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Alemanes antinazis en la Argentina / Germán Friedmann
Os acontecimentos ocorridos a partir da década de 1930 marcariam de forma decisiva os rumos da população alemã. A chegada de Adolf Hitler ao poder em 1933 não significou apenas uma mudança no contexto político do país, mas também alterou o cotidiano das pessoas e suas concepções a respeito do que era ser alemão.
O surgimento do nazismo colocava a sociedade germânica no centro dos debates a respeito da parcela de contribuição exercida por esta sociedade para o estabelecimento e consolidação do regime nazista. O mal-estar provocado pelas truculentas intervenções nazistas em relação aos países vizinhos da Alemanha além de não deixarem dúvidas sobre as pretensões expansionistas de Adolf Hitler parecia, aos olhos da comunidade internacional, aproximar a sociedade alemã cada vez mais à figura do Führer.
Neste contexto, irá surgir na Argentina em 1937 a organização Das Andere Deutschland (a outra Alemanha, posteriormente conhecida por DAD). Esta organização e suas ações contra o regime nazista são o tema central do livro Alemanes antinazis en la Argentina escrito por Germán Friedmann – professor doutor em História pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Atualmente Friedmann é professor de História da América Latina na Universidade Nacional de San Martín.
Integrada por um grupo de exilados políticos alemães e austríacos opositores do regime nacional-socialista (FRIEDMANN, 2010: 13), a DAD, de acordo com Friedmann, se configurou como uma das principais forças antinazistas da América Latina nas décadas de 1930 e 1940. A partir desse momento, se constituía uma série de medidas incentivadas por esta organização para tornar público as atrocidades cometidas pelo nazismo na Europa e suas possíveis investidas nos países Sul-americanos através
Os acontecimentos ocorridos a partir da década de 1930 marcariam de forma decisiva os rumos da população alemã. A chegada de Adolf Hitler ao poder em 1933 não significou apenas uma mudança no contexto político do país, mas também alterou o cotidiano das pessoas e suas concepções a respeito do que era ser alemão.
O surgimento do nazismo colocava a sociedade germânica no centro dos debates a respeito da parcela de contribuição exercida por esta sociedade para o estabelecimento e consolidação do regime nazista. O mal-estar provocado pelas truculentas intervenções nazistas em relação aos países vizinhos da Alemanha além de não deixarem dúvidas sobre as pretensões expansionistas de Adolf Hitler parecia, aos olhos da comunidade internacional, aproximar a sociedade alemã cada vez mais à figura do Führer.
Neste contexto, irá surgir na Argentina em 1937 a organização Das Andere Deutschland (a outra Alemanha, posteriormente conhecida por DAD). Esta organização e suas ações contra o regime nazista são o tema central do livro Alemanes antinazis en la Argentina escrito por Germán Friedmann – professor doutor em História pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Atualmente Friedmann é professor de História da América Latina na Universidade Nacional de San Martín.
Integrada por um grupo de exilados políticos alemães e austríacos opositores do regime nacional-socialista (FRIEDMANN, 2010: 13), a DAD, de acordo com Friedmann, se configurou como uma das principais forças antinazistas da América Latina nas décadas de 1930 e 1940. A partir desse momento, se constituía uma série de medidas incentivadas por esta organização para tornar público as atrocidades cometidas pelo nazismo na Europa e suas possíveis investidas nos países Sul-americanos através de grupos simpatizantes desse regime. Além das atividades de caráter político a DAD também atuou de forma intensa no âmbito cultural da Argentina.
É importante perceber, como aponta o autor, que a atuação dos membros da Das Andere Deutschland não pode ser vista como um acontecimento à parte da sociedade argentina, visto que seus integrantes estavam inseridos nesta sociedade mesmo que na condição de estrangeiros. Deste modo, as atividades desenvolvidas pela DAD também se constituiu como uma forma de participação desses alemães na sociedade argentina seja no âmbito político, social ou cultural.
De acordo com Germán Friedmann, na medida em que os nazistas se consolidavam no poder a quantidade de opositores a este regime que migravam para países da América aumentava de forma significativa. Ainda segundo este autor, a Argentina recebeu cerca de 50.000 pessoas durante as primeiras décadas do regime (FRIEDMANN, 2010: 22). Ao chegarem a Argentina estas pessoas encontraram um contexto político instável devido ao recente golpe militar que, em 06 de setembro de 1930, depôs o presidente Hipólito Yrigoyen e deixou em seu lugar o general José Uriburu.
Apesar da instabilidade pela qual passava a Argentina, a organização não encontrou grandes dificuldades para realizar suas atividades neste país. Por meio do periódico Argentinisches Tageblatt, outro importante centro de combate ao nazismo dirigido por Ernesto Alemann, a DAD difundia suas ideias políticas através de um espaço reservado neste periódico. Esta manobra foi necessária devido as leis argentinas restringirem as atividades políticas de estrangeiros no país. Assim, a Das Andere Deutschland apresentava ao público suas atividades de combate não só a atuação de grupos nazistas na Argentina, como também opiniões a respeito das ações realizadas pelo regime nacional-socialista instalado na Alemanha.
Outro importante veículo de combate ao nazismo foi o boletim informativo criado pela DAD (que levava o mesmo nome da organização) e publicado através do Argentinisches Tageblatt. Este boletim alcançou relevante sucesso entre os emigrantes alemães da América Latina se transformando em um dos principais canais de informação sobre a Alemanha deste período.
Assim, sob a direção de August Siemsen e contando com a importante participação do pintor e caricaturista Clément Moreau, o boletim informativo da DAD alcançou grande visibilidade e um respeitável número de leitores, atingindo, conforme Friedmann, nos anos de 1944 e 1945, entre 4.000 e 5.000 exemplares publicados.
Um dos principais objetivos da DAD era demarcar a diferença entre a Alemanha do Terceiro Reich e o que se denominou como “Das Adere Deutschland” (a outra Alemanha) tendo como tema central o debate a respeito da diferenciação entre Hitler e o povo alemão, numa incansável busca pela desvinculação das atividades realizadas pelos nazistas da população alemã. Segundo os membros da DAD, estas atividades não representavam em sua totalidade a Alemanha e, desta maneira, as responsabilidades pelas ações do regime nazista não poderiam ser atribuídas de forma aleatória à população deste país.
A expressão “outra Alemanha” foi apropriada por diversas pessoas, cada uma delas levando em consideração suas experiências a respeito do regime nacional-socialista. Os membros da DAD a tomaram para si por considerarem-se representantes dos verdadeiros valores alemães. De acordo com eles, era preciso mostrar ao mundo que os princípios apresentados pelos nazistas nos campos de guerra e no tratamento aos prisioneiros dos campos de concentração não eram compartilhados por toda população alemã.
O livro de Germán Friedmann mostra os esforços de um grupo antinazista na tentativa de construir uma nova identidade com seu país. No entanto, as diferentes concepções de como construir esta identidade leva a impasses no interior deste movimento antinazista e a guerra vem trazer consequências importantes para esse grupo, uma delas relacionada com o apoio aos Aliados. Como apoiar uma ação militar contra seu próprio país? Esta pergunta entrou de maneira crucial nos debates que envolviam os membros da DAD e outros combatentes do regime nacional-socialista.
Retirar o Terceiro Reich do poder significava naquele momento uma dura intervenção militar à Alemanha, mesmo que isso custasse a destruição do país. Esta era a principal fala de muitos antinazistas da época. Para outros, ela significava um claro gesto de traição empreendido por aqueles que se diziam os verdadeiros guardiões dos valores alemães. Esses impasses iriam causar alguns atritos tanto entre os próprios membros da DAD quanto entre eles e os germano-argentinos (expressão utilizada por Friedmann para se referir aos descendentes de alemães da Argentina).
A DAD insistia em sua causa antinazista, com apoio aos Aliados, nas atividades desenvolvidas através de seu boletim, no teatro e no sistema de ensino (apoiando a escola Pestalozzi, instituição de ensino dirigida por Ernest Alemann). Esta organização esteve sempre presente em movimentos culturais, sociais e políticos não somente na Argentina, como também em outros países latino americanos, tais como Brasil, Uruguai, Bolívia, Chile, entre outros.
A Das Adere Deutschland foi um braço forte no combate ao nazismo. Sua influência e suas ideias sobre a reconstrução da Alemanha após a queda do Terceiro Reich são importantes componentes que devem ser levados em conta quando se discute o tema. A luta pela identidade alemã não nazista nos ajuda a entender um pouco mais sobre este período e nos abre novas possibilidades de análise a respeito da atuação dos alemães durante os anos em que os nazistas estiveram no poder.
Germán Friedmann trás importantes informações sobre diferentes grupos opositores ao nazismo. O autor apresenta uma obra bem detalhada sobre as atividades desenvolvidas pela DAD e a participação de seus membros no contexto político e social da Argentina. No entanto, mesmo tendo o cuidado de apresentar ao final da obra uma breve biografia dos membros da DAD e ter escrito um livro bem fundamentado em termos de fontes o autor não informa onde estas fontes estão arquivadas. O material utilizado por ele é, em sua grande maioria, os boletins da Das Adere Deutschland e do periódico Argentinisches Tageblatt, porém não há nenhuma indicação feita por Friedman se este material pode ser encontrado nos arquivos do periódico Argentinisches Tageblatt ou em outra instituição, sendo este um dos principais cuidados que a profissão de historiador exige ter.
Apesar disso, a obra de Germán Friedmann é recomendada para os que têm interesse na temática sobre o anti-nazismo. Os debates desenvolvidos ao longo da obra oferecem boas reflexões a respeito do posicionamento adotado pelos alemães refugiados por motivos políticos ou raciais e como cada grupo se comporta diante da construção de uma nova identidade alemã em combate a Alemanha do Terceiro Reich.
Os crimes cometidos pelos nazistas além de provocarem estarrecimento à comunidade internacional também causaram um grande mal-estar entre os países no qual este regime esteve no poder ou obteve algum tipo de colaboração. As brutalidades do campo de guerra e o genocídio de milhares de pessoas é um tema que ainda causa desconforto entre os alemães. O peso sobre a responsabilidade do que aconteceu se transformou em um trauma que o tempo somente ajudou a intensificar. Talvez, a melhor maneira de superar esse trauma seja através do esclarecimento e da compreensão do que era o sistema político denominado de nacional-socialismo, assim como o contexto no qual ele foi implantado.
Desta forma, poderemos entender os diferentes posicionamentos dessa população diante do que estava acontecendo em seu país e não apenas focar a discussão naqueles que apoiaram direta ou indiretamente o regime nazista. E, sem dúvida a obra Alemanes antinazis en la argentina oferece uma discussão interessante sobre esta temática, assim como também permite-nos pensar a respeito do complexo conjunto de pessoas, grupos e movimentos que atuaram neste contexto.
Monica da Costa Santana – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Comparada Universidade Federal do Rio de Janeiro Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: monica.ifcs@gmail.com.
FRIEDMANN, Germán. Alemanes antinazis en la Argentina. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2010. Resenha de: SANTANA, Monica da Costa. Alemanes antinazis en la Argentina. Em Tempo de Histórias, Brasília, n.23, p.195-199, ago./dez., 2013. Acessar publicação original. [IF].