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Diplomacia: acordos e tensões nos séculos XIX e XX / Faces de Clio / 2018
Com grande satisfação a Revista Faces de Clio, periódico discente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, publica, compondo de dez artigos, a sua 7ª edição, cujo dossiê temático é: Diplomacia: acordos e tensões nos séculos XIX e XX.
O principal objetivo desse dossiê é reunir trabalhos acadêmicos e contribuir para o debate historiográfico a respeito da diplomacia como instrumento da política externa, conduzida pelos Estados em prol de seus interesses. Em diferentes contextos históricos ocorreram acordos e tensões impulsionados pelo desejo de riqueza, força e poder. Torna-se primordial, portanto, pensar nas estratégias que envolveram os assuntos diplomáticos no passado, muitos dos quais significaram importantes transformações mundiais.
Desse modo, colaborando para o debate em torno da diplomacia e com a proposta de pensar as formas de atuação e aplicação das atividades desenvolvidas nessas relações externas, a presente publicação conta com quatro artigos de pesquisadores que trabalham com este tema a partir de lentes e recortes distintos. Dois deles tratam desses contextos no século XIX e os outros dois, tratam do século XX.
Abner Neemias da Cruz, doutorando em História na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, aborda em seu artigo as negociações e pactos entre o governo de Washington, sob a gestão de James Monroe e John Quincy Adams com o governo de D. Pedro I. Para isso, examina problemas pontuais envolvendo as relações entre Brasil e Estados Unidos entre os anos de 1822 e 1828, quando foi assinado o Tratado de Amizade e Comércio entre os dois países apresentados. Sua intenção é demonstrar um cenário envolvido por jogos diplomáticos complexos e multifacetados.
Neste contexto do Brasil no século XIX, contamos também com o artigo de Luan Mendes de Medeiros Siqueira, mestre pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, cujo objetivo central é realizar uma discussão das possibilidades diplomáticas e estratégias de paz entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata no conflito cisplatino. Para isso, aborda os diferentes discursos diplomáticos encabeçados por cada um dos governos sobre a província Cisplatina sobretudo a região do Rio da Prata, bem como as resoluções de fronteiras, uma das pautas diplomáticas centrais debatidas no desfecho da guerra.
Contribuindo com a compreensão da diplomacia brasileira no século XX, mais especificamente na década de 1920, Filipe Queiroz de Campos, mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, analisa as tensões diplomáticas entre o Brasil e os países latino-americanos na Liga das Nações, e explica como essas tensões influenciaram na política externa do governo de Artur Bernardes, cuja estratégia foi defender a candidatura brasileira como membro permanente do Conselho dessa organização internacional.
Ainda sobre o século XX, Augusto Lira, mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, reconstrói a trajetória do nutricionista escocês John Boyd Orr, a partir do ano de 1942, período em que ele esteve na América por ocasião dos debates acerca da criação do Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Este artigo se encaixa no dossiê a partir da história deste intelectual, que esclarece os arranjos de uma nova cultura alimentar em foros diplomáticos internacionais, sobretudo, situando a questão da fome, da saúde pública e da agricultura no epicentro de uma reorganização econômica pós-Segunda Guerra Mundial.
A presente edição também é composta de seis trabalhos relevantes que não são concernentes à temática do dossiê e que são classificados como artigos livres. Nessa seção, Valdinar da Silva Oliveira Filho, professor doutor na Universidade Estadual do Piauí (campus Poeta Torquato Neto), discute em seu artigo relações teóricas e metodológicas entre as interfaces da História e da Psicanálise sob a análise da invenção histórica do Nordeste e do nordestino. Analisa em sua narrativa a emergência histórica dos termos “Nordeste” e “nordestino”, da identidade e “cultura nordestina” a partir do encontro de uma identidade regional e uma identidade sexual. Discute, ademais, a masculinidade, a violência e o gênero como elementos constitutivos do que é ser homem dentro e fora da região.
Thársyla Glessa Lacerda da Cunha, doutoranda em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em seu texto, investiga o poder de atuação da imprensa no campo histórico, destacando sua relação na construção dos acontecimentos políticos. Neste caso, através da análise dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora, durante a crise no segundo governo de Getúlio Vargas, a autora discute de que modo os interesses disseminados na imprensa influenciaram os rumos políticos naquele momento, que teve como desfecho o suicídio do presidente em agosto de 1954.
A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina, Sílvia Correia de Freitas, trata, em seu trabalho, do processo de construção do “arquivo quilombola”. Ela desenvolve sua ideia a partir da noção de que o processo de transformação política das comunidades em remanescentes de quilombos produz um arquivo, o que significa a constituição do arquivo como gesto. Assim, toma o próprio processo de construção do arquivo como objeto a ser interpretado.
“Os moços da areia contra o Barão: conflitos políticos em Itapemirim no século XIX” de Laryssa da Silva Machado, mestranda do Programa da Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santos, aborda os conflitos políticos que aconteciam em Itapemirim, região sul da Província do Espírito Santo, durante a segunda metade do século XIX. Estuda os partidos locais e divergentes, Macucos e Arraias que eram alinhados, respectivamente, aos Conservadores e Liberais, cujos líderes estavam envolvidos em denúncias sobre tráfico de escravos na Corte.
Julia Maria Gonçalves, mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Estadual de Londrina, em seu artigo, a partir de análises em inventários post mortem, trata dos aspectos referentes às vestimentas e às aparências dos habitantes da Vila de Curitiba durante o século XVIII, buscando perceber a sua importância econômica e simbólica.
Por fim, o artigo intitulado “Estrangeiros no Maranhão: transição do regime de trabalho, a imigração e a tentativa de construção de uma sociedade eugênica em meados do XIX” da mestranda em História pela Universidade Federal de Goiás, Amanda Porto Ribeiro, traz uma nova perspectiva sobre a imigração, a substituição de mão de obra escrava e a “linha de cor”, dando destaque ao colonizado como sujeito ativo no processo de colonização em meados do XIX. Para isso, mostra como se desenvolveu, na esfera nacional e mais especificamente no Maranhão, a entrada de imigrantes estrangeiros e a substituição do trabalho escravo pelo livre, dentro do discurso elitista dominante da época, que enxergava na imigração a solução para a alegada “inaptidão” do nacional ao trabalho livre.
Cumprindo com a nossa função de oportunizar aos pesquisadores espaços para divulgação de trabalhos científicos de relevância para a área, publicamos, com grande honra, a 7º edição da Revista Faces de Clio, composta de artigos de mestrandos, mestres, doutorandos e doutores vinculados a instituições de qualidade de diversas regiões do Brasil. Este dossiê conta com uma pluralidade que nos propicia a diversidade do debate e nos permite propagar pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelo país, nos estados de Pernambuco, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
Agradecemos imensamente aos professores membros do conselho consultivo pela colaboração na avaliação especializada dos artigos, com críticas, sugestões e apontamentos construtivos que nos ajudam a consolidar e elevar a qualidade de nossa revista.
Agradecemos igualmente todo o esforço, dedicação e competência de nossa equipe editorial, que contribuiu para que esta edição fosse publicada. Agradecemos, também, aos autores pelo interesse e pela confiança.
Desejamos a todos uma excelente leitura.
Janeiro de 2018
Daniela de Miranda dos Santos
Flávia Salles Ferro
FERRO, Flavia Salles; SANTOS, Daniela de Miranda dos. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.4, n.7, jan / jun, 2018. Acessar publicação original [DR]
Transições políticas no Brasil / Faces de Clio / 2017
Diante do contexto de cortes de financiamento na área de educação e pesquisa que enfrentamos, pelo qual o governo federal é responsável, a Revista Faces de Clio, demonstrando resistência ao dar continuidade à divulgação da ciência, tem o prazer de publicar sua 6ª edição (jul-dez de 2017), cujo tema de dossiê é: “Transições políticas no Brasil”. A proposta é analisar diferentes regimes e sistemas de governo no que se refere ao processo de mudança entre eles. Além do fenômeno político, existe o interesse em pensar o social, refletindo sobre valores, expectativas, ideais de grupo em diferentes conjunturas, analisando suas adaptações. Por fim, convidamos a uma reflexão que relaciona a economia a esses movimentos políticos, bem como fenômenos e acontecimentos internacionais que influenciaram e contribuíram para crises e mudanças de regimes políticos.
Os textos recebidos evidenciam a riqueza de problemáticas que podem ser estudadas. O dossiê é composto por quatro artigos, cujos períodos históricos retratados vão desde a Monarquia até o Tempo Presente, perpassando pela República Oligárquica, ditaduras e democracia. São trabalhadas as tensões, rupturas e conciliações inerentes a contextos de transição política. As metodologias utilizadas para o estudo do político também são destaques nesta edição da Revista Faces de Clio: análise de discursos, de imprensa e de fotografias.
A edição conta, ainda, com seis artigos livres, cujos temas e recortes temporais são variados. É importante considerar que os autores são doutorandos, mestres e mestrandos, de diferentes instituições e estados brasileiros, contribuindo, dessa forma, para a diversidade na promoção do debate historiográfico e de áreas afins.
Principiando o dossiê temático, Andrielly Oliveira, mestre pela Universidade Federal do Mato Grosso e professora da Universidade Estadual de Mato Grosso, problematiza, em seu texto, as disputas de memórias e suas relações com o processo de superação dos eventos vividos durante a Ditadura Militar brasileira a partir da justiça de transição. Para esse estudo, a historiadora analisa discursos memorialísticos das Forças Armadas, especificamente no que diz respeito à lei de anistia, publicados na Revista do Clube Militar entre 1985 e 2010. Outro viés de análise sobre a Ditadura Militar brasileira foi realizado por Aryanny Silva, doutoranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. Ao contrário de Oliveira, que compreende o contexto de transição da Ditadura Militar para a Democracia, o trabalho de Silva tem seu recorte temporal entre 1960 e 1980, abrangendo, portanto, as mudanças ocorridas após o golpe de 1964, que encerrou a primeira experiência democrática brasileira e iniciou a Ditadura Militar. A partir de análises de fotografias que retratam a destruição da Igreja do Bom Senhor dos Martírios, realizadas pelo fotógrafo Alcir Lacerda, Silva discute os debates do cenário político ocorridos nessa época. Seu estudo demonstra o fotógrafo como sujeito histórico e testemunha ocular, e discute a fotografia como um exercício de documentar e rememorar.
Distanciando do contexto de democracias e Ditadura Militar, os outros dois artigos que fazem parte do dossiê temático retratam o contexto que encerra a Monarquia e inaugura a República brasileira. A doutoranda Marta Fittipaldi, estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora, em seu artigo “‘Adesistas’ e ‘históricos’: as disputas discursivas no processo de legitimação dos vários projetos republicanos”, analisa os termos “adesistas” e “históricos”, utilizados pela imprensa e em pronunciamentos parlamentares, no intuito de compreender como o uso dessas denominações se inseria em concorrências políticas em torno de projetos republicanos distintos. Ademais, relaciona a atuação de Antônio da Silva Jardim às disputas retóricas que se estenderam durante o primeiro decênio da República brasileira. Encerrando o dossiê temático, o trabalho de Bruna Santos, mestranda da Universidade Federal de Sergipe, discute o papel da imprensa sergipana, em especial o Diário Oficial do Estado, na formação da opinião pública da sociedade em favor do Estado Oligárquico, contribuindo, assim, para a consolidação da oligarquia naquela unidade federativa.
Os artigos livres possuem temáticas diversas. Luiz Henrique Giacomo, doutorando em História pela Universidade de São Paulo, desenvolve, por meio de análises de peças numismáticas, um interessante trabalho sobre a preocupação de Otaviano com esses objetos, no intuito de legitimar seu poder através desses artefatos. Giacomo compreende que essas peças serviram para difundir mensagens ao povo, geralmente de cunho cívico e político.
Retornando aos estudos sobre o Brasil, Pedro Henrique Ferreira Oliveira, também doutorando, estuda a História da Psiquiatria na Casa de Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz, instituto de excelência em História das Ciências e da Saúde. Seu artigo compreende as moléstias mentais nos periódicos médicos no Brasil a partir da chegada da Corte portuguesa. Ele analisa de que modo a criação de escolas de medicina, bem como da imprensa, contribuíram para a difusão do conhecimento médico e científico e para o monopólio do tratamento e da cura de doenças da população. Encerrando o contexto da monarquia brasileira e inaugurando a República, o trabalho de Bruno Mandelli, mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina, discute a representação do trabalho no início da industrialização do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, entre 1880 e 1900. A partir de análises de literaturas de viagem, Mandelli compreende que a ideologia do teuto-brasileiro defendia a superioridade do trabalho imigrante alemão em detrimento de outras etnias, buscando, assim, despertar o interesse pela emigração para o sul do Brasil.
Assim como Mandelli, Luis Francisco Abreu Alvarez (mestrando em Política Social pela Universidade Federal Fluminense) também estuda o Mundo do Trabalho, porém, sob outros vieses. Seu artigo é uma análise dos processos de precarização do trabalho no Brasil a partir de três de suas características específicas: contratação, jornada e remuneração. Seu recorte temporal contempla o período da promulgação da Constituição Federal de 1988 até o ano de 2015. Alvarez defende que as relações precárias no Brasil se institucionalizam mediante legislações específicas e contrariam as disposições gerais da Constituição e da Consolidação das Leis do Trabalho. Contudo, as leis que regem o trabalhador continuam sendo normas significativas na defesa de direitos trabalhistas e vínculos empregatícios estáveis.
Pedro Silva, mestre em História pela Universidade Federal Fluminense, em seu trabalho “Construindo um novo espaço urbano no Estado Novo: a participação das empreiteiras cariocas nas obras da gestão de Henrique Dodsworth (1937-1945)” estuda a gestão do prefeito do Rio de Janeiro ‒ Henrique Dodsworth ‒ no que se refere à realização de grandes intervenções urbanísticas como projeto de solução para os problemas urbanos da capital brasileira da época. Dessa forma, estuda as empresas cariocas de construção civil ao longo do Estado Novo, analisando o valor investido no programa municipal de obras públicas em cada ano e a divisão do faturamento total entre as empresas.
Encerrando a 6ª edição, o artigo de Lívia Rezende, doutoranda pela Universidade Federal de Juiz de Fora, pautando-se na metodologia da história oral, discute de que maneira a consulta e o convívio regular com os pretos-velhos por meio da religião e da religiosidade influenciam na construção das perspectivas, valores e expectativas dos consulentes, através da reelaboração da escravidão negra no Brasil.
Nosso muito obrigado aos pesquisadores que confiaram à revista a divulgação de seus trabalhos; aos professores colaboradores, que, através de análise minuciosa, contribuíram com seus pareceres aos artigos recebidos.
Agradecemos também à equipe multidisciplinar da Revista Faces de Clio, que, com dedicação, proporcionou a concretização desta edição.
Por fim, nossos sinceros reconhecimentos à Universidade Federal de Juiz de Fora, em especial ao Programa de Pós-Graduação em História, pelo espaço de atuação na promoção da ciência.
Desejamos uma excelente leitura!
Julho de 2017
Flavia Salles Ferro
Leonardo Bassoli Ângelo
FERRO, Flavia Salles; ÂNGELO, Leonardo Bassoli. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.3, n.6, jul / dez, 2017. Acessar publicação original [DR]