Posts com a Tag ‘Guerra (d)’
Os Tempos na (depois da) História: Revoltas, Crise e Guerra/História- Questões & Debates/2023
Revoltas, crise e guerra: três palavras que assombram sobremaneira a modernidade e que, no que diz respeito às formas de pensamento sobre a história, ao menos nos últimos cinquenta anos têm figurado no horizonte de forma imponderável e ameaçadora. Nesse sentido, o tempo normal, este que se figura num processo ideologicamente guiado, pressuposto e, por isso, naturalizado como continuum pontual e teleologicamente direcionado – os anseios de uma modernidade com vocação universalista e forjadora de uma única e grandiosa História –, tal como alertou Walter Benjamin, parece hoje esboroado e arruinado a tal ponto que, por um lado, há o transbordamento de papers adêmicos, críticas, prognósticos, opiniões e, por outro, a sensação de paralisia e impotência imperante. Leia Mais
Do Bellus ao Bellum: (Inter)faces da Guerra na Antiguidade e no Medievo/Mythos – Revista de História Antiga e Medieval/2021
Si vis pacem, para bellum
Vegetius, De re militari
Uma constante presença, fundadora e fundamental do próprio discurso de Clio, a guerra consitui-se como atividade inerente à natureza humana, queiramos ou não. Se partirmos de uma contextualização histórica para investigarmos sua onipresença na história da humanidade, somos forçados a constatar seu papel determinante na construção da escrita da própria História ocidental ao nos remetermos principalmente aos historiadores gregos Heródoto e Tucídides, nos albores da historiografia. Leia Mais
Guerra y paz en América Latina, siglos XVI-XXI/Quirón/2020
Para el Comité Editorial de la Revista Quirón resulta una experiencia sumamente satisfactoria la publicación del número 12, para el cual se ha optado por el dossier “Guerra y paz en América Latina, siglos XVIXXI”, dada la coyuntura social actual que se ha evidenciado en el territorio y en el continente, reconociendo la misma como un producto histórico que amerita un análisis desde las diferentes ramas de las Ciencias Sociales y Humanas, distinguiendo el papel de la Historia en las transformaciones sociales, políticas y culturales actuales. Todo acto de Guerra y Paz moldean el devenir de un país, el propósito de este dossier es comprender y analizar diferentes casos de violencia y calma en distintas temporalidades y espacios del continente, y cómo estas se alternan. Nuestra satisfacción tiene su base en el esfuerzo que conlleva el presente número, tanto por parte de los autores a quienes no debe dejar de reconocérseles su ardua labor de investigación, como por parte del comité editorial, quien en un proceso de retroalimentación y trabajo constante construyó lo que a continuación se presenta como la edición número 12 de la revista Quirón. Leia Mais
Violência, Guerra e Migração no Mundo Antigo / Anos 90 / 2018
Se fosse preciso definir com três conceitos-chave a conjuntura deste primeiro quarto de século XXI, os organizadores deste dossiê acreditam que a maioria dos questionados conviria em utilizar, pelo menos, alguma das palavras que propomos como título. A ideia, então, de organizar um volume sobre a temática da guerra, da violência e da migração no mundo antigo nasce, simplesmente, de nossa observação da realidade contemporânea. Impotentes como historiadores, professores e / ou seres humanos, assistimos à eclosão de conflitos militares de rara violência na região do Oriente Próximo que atingem o planeta inteiro. A guerra na Síria, a ofensiva do autointitulado Estado Islâmico, a invasão do Iraque pela chamada “coalizão internacional”, liderada pelos EUA, trouxeram enorme instabilidade política e, mais importante, uma tragédia humanitária sem precedentes na história recente. Não podemos esquecer a outra face das guerras, tão dramática quanto a primeira, que representa as migrações forçadas de milhares de pessoas. Tudo isso, associado à destruição, ao espólio e ao saque do patrimônio cultural da humanidade presente nesses territórios, teve um efeito provocador a nós, historiadores da antiguidade.
Nosso dever de ofício aceita como tarefa primordial, então, o fato de tentarmos entender o mundo que hoje nos cerca estabelecendo um diálogo entre passado e presente, se quisermos construir o melhor futuro possível. Eis aí, para nós, a pedra fundamental do conhecimento e do estudo da antiguidade. Mais do que nunca, faz- -se necessário propor o debate, instigar a pesquisa, incitar a reflexão construtiva como nossa contribuição para a sociedade. E assim, algumas indagações nortearam nossa proposição. É possível tirar lições do passado? Somos capazes de compreender o conflito como fato e suas diversas dimensões na antiguidade e na atualidade, para estabelecermos paralelismos válidos e evitá-los, no futuro?
A partir dessas questões, formulamos a proposta do dossiê Violência, Guerra e Migração no Mundo Antigo, com o objetivo de refletir sobre temas urgentes e atuais a partir do estudo das sociedades antigas. Sabemos que as práticas de violência legitimadas pelas guerras, tendo como consequência a migração massiva de populações, têm uma longa historicidade, pois essas diversas experiências históricas foram preservadas e deixaram inúmeros indícios nos textos, nas imagens e na cultura material. Assim, entendemos que investigar essa temática na antiguidade pode contribuir para a compreensão dos recentes acontecimentos que atingem o mundo, especialmente o Mediterrâneo, a Europa e os EUA.
O enunciado deste dossiê abraça, entretanto, diversos outros enfoques, tais como questões relacionadas à tecnologia da guerra, à retórica da violência, à situação das mulheres e crianças nos conflitos, às agressões sexuais, à migração e ao fenômeno de transculturação, entre outros. Como afirma Magnoli (2006, p. 14): “A guerra é um fenômeno total, uma expressão condensada das formas de pensar, produzir e consumir das sociedades, o espelho de um tempo e um lugar”.
Foram vários os autores que atenderam ao nosso chamado. Eles provêm de distintos horizontes de pesquisa, alguns atuando no Brasil e outros no exterior. Vários são especialistas no Mundo Clássico, enquanto outros se interessam pelo Oriente, mas todos aportam uma reflexão original e uma boa dose de erudição.
O dossiê abre com a contribuição de Pedro Paulo A. Funari, intitulada “Migration flows from a long-term perspective”, que traz um estudo de longa duração sobre o fenômeno das migrações na história da humanidade. O autor discute os fluxos migratórios desde o processo de hominização até o período pós-segunda guerra mundial, incluindo a história brasileira, e argumenta que as migrações são um grande desafio tanto para as sociedades como para os intelectuais que refletem sobre elas.
A professora Katia Maria Paim Pozzer contribui com “Guerra, violência e memória cultural nas imagens assírias”, artigo no qual faz partir sua reflexão dos baixos-relevos em pedra resgatados dos palácios assírios de Nínive, analisando alguns elementos estéticos da antiguidade que o mundo contemporâneo tem reutilizado, levando a cabo um interessante paralelismo multisecular.
Com “The power of a powerless woman: examining the impact of violence on a Biblical nation”, Elizabeth Tracy nos conduz pelos caminhos da concubina levita, ou Pilegesh, analisando os últimos capítulos do bíblico Livro dos Juízes, cruel em algumas das suas imagens de violência contra a mulher e tão atual, lamentavelmente.
Viajamos depois para a Bretanha na pena da Dra. Tais Pagoto Bélo, com “Britannia: violência, poder e contato”, que propõe uma reflexão contemporaneamente válida através da cultura material representada por epitáfios da província da Britannia.
A professora Lorena Lopes da Costa contribui com “Troianas, de Eurípides (415 a. C.): a guerra injusta e o fim da linhagem dos heróis”, no qual traça um paralelismo da história de Atenas, dos crimes e excessos da guerra, com a tragédia euripidiana.
Estefanía Bernabé-Sánchez trata o tema da violência sexual em “El mito de Inanna y Šukaletuda: violencia sexual en Sumer”, mito no qual a deusa Inanna é estuprada pelo mau jardineiro Šukaletuda. A autora estabelece um paralelismo entre o crime sexual cometido contra a deusa suméria e aqueles que estão sendo, hoje, moeda comum nos conflitos armados do Oriente Médio, especialmente na Síria.
Finalmente, encerra este dossiê o trabalho do professor Fábio Vergara Cerqueira, “‘Melodia sangrenta’ (Anth.Pal. VI.159): a trombeta e a guerra na Grécia Antiga”, em que ele analisa o instrumento de vento chamado salpinx (σάλπιγξ) na iconografia e nos textos relacionados com a guerra na Grécia antiga, particularmente em Atenas, estabelecendo paralelismos entre as funções militares e os simbolismos.
O intuito deste volume que apresentamos, então, nos convida à reflexão crítica sobre a nossa realidade, partindo do conhecimento da remota antiguidade, de seus personagens e suas histórias, assim como da ideia de que guerra e violência, entendidas em todas as suas manifestações, são nefastas e não atendem aos pressupostos em que a humanidade deve enxergar a evolução e o desenvolvimento.
Frente àqueles que esquecem o passado e, por conseguinte, descuidam do presente enquanto olham para o futuro, anotemos aqui a definição que Sêneca nos deixou em De brevitate vitae (Sobre a brevidade da vida): sábio é aquele que lembra o passado, sabe aproveitar o presente e dispõe do futuro.
Que isso seja como uma de nossas bússolas.
Referência
MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.
Estefanía Bernabé-Sánchez – Professora da Pontificia Universidad Católica del Peru – PUCP. E-mail: e.bernabe1976@gmail.com ´
Katia Maria Paim Pozzer – Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. E-mail: katia.pozzer@ufrgs.br
Pedro Paulo A. Funari – Professor da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. E-mail: ppfunari@uol.com.br
BERNABÉ-SÁNCHEZ, Estefanía; FUNARI, Pedro Paulo A.; POZZER, Katia Maria Paim. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 25, n. 47, jul., 2018 .Acessar publicação original [DR]
Américas: guerra e paz | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2017
A guerra e a paz no continente americano, em seu amplo espectro, guiaram a chamada para artigos do presente dossiê publicado pela Revista da ANPHLAC. Esta publicação, com dez artigos originais e uma resenha, expressa a disseminação dos estudos sobre os conflitos, as negociações e as pazes, tanto nos impérios coloniais quanto após as independências.
A distribuição espacial dos temas abarcados nos artigos demonstra as preocupações centrais da historiografia brasileira e, de certo modo, também de sua chancelaria, assim como a ampliação das contribuições internacionais da revista. A maioria desenvolve assuntos relativos ao mais importante vizinho brasileiro – a Argentina – tanto no período colonial, quanto na república. Esta presença avassaladora desse vizinho platino não surpreende. Leia Mais
Humanitarism, War and Technological Innovation in Spain / História Ciências Saúde — Manguinhos / 2016
Las actividades y debates en que se vio envuelto el movimiento internacional de Cruz Roja, desde su bienio fundacional (1863-1864), ofrecen un valioso observatorio para explorar los procesos de producción y circulación de innovaciones tecnológicas destinadas a paliar el sufrimiento de las víctimas en guerras y otras situaciones catastróficas. Valga precisar que por “innovación tecnológica” de carácter humanitario, en el ámbito de la medicina de guerra, entendemos no solo los nuevos instrumentos y equipamientos médicos, sino también las medidas innovadoras en la logística médico-militar y en los procedimientos de movilización de la solidaridad hacia las víctimas de la guerra entre la ciudadanía; todo ello en consonancia con un esquema taxonómico desarrollado por Habermas (1987-1988, 1989) y Foucault (1990), que obviamente confiere al término “tecnología” una acepción muy amplia.
Inicialmente el “Comité de Ginebra” (luego conocido como Comité Internacional de Cruz Roja, CICR) tan solo contemplaba la asistencia bajo el amparo de la Convención de Ginebra (1864) de soldados enfermos y heridos en guerras internacionales. Este marco jurídico se vio pronto desbordado por nuevas demandas de actuación humanitaria a que las sociedades nacionales de Cruz Roja se veían compelidas por la proliferación, tanto de conflictos violentos de otro orden (guerras civiles y coloniales, movimientos insurreccionales) como de otros desastres (epidemias, inundaciones, terremotos, sequías, hambrunas y accidentes mineros o de transporte) o circunstancias carenciales relativas a la asistencia sanitaria y salud pública que afectaban al conjunto de la sociedad civil.
La historia de Cruz Roja Española (CRE) brinda un expresivo ejemplo de en qué medida nuevas demandas humanitarias movieron a distintas sociedades nacionales de la “Asociación Internacional de Socorro a los Soldados Heridos en Campaña” a extender sus intervenciones conforme a los valores consagrados por la primera Convención de Ginebra más allá de los límites jurídicos de esta. En efecto, los debates y actividades en que se vio envuelta la CRE desde sus inicios, en 1863, hasta el final del conflicto rifeño (1927) brindan un magnífico observatorio para explorar los procesos de producción y circulación de innovaciones tecnológicas destinadas a paliar el sufrimiento de las víctimas en conflictos civiles y coloniales, así como su uso extensivo en problemas de salud de la población civil.
Este dossier se inserta en el marco del proyecto de investigación “Sanidad militar, medicina de guerra y humanitarismo en la España del siglo XIX” (HAR2011-24134), financiado por la Dirección General de Investigación (Gobierno de España). Tres de los cuatro artículos integrantes del dossier abordan sendos estudios de caso relativos a distintas cuestiones y periodos de la historia de CRE; el cuarto reproduce, debidamente presentado, un documento inédito asociado al primer estudio de caso. Este se centra en los primeros años del movimiento internacional de Cruz Roja y presta atención al modo cómo este movimiento propició la confluencia en una red científica internacional, de un amplio grupo de médicos preocupados por la ayuda humanitaria en la guerra. Esta red experta potenció el conocimiento e intercambio de innovaciones tecnológicas destinadas a humanizar la guerra y su introducción en distintos países a la vez que contribuyó a la consolidación del papel de Cruz Roja en la esfera internacional. Si el número y variedad de innovaciones tecnológicas que CRE incorporó durante la última guerra carlista (1872-1876) permiten estimar la rapidez con que se coprodujo este cuerpo de conocimientos y prácticas, el informe de Nicasio Landa, proponiendo un nuevo sistema de suspensión elástica de camillas para el traslado de heridos, ilustra de modo bien expresivo la materialización de este proceso de coproducción a escala local.
Los otros dos estudios de caso abordan la acción de CRE en conflictos derivados del colonialismo español. El primero de ellos examina su atención en territorio metropolitano a los soldados heridos y enfermos repatriados de las últimas guerras coloniales de ultramar (Cuba, 1895-1898 y Filipinas, 1896-1898) y de la Guerra del Rif (1921-1927). Tal como se muestra, tras organizar las labores de acogida en hospitales provisionales permanentes destinados a los militares enfermos, heridos y mutilados, llegados de ultramar en los últimos años del siglo XIX, durante las primeras décadas del siglo XX, CRE no solo prosiguió su tradicional atención a nuevas demandas surgidas en el ámbito militar, como las derivadas de la Guerra del Rif, sino que, de modo similar a otras sociedades nacionales de Cruz Roja, extendió su acción al ámbito civil, respondiendo a carencias asistenciales y de salud pública con acciones de divulgación sanitaria, de lucha contra enfermedades epidémicas (sobre todo contra la gripe de 1918-1919 y la poliomielitis a partir de 1929), y de atención sanitaria a personas carentes de recursos.
El estudio de caso que cierra el dossier defiende, a partir del análisis de la actuación de CRE en Marruecos durante las dos últimas décadas del siglo XIX y tres primeras del XX, la función central que los Estados-nación continuaron desempeñando en la organización y actividades del movimiento de Cruz Roja tras la Primera Guerra Mundial. En efecto, la secular inestabilidad de España como Estado – agravada por el desastre colonial de 1898 que terminó primero con el proyecto regeneracionista de crear una Cruz Roja marroquí a finales del siglo XIX – se tradujo, tras la división colonial de Marruecos en 1912, en el progresivo arrinconamiento de CRE por la competencia de la Cruz Roja francesa, la internacionalización de Tánger y un rechazo local que culminaría en la llamada Guerra del Rif de 1921-1927, cruento conflicto a medio camino entre revuelta anticolonial y guerra internacional.
Referencias
FOUCAULT, Michel. Tecnologías del yo y otros textos afines. Barcelona: Paidós; ICE-UAB. 1990. [ Links ]
HABERMAS, Jürgen. El discurso filosófico de la modernidad. Madrid: Taurus. 1989. [ Links ]
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la acción comunicativa. Madrid: Taurus. 2v. 1987-1988. [ Links ]
Jon Arrizabalaga – Institución Milà i Fontanals / Consejo Superior de Investigaciones Científicas
ARRIZABALAGA, Jon. Humanitarismo, guerra e innovación tecnológica: el caso de Cruz Roja Española. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.23, n.3, jul. / set., 2016. Acessar publicação original [DR]
Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços / Revista Espacialidades / 2016
O homem vive, em grande parte de sua vida, uma busca por espaço. Seja de forma concreta, um lar para morar, ou abstrata, como um lugar no espaço postmortem. Por toda a História, homens, nações, povos, etnias e sociedades empreenderam uma procura semelhante ao definirem territórios e linhas divisórias do que é seu e do que pertence ao outro. Esta definição produziu conflitos por espaços que englobaram desde a necessidade de se alimentar, como o movimento descontínuo de conquistas das terras férteis da Mesopotâmia, a busca por riquezas a serem aproveitadas, dos impérios ultramarinos e o controle das diferentes colônias, resultado de expedições e guerras travadas entre nações e povos nativos ou, no século XX, na busca dos Estados Nacionais por um “espaço vital” necessário ao progresso, até determinadas formas de conceber o mundo por meio de disputas por “lugares sagrados”, sejam eles concretos ou abstratos.
A construção dos espaços pode estar intimamente ligada àquilo que se almeja ter, que se sonha para um propósito, com um novo lugar para viver, a extensão do poder de conquista, a expansão de mercados, o aumento do lucro ou até o imaginário de um lugar sagrado. Nesse sentido, o desejo pelo espaço que já era de outrem ou que estava entre interesses diferentes, levou à disputa de grandes guerras, conflitos, embates e transformações nos indivíduos e na sua forma de compreender os espaços. Tais relações de poder foram fundamentais à definição de pertenças, o estabelecimento ou não de fronteiras, a organização de movimentos de resistência e de negociação. Todas essas dinâmicas contribuíram à (des)construção dos espaços que eram almejados por indivíduos, povos, etnias ou quaisquer organizações estatais – que empreendiam esforços e estratégias para dominar àquilo que sonhavam ter sob suas posses. Percebendo-se a constância das disputas pelo espaço na História e a maleabilidade das fronteiras estabelecidas pelas diferentes formas de territórios e espacialidades e a importância desta temática para o enriquecimento do debate da relação História e Espaços, pauta central deste periódico, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta o seu 9° volume com o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”.
O projeto deste dossiê começou a ser pensado já meados de 2015 como resultado de conversas a respeito de qual seria a temática do dossiê do volume 9, referente ao semestre janeiro-junho de 2016. Após uma longa divulgação da chamada para o dossiê foram recebidas diferentes propostas para esta publicação. Criteriosamente avaliadas pelo Conselho consultivo da Revista Espacialidades, composto por professores e pesquisadores de universidades das mais diferentes regiões do país, os artigos recebidos e aprovados estão aqui apresentados neste volume. Além dos 8 artigos que compõe o dossiê temático “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, este volume contém mais 5 artigos na sua seção livre. Após a seção livre, apresentamos também uma resenha e uma entrevista realizada pela Equipe editorial da Revista com a professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, envolvida com pesquisas que se encaixam com o tema do dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”. Publicações estas que serão explicitadas logo em seguida, nesta breve Apresentação.
A Equipe editorial da Revista Espacialidades composta por membros do Programa de Pós-graduação em História da UFRN e sob a chefia editorial do professor Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História da UFRN, orgulha-se da sua mais nova publicação, resultado de muito trabalho e de contribuições feitas por pesquisadores de todo o país, que se interessaram em publicar na Revista Espacialidades enviaram as suas propostas. A todos, nosso agradecimento.
Não somente aos proponentes de publicações, agradecemos imensamente aos membros do Conselho consultivo deste volume. Professores e pesquisadores das mais diversas universidades que com muita dedicação e criticidade contribuíram, em grande medida, para a consolidação do projeto pensado ainda em 2015 para este volume. Por meio de suas avaliações e pareceres, foi possível selecionar as publicações deste dossiê e ainda proporcionar o diálogo e enriquecimento das pesquisas e trabalhos de todos os que enviaram propostas de publicação para este volume. A Equipe editorial agradece ainda ao mestre pelo PPGH-UFRN, Adriel Silva, que contribuiu com a elaboração da capa deste dossiê, que com seu talento nos presenteou com a expressiva montagem que abre o volume 9 do nosso periódico.
Seguimos com uma breve apresentação dos textos e seções que compões este volume, publicações que certamente contribuírão para o avanço do diálogo, da pesquisa e do debate dentro da relação História e Espaços.
Inaugurando o Dossiê desta edição a professora Dra. Katia Maria Paim Pozzer, do Departamento de Artes Visuais da UFRGS, apresenta o artigo “Para além das guerras: a representação do espaço na arte assíria”, tratando sobre à representação imagética do espaço geográfico no período da neoassíria, por meio do estudo de um relevo parietal em uma conjuntura de forte expansão territorial do Império.
Em seguida têm-se o artigo “O saque de Roma pelos visigodos: visões tardo-antigas” trabalho realizado pelo doutorando em História pela UFRJ Fabiano de Souza Coelho e pelo doutorando em História pela UFES, Luís Eduardo Formentini, no qual fizeram uma análise do saque de Roma realizado pelos visigodos em 410 a.c, debatendo a influência deste acontecimento no processo de desagregação do Império do Ocidente.
O terceiro artigo do dossiê intitula-se “Conjuntura e estruturação dos espaços de poder do marquesado da Toscana no século XI” e foi proposto pela mestranda em História da UFMT, Natalia Dias Madureira. O texto aborda os conflitos existentes no contexto do concílio realizado em Mântua, em 1064, no marquesado de toscana, discutindo as relações de poder entre Igreja e famílias da região que estiveram envolvidas no concílio.
Em seguida, saindo dos trabalhos que compreendem o recorte temporal da antiguidade e do medievo, apresentamos o artigo “Conflitos judiciais, espaços de jurisdição e estruturação administrativa da justiça na capitania do Rio Grande (Comarca da Paraíba / Rio Grande do Norte, 1789 – 1821)”, trabalho do prof. Dr. Antonio Filipe Pereira Caetano, do Departamento de História da UFAL. Neste artigo, o autor tem como foco discutir os conflitos de jurisdições e os problemas administrativos ocorridos na Capitania do Rio Grande (do Norte) entre 1789-1821.
Ainda tratando do contexto do Rio Grande do Norte, mas agora no período do Brasil Império o artigo “Os retirantes e a municipalidade no Rio Grande do Norte durante a seca de 1877”, elaborado Ana Carolina da Silva Santana, graduada em História pela UFRN e por João Fernando Barreto de Brito, doutorando em História pela UFRJ, tem como objetivo analisar os conflitos entre a massa de trabalhadores livres e as elites locais, na conjuntura das Comissões de Socorros, estabelecidas pelos presidentes de província durante a seca de 1877.
Nessa ordem, ainda tratando do Rio Grande do Norte, o quinto artigo deste dossiê, de autoria do doutorando em História da PUC – RS, Saul Estevam Fernandes, “Os engarrafadores dos espaços ou a disputa pela produção espacial norte rio-grandense e cearense durante na retomada da questão de limites entre os sócios do IHGA-CE e o IHG-RN”, objetiva discutir a retomada da Questão de Limites entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará (1894-1920). Além disso, o texto toma como problemática central as tentativas dos intelectuais cearenses e potiguares em dizerem os territórios dos dois estados por meios de cronistas, memórias, descrições, comemorações e mapas.
Mudando de uma temática mais concentrada no Rio Grande do Norte para a Paraíba, mas ainda tratando da relação entre conflitos e espaços, apresentamos o artigo intitulado “Banditismo e modernização: cangaceiros, malfeitores, ladrões de cavalos e suas redes de solidariedade avessas ao poder policial (Paraíba, 1930-1950) ”, trabalho realizado pelo mestrando em História da UFPB Luiz Mário Dantas Burity. Nessa proposta, o autor visa, em uma análise da decadência do banditismo, atentar para as mudanças e permanências que ocorreram nas regiões atingidas pelo banditismo, na Paraíba, entre 1930 e 1950.
Fechando o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, trazemos o artigo “O Brasil, a América Latina e a Europa: o acordo Mercosul / União Europeia, um retrospecto de umanegociação ainda não concluída”, do bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFRJ, Rodrigo Cássio Marinho da Silva. O trabalho aborda as implicações da política de subsídio europeia e as consequências para o Mercosul e seu processo de integração, encerrando o dossiê com um tema ligado a negociação, espaços e poder nas relações internacionais.
Abrindo a Seção livre deste volume, trazemos o artigo “Fronteiras da memória, identidades imaginadas: uma análise histórica e cultural das fronteiras da Carélia no contexto da emancipação finlandesa, XIV-XIX”, de autoria do graduado em História pela UFCG, Marcos Saulo de Assis Nóbrega. O artigo tem como objetivo analisar as questões pertinentes a cultura da região fronteiriça da Carélia, desde o século XIV, abordando ainda o processo de emancipação da Finlândia e seu processo de formação do ideário nacionalista no século XIX.
Já o trabalho do mestrando em História pela UFRN, Kleyson Bruno Chaves Barbosa, “A câmara faz a festa, “ainda que estranho se acordacem tão tarde”: celebrações possíveis na Natal setecentista”, trata sobre o papel do Senado da Câmara da cidade do Natal quanto a organização e a celebração de festividades na cidade, no século XVIII, analisando um dos aspectos do cotidiano do espaço urbano colonial neste período.
O artigo “Uma discussão de classe e uma história social do blues no sul dos Estados Unidos”, feito pelo graduado em História pela UFPB, André Felipe de Albuquerque Espínola nos traz uma análise da experiência cultural com a música, o blues, desenvolvida entre os trabalhadores dos Estados Unidos no início do século XX, ao redor do Delta do Mississippi. Assim, o autor tenta compreender como essa experiência contribuiu para o desenvolvimento de estilo musical entre as décadas de 1930 3 1940.
Como parte da seção livre deste volume, temos também o artigo ““Como essa nunca tinha visto!” – devoção a Nossa Senhora Medianeira – a Igreja, o poder municipal e os devotos”, da doutoranda em História pela UPF Francielle Moreira Cassol. O artigo traz uma análise sobre a romaria de Nossa Senhora Medianeira, no interior do Rio Grande do Sul, problematizando a sua patrimonialização e a transformação do evento religiosos em acontecimento de caráter também turístico.
Encerrando a seção livre do nosso volume 9, apresentamos o trabalho realizado pelo professor Dr. Alessandro Dozena, do departamento de História da UFRN e pelo doutorando em Ciências Sociais, pela mesma instituição, Valdemiro Severiano Filho. O artigo “O carnaval de Natal (RN): espaços de transformação no tempo da folia” traz um estudo sobre a institucionalização do carnaval em Natal a partir da década de 1930 até o tempo presente, considerando as dinâmicas sociais ligadas à festividade com foco nas relações de poder nela estabelecidas.
Na seção Resenhas, têm-se a análise da obra O Eldorado, de autoria de José Miguel Arias Neto, realizada pelo pós-graduando em História pela UEL Osvaldo Fiorato Junior. A resenha intitulada “As representações do progresso em Londrina, uma História regional do norte do Paraná”, considera a influência da obra na constituição da historiografia regional do Norte do Paraná, fazendo um paralelo da relação entre a produção historiográfica e a construção dos espaços.
Fechando o nosso dossiê, na última seção do nosso volume, apresentamos a entrevista concedida pela professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, professora da UFRJ e da Escola Naval do Rio Janeiro. Especialista nos debates sobre relações internacionais, a professora Sabrina Evangelista traz em sua fala importantes debates sobre a conjuntura internacional contemporânea, tratando de forma muito enriquecedora sobre temas relevantes da atualidade, referentes a conflitos, negociações e política nas relações internacionais no tempo presente.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Aledson Manoel Silva Dantas
Cid Morais Silveira
Francisco Leandro Duarte Pinheiro
Giovanni Roberto Protásio Filho
Lívia Brenda da Silva Barbosa
Raphael Alves da Costa Torres
Tyego Franklim da Silva
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.9, n. 01, Jan- Jun, 2016. Acessar publicação original [DR]
Guerra e Nacionalização / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2005
Fruto do evento Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil, ocorrido em maio de 2005 em parceria entre a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, a Fronteiras – Revista Catarinense de História, em seu número 13, apresenta o Dossiê Guerra e Nacionalização, divulgando, assim, os textos das mesas e das conferências.
Com a proposta de refletir sobre a Era Vargas, a Nacionalização e as tensões da Segunda Guerra Mundial, foi oportuno promover um evento no momento em que se marcavam 60 anos de final do conflito, provocando o debate e revendo interpretações e, mais ainda, denunciando intolerâncias.
O Sul do Brasil foi enfocado, sem desconsiderar outras regiões, porque efetivamente, as normalizações e medidas repressivas para com os descendentes de ítalo-germânicos (também outras etnias, menos representativas no sul) provocaram um torvelinho de denúncias, de medo, de silêncios, de prisões, de torturas, de interdições, ao mesmo tempo em que se exacerbava uma onda de nacionalismo e a construção de imagens maniqueístas, culminando com repressões e violências.
Refletir sobre a guerra e sobre a nacionalização forçada implica lançar olhares que alcançam políticas governamentais, identificações, religiosidades, relações étnicas e de gênero, educação e escolarizaçâo, entremeadas às transgressões, resistências, burlas, denúncias, ganhos e perdas, onde as relações de poder do Estado, da polícia política ou dos civis, aparecem nas entrelinhas do período de conflito. Um tempo outro, onde a realidade vivida na cotidianidade compõe o pano de fundo de muitas histórias e memórias.
Efetivamente, no torvelinho entontecedor vivido nesse outro tempo, permeado de práticas antidemocráticas, urge reavivar outras histórias para além daquela que o Estado Novo cuidou, deliberadamente, de construir como unívoca, convergida para a eliminação das diferenças regionais na tentativa de dar uma forma peculiar ao passado, de festejá-lo, de apaziguá-lo, silenciando experiências e vozes. Esse tipo de história foi contado para o domínio, e, como bem afirma Marc Ferro, “controlar o passado ajuda a dominar o presente e a legitimar tanto as dominações quanto as rebeldias1. Possibilitar a publicação destes textos permite refletir sobre práticas cotidianas versus políticas governamentais, levadas a efeito no período da Segunda Guerra, bem como dizer algo sobre a sociedade onde vivemos hoje. Eric Hobasbawm nos dá essa lição; “É tarefa do historiadores tentar remover essas vendas, ou pelo menos levanta-las um pouco ou de vez em quando – e na medida que o fazem, podem dizer à sociedade contemporânea algumas coisas das quais ela poderia se beneficiar, ainda que hesite em aprende-Ias”.2 Essa é uma possível aposta contra as intolerâncias de ontem e de hoje.
Os textos apresentados, em número de sete, analisam a nacionalização e a guerra de diversos ângulos e olhares, permitindo reflexões sobre as intolerâncias, a violência, o preconceito étnico, a língua, a literatura, as relações do Estado com o clero, com a escolarização e a repressão, interpretados a partir das fontes que escaparam à destruição daquele tempo de arbítrio. Eles ampliam, assim, o leque de possibilidades da análise histórica, cujas narrativas deixam entrever cenas do cotidiano, os imaginários sociais construídos e as conseqüentes representações de mundo deixadas em registros por homens e mulheres que viveram naqueles anos. Os textos apresentados são uma contribuição dos professores e professoras Maria Luiz Tucci Carneiro (USP), René Gertz ( PUCRS), Walquiria Renk (PUCPR), Priscila Perazzo (USP), Marlene de Faveri (UDESC), Cinthya Campos ( UFSC), Lúcio Kreutz (UNISINOS) Neide Fiori (UNISUL), pelo que agradecemos.
Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil foi gestado e realizado por uma comissão organizadora que reuniu professores / as e alunos / as das duas instituições envolvidas (UDESC e UFSC), e realizado nas dependências da Faculdade de Educação / Faed / UDESC.
Pesquisadores do tema, oriundos de instituições catarinenses e de outros estados, participaram de cinco Simpósios Temáticos, onde apresentaram seus trabalhos e estabeleram diálogos e debates, o que favoreceu a publicação dos anais completos, disponíveis no sítio «www.simposioudesc.cjb.net» O evento contou com o apoio da Associação Nacional de História, Núcleo de Santa Catarina – Anpuh / SC, da Fiepe, do Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura da Udesc, do Programa de Pós-Graduação em História da Ufsc e do apoio inestimável do Centro de Ciências a Educação / Faed / UDESC, por meio do Núcleo de Estudos Históricos e da Direção Assistente de Pesquisa e Extensão / Dape.
Notas
1. FERRO, Marc. A manipulação da História no ensino e nos meios de comunicação. 2.ed. são Paulo. Ibrasa, Instituto Brasileiro de Difusão Cultural Ltda 1999. P.11
2. HOBASBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, p. 48.
Marlene de Fáveri – Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
FÁVERI, Marlene de. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.13, 2005. Acessar publicação original [DR]
Guerra, Império e Revolução / Projeto História / 2005
Este número da revista Projeto História atenta às repetições dos desmandos, humilhações e contínuas tragédias humanas, faz um chamamento à reflexão sobre temas que marcam nossos próprios destinos. Guerras, impérios e revoluções nascem de processos sociais contraditórios, que ganham configurações específicas, inusitadas, em suas próprias singularidades. A dominação de grupos sociais sobre outros; os embates político, religioso e étnico; a conquista de domínios territoriais; o gigantismo da subjugação e extermínio de populações civis; a regressão dos direitos sociais dos indivíduos são produtos da interatividade societária, todavia, não são traços perenes e eternos, são, sim, formas transitórias, históricas.
Paul Celan, em Fuga da morte (1952), escreveu que “a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio”.1 Adorno, detendo-se sobre essa poética pós-Auschwitz, com indignação e coragem, enfatizou que essa regressividade jamais poderia ser repetida, pois “a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão. É isto que apavora”.2 É possível agir sem ter essa indignação como móvel? É possível criar, educar, poetizar, cantar tendo em mente o que se passou? Mas a barbárie parece não ter fim. O revisionismo atual continua com sua pregação criminosa recheada de inverdades históricas. Pierre Vidal-Naquet arrolou essas concepções negacionistas, relativistas, neonazistas, que se disseminam: a inexistência do genocídio e da câmara de gás; a “solução final” vista como “recuo” ou “expulsão dos judeus para o Leste europeu”; o número de vítimas é bem menor, pois, dizem, há grande número de casos de morte natural; o maior inimigo da humanidade foi Stálin e não Hitler; a Alemanha hitlerista não foi a única responsável da Segunda Guerra Mundial; o genocídio é mero recurso propagandístico judaico e sionista.3
Não nos esqueçamos que as guerras mundiais do século passado foram guerras intercapitalistas. Os potentados imperialistas que conheceram a via sinuosa, tortuosa, retardatária de objetivação do capital tinham como meta uma nova partilha do mundo. Para tal era necessária uma ideologia de guerra, uma ideologia de mobilização nacional – e não importam aqui os nódulos que a sustentam, se montada no darwinismo social, no anti-semitismo, no anticomunismo, no ideal nazista de beleza, na pureza e superioridade da raça, no irracionalismo de todos os matizes –, uma ideologia que pusesse em marcha multidões em nome de um patriotismo visceral que vingasse o extermínio de outros povos.
Mas, nos dias que correm, as atuais guerras, genocídios, torturas e práticas criminosas, como jogos de diversão sexual, como as verificadas nas prisões de Abu Ghraib e Guantánamo, as ocupações de territórios como na guerra do Iraque, são expressões do novo imperialismo ou do domínio do Império, tal como Toni Negri e Michael Hardt tentam conceituar a nova configuração mundial?
Domenico Losurdo tenta problematizar esta nova quadra histórica, retomando as teses leninianas sobre o imperialismo. Tenta responder acerca da natureza dessas intervenções bélicas; seriam, em verdade, imperialistas ou, como quer Michael Hardt, balizadas para tutelar os direitos humanos? Seria a intervenção norte-americana no Iraque uma aposta, por meio da brutal violência, pela defesa intransigente de concretização da democracia para um povo incivilizado? Como explicar que, no momento em que se busca invalidar a categoria do imperialismo, se assiste, ao mesmo tempo, a uma série de operações militares que reforçam a tese leniniana da essencialidade da guerra de talhe imperialista? Losurdo visa, em confronto com o conceito de Império, dos filósofos Negri e Hardt, responder a esta e outras questões: “Por que a derrota do ‘campo socialista’ abriu o caminho, não para o afrouxamento, quanto para um enrijecimento da situação internacional? Por que à Guerra Fria não se seguiu a paz perpétua prometida pelos vencedores, quanto uma série de guerras quentes que parece não ter fim?”.
No mesmo diapasão, Christian Castillo investe contra as teses inscritas em Império. Segundo esse autor, com a persistência do desemprego de massas, da precarização do trabalho, vários autores passaram a discorrer sobre o “fim do trabalho”, a “sociedade pósindustrial” regida pelo “capitalismo cognitivo”, que superaria a teoria marxiana do valor. Com a diminuição crescente do proletariado industrial teria emergido na cena histórica um novo sujeito social: a “multidão” constituída de indivíduos independentes e autônomos. Para essa perspectiva, segundo Castillo, “a atividade cognitiva torna-se o fator essencial de criação de valor, calculando-se este em grande parte por fora dos lugares e do tempo de trabalho”. Com o predomínio do “trabalho imaterial” no mercado globalizado, a cooperação social do “general intellect”, o cérebro se torna, na acepção de Negri, a “máquina útil que cada um de nós carrega em si”. Surge, daí, uma nova configuração da luta social não engendrada por relações contraditórias, dialéticas, mas uma nova alternativa que prescinde da transição. O conceito de “transição” é substituído pelo de “poder constituinte”. Castillo tenta rebater esse “novo antagonismo” a partir da dialética imanente ao sociometabolismo do capital e da determinação do trabalho alienado, visando à compreensão dos verdadeiros limites e potencialidades da categoria social dos trabalhadores.
Márcio Seligmann-Silva nos oferece um competente e rigoroso ensaio sobre o conceito de testemunho em vários registros, todavia, buscando o dialógico entre paradigmas que certa interpretação busca separar, e ele, ao contrário, os integra respeitando suas diferenças. Trata-se, de um lado, do testemunho enquanto testis, que tem como centralidade a visão, e o testemunho como experiência vivida, supertestes, concernente àquele que está na condição de “manter-se no fato”, “como alguém que habita na clausura de um acontecimento extremo que o aproximou da morte”. Na rica seara dos estudos literários e suas ramificações, o autor tece os imbricamentos entre narrativas ficcionais e as ações dispostas no mundo efetivo, valendo-se desses modelos. Os estudos sobre a Shoah e o “testimonio” hispano-americano, entretanto, apontam para a virada de paradigma que vem ocorrendo no campo das artes e da literatura.
Modesto Florenzano apresenta os caminhos do revisionismo na historiografia contemporânea da Revolução Inglesa. Traça um paralelo com a historiografia francesa e examina as confluências e diferenças que apontam para essa “herança conflituosa”. Considera François Furet e Lawrence Stone como as principais figuras desse “embate”, que põe de ponta-cabeça os resultados do conhecimento histórico sobre o processo revolucionário. No caso inglês, desde 1953, Trevor-Roper propiciou outra interpretação acerca da visão de Tawney sobre “a ascensão da gentry”, simplesmente negando sua condição de classe empreendedora e capitalista. Acabava por inverter o caráter e o significado de seu ser revolucionário. Modesto sinaliza que a historiografia conservadora, com referência ao revisionismo francês, vai além, passando a negar a própria existência da revolução. Respondendo às principais questões do debate em solo inglês, o historiador destaca o vigor das análises de Thompson, Christopher Hill, Hobsbawm e Perry Anderson, nessas “batalhas espetaculares”.
Izabel Marson retoma as interpretações históricas de Marx e de Victor Hugo no que tange ao Golpe de Estado de 2 de dezembro de 1851. O contraponto se faz por meio das obras O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte e Napoleão, o pequeno. Golpe de Estado que inaugura pelas armas o II Império francês e dissolve a República Parlamentar. Victor Hugo, que jogara seu prestígio na eleição presidencial de Luis Bonaparte, agora, desiludido, parte para o ataque. Marson resgata a qualidade da narrativa-testemunho, mas aponta para os limites dos princípios e métodos praticados pela historiografia liberal francesa. O dramaturgo francês é levado à inevitável comparação com a grandeza de um, o tio, e a pequenez política e moral do sobrinho, Napoleão III. Do prisma marxiano, é o processo histórico que torna inteligível os movimentos de indivíduos, grupos, classes sociais, nos episódios do 2 de dezembro e seus desdobramentos. No confronto, a narrativa de Victor Hugo elide a complexidade histórico-social, reduzindo as tramas sociais às ações de um indivíduo. “O acontecimento propriamente dito aparece em sua obra como um raio caído de um céu azul”. Por isto, analisando os eventos políticos, Marx especifica como a luta de classes engendrou “as circunstâncias e condições que possibilitaram a uma personagem medíocre e grotesca desempenhar um papel de herói”.
Vera Lucia Vieira, num esforço exemplar, expõe os limites e as possibilidades das constituições burguesas. Enfrentando questões espinhosas das relações entre iluminismo, liberalismo, constitucionalismo e também o fluxo da democracia para formas autocráticas no bojo das lutas de classe, a autora aponta para a determinação ontonegativa da politicidade que perpassa o aparato jurídico da dominação proprietária. Do prisma marxiano, mostra como os passos constitucionais não se separam dos conflitos práticos que se estampam na consolidação conservadora após os processos sociais advindos com as revoluções burguesas. É na própria organização social, em sua disposição assimétrica, que se encontram os pilares que estruturam a base do poder político do capital. E não na busca da inteligência ou vontade políticas. Com as intervenções revolucionárias da classe trabalhadora, os proprietários, em sua resposta contra-revolucionária, sedimentaram seu mando com uma legislação feroz e violenta regrando a mobilização das classes subalternas.
Lincoln Secco apresenta um amplo balanço das configurações do “comunismo histórico”, expressão que denota o papel dos partidos comunistas no poder político de várias formações sociais cuja organização produtiva se estruturou a partir da abolição da propriedade privada dos meios de produção. O autor investiga a complexidade do movimento comunista, desde a revolução russa de 1917, os impasses do drama histórico e da crise advinda com o relatório dos crimes de Stalin revelado no XX Congresso do PCUS em 1956, assim como a ruptura entre URSS e China, em 1961. Passa em exame as revoltas estudantis e populares, como a invasão da Tchecoslováquia, em 1968, os conflitos fronteiriços entre China e URSS, de 1969, assim como o declínio e a estagnação de suas formas produtivas e a crise social aberta no sistema. O historiador fornece um quadro preciso da distribuição das forças comunistas em vários países, não apenas na Europa, mas também na Ásia e na América Latina.
Valério Arcary intenta a crítica da “teoria dos campos progressivos” de Eduard Bernstein. A inflexão da nova teoria política que desanca a filosofia marxiana, jogando-a ao limbo, é aqui desvelada à luz da história. Ponto de confluência com o stalinismo, o revisionismo de Bernstein também opera a naturalização da história e projeta uma catástrofe final. O télos da história é o socialismo democrático. Só que no terreno das reformas graduais, lentas e pacíficas. Valério Arcary dilucida as circunstâncias dessa ideologia, que se despe da necessidade histórica, em tempo de normalidade aparente, e se põe na ruptura com o objetivo final, a estratégia da revolução social. Recorde-se que, para Bernstein, o capitalismo monopolista superara o caos do sistema, as contradições internas do próprio capital. Daí a crítica à dialética hegeliana, as contradições que se resolvem em nova síntese, com suposta (falsa) base teórica de Marx e o alinhamento ao “retorno de Kant”. Uma vez banida a revolução social, o imperativo categórico da liberdade atua como retor moral, como idéia reguladora de atos possíveis, porém jamais atendidos. Daí a teoria da revolução, da luta de classes e do valor-trabalho serem inteiramente descartados. Só é possível a diminuição das desigualdades, ajustes possíveis, por meio da ação parlamentar. Daí que somente com esse “método”– a estratégia gradualista, a defesa da centralidade dos meios sobre os fins e da moral sobre a política revolucionária – o apóstata de Marx vislumbra a democracia como valor universal como paradigma civilizatório do socialismo, a via parlamentar sempre em permanente aperfeiçoamento e progressão.
A seção Entrevista apresenta o ensaísta consagrado, Boris Schnaiderman, que além de ter contemplado nossa “República das letras” com traduções primorosas de clássicos russos como Dostoiévski, Tchekhov, Púchkin, entre outros, e como memorialista e romancista, a tornada clássica Guerra em surdina, dispõe-se mais uma vez a narrar suas experiências sobre a Segunda Guerra Mundial. Ao lembrar daquela “estranha epopéia dos brasileiros”, a combatividade dos nossos soldados da FEB, Boris Schnaiderman, com seu humanismo incontrastável, diz que esperava por um desastre. Porém, “o soldado brasileiro teve uma atuação surpreendente na guerra. Comportou-se muito bem”. Isso se deve ao fato de que “o brasileiro era mais hábil inclusive porque vinha de ambientes mais pobres. Geralmente pessoas originárias de tais circunstâncias têm uma capacidade maior de improvisação”.
A Guerra de Canudos recebe um tratamento crítico que se contrapõe à versão consagrada por Euclídes da Cunha. José Maria de Oliveira Silva examina As prédicas de Antonio Conselheiro e refuta a imputação de elementos messiânicos a milenaristas ao beato. Dessa maneira, o historiador ressalta novas especificidades desse fenômeno histórico, a partir das pregações, como a concepção providencialista da história, a pobreza edificante e o caráter piedoso de A. Conselheiro.
O artigo de Giselda Brito põe à prova algo cristalizado pela análise convencional em nosso país, a saber: o Estado Novo seria o projeto integralista abocanhado por Getulio Vargas. Segundo sua interpretação, o integralismo e o Estado Novo não seriam a mesma coisa. Acentuando traços comuns como o anticomunismo, a crítica à liberal-democracia, a luta de classes, a busca de coesão nacional contra os regionalismos, a necessidade de um Estado forte e intervencionista, por si só, no nível de generalidades abstratas, a analítica convencional acaba por elidir as diferenças, suas especificidades históricas. Destrinçando a natureza do discurso ideológico de Vargas, a autora revela como o bonapartista do entre guerras esmera em atacar os “adeptos de idéias externas”, “os desordeiros e perigosos inimigos” do “destino imortal” da nação. Vargas imputa aos comunistas e integralistas a disseminação de ideologias nefastas que causam instabilidade política.
Em nossos tempos, o casamento do projeto neoconservador americano com a investida política de Bush sob o signo da guerra preventiva, batizada de “Choque e Pavor”, contra o Iraque, faz parte da nova estratégia (ou arquiantiga?) de vingar o modus vivendi da única superpotência mundial para o “resto do mundo”. Afinado com a ideologia neoconservadora do “fim da história” e do triunfo do modus vivendi norte-americano, segundo o qual testemunhamos, na última quadra histórica do século passado – como rezava o ideólogo Francis Fukuyama –, “o fim da História enquanto tal: ou seja, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como forma última de governo humano”. Mas que isso não encubra os propósitos declarados de subjugação e domínio das reservas de petróleo, gás, água, minérios, etc., em especial assegurados para os monopólios norte-americanos. Bem antes do monstruoso ataque às torres gêmeas de 11 de setembro de 2001, por membros do grupo AlQaeda, os neoconservadores como Paul Wolfowitz, Donald Rumsfeld, Francis Fukuyama, entre outros, ainda sob a administração de Bill Clinton, sugeriam o ataque e destronamento de Saddam Hussein. O Oriente se apresenta como esfera de influência, parte anexada ou controlada pela grande potência com seu projeto “hegemônico benevolente”.
Enfocando essas questões, Paulo Edgar-Resende põe a nu a doutrina da guerra preventiva, estabelecendo nexos com a política imperialista do “Destino Manifesto”. Daí a atualidade da interpretação do sociólogo Max Weber ao imputar influências entre a ética protestante e o espírito do capitalismo. Segundo o autor, “a presença tentacular dos Estados Unidos no mundo atual tem justificativa religiosa, expressa na direção de cruzada do eixo do bem contra o eixo do mal”.
O historiador Ettore Quaranta, com fina erudição, examina a influência da tradição grega e do Oriente no que tange ao significado essencial do culto ao soberano. A partir da “Vitória guerreira”, oriunda da epopéia de Alexandre, o autor sinaliza como a cultura grega nutriu o regime da realeza no período helenístico configurando um novo mundo heterogêneo, com os aportes do estoicismo e a divinização real. Projeto História retoma também a problemática da guerra e do poderio romano, a formação e ampliação do imperium. A interpretação de Políbio sobre o império romano é retomada por Breno Sebastiani. Este autor busca compreender, no interior da historiografia polibiana, as conexões íntimas entre a Segunda Guerra Púnica e a Constituição romana desse período e, com isso, o suceder de atos que potencializam o poderio romano. Na visão de Políbio, tanto a guerra como a estrutura constitucional romana são tomadas como causa preponderante de sua política expansionista e domínio militar sobre outros povos.
O protagonismo das mulheres é retomado em nossas páginas por Vanessa Cavalcanti ao tratar da “politização do privado” e do combate aos silêncios da esfera doméstica. A revolução das mulheres tornou-se, de modo irreversível, metro societário que dispõe as potencialidades de novas maneiras de viver por meio dessa conquista do gênero humano. Tematizando tanto experiências pessoais e subjetivas, quanto aquelas da esfera pública, a autora demonstra o papel efetivo das lutas feministas na desconstrução das práticas discursivas que, em tempos de guerra, ressurgem com suas formas virulentas e garras inumanas.
Questionando a concepção habermasiana de “esfera pública”, Giulia Crippa e Marco Antonio de Almeida buscam apreender as relações recíprocas entre mídia, guerra e cultura, a partir da complexidade que aflora na “sociedade de informação”. Confluindo com as reflexões de Rancière, que ampliam a acepção de democracia como “democracia enquanto regime de escrita”, não apenas reduzida ao âmbito da política, os críticos apontam para a constituição de uma opinião pública sem coações, livre e aberta. Com Walter Benjamin, os autores atestam que a malha formada, na modernidade, pela circulação de mercadorias e troca de informações “proporciona o compartilhamento da experiência (Erfahrung) e aciona a possibilidade da narração dessa experiência”. Todavia, como é possível ultrapassar os limites iluministas da concepção habermasiana de espaço público sem a banalização dos grandes temas da experiência humana? Como superar a supremacia ideológica do “pensamento único”, da perspectiva de esquerda, de um modelo único de democracia?
A cobertura do “11 de setembro” da revista Veja aponta para a unilateralidade e posicionamento comprometido ante os métodos imperialistas do “presidente da guerra”. A historiadora Carla Silva mostra que, nas páginas de Veja, não há espaço para o contraditório. Com coragem, a autora, pela crítica imanente, desmonta os preconceitos e argumentos falaciosos, ao mesmo tempo em que revela as ligações entre Bin Laden e a CIA, o apoio dado pelo governo estadunidense a outrora aliados, que se transformaram no “fascismo islâmico”.
Hannah Arendt considera uma “confusão moral” a atribuição de uma culpabilidade coletiva de modo indistinto; enquanto os verdadeiros responsáveis por atos criminosos e inumanos continuam sem ter sequer o mais tênue remorso. Acusava cada “dente da engrenagem”, pessoas que cumpriam funções burocráticas no interior do sistema repressivo. Nos julgamentos do pós-guerra, de indivíduos que praticaram o terror em maciça escala, que se tornaram assassinos de multidões, muitos dos criminosos lesa-humanidade corroboraram a idéia de que “se eu não tivesse feito isso, outra pessoa poderia ter feito e faria”. Há que denunciar aqueles que se valem do “método de cavar buracos gigantescos para enterrar fatos e acontecimentos indesejados”.4
Em tempos de barbárie inaudita – no repor-se de formas de talhe imperialista, com a ocupação de terras alheias, que significa imposição violenta de modos de vida estranhos, com a utilização da guerra preventiva, do assassinato seletivo, do terror sem limites, e de tantas outras formas que dilaceram os indivíduos e suas sociedades –, há que se perguntar, como fez Primo Levi diante do holocausto, a que ponto ficamos reduzidos: “Isto é um homem?”. Isto somos nós? Ou como vozeirava Susan Sontag: é possível ser indiferente diante dos horrores dos genocídios, das ocupações, dos massacres, das violentações que passam diante dos nossos olhos, e não se indignar diante da dor dos outros?
Em tempos tensos, de predomínio do niilismo, numa era de supremacia bélica da grande potência, a decomposição do caráter tem levado ao pessimismo cego e incondicional que não mais acredita em possibilidades humanas mais autênticas. Nessa quadra histórica, com a revolução tecnológica sem precedentes, com o desfazimento do Leste europeu e o prolongamento da utilidade histórica do capital, é premente perguntar se é possível sonhar ainda com uma vida humanamente social, a liberdade da vida cotidiana, da comunidade interativa de indivíduos livres em permanente autoconstrução, na qual, como frisa Marx, “o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.5
Notas
1. Cf. Epígrafe (Todesfuge, tradução de Modesto Carone). In: RHODES, R. Mestres da morte. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003.
2. ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo, Paz e Terra, 1995, p. 119.
3. VIDAL-NAQUET, P. Os assassinos da memória. Campinas, São Paulo, Papirus, 1988, pp. 37-38.
4. ARENDT, H. Responsabilidade e julgamento. São Paulo, Companhia das Letras, 2004, p. 340.
5. MARX, K e ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo, Boitempo, 1998, p. 59.
Antonio Rago Filho
Editor científico
FILHO RAGO, Antonio. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v. 30, 2005. Acessar publicação original [DR]