História e Gênero | Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade | 2019

Os artigos que compõem o Dossiê “História e Gênero” da Revista Cordis, n. 22 – publicação do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – têm como temática a questão de gênero, com artigos concebidos a partir de pressupostos teórico-metodológicos de diversos matizes. Nesta perspectiva, este número propõe a discussão que gênero é um conceito que aborda os múltiplos femininos e masculinos, sem práticas etnocêntricas.

O primeiro artigo, o segundo artigo e o terceiro artigos do Dossiê História e Gênero abordam mulheres em estratégias de luta e preservação da vida. O primeiro artigo, denominado “Descolonizando Currículo: educação antirracista com Carolina Maria de Jesus”, de Veruschka de Sales Azevedo, discute os desafios e o desenvolvimento das principais leis responsáveis pela descolonização no currículo no Brasil; leis que foram se desenvolvendo ao longo dos anos oitenta do século XX e início do século XXI, que se referem aos direitos e desafios presentes no campo educacional, a partir da obrigatoriedade do ensino de História da África e das culturas afro-brasileiras na escola. O texto apresenta um relato de prática descolonizadora com o livro “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus, na escola pública de São Paulo. Leia Mais

História e Cinema / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2015

Em seu número 15, a Revista Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, apresenta a temática História e Cinema, que conta com 10 artigos de pesquisas interdisciplinares, tanto de instituições universitárias brasileiras, como de renomados campos acadêmicos internacionais.

Os artigos do presente número abordam suas pesquisas na vertente de que o cinema é uma representação da realidade social. Nessa perspectiva, o cinema é uma linguagem constitutiva da tessitura social e apresenta, por meio de interpretações realizadas por pesquisadores, experiências do cotidiano vivido das cidades, capturando por meio de textos verbais e não-verbais, as tensões, conflitos e embates presentes nas sociedades contemporâneas.

O cinema deixa fluir em seus planos e ângulos de filmagem imaginação, medo, desejo, angústia, prazer, paixão e possibilita, assim, retratar as vozes de diferentes sujeitos sociais, ora rompendo e antagonizando-se com regras sociais, ora engendrando outras e, por vezes, criticando-as. Assim, a linguagem cinematográfica é o meio de autores de produções fílmicas traduzirem a realidade social ao seu modo, de acordo com suas intencionalidades e concepções políticas. Entretanto, toma-se como pressuposto que nenhuma linguagem é concebida como espelho da realidade, mas como expressões da cultura humana.

Os artigos do presente número estão conectados aos diversos aportes teórico-metodológicos com vistas a captar pistas, vestígios e sinais das culturas plasmadas nos filmes. Nesse sentido, os artigos transitam por diferentes matrizes analíticas, por campos epistemológicos de tradições diferenciadas, de modo a possibilitar que ocorra de fato a construção da interdisciplinaridade na abordagem da temática História e Cinema.

Os artigos de Ailton Costa e José D´Assunção Barros retratam, respectivamente, os “Brasis” de Graciliano Ramos e Nelson Pereira dos Santos e as concepções citadinas presentes nos filmes ficcionais no decorrer das primeiras sete décadas do século XX. É importante observar que ambas as análises colaboram com interpretações significativas sobre o cotidiano nas representações fílmicas sobre os modos de viver na cidade.

Há também artigos, como os de Lara Rodrigues Pereira e Yvone Dias Avelino, em co-autoria com Marcelo Flório, que refletem sobre o cinema como fonte histórica em suas análises das realidades sociais apresentadas pelos filmes, produzindo interpretações sobre as possibilidades e trajetórias do fazer cinematográfico em épocas diferenciadas.

Já o artigo de Alex Moreira Carvalho e Robson Jesus Rusche aborda a relação intrínseca entre cinema, vida cotidiana e mídia, de modo a produzir reflexões pertinentes sobre a temática, enquanto o artigo de Felipe Eugênio de Leão Esteves contribui ao enveredar pelos estudos da mestiçagem e o de Luiz Alberto Gottwald analisa, de modo contundente, as relações dialógicas entre cinema e natureza. Os três artigos em questão enfocam áreas importantes do saber: a mestiçagem, a mídia e a natureza nas representações cinematográficas.

O artigo de Valdeci da Silva Cunha e Matheus Machado Vaz analisa o cinema de Orson Welles sob o viés do cinema de autoria, produzindo uma interpretação fulcral sobre um modo de fazer fílmico que influenciou diversas escolas cinematográficas no ocidente.

Por fim, as contribuições internacionais de Federico Pablo Angelomé e Gilda Bevilacqua trazem significativas interpretações, realizadas na Universidad de Buenos Aires, de modo a contribuir com a interdisciplinaridade no campo da História e Cinema, efetivando o diálogo Brasil / Argentina.

Convido a todos a enveredarem por essa jornada de 10 artigos, que tanto enriquecem a trajetória interpretativa sobre o cinema como objeto de estudo, trazendo contribuições epistemológicas relevantes para o referido eixo temático.

Marcelo Flório


FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 15, jul. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História e Literatura / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2013

A Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade apresenta em seu número 10, a temática História e Literatura, que conta com 10 artigos de pesquisadores de instituições universitárias brasileiras e internacionais. Estas produções científicas trazem à tona a literatura como objeto de estudo para o historiador, partindo de concepções da área História Cultural, de que as obras literárias são consideradas como produtos culturais e representações a serem decodificadas e descontruídas para os resgates de suas singularidades, propriedades determinadas, especificidades e intencionalidades subjacentes.

O historiador, por meio da literatura como documento histórico, a partir de questões vivenciadas em seu presente, retorna ao passado e lhe faz perguntas que lhe pareçam apropriadas no diálogo com esta fonte documental. As indagações do historiador denotam a própria subjetividade do pesquisador, que está emaranhado no tecido das tramas de seu objeto de estudo. O pesquisador ao “fazer história”, tece sua narrativa histórica, imbuído do olhar de suas práticas sociais, de suas experiências vividas e, a partir de uma relação dialógica com seus pressupostos teórico-metodológicos, deve estar sempre aberto para que estas concepções sejam modificadas no contato com a pesquisa empírica.

Os artigos do número 10 da Revista Cordis demonstram que, para que a literatura se constitua como fonte de estudo e interpretação histórica, é importante o entendimento de que, em cada discurso literário, há autores / autoras que apresentam determinados projetos e visões de mundo, e que traduzem a realidade a seu modo, deixando aflorar intermitentemente imaginação, medos, desejos, angústias, aspirações, paixões, emoções, possibilitando atribuir “vozes” a diferentes sujeitos sociais, inclusive os marginalizados e oprimidos da vida cotidiana.

Os textos literários contribuem para o desvendamento de representações da realidade e, como linguagens constitutivas do tecido social, apresentam homens e mulheres de diferentes tempos e lugares, bem como suas experiências, e podem transmitir os testemunhos históricos de tensões sociais da realidade vivida. Ao mesmo tempo, difundem, por meio de códigos culturais da narrativa literária, perfis sociais e sexuais e influenciam nas maneiras de pensar, na construção de valores, sentimentos e padrões de comportamentos de uma sociedade.

Nesta perspectiva, os documentos literários não são concebidos pelos artigos como instrumentos refletores de verdades acabadas ou que espelhem uma realidade objetiva. O trabalho dos historiadores com as tramas literárias, neste eixo temático da Revista Cordis, temática História e Literatura, permite resgatar como uma determinada sociedade se constrói historicamente no cotidiano e como colabora na edificação de práticas e projetos, bem como de valores culturais. De acordo com o estudioso Nicolau Sevcenko, em sua importante obra Literatura como missão, o corpus documental literário pode veicular, também, projetos vencidos e, nesse sentido, veiculam as histórias que não ocorreram, as possibilidades que não vingaram e os planos que não se concretizam historicamente.[1]

Os artigos desta temática demonstram também, por meio do diálogo com diversas fontes documentais literárias, que estas devem ser interrogadas pelo historiador, de modo a considerar os “ditos” e “não ditos” em suas práticas discursivas. Para que os discursos dos “não ditos” venham à tona, é importante interpretar o que está implícito nas entrelinhas do documento histórico. Desse modo, o objetivo é fazer aflorar o conteúdo latente dos silêncios presentes nos textos literários.

É importante ressaltar que os “ditos” e “não ditos” dos discursos literários não são neutros ou imparciais, à medida que, devidamente descontruídos pela explicação histórica, podem ser desfiados e desvelados pelo historiador – tal qual faz um detetive – que vai à busca de indícios, pistas e sinais de registros das expressões humanas e de seus significados culturais.

Os artigos dos historiadores Yvone Dias Avelino, denominado A construção de uma realidade: cidade, história e literatura, e de Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Shara Jane Holanda Costa Adad, que tem como título Literatura e História: Manuel de Barros e Mia Couto como instrumentos poéticos para pensar o ofício do historiador, desenvolvem significativas reflexões sobre a literatura como fonte documental na oficina do historiador. Avelino desenvolve uma reflexão sobre as relações entre História e Literatura, ao enfatizar que a obra literária não deve ser concebida apenas como veículo de conteúdo, mas principalmente nos modos como a realidade é abordada, questionada e recriada. Já Brandim e Adad refletem sobre a literatura como instrumento para o ofício do historiador e como, por meio do estudo dos poetas Manoel de Barros e Mia Couto, a literatura possibilita uma reflexão sobre conceitos pertinentes ao universo do discurso histórico: real, imaginação, sentimento, arte e produção metafórica da linguagem.

Os textos acadêmicos – de Paulo Armando Cristelli Teixeira, intitulado Tolkien: uma voz dissonante em meio à modernidade inglesa; de Gabriela Fernandes de Siqueira, denominado O homem que pintava a cidade por meio das palavras: cenas urbanas natalenses construídas a partir das crônicas de Henrique Castriciano e de Fernanda Reis, que tem como título Expressões do moderno na cidade de Campo Grande no antigo Estado de Mato Grosso: a arte de Lídia Baís como fonte de pesquisa histórica – refletem sobre as representações urbanas veiculadas em obras literárias e demonstram como o estudo da literatura faz emergir os sentimentos e valores de sujeitos sociais que sentem a cidade, por meio de seus textos, de modo a registrar imagens sensoriais sobre o viver urbano.

Há também artigos que refletem sobre os poderes visíveis e invisíveis na vida cotidiana e na literatura, sobre as relações entre discursos literários, revolução, sexualidade e política, como também fazem análises interpretativas sobre as recepções de obras literárias. Estas são as preocupações problematizadas pelas pesquisadoras Graça Videira Lopes, no artigo Poderes visíveis e invisíveis na Sátira Medieval, Veronica Giordano na produção acadêmica Revolución, sexo y política en Brasil em los años setenta. Un análisis desde las notas sobre comida em la Revista Homem (Playboy) e pelo historiador Valdeci Rezende Borges, no artigo História e Literatura nas cartas de Franklin Távora a José Feliciano de Castilho sobre Iracema.

As abordagens, que entrecruzam o documento literário com a oralidade e com as imagens cinematográficas, apresentam instigantes reflexões de como a interpretação de obras literárias podem ser articuladas com outros suportes documentais. Os textos de Josi de Sousa Oliveira, Juliana Lopes Aragão, Laura Ribeiro da Silveira e Thiago Coelho Silveira, intitulado A arte do demônio? O cinema e os literatos em Teresina (PI) no início do século XX, e de José Edimar de Souza e Luciane Sgarbi Santos Grazziotin, denominado Um modo de ser professora primária: notas de trajetória docente de Telga Bohrer, demonstram que o entrecruzamento entre diversas tipologias documentais trilham o caminho da interdisciplinaridade, à medida que não têm como objetivo preencher lacunas do conhecimento histórico e, sim, resgatar o objeto de estudo para além das trincheiras e limites colocados pelas disciplinas acadêmicas.

Convidamos a todos a trilharem esta viagem pelos meandros poéticos e históricos das narrativas dos artigos do número 10 da Revista Cordis, que é o mesmo que traçar cartograficamente os registros dos mergulhos de pesquisadores e historiadores que, ao adentrarem a galáxia da literatura, se abrem para o estudo de caleidoscópios de interpretações e apontam para novas abordagens e desafios em torno das produções e narrativas históricas.

Nota

1. SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

São Paulo (SP), junho de 2013

Marcelo Flório

Nataniél Dal Moro

Editores Científicos


FLÓRIO, Marcelo; MORO, Nataniél Dal. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 10, jan. / jun., 2013. Acessar publicação original [DR]

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Cronistas, Escritores e Literatos / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2012

A Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, que é uma publicação do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sendo este vinculado ao Departamento de História e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Instituição, traz, no seu número 9, referente ao período de julho a dezembro de 2012, textos que abordam uma temática muito pertinente para o campo de estudo das Ciências Humanas e Sociais, em específico para a História e a historiografia escritas no Brasil, em particular as reflexões externadas a partir da década de 1980, tanto por historiadores de formação como por pesquisadores de outras áreas do saber. Qual seja o título deste número: Cronistas, Escritores e Literatos, que é composto por um conjunto de 11 produções. Integram também este número algumas merecidas homenagens à pessoa da saudosa Professora Maria Angélica Victoria Miguela Careaga Soler, cujas contribuições foram extremamente significativas à PUC-SP durante várias décadas de sua atuação humana e profissional nesta Instituição.

Na primeira parte, que homenageia a nossa querida Maria Angélica, temos 4 depoimentos, cada qual versando sobre alguns aspectos da vida e do modo de agir desta historiadora que marcou tão altivamente os caminhos de muitos de nós. No outro grupo, que aborda especificamente a temática Cronistas, Escritores e Literatos, há um conjunto de 11 produções científicas, sendo que este campo possui 9 artigos e 2 pesquisas que buscam, de formas muito particulares, problematizar determinadas atuações de alguns sujeitos, em diversas temporalidades e espaços, primando pelo trabalho com inúmeras fontes.

Iniciando o item Artigos, Elaine Pereira Rocha, por meio do escrito intitulado Estórias de indesejada sexualidade e de amor inimaginável: comparando romances no Brasil e África do Sul, realizou “um estudo sobre a construção das representações de raça e gênero em romances publicados no Brasil e na África do Sul na primeira metade do século XX”, discutindo “como questões relacionadas às políticas raciais e às práticas cotidianas de discriminação racial foram incorporadas e retratadas em romances, e como a sexualidade aparece racializada” em alguns escritos. Diego José Fernandes Freire, através do texto denominado Imagens da escrita, escrita das imagens: visualizações do engenho em Minha Formação (1900), ocupou-se da imagem que Joaquim Nabuco teceu, a partir de sua escrita do engenho Massangana, objetivando “analisar a representação visual da espacialidade banguê que se faz presente no livro Minha Formação.”

Eloísa Pereira Barroso, no escrito A alma encantadora das ruas do Rio de Janeiro, problematizou “as ideias que se constituem como matéria de linguagem da crônica de João do Rio”, sendo que o seu objetivo maior foi o de “extrair temas que aproximam o texto deste literato das grandes discussões da história cultural, na medida em que a vida urbana, além de tessitura literária, é tema de análise para as diversas questões que se colocam aos historiadores na modernidade.” Rafael Lima Alves de Souza, no artigo chamado Um e outro, nem um nem outro: Rio de Janeiro, tradição e modernismo na literatura de Marques Rebelo, problematizou e explorou “os limites da correlação entre tradição e modernidade na literatura de Marques Rebelo”, autor que, segundo ele, hoje é “pouco conhecido, mas que, por sua estreita relação com a cidade do Rio de Janeiro, foi considerado na década de 1930 por grande parcela dos críticos como legítimo representante de uma linha que remonta a Manoel Antonio de Almeida, passando por Machado de Assis e Lima Barreto.”

Fernanda Rodrigues Galve, em A dança no mar histórico das palavras poéticas: João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breynner Andresen (1933-1974), realizou “uma navegação no multiverso da vida e obra de João Cabral de Melo Neto e de Sophia de Mello Breynner Andresen, cujo ancoramento está na visibilidade do trabalho poético com a aproximação de seus significados e mediações no mar da história”, buscando “refletir como a capacidade da práxis artística comporta em si uma dimensão política e histórica.” Shirley Aparecida Gomide Cabral, no texto intitulado Uma cidade, dois olhares: Lisboa segundo Fernando Pessoa e José Saramago, “pelo viés da tradição das narrativas de viagem,” analisou “os diferentes olhares de dois autores consagrados da literatura portuguesa sobre a cidade de Lisboa.” Quais sejam: Fernando Pessoa e José Saramago. “Esses escritores, apesar de terem vivido em épocas e contextos diversos, escreveram obras que podem ser lidas como relatos de viajantes, tendo o amplo tema da viagem como força e motivação principal.”

As coautoras Larissa Silva Nascimento e Michelle Santos, no artigo denominado Imagens do Holocausto em Maus, de Art Spiegelman, e em Os emigrantes, de W. G. Sebald: o que os quadrinhos e a literatura nos ensinam sobre a realidade e a ficção, investigaram “a tradição imagética presente nas representações do Holocausto, procurando assinalar a problemática relação entre realidade e ficção nas obras Maus, escrita por Art Spiegelman, e Os emigrantes, de W. G. Sebald.” Márcia Maria de Medeiros, em A história da literatura e a compreensão dos meandros da sociedade inglesa da Baixa Idade Média, enfatizou que “Geofrey Chaucer é visto pelos intelectuais como um dos maiores escritores de língua inglesa de todos os tempos” e que “sua obra monumental, Os contos da Cantuária, externa a história de um grupo de peregrinos que vai de Londres até Cantuária visitar o túmulo de São Thomas Becket. No caminho, cada peregrino conta uma história, e no conjunto das mesmas desfilam muitos dos diferentes estilos literários da Idade Média, assim como no conjunto dos peregrinos, se retrata um cenário da sociedade inglesa do período em questão, a saber, os anos que compreendem os séculos XIV e XV.” Diante disso, a autora procurou destacar “um panorama da literatura inglesa até o aparecimento de Geoffrey Chaucer como expoente da mesma, retratando as principais características de sua obra maior e a articulação desta com o espaço histórico e social no qual o poeta estava contido.”

A última contribuição do item Artigos, de autoria de Vera Cecília Machline, chama-se A contribuição da narrativa The man in the Moone de Francis Godwin para cogitações seiscentistas sobre a Lua. Esse escrito reconstituiu “o contexto da narrativa de Francis Godwin, obra intitulada The man in the Moone, que estimulou novas cogitações seiscentistas sobre a Lua.” Conforme escreveu a autora, “essa obra foi originalmente publicada em 1638 e pertence a uma vertente literária de viagens imaginárias a orbes extraterrestres surgidas no início dos tempos modernos, que tem pontos em comum com o gênero inaugurado pela Utopia, cujo autor é Thomas More. Entretanto, a narrativa de Godwin influenciou especialmente outra linhagem da época, constituída por escritos cosmológicos argumentando que – tal como a Terra – a Lua e outros astros poderiam ser habitados.”

Finalizando esse número da Cordis, temos o item Pesquisas, no qual há dois escritos. Juliana Carneiro da Silva e sua orientadora de Iniciação Científica, Amnéris Ângela Maroni, no trabalho intitulado A literatura e o fora – perigosa (não-)relação: contestação, resistência e criação, dedicaram-se a analisar como a literatura, em particular por meio de romances ambientados sobretudo no Século das Luzes, transformaram a sociedade nas quais determinadas obras foram veiculadas. Maria Madalena Dib Mereb Greco e sua orientadora de graduação, Dolores Pereira Ribeiro Coutinho, no escrito chamado As mulheres e o discurso de submissão, ao trabalharem “com as relações entre homens e mulheres no século XIX e como s e construiu o conceito de família,” procuraram “recuperar as vozes ocultas, sobretudo das mulheres” que integravam o território do então sul da Província de Mato Grosso, utilizando-se, para tal, de “acordos e das convenções realizadas através de contratos de casamento, testamentos, destinação de dotes, contratos de arras e outros acertos cartoriais.”

A partir desse número, visando registrar academicamente e, não obstante, também notabilizar o trabalho realizado pelos pareceristas da Cordis, divulgamos especificamente a relação daqueles que, ao serem solicitados, enviaram-nos os seus pareceres a respeito da temática Cronistas, Escritores e Literatos. Somos gratos pelo empenho de todos os que prontamente colaboraram nesta empreitada. Temos ciência de que expressiva parte do que a Cordis representa, sendo um indicativo desta realidade a primeira “nota” obtida por este Periódico na mais recente avaliação realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), cuja divulgação ocorreu no primeiro semestre de 2012, na qual recebemos a classificação B3 para a área de História, deve- -se ao vosso inquestionável empenho. Dito isso, desejamos, agora, ótimas leituras e esperamos que individualmente e, mais ainda, no conjunto, este número da Cordis seja de grande valia à sociedade.

São Paulo (SP), dezembro de 2012

Marcelo Flório

Nataniél Dal Moro

Editores Científicos


FLÓRIO, Marcelo; MORO, Nataniél Dal. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 9, p. 1-5, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]

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História, Arte e Cidades / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2011

O número 6 da Revista Cordis: Revista de História Social da Cidade, tem como tema as relações entre História, Arte e Cidades. Os artigos da presente publicação visam registrar a historicidade de diversas experiências artísticas erigidas nas cidades, em que as vivências humanas são recuperadas a partir de estudos na área da cultura. E é por meio de textos, que dialogam com diferentes vertentes da Nova História Cultural, que é dada visibilidade aos símbolos, valores e comportamentos criados / recriados pelos sujeitos sociais em suas tramas na cidade. Nessa perspectiva, os escritos desatam alguns dos fios das tessituras sociais e expressam uma preocupação em incorporar homens e mulheres de múltiplas temporalidades nas cidades, deixando fluir suas sociabilidades, subjetividades, modos de vida, valores e sentimentos que são engendrados no conflituoso e tenso cotidiano da realidade social.

Os textos estão consubstanciados na noção de que documento é tudo o que registra a ação e a experiência humana. Essas reflexões apontam que os ecos das vozes dos sujeitos sociais emergem a partir de olhares, de interpretações históricas atentas às práticas presentes no cotidiano comum e que não estejam contempladas apenas em documentos textuais de arquivos oficiais. Dentro dessa dimensão de análise, os artigos estão coadunados com o que foi enfatizado pelo historiador francês Lucien Febvre, da “Escola dos Annales”, ao afirmar que todo documento ao exprimir o homem, seus gostos e sua maneira de ser é objeto da História.

O eixo temático História, Arte e Cidades parte do pressuposto teórico-metodológico de que a linguagem artística na cidade é fruto da ação de diferentes grupos sociais e que a cada dia inventam / reinventam suas cidades ideais e singulares. Os habitantes das cidades deixam cravadas as marcas de suas passagens no tempo-espaço, enquanto lugares de memória. Seguindo essa linha de raciocínio, os textos expressam o viver urbano por meio de uma diversidade de fontes documentais: literatura, escultura, biografia e logradouros públicos.

As pesquisas que se debruçam sobre a literatura como documento histórico apresentam análises que interrogam as representações produzidas por escritos sobre a sociedade em questão, de modo a apreender o imaginário dos autores e suas implicações político- -ideológicas. É o caso dos textos de “Sessão das Moças: sociabilidades por escrito”, de Alexandre Sardá Vieira; “Habitar o tempo: entre Recife, Barcelona e Sevilha de João Cabral de Melo Neto (1947- 1959)”, de Fernanda Rodrigues Galve e “Relações de gênero e situações de violência no romance O Cortiço, de Aloísio de Azevedo”, de Tânia Regina Zimmermann.

As narrativas que debatem as identidades dos sujeitos históricos e as relações entre história e memória são elaboradas pelos artigos: “O monumento e a cidade. A obra de Brecheret na dinâmica urbana”, de Irene Barbosa de Moura; “Como um canteiro de linguagens e identidades, de história e de arte do Cemitério Municipal São José, Ponta Grossa (PR)”, de Maristela Carneiro; “Praça Willie Davis – Londrina (PR): espaço como memória”, de Lorraine Oliveira Nunez e “Espaço urbano, supermercado de rede: aproximação e distanciamento”, de Desirée Blum Menezes Torres.

A abordagem que entrecruza História, arte e biografia é a de Eugênia Desirée Frota, no artigo “Linguagem e coerência na obra de Pasolini”, em que apresenta as bases político-sociais da obra poética, crítica e contundente, de Pasolini. E, há também o texto “A dança na Ribalta: o Cuballet em Goiânia (1995-2000)”, de Rejane Bonomi Schifino, que investiga as relações entre dança e cidade, a partir de uma perspectiva histórica.

Completam este número, os tópicos: entrevista, resenhas e pesquisas de graduação, que apresentam reflexões inseridas nos novos rumos da escrita historiográfica sobre a cidade.

São Paulo- SP, junho de 2011.

Yvone Dias Avelino (PUC-SP)

Marcelo Flório (Universidade Anhembi Morumbi)

Os Editores


AVELINO, Yvone Dias; FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 6, jan. / jun., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Irmã Leda / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2010

Dossiê é uma palavra de origem francesa que significa documento, documentação, ou relatório, sobre algo ou alguém. Nesta breve apresentação da Revista Cordis n. 5, jul. / dez. 2010, os nossos olhares se dirigem a uma pessoa importante nesta Instituição de Ensino Superior que é a PUC-SP: a Irmã Leda Maria Pereira Rodrigues, falecida em junho de 2010.

Foi ela a idealizadora e fundadora do Curso de Estudos Pós-Graduados em História, ainda nos anos 70. O presente dossiê é pequeno em relação ao muito que tal historiadora e freira da Congregação Agostiniana significou em vida.

Muitos desejaram escrever, poucos se atreveram, pois falar dela não é fácil. Figura dialética, que sabia ser doce e severa ao mesmo tempo, deixou saudades, exemplos e boas lembranças àqueles que com ela conviveram.

Seu falecimento foi deveras sentido, tanto no âmbito acadêmico, religioso e pessoal. Sua figura dinâmica e de vanguarda estará sempre guiando este Programa de Pós-Graduação, esta Universidade e sua Congregação.

O presente Dossiê traz uma resenha escrita pela Professora Doutora Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti – Conexões Históricas para Além de Uma Geografia Paulista: Educação, Gênero e Instituições –, onde analisa a Tese de Doutorado de Irmã Leda – A Instrução Feminina em São Paulo: Subsídios para uma História até a Proclamação da República.

Seus orientandos se fazem representar pelo Professor Doutor Marcelo Flório e pela Professora Doutora Maria de Lourdes Eleutério, em seus respectivos textos Aprendizagem com Afeto e Homenagem à Irmã Leda Maria Pereira Rodrigues.

O Professor Doutor Roberto Coelho Barreiro Filho foi seu amigo e companheiro de trabalho na Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP, e narra sua convivência com Irmã Leda no texto Irmã Leda: Um Personagem Histórico.

Suas colegas de trabalho no Programa de Estudos Pós-Graduados em História se fazem representar pelas Professoras Doutoras Estefânia Knotz Canguçu Fraga, Luciara Silveira de Aragão e Frota e Yvone Dias Avelino, respectivamente com os textos Homenagem à Irmã Leda, A Irmã Leda que Eu Conheci e Três Personagens em Uma Só: Mulher, Religiosa e Educadora – Irmã Leda Maria Pereira Rodrigues, onde relatam convivências, agradecimentos, vidas e histórias.

A Congregação das Irmãs Agostinianas também se manifestou, trazendo um olhar religioso nas qualidades de nossa homenageada, no texto Irmã Leda Pereira Rodrigues.

O Centro de Ex-Alunos da PUC-SP, órgão criado também por nossa homenageada, deixa aqui um tributo de saudades através da figura de Regina Oliveira, atual Coordenadora do Centro (http: / / www.pucsp.br / ex-alunos / saudades_irma_leda.html): “Neste momento de saudade, na união de nossas preces, nós do Centro de Ex-Alunos da PUC-SP, queremos prestar uma homenagem à querida irmã Leda, responsável pela criação de uma política de relacionamento diferenciada entre a PUC e seus ex-alunos. […] Estamos aqui, com irmã Leda para juntos a homenagearmos, unidos num sentimento de amor maior que une todas nossas memórias, toda nossa saudade em um só coração, em um só sentimento, no universo com Deus. Lembrando uma de suas máximas favoritas: ‘Concedei-me, Senhor, que eu em ti e tu em mim, possamos sempre permanecer assim […]’.”

Será sempre lembrada e jamais esquecida, como podemos observar nas homenagens aqui prestadas pelos que tiveram a honra de conviver com tão expressiva e singular pessoa.

São Paulo- SP, dezembro de

Yvone Dias Avelino – Professora Doutora

Marcelo Flório – Professor Doutor

Editores Científicos


AVELINO, Yvone Dias; FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 5, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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Cidade e Linguagens / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2008

A Revista Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade – é resultado do esforço e dedicação dos integrantes do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC), da PUC-SP. No decurso desses mais de 15 anos, o desejo de criar uma revista sempre esteve presente nas nossas discussões. Apenas agora vem a público este primeiro número, neste ano de 2008, onde grandes acontecimentos ocorreram nesta Universidade, nesta cidade, neste país e no mundo.

Como intelectuais que somos, e como historiadores que praticam a ciência do homem, não poderíamos deixar de recuperar algumas questões tão significativas dentro deste número “Cidade e Linguagens”. Gostaríamos de contemplar mais estudiosos desta temática, mas não deixaremos de fazê-lo nos períodos subseqüentes a esta primeira publicação.

A Universidade é o universo da diversidade e, para isso, a nossa proposta acompanha os ditames intelectuais desta prática. O NEHSC homenageia o Homem Cordial já apontado por Sérgio Buarque de Hollanda, além do percurso dos modernistas, que revolucionaram a cultura, caindo no movimento antropofágico, onde a Cidade e suas linguagens praticam a antropofagia social no cotidiano, particularmente na cidade de São Paulo, onde o humano se transformou no desumano, e onde as práticas éticas às vezes extrapolam os sentidos positivos que deveriam se manter.

Os artigos da temática “Cidade e Linguagens” enfocam os passos humanos na construção da cidade e buscam recuperar as singularidades inúmeras de suas caminhadas, como ressalta Michel de Certeau. Nessa perspectiva, os passos humanos constroem espaços, temporalidades e tecem os lugares, onde a metricidade dos sujeitos sociais produz a existência da cidade.

O NEHSC não se fecha na cidade de São Paulo, mas se amplia da Cidade Clássica à Contemporaneidade, onde seus integrantes têm dado contribuições excelentes para a Historiografia Contemporânea com seus trabalhos publicados, suas falas em palestras, e suas aulas metodicamente elaboradas, seja em São Paulo, Salvador, Fortaleza ou Burgos, onde temos desdobramentos e relações acadêmicas.

Os editores científicos e os conselhos editorial e consultivo se sentem honrados e felizes em apresentar neste número 1 pesquisas híbridas de cursos, profissionais, graduandos, pós-graduandos, etc. A diversidade é a competência da Universidade, e aqui se faz concreta.

São Paulo- SP, dezembro de 2008

Yvone Dias Avelino

Marcelo Flório

Editores Científicos


AVELINO, Yvone Dias; FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 1, jul. / dez., 2008. Acessar publicação original [DR]

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