ação antrópica/caça. Ele comenta também a colonização das Américas por (outros) primatas e roedores, e o intercâmbio faunístico entre as Américas do Norte e do Sul.

Grande parte da discussão sobre Luzia gira em torno da polêmica sobre os traços africanos de seu rosto. Lopes mostra informações de pesquisas genéticas com dados moleculares de outros paleoíndios, de populações pré-históricas nativas com morfologia mongoloide e dos povos nativos atuais, e esmiúça as hipóteses da origem dos paleoíndios e desses traços, que apresentam morfologia autralomelanésia (negra) em contraste com a morfologia mongoloide (traços asiáticos) dos nativos atuais e de nativos pré-históricos mais recentes. Justifica ter mantido a narrativa na região de Lagoa Santa por ter mais informações diretas e dados mais consensuais. Lopes comenta ligeiramente os vestígios dos sítios arqueológicos encontrados no Parque Nacional da Serra da Capivara/PI e a contradição entre as possíveis datações desses sítios, propostas por diferentes pesquisadores.

Porém, a enorme coletânea de sítios que apresentam inscrições rupestres e material lítico atualmente no Brasil me deixa a sensação de que Lopes poderia ter explorado o assunto muito mais.

No capítulo dois, “As conchas e os mortos”, Lopes discute a cultura e os modos de vida dos antigos habitantes do litoral brasileiro, os criadores dos “morros de conchas” conhecidos como sambaquis. Para que serviam? Que tamanho têm? Em quanto tempo esses povos os construíam? De que são feitos? Quão abrangente se tornou essa cultura na costa do Brasil? O autor tenta responder essas e outras perguntas citando pesquisas atuais, que curiosamente se valeram da exploração mineradora irregular dos séculos anteriores, que usou os sambaquis como matéria-prima para a construção civil. Sem querer, essa exploração revelou (juntamente com pesquisas arqueológicas) informações cruciais sobre a cultura e ecologia dos povos dos sambaquis.

O capítulo três, “Revolução agrícola made in Brazil”, funciona como uma coletânea de informações sobre a temática do manejo e cultivo de vegetais nativos da região amazônica.

Trata do surgimento de florestas antropogênicas e das plantas nativas domesticadas, como a mandioca, a pupunha, o abacaxi e o cacau, e traça algumas possíveis rotas de domesticação, como a difusão da mandioca da Amazônia até o Pacífico, e do milho, domesticado na região do México e espalhado pelas Américas.

Os modos de vida dessas sociedades, que passam a ter uma diversidade de alimentos manejados ou cultivados, formam um elo com as informações e hipóteses abordadas sobre a “terra preta de índio” encontrada em muitos locais da Amazônia.

Nos capítulos quatro (“Os filhos da serpente”) e cinco (“No reino das Amazonas”) o autor trata das culturas dos antigos marajoaras, povo que residiu na Ilha de Marajó e dos povos de diversos outros locais na Amazônia, respectivamente. De cerca de 2 mil a.C. aos primeiros séculos da Era Cristã, o autor identifica o crescimento da densidade populacional como indicador para tratar da complexidade social, política e cultural dessas sociedades estabelecidas ao longo do Rio Amazonas. Os antigos marajoaras aproveitavam as condições do ambiente, como a topografia, o clima, o solo e a maré, para criar intervenções em seu ambiente natural, como os Carolina Limonge Cavlac 133 tesos, morros artificiais criados para formarem lagos rasos que armadilhavam uma grande variedade de peixes nas “cheias”. A complexidade das intervenções do ambiente natural e da produção da cerâmica marajoara marcou a cultura e o modo de vida desse povo.

Nos arredores da atual Santarém se estabeleceu o domínio dos Tapajós. Descritos como um povo guerreiro e com uma poderosa chefia ribeirinha, os Tapajós também possuíam ampla diversidade de cultura material, abrangendo artefatos em madeira, algodão e cerâmica, como os muiraquitãs, estatuetas replicadas e bem conhecidas hoje. No atual território do Amapá, a cultura Maracá tem instigado pesquisadores, tanto por conta do sítio com estruturas megalíticas quanto das grutas descobertas com grandes quantidades de urnas funerárias antropomórficas ricas em detalhes. Utilizadas em cerimônias religiosas, tal como os artefatos das culturas Tapajó e Marajoara, essas cerâmicas podem ser indicadores da complexidade econômica e social desses povos.

No Alto Xingu, as estruturas das aldeias pré-históricas descritas eram compostas de enormes áreas circulares, algo em torno de dez vezes maior que as aldeias atuais da mesma região. Elas possuíam áreas com lavouras de milho, mandioca, pequi e outros cultivos, assim como florestas manejadas nas proximidades da região habitada. Os antigos xinguanos dispunham de lagos artificiais e armadilhas nos cursos dos rios.

Pontes, muralhas, grandes fossos e estradas largas e limpas que cortavam as aldeias e as conectavam, também faziam parte da exímia organização estrutural que comportava milhares de moradores. Na região da atual Manaus os pesquisadores identificaram uma grande variedade de tradições de produção cerâmica, pois esses objetos são os mais preservados naquelas condições de clima.

O texto descreve algumas poucas características dos sítios associados à fase Manacapuru, à fase Paredão, à fase Axinim e à fase Guarita. Lopes menciona sítios com estruturas de defesa, como valas, paliçadas e trincheiras, que datam da mesma época em que as aldeias circulares são substituídas por povoados lineares à beira dos rios. Essas mudanças levaram pesquisadores à hipótese da ocorrência de importantes alterações socioculturais. A mais recente incógnita da Amazônia pré-histórica são os geoglifos (estruturas geométricas no solo) encontrados no atual território do Acre e do Amazonas. Essas estruturas foram descobertas recentemente por conta da intensificação do desmatamento na região. Cerca de trezentas estruturas identificadas até agora foram feitas provavelmente em uma época em que o território era muito mais densamente habitado e a floresta era manejada, com forte presença de espécies nativas úteis ao consumo humano.

Apesar de dar grande ênfase à Amazônia e deixar de trazer informações importantes de sítios das áreas abertas, o autor alcança muitas “Amazônias”, como citado neste trecho: “Não existe ‘uma’ Amazônia, mas uma imensa variedade de florestas ditas ‘de terra firme’ e alagadas, áreas de savanas e de campos abertos, matas mais ou menos sujeitas à seca e até uma ou outra região montanhosa” (Lopes 2017: 86).

No capítulo seis, “Tupi or not tupi”, o autor descreve a diversidade linguística dos povos nativos, quão diversa pode ter sido a árvore linguística dessa região no passado e como ela está representada hoje. É estimado que, no contato inicial com os europeus, havia cerca de 1.500 línguas nessa região. Essa diversidade se expressa atualmente em 108 famílias linguísticas sul-americanas (de um total de 420 no mundo). Essa diversidade é inigualável em qualquer outra região do planeta. Os principais grupos linguísticos tratados nesse capítulo são: (1) o Aruak, com aproximadamente sessenta línguas atuais, espalhadas na América Central, Pantanal e Chaco, além da Amazônia; (2) o Tupi, com perto de quarenta línguas, ocupando áreas enormes do Brasil, em especial no litoral e na Amazônia; (3) o Carib, com cerca de trinta línguas, espalhadas pela parte norte da Amazônia, Xingu e algumas ilhas do Caribe; e (4) o Macro-Jê, que soma entre vinte e trinta línguas, que hoje ocupam regiões abertas (o Cerrado) ao sul da Amazônia e áreas de mata de araucária de São Paulo e da Região Sul do Brasil. O autor relata um pouco da cultura e distribuição dos povos falantes dessas línguas, as relações entre eles, com o ambiente e com os europeus. Comportamentos diplomáticos, com relativo pacifismo, habilidades de navegação, boas redes de trocas, alianças matrimoniais intergrupos, generosidade e habilidade de fala se contrapõem a comportamentos de agressividade, com ideologia bélica, rituais antropofágicos, dominação de novos territórios com ciclos intermináveis de vingança. Esses são comportamentos culturais descritos de alguns povos nativos da época da colonização, que representam as extremidades de uma palheta muito diversa e complexa da estrutura cultural dessa grande quantidade de povos.

Por fim, no epílogo, “Por que o Brasil préhistórico foi derrotado”, o autor conta como uma região habitada por cerca de 8 milhões de pessoas não impediu a colonização ou por que essa colonização não ocorreu de outra forma. Entre os maiores culpados desse roteiro, estão as reações biológicas que levaram às epidemias. A falta de contato dos nativos com muitos dos micro-organismos trazidos pelos europeus e seus animais causou devastações populacionais generalizadas nos grupos nativos, muito mais do que a presumível superioridade bélica dos portugueses e espanhóis e o uso da cavalaria.

Também foi marcante a desconexão da comunicação e a (des)organização entre as chefias dos grupos nativos, quando havia chefias, frente à organização estatal dos europeus ao longo do processo. Assim, a dominação e a expansão das áreas conquistadas pelos europeus foram aumentando, como mostra nesse trecho: “muitas das sociedades ameríndias do litoral ficavam cada vez mais desarticuladas diante das epidemias, da conversão religiosa e das exigências de mão de obra dos colonizadores – uma desarticulação demográfica, política e cultural que provavelmente foi sendo transmitida pouco a pouco” (Lopes 2017: 227).

O livro de Lopes aborda a arqueologia do território brasileiro e cumpre muito bem o seu papel de obra de divulgação científica, com a explanação das muitas pesquisas que envolvem o tema. Como não poderia deixar de ser, traz muito mais dúvidas do que certezas, de forma elegante. Apesar de ter deixado de abordar centenas de sítios com inscrições rupestres e com material lítico de que temos registros hoje, a obra contribui muito para a importância da arqueologia dessa parte do mundo, ainda tão pouco explorada. Prova disso é a frase final do livro:

“A pré-história é a chave para entender a importância dessas condições iniciais e para demonstrar – como espero ter demostrado – que o passado profundo do Brasil é tão rico e complexo quanto o do Velho Mundo. Em nome dos que são herdeiros dele, convém não esquecê-lo” (Lopes 2017: 232).

Lopes finaliza assim o livro, mostrando mais uma vez, com excelência, que debruçar o olhar curioso e metódico sobre o passado pode também apontar direções para o futuro.

Referências

Lopes, R.J. 2017. 1499: o Brasil antes de Cabral. Harper Collins, Rio de Janeiro.

Carolina Limonge Cavlac – Doutoranda em Desenvolvimento Sustentável, no Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Brasília. E-mail: ina.cavlac@gmail.com.

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Mil 1499: O Brasil Antes de Cabral – LOPES (RA)

LOPES, Reinaldo José. 1499: O Brasil Antes de Cabral. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2017. 248p. Resenha de SOUZA, João Carlos Moreno de. Resenha de: SOUZA, João Carlos Moreno. Revista de Arqueologia, v.31, n.1, 2018.

Reinaldo José Lopes é jornalista científico, escreve para a Folha de São Paulo e é autor do blog ‘Darwin e Deus’. A publicação de matérias de temas arqueológicos é muito frequente, e tornam o autor um dos maiores divulgadores do conhecimento arqueológico para o grande público a nível nacional, e ‘1499: O Brasil Antes de Cabral’ é uma prova disso.

O livro se propõe a realizar um apanhado geral da história pré-colonial do território atualmente conhecido como Brasil. O autor, no entanto, pouco escreve sobre as ocupações mais antigas que 14 mil anos atrás ou sobre o povoamento inicial da Américas, provavelmente para evitar ir de frente ao consenso da arqueologia norte-americana, começando a retratar a (pré-) história do Brasil a partir de 13.500 anos antes do presente. É importante notar que as idades mencionadas no livro são idades calibradas e podem dar a impressão de serem equivocadamente mais antigas do que costumamos ver em outras obras não acadêmicas, quando na verdade foram representadas de uma forma mais acurada.

A introdução do da obra realça o fato de que o entendimento que possuímos atualmente sobre o passado da humanidade é nitidamente diferente e muito mais detalhado do que tínhamos há poucos anos atrás e explicita a importância que os estudos sobre o passado humano têm nas sociedades atuais. Os próximos seis capítulos do livro são focados em realizar um apanhado cronológico dos grupos de primeiros habitantes do território brasileiro.

O primeiro capítulo trata sobre os grupos caçadores-coletores da transição Pleistoceno-Holoceno e Holoceno Inicial. Por um lado, o Lopes retrata muito bem aspectos biológicos destas antigas populações. Por outro lado, ignora os aspectos culturais. As únicas (e raras) menções às mais antigas indústrias líticas e representações rupestres brasileiras são todas relacionadas à microrregião de Lagoa Santa, em Minas Gerais, deixando de lado a associações de diferentes conjuntos de cultura material a diferentes grupos humanos.

Já o segundo capítulo é totalmente voltado aos grupos litorâneos, especialmente os Sambaquis. Mais uma vez, o autor se preocupa em retratar a biologia e a idade destes grupos humanos, mas ignora quase que totalmente os aspectos culturais e materiais destas sociedades. Não são retratadas as indústrias de artefatos de pedra e osso, é mencionada apenas brevemente a construção dos sambaquis, os zoólitos e os aspectos simbólicos dos sepultamentos.

Posteriormente, o terceiro capítulo retrata o início do manejo e domesticação das plantas, com foco na Amazônia. O autor descreve bem as principais hipóteses sobre os processos que iniciaram a domesticação das plantas, mas volta a ignorar a cultura material que acompanha esse novo modo de vida nas populações pré-cabralinas.

O quarto e o quinto capítulo também são voltados à “queridinha” da pré-história brasileira: a Amazônia. Ambos os capítulos, mais uma vez, retratam muito bem as discussões teóricas de complexidade social, política e econômica sobre as populações que ali viviam durante o Holoceno Tardio, e desta vez menciona alguns importantes aspectos de cultura material, como as estruturas de montículos e geoglifos, e a cerâmica tupi-guarani e marajoara.

Ainda, Reinaldo José Lopes, no sexto capítulo, trata de descrever a dispersão dos grupos ameríndios em território brasileiro, baseando-se nas famílias linguísticas destes mesmos grupos. Mais uma vez, o autor se prende na Amazônia, tendo como exceção uma menção aos estudos de grupos Jê em Santa Catarina.

Por fim, Lopes encerra o livro com um epílogo, em que discute como a chegada dos colonizadores (invasores) europeus causou diversos problemas para a sobrevivência das populações que vieram a ser referidas como indígenas, e como a relação entre as sociedades indígenas e a sociedade “moderna” poderia ter sido diferente desde o começo.

A obra não é voltada ao público acadêmico, mas a um público muito mais abrangente. O autor escreve de forma pela qual a leitura flui facilmente, evitando o uso de termos técnicos os quais apenas arqueólogos e outros cientistas entendem. No entanto quando o faz, o autor busca explicá-los de uma forma simples, porém acurada, para que o leitor os compreenda. Quando o autor entende que o assunto tratado no livro é muito complexo para a maioria dos leitores, ele se dá ao direito de realizar pausas para “explicações técnicas” e elucida estes mesmos assuntos, tais como datação radiocarbônica, análise genética, análise isotópica e estudos de complexidade social. Apesar de não ser um arqueólogo, Lopes, enquanto jornalista científico, toma o cuidado para respeitar e utilizar termos que evitam a propagação de estereótipos pré-históricos. Um exemplo disso é a aplicação correta do termo “humanos anatomicamente modernos”, ao invés de Homo sapiens, para se referir aos seres humanos atuais em certos momentos.

As principais falhas do autor estão em retratar a pré-história brasileira com um foco quase que limitado aos aspectos biológicos dos primeiros grupos humanos do atual território brasileiro, e no foco quase que limitado à Amazônia ao tratar de grupos menos antigos. Lopes é muito preciso no apanhado que realiza sobre a pré-história, mas esta poderia ser muito mais acurada se ele tivesse descrito os principais conjuntos de materiais (representações rupestres e indústrias de artefatos líticos e cerâmicos) que levaram arqueólogas e arqueólogos a identificar diferenças culturais em todo o território brasileiro. Talvez em uma segunda edição da obra algumas páginas que descrevam resumidamente a diversidade de cultura material pré-histórica brasileira seja possível.

Apesar das falhas em sua obra, Reinaldo José Lopes claramente tem uma noção excelente da importância da arqueologia para as sociedades atuais e é muito feliz em transmitir esta mensagem. O último trecho da obra é a prova disso, sendo uma perfeita resposta à questão da importância dos estudos de arqueologia pré-histórica brasileira: “A pré-história é a chave para entender estas condições iniciais [de contato de indígenas e europeus] e para demonstrar que o passado profundo do Brasil é tão rico e complexo quanto o do Velho Mundo. Em nome dos herdeiros dele, convém não esquecê-lo” (p. 232). Enfim, ‘1499’ é uma obra que definitivamente despertará o interesse de muitas pessoas à pré-história brasileira e convém ser lida por acadêmicos não arqueólogos que buscam ter uma mínima noção no tema.

João Carlos Moreno de Sousa – PPGArq, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Excavating Jesus: Beneath the Stones, Behind the Texts – CROSSAN (RHAA)

CROSSAN, John Dominic; REED, Jonathan L. Excavating Jesus: Beneath the Stones, Behind the Texts: Revised and Updated. Sn.: Harper Collins,  2009. 368p. Resenha de: FUNARI, Pedro Paulo A. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, n.5, dez., 2005.

Paulo Paulo A Funari

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Star-Spangled Canadians: Canadians Living the American Dream – SIMPSON (CSS)

SIMPSON, Jeffrey. Star-Spangled Canadians: Canadians Living the American Dream. Toronto: Harper Collins Ltd., 2000. 391p. Resenha de: NEIDHARDT, W. S. Canadian Social Studies, v.36, n.2, 2002.

Jeffrey Simpson is, of course, not only a widely read and highly regarded political columnist for The Globe and Mail, but also the author of several bestsellers about the Canadian political scene. In his most recent book, entitled Star-Spangled Canadians, he focuses on the experiences of that not insignificant group of Canadians who have left their Canadian homeland in order to pursue their dream in the United States.

Star-Spangled Canadians offers the reader almost 400 pages of text, endnotes, bibliography and index; unfortunately, there are no photos or illustrations. However, between a solid introduction and a thought-provoking conclusion, there are eleven informative chapters filled with lots of interesting information and much careful analysis. In Chapters 1 and 2 respectively entitled History and Differences the author provides his readers with a good historical background to his topic before turning to specific chapters dealing with: Race/Ethnicity; Crime; French Canadians; Brain Drain; Health; Academics; Entrepreneurship/Business; New York; and Entertainment/Journalism.

For anyone who is interested in this particular aspect of the Canadian-American relationship, Simpson has produced a most readable and solidly researched book. In fact, he interviewed nearly 250 expatriates as part of his extensive research. While some of his information is old, much more is new and this makes for some very worth-while reading. Simpson offers what are, perhaps, some rather unexpected conclusions, such as: that the United States is now more of a multi-cultural society while Canada has become more of a melting pot (pp. 89-91); that the image of America as a more violent society than Canada is only partially correct (p. 95); that the exodus of so many Canadians to the United States is more the result of greater opportunities in America than high taxes in Canada (pp. 156 – 157, 169-170, 246 -247); that the Canadian and American medical systems will look somewhat more alike a decade from now and Canadians and Americans will become even more alike too (p. 215); and, that the brain drain is not quite the one way street that many Canadians are led to believe, although there is little doubt that some of the best and the brightest Canadians have left in the past and are still leaving today (pp. 218, 239, 356). In Chapter 9, Simpson offers a detailed explanation of why the American business climate remains such a powerful magnet for many Canadians; and, in Chapter 11, he provides ample evidence that the big leagues in the worlds of entertainment and journalism still remain south of the border.

In Star-Spangled Canadians, Jeffrey Simpson has given us an excellent account of why and how so many Canadians have sought to pursue their dreams within the borders of the American republic; in fact, he estimates that at the end of the 20th century there were at least 660,000 former Canadians living in the United States (p. 7). However, the author also informs his readers that many of these Star-Spangled Canadians have, indeed, returned home over the years. Furthermore, he also tells us that while these expatriates ABC ‘s news-anchor Peter Jennings being one of the best known have made their homes and pursued their careers in the United States, many of them have actually remained Canadian citizens.

In his thoughtful conclusion, Simpson wanders a bit off his main topic and he spends considerable time speculating about Canada’s future relationship with her powerful continental neighbour. His suggestion that the United States will always be the most dominant country for Canada (p. 363) is, of course, hardly news. However, he does offer a keen insight when he shrewdly observes that whatever Canadians may think of their American neighbours, they have never been more like them. And not because Americans have changed to become more like Canadians, but the other way around (p. 343). Near the end of his book, Simpson (who incidentally was born in New York City and came as a nine-year old to Montreal with his parents) suggests to his readers that living beside the United States is both a challenge and an opportunity a challenge to preserve Canadians’ margin of distinctiveness, an opportunity to examine what the Americans are doing and adapt the successful aspects of American society for Canadian purposes (p. 362). This seems to me quite an accurate observation about what the future may be like. I also hope that Simpson will be proven a real visionary when he suggests that there is no reason why Canada cannot succeed. (p. 362).

Star-Spangled Canadians is obviously not a textbook. However, teachers and students alike can benefit greatly by reading this virtual gold mine of information about a hitherto much-neglected area of the Canadian-American relationship. This is the kind of book that deserves to be widely read and hopefully a copy will find its way into most school and public libraries and most certainly onto the shelves of every history department.

W. S. Neidhardt – Northview Heights S.S. Toronto, Ontario.

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Prime Ministers: Ranking Canada’s Leaders – HILMER (CSS)

HILLMER, J. L. Granatstein Norman. Prime Ministers: Ranking Canada’s Leaders. Toronto: Harper Collins, 1999. 234p. COUCILL, Irma. Canada’s Prime Ministers, Governors General and Fathers of Confederation. Markham, Ontario: Pembroke Publishers, 1999. 180p. Resenha de: GLASSFORD, Larry A. Canadian Social Studies, v.36, n.1, 2001.

What makes a great prime minister of Canada? What makes a poor one? What are the key factors that determine success or failure? For that matter, what do we assess, or measure: – length of time in office? – deeds accomplished? – disasters avoided? – popularity with the public? – accolades from political peers? – respect from subsequent historians?

The premise of the book by J.L. Granatstein and Norman Hillmer, two eminent Canadian historians noted for their contributions in the fields of national political, military and diplomatic history, is that the collective judgment of academic scholars is a sound means of determining the success of our country’s prime ministers. In 1997, they conducted a survey of 26 Canadian scholars – political historians mostly, with a couple of narrative political scientists thrown in – to determine a comparative ranking of the 20 individuals who have served as Canada’s prime minister. The respondents were asked to rate the PMs on the familiar scale of 0 (for total failure) to 10 (for enduring greatness). The results of their survey were published as a leading article in the April 21, 1997 issue of Maclean’s magazine. Granatstein and Hillmer then expanded that article into this 200-plus-page book, with individual chapters for each prime minister except the four immediate successors to John A. Macdonald, whose combined service from 1891-1896 is disposed of in one chapter.

Although actual point totals are not produced in either the original Maclean’s piece or this followup book, the authors tell us that the consensus of their panel of experts (which included themselves) pointed to William Lyon Mackenzie King as the top-ranked Canadian prime minister. Apparently 14 respondents placed King either first, or tied for first. The other two leaders earning their Great rating (an A-plus surely) were John A. Macdonald (2nd) and Wilfrid Laurier (3rd). A fourth PM, Louis St. Laurent, was awarded a near-Great grade, perhaps the equivalent of an A-minus. The High-Average (B?) leaders were Pierre Trudeau (5th), Lester Pearson (6th) and Robert Borden (7th) respectively, followed by the average (C?) prime ministers: Brian Mulroney (8th), Jean Chretien (9th), John Thompson (10th), Alexander Mackenzie (11th), R.B. Bennett (12th) and John Diefenbaker (13th). Two prime ministers, Arthur Meighen (14th) and Joe Clark (15th) scraped through with a Low-Average (D?) Rating. Those PMs adjudged to be failures (F for sure) were Charles Tupper, John Abbott, John Turner, Mackenzie Bowell and Kim Campbell.

How did this panel of professorial pundits arrive at their collective judgment? According to the Maclean’s article, they were not given precise criteria, but were asked to consider electoral success, national unity, success in achieving domestic or foreign policy goals, and leadership in cabinet, party and country. (p.35). These ratings, the authors report at the beginning of their book, were then averaged to form a ranked list. In addition to the numerical scores, each scholar was asked to write a commentary, justifying his or her rating (both p. 9). The comments of the academics were utilized throughout the five-page Maclean’s spread to buttress the authors’ own remarks. The book, while adhering to the prime-ministerial ranking of the earlier article, is more clearly the authors’ own creation, although an occasional panelist’s quote finds its way into the chapter-length biographies.

How did the experts do? The absence of actual point-totals tells us that this is not meant to be a scientific survey meeting rigid statistical criteria. Furthermore, upon what basis was the so-called panel of experts chosen? The authors are silent on the point, other than to note that five are relatively younger scholars, and that together, the panelists represent the several geographic regions of the country. An actual list of 25 names was appended to the Maclean’s article, indicating the presence of five female scholars amongst such luminaries as Michael Bliss, Craig Brown, Desmond Morton, Blair Neatby and Peter Waite. Seeing these names, we might ask where are the Greg Kealeys and Veronica Strong-Boags? Were representatives of the new Canadian historical establishment not polled in significant numbers or did they refuse to answer? We are not told. The lesson is clear. This is not rigorous social science analysis. It has been written as much for enjoyment as for enlightenment – and why not? Who said history should be so stuffy anyways? The joy of the reading is augmented by the inclusion of 27 political cartoons – some famous, some not – distributed throughout the book.

Surprisingly, a number of the better chapters are devoted to lesser PMs. Joe Clark and John Turner, frequently savaged in the popular press, merit full-length chapters that are evenhanded, leaning to sympathetic. Pierre Trudeau, still alive at the time of publication, and Jean Chretien, not yet a three-time election winner when the book went to press, receive the back of the authors’ hands, by comparison. Lester Pearson is praised; John Diefenbaker is, if not defamed, certainly panned. The chapter on R.B. Bennett is remarkably positive, given the panel’s low rating, but Robert Borden is, at best, damned with faint praise. Clearly, too, the authors expect Brian Mulroney’s eventual rehabilitation. The panel was harsh on Kim Campbell, but the authors less so – pointing out that the novelty of her gender first helped, then hindered her national political career. The one really bizarre rating by the expert panel was to place John Thompson tenth. He served scarcely more than 2 years in office, and never won an election as leader. Even the co-authors seem dumbfounded. In the Maclean’s article, they attribute his surprising showing to the recent appearance of a fine, modern full-length biography. (P,35). That professional historians could be so easily swayed casts more than a little doubt on the validity of the whole exercise.

One prominent aspect of the ranking must be challenged. William Lyon Mackenzie King was not our greatest prime minister, contrary to the panelists and co-authors. That honour must be reserved for John A. Macdonald. Both had flawed personal characters – King with his seances, ouija boards and crystal balls, Macdonald with his weakness for the bottle. Neither might even have made it to the office of prime minister in the current era of fishbowl journalism. Both built a great political party; Macdonald, however, also built a country – one which King admittedly helped to preserve. It is quite possible, though, to picture Macdonald managing the political crises faced by King. One cannot imagine King managing to pull off Confederation. He lacked the vision, and the personal charisma. King is deservedly among the top three leaders, on a par with his idol, Wilfrid Laurier. But one has only to consider the remarkable accomplishments of King’s successor, Louis St. Laurent, during his first half dozen years in office, to grasp the what- might-have-beens of Mackenzie King’s lengthy time in office. In describing St. Laurent, the authors note his one deficiency – an absence of deviousness. This quality King held in spades. King’s other specialty, as he mentioned once to an apprenticing Lester Pearson, was to focus on avoiding bad actions – no small achievement, but not the full measure of a truly great prime minister. The existence of the Canadian federation itself is John A. Macdonald’s legacy to us. He is still Number One.

The other book under review here, authored by Irma Coucill, is not in the same league as that by Granatstein and Hillmer, judged on the basis of the written content. The author presents one-page thumbnail sketches of Canada’s 20 prime ministers, 25 governors-general since 1867 (excluding Adrienne Clarkson, who had not yet been appointed), and 36 Fathers of Confederation, defined as those colonial politicians from British North America who attended at least one of the formative conferences in Charlottetown, Quebec or London. The first edition of this work appeared in the lead-up to Centennial year, which explains something about the boosterish tone of the mini-biographies. Unfortunately, the pages added for subsequent editions are sometimes marred by inaccuracies. Nunavut is mis-spelled on page 46, for example. However, the great strength of this book is not its print, but its visuals – that is to say, the marvellous full-page, black and white portraits of each leader, all drawn by the author, herself.

Read the first book for the challenge of critiquing Granatstein, Hillmer and friends’ assessments of our prime ministers. Browse the second one for the pleasure of Irma Coucill’s portraits.

Larry A. Glassford – Faculty of Education. University of Windsor. Windsor, Ontario.

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