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Arte e Política: raça, gênero e nacionalidades | Faces de Clio | 2021
É com enorme satisfação que apresentamos a edição número treze da Revista Faces de Clio com o dossiê “Arte e Política: raça, gênero e nacionalidades”, contando com 12 artigos ligados à temática do dossiê e 5 artigos livres. Temos a proposta, nesta edição, de apresentar discussões que contribuam nas pesquisas e reflexões acerca da complexa e estreita relação da arte com a política. Novamente apresentamos pesquisas que se detém sobre os mais diferentes suportes, desde o videogame, a ópera e a literatura, passando pela performance, pela dança, arquitetura e pintura. No presente dossiê reunimos artigos ligados à temática da raça, do gênero e das nacionalidades, pensados todos, claro, através e, a partir, da arte!
Este é o terceiro volume da Revista Faces de Clio publicado durante a pandemia do coronavírus e gostaríamos de agradecer à equipe da Faces de Clio por todo empenho em continuar com as atividades da revista diante de um cenário desolador da pandemia e do desmonte da pesquisa e da ciência no Brasil. É na resistência que encontramos formas de continuar sobrevivendo e lutando por um país mais justo e igualitário. Agradecemos também aos pareceristas que contribuíram com a revista e nos ajudaram a manter a qualidade de nossa publicação. Leia Mais
Arte e política: Estado e nacionalismo / Faces de Clio / 2020
A Revista Faces de Clio, periódico discente ligado ao programa de pós graduação em história da Universidade Federal de Juiz de Fora, tem o prazer de apresentar a sua mais nova edição “Arte e política: Estado e nacionalismo”. Essa edição foi toda construída, desde a escolha do tema, o recebimento de artigos, avaliação dos textos até a diagramação dos arquivos, durante a pandemia do Coronavírus e a crise sanitária, política e social que estamos vivendo. Por esse motivo, reconhecemos e agradecemos o esforço de toda a nossa equipe e dos pareceristas que colaboraram para manter a qualidade da revista. Diante do complicado momento que enfrentamos, a Faces de Clio reforça o seu compromisso com a ciência e com a defesa da Universidade pública, ressaltando a importância de combatermos o negacionismo, o autoritarismo e as falsas notícias.
O presente dossiê apresenta vinte artigos que versam sobre o tema das relações e disputas entre a arte e política, com a temática mais ligada à utilização da arte pelo Estado e como instrumento de construção de nacionalismos. Partindo dos mais diferentes suportes artísticos, da música à história em quadrinhos, dos mais diversos espaços geográficos e períodos históricos, os textos apresentam grande contribuição historiográfica e cultural.
Abrimos a edição com o artigo do Álvaro Saluan da Cunha que busca apresentar alguns aspectos observados na coleção de gravuras e textos intitulada “Quadros historicos da guerra do Paraguay” e nas imagens e notícias da Guerra que circularam em periódicos como a Semana Illustrada e A Vida Fluminense, que foram úteis, não só para informar o povo da Corte, mas também para a consolidação da memória e do imaginário popular sobre o conflito.
Em seguida, ainda no campo da história militar, o artigo da Bárbara Tikami examina a relação entre a Marinha Brasileira e um determinado conjunto de quadros pintado por Eduardo de Martino, um oficial da Marinha Italiana que renunciou a sua carreira castrense para se dedicar a atividade artística após chegar a América do Sul.
Carlos Cesar de Lima Veras, em seu artigo, “Deus e o Diabo em Bacurau” tem por objetivo realizar uma análise acerca dos usos da história em duas produções cinematográficas brasileiras: Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de 1964 dirigido por Glauber Rocha, e Bacurau, filme de 2019 dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
Continuando com a leitura, Carlos Conte Neto realiza um relato da recepção de Uivo e de outros textos beats na sociedade norte-americana dos anos 50 e 60, em seguida, aponta indícios de como essa literatura reverberou em Portugal durante a ditadura do Estado Novo, onde também provocou reações adversas, mas inspirou poetas. O artigo tem o objetivo de evidenciar aproximações entre a poesia ginsberguiana e os textos de alguns poetas portugueses da segunda metade do século XX.
Deivid Fernando Franco, em seu artigo “Do desencanto a desilusão: Rock e política nos anos 80” discorre sobre a relação entre rock e política, por meio da análise de letras de músicas e de entrevistas cedidas por artistas às mídias da década de 80. Buscou-se perceber se existem posicionamentos políticos nesses discursos e como se deram as relações entre política e rock nos quadros da redemocratização brasileira.
Em “Tancredo em Charges: A representação do humor gráfico na redemocratização (1985)”, Fábio Donato analisa charges publicadas em um conjunto de periódicos durante o período de transição da ditadura civil-militar no Brasil, selecionando periódicos da chamada grande imprensa.
A pesquisadora Fernanda Arouca, se propõe a analisar os trabalhos dos caricaturistas Calixto e Storni, integrantes da revista O Malho, que tiveram como tema a Grande Guerra, e a identificar o discurso sobre o conflito veiculado em um contexto no qual a propaganda e a censura da imprensa foram determinantes para o desdobramento do conflito.
Continuando a leitura, o autor Fernando Cardoso, pretende articular a memória visual e a política cultural imbricadas no painel figurativo “Capela dos fundadores” do artista curitibano Sérgio Ferro, com o que Fraçois Hartog denomina de os sintomas presentistas: memória e patrimônio.
Em seguida, Indaiá Demarchi Klein, busca compreender a presença da obra O Lago dos Cisnes (1887), originaria do período czarista, durante o regime soviético até o seu uso em turnês internacionais, como propaganda ideológica.
Janine Figueiredo de Souza Justen em seu texto “Imagens como tomadas de posição: Uma análise da caricatura política na revista O Malho (1902-1906)” propõe-se investigar as relações editoriais, ideológicas e estilísticas estabelecidas entre as imagens publicadas n’O Malho e seus produtores no contexto do “Bota-Abaixo” (1902-1906).
Leandro Martan Bezerra Santos faz uma reflexão sobre disputas de poder, narrativa, espaço e proeminência no campo musical, a partir da análise das composições do cantor Belchior. Para isso relaciona os trabalhos de Belchior com outros artistas da Tropicália e Pessoal do Ceará, além de tratar sobre a relação deste com a indústria musical.
No artigo “Arte, política cultural e cooperação teuto-italiana no Rio de Janeiro da Era Vargas”, Liszt Neto tem como base os interesses e estratégias comuns utilizados pela política cultural alemã e italiana no Rio de Janeiro ao se estabelecerem nas Américas. A partir disso, o autor estuda como a colaboração no campo artístico e cultural teve influência direta nas atividades da Pro Arte, associação de artistas e amantes das artes alemãs no Brasil.
Já Luciana da Costa de Oliveira realiza um estudo sobre o artista Pedro Weingärtner (1853-1929), atentando-se principalmente as pinturas sobre os espaços da imigração no Rio Grande do Sul e as atividades dos gaúchos, procurando problematizar as indagações que estiveram no entorno da construção da pintura Rodeio, finalizada no ano de 1909 e produzida a partir de uma encomenda do governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Em “Napoleão como Filoctetes: Apropriação de um mito grego em uma caricatura antinapoleônica”, Mateus Dagios apresenta um caso de reapropriação do mito de Filoctetes na caricatura antinapoleônica, Nicolas Philoctète dans l’Îsle d’Elbe (1814-1815), que compôs um Napoleão ferido e abandonado, a partir da mistura da antiguidade, discurso nacional e caricatura.
O artigo escrito por Mikaela Moreno Vasconcelos Araujo, “Pintura Histórica na Amazônia: O vernissage de 1908 como Hauptmomente da história na Amazônia”, reflete sobre a Amazônia enquanto capital da borracha, na qualificação de uma Petit Paris. A autora destaca o projeto artístico-civilizador do intendente e mecenas que idealizara uma representação épica da história da nação, aos olhares pintores-historiadores da Europa do século XIX. A partir deste contexto, o artigo salienta a narrativa visual pintada por Theodoro Braga e Antônio Parreiras acerca da Amazônia.
Com intuito de analisar as representações do presidente Ronald Reagan (1911-2004) na história em quadrinhos “Batman, o Cavaleiro das Trevas” (1986), roteirizada por Frank Miller, Millena Barbosa de Carvalho, traz uma discussão sobre as possíveis relações entre este gênero textual e o contexto de sua produção, a década de 1980 nos Estados Unidos.
Em tempos de pandemia do vírus Covid 19, Pablo Lemos Lucena se propôs a pensar sobre as condições precárias dos entregadores que trabalham com aplicativos. O autor associa as imagens e vídeos feitas destes entregadores com autores como Achille Mbembe e Vladimir Safatle ou sobre arte política, arte como tomada de posição a exemplo de Georges DidiHuberman e Hall Foster, a fim estabelecer um diálogo sobre diversos aspectos, como o tempo, a impermanência, além das contradições e fraturas presentes em nossa sociedade.
A autora Paola Pascoal apresenta uma abordagem sobre a relação entre a criação de uma arte nacional e a própria formação da nação brasileira, a partir da análise da ressignificação dos resquícios da cerâmica arqueológica Marajoara, na primeira metade do século XX, que foram utilizados como fonte original da verdadeira arte brasileira.
A fim de realizar uma discussão sobre a consagração da baiana e dos balangandãs como um elemento da identidade nacional na Era Vargas, a autora Sura Souza Carmo faz uma análise das ações de fortalecimento do Estado, que na década de 1930, valorizaram as atividades artístico-culturais para reforçar o nacionalismo e unidade nacional.
No trabalho “Ingênua e frouxa substância humana: A Moreninha na encruzilhada entre Miroel Silveira e João Apolinário (1969)”, Thales Reis Alecrim, busca investigar o programa da peça A Moreninha, baseada no romance de Joaquim Manuel de Macedo (1844) e encenada em 1969, relacionando esta com uma crítica teatral escrita por João Apolinário, visto que este apresenta uma leitura diferente do romance.
Encerrando a sessão do dossiê temático, Wagner Pires da Silva, apresenta um diálogo com base na literatura, para mostrar como os russos se esforçaram na construção de uma Rússia comunista com melhor infraestrutura de ferrovias, estradas e fábricas, após a destruição destes, devido anos de conflitos.
A próxima edição da Revista Faces de Clio também terá o tema de Arte e Política. Felizmente recebemos muitos artigos de alta qualidade e resolvemos dividir a edição em duas partes, o segundo dossiê será lançado no início de 2021. Desejamos a todos e todas uma boa leitura e um 2021 mais leve e de muita luta!
Bárbara Ferreira Fernandes – Editora-chefe da Revista Faces de Clio, doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: barbaraffernandes@outlook.com
Carolina Martins Saporetti – Editora-chefe da Revista Faces de Clio, doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: carolinamartinssaporetti@gmail.com
FERNANDES, Bárbara Ferreira; SAPORETTI, Carolina Martins. Editorial Faces de Clio, Juiz de Fora, v.6, n.12, jul / dez, 2020. Acessar publicação original [DR]
Diálogos transatlânticos: relações e dinâmicas entre Portugal, África e América (séculos XVI e XIX) / Faces de Clio / 2020
A Revista Faces de Clio, periódico discente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com grande satisfação, publica a sua 11ª edição com o dossiê temático “Diálogos transatlânticos: relações e dinâmicas entre Portugal, África e América (séculos XVI e XIX)”. O presente número reúne 18 trabalhos: 15 artigos vinculados ao dossiê e três artigos livres.
Com um tema há muito explorado por grandes nomes da historiografia, o dossiê reúne novas contribuições teóricas e metodológicas acerca das relações que se desenvolveram e se dinamizaram nas e entre as margens atlânticas daqueles espaços que um dia fizeram parte o Império Português. Nesse sentido, os trabalhos aqui publicados em muito contribuem para a percepção das dinâmicas dos aparelhos político-administrativos, das economias, dos cotidianos, das relações entre os homens e das manifestações culturais concebidos pelos intercâmbios entre Portugal, África e América entre séculos XVII e XIX. Visando facilitar a difusão dos nossos artigos, com grande alegria comunicamos que a Revista Faces de Clio está, agora, integrada ao novo Portal de Periódicos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Com nosso novo site (OJS 3), passamos a administrar todo o fluxo editorial pela nova plataforma da revista, facilitando a comunicação entre autores, editores, pareceristas e leitores.
Abrimos esta edição com o artigo de Lucas Lixa Victor Neves “Um relato sobre a Restauração de 1640 no Rio de Janeiro: A importância da demonstração de lealdade à causa de d. João IV” partindo de uma discussão acerca do ambiente politicamente fragmentado no reino luso após o fim da União Ibérica (1580-1640), Lucas Neves reflete, por meio de um relato sobre a aclamação de D. João IV no Rio de Janeiro, sobre a importância de se propagandear méritos de determinados sujeitos em um momento de quebra de regime em Portugal.
Em seguida, no artigo “Entre mares e alteridades: Um mouro disfarçado nas galés portuguesas do seiscentos”, Thaís Tanure aborda a história do corsário muçulmano Amet e suas desventuras diante da Inquisição portuguesa em 1656. Tendo como fio condutor de sua pesquisa o processo inquisitorial de Amet, a autora o cruza com outras fontes documentais e conecta a história penal portuguesa à história do corso no Mediterrâneo, refletindo acerca das relações entre alteridade e Império.
Bento Machado Mota, no artigo “Ecos dissonantes no atlântico: fundamentos e limites do antiescravismo de Epifanio Moirans”, analisa as ideias antiescravistas de missionários capuchinhos em fins do século XVII a partir do livro La Justa defesa (1681), do capuchinho francês Epifanio Moirans. Trata-se de um registro incomum, no qual diversos argumentos contra a escravidão são abordados, por um lado, à luz de justificativas jurídicas relativas ao tráfico negreiro vindas de Roma e de teólogos europeus e, por outro, por meio dos relatos missionários católicos da América do sul.
Já no artigo “Cães danados, porcos vadios e formigas excomungadas: A convivência entre homens e animais à luz do direito do Antigo Regime”, Patrícia Ribeiro analisa um tema ainda pouco frequentado pela historiografia nacional, qual seja, os conflitos advindos das relações entre humanos e bichos no império português entre os séculos XVI e XIX. Trata-se de uma significativa contribuição aos estudos de Direito Animal, um trabalho original e de grande pertinência que, tendo como pano de fundo os vários dispositivos legais que se referiam a animais, preenche significativa lacuna de conhecimento neste campo.
Juntos, Diego de Cambraia Martins e Gustavo Meira Menino discutem sobre a circulação de pessoas e mercadorias nas rotas mercantis que convergiam para a Ilha da Madeira, na primeira metade do século XVIII. A partir de um estudo de caso que analisa a trajetória de um dos mais atuantes capitães de embarcação do período analisado, os autores demonstram a inserção desse espaço geográfico em relações diretas e indiretas com outras partes do mundo. A Ilha da Madeira, em uma perspectiva global, parte de “Uma Encruzilhada no Atlântico”.
O artigo de Fabricio Lamothe Vargas, que analisa e contextualiza a obra do português D. Luís da Cunha, “Instruções Políticas a Marco Antônio de Azevedo”, reflete também sobre a difícil situação de Portugal frente aos problemas enfrentados no final do século XVII e em inícios do século XVIII, tal como as tentativas do diplomata Luís da Cunha de encaminhar propostas para que tais entraves fossem superados. Nesse sentido, o autor destaca uma das principais e mais curiosas soluções inferidas português: a mudança da corte para a cidade do Rio de Janeiro e a tomada do título de imperador do Ocidente pelo rei D. João V.
Adentrando na primeira metade do século XIX, Luiz Gustavo Martins da Silva investiga aspectos da experiência política de exilados liberais na Europa e no Brasil que foram perseguidos pelo regime de D. Miguel entre os anos de 1826 e 1837, momento no qual se desencadeou também o maior exílio português do oitocentos. Busca-se, assim, abordar o exílio liberal português, o qual se direcionou para o Brasil, numa dinâmica transnacional e transatlântica.
Em “Às Margens do Império, por dentro dos sobados: Estratégias comerciais de sertanejos e centro-africanos no Planalto Central Angolano (décadas de 1840 a 1860)”, Ivan Sicca Gonçalves analisa, a partir dos relatos cotidianos de um comerciante residente em Angola, as mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorreram no interior do continente, na chamada zona atlântica, a partir de 1836. Ao apontar as estratégias adotadas por este sertanejo, o autor demonstra a atuação de diversos agentes que estavam envolvidos nessa rede comercial, cujo centro era o reino centro-africano do Bié.
Frederico Antonio Ferreira investiga o episódio de dois grupos de luso-brasileiros que migraram, com a ajuda do governo português, da cidade de Recife para a região de Namibe e Huíla em Angola, em 1849. Dentro do novo modelo colonial implantado pelo governo português na África, estabeleceram um sistema de cultivo de cana-de-açúcar baseado na grande propriedade e na força de trabalho escrava, conforme o existente no Brasil, evidenciando as interações existentes entre Brasil, África e Portugal na metade do século XIX.
Em seguida, já na segunda metade do oitocentos, Laryssa da Silva Machado e Lucas da Silva Machado abordam, através do caso de Itapemirim, Espírito Santo, a complexa rede de tráfico de escravos que se configurou na região Sudeste após a promulgação da Lei Eusébio de Queirós. As inúmeras denúncias e correspondências relacionadas ao desembarque de africanos no litoral sul capixaba após 1850, enviados principalmente para as fazendas de café em Cachoeiro do Itapemirim, Zona da Mata mineira e região ao norte do Rio de Janeiro, demonstram que o problema que preocupava as autoridades do Império perdurou durante toda a década de 1860.
No artigo “O sagrado, o profano e o enfermo: A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora”, Maciel Fonseca analisa o surgimento da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora na segunda metade do século XIX. Alicerçado em jornais de circulação da época, produções historiográficas locais e o uso do Estatuto e do Compromisso da recém-fundada instituição, o autor reflete sobre a dinâmica de funcionamento da associação cujo principal objetivo era socorrer os pobres e desvalidos na tentativa de aliviar a miséria humana.
A imigração portuguesa para o rio Madeira, no estado do Amazonas, entre 1840 e 1918, foi objeto de análise de Paula de Souza Rosa, doutoranda em Historia Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). No presente artigo, a partir da trajetória individual e coletiva de 91 sujeitos, a autora desvelou o perfil social dos imigrantes portugueses, as redes sociais que possibilitaram os múltiplos deslocamentos desses indivíduos, bem como os aspectos relativos ao papel desempenhado por eles em escala local e a nível global.
Tendo presente que o melhor antidoto contra a violência é a memória, e que a historiografia brasileira está recheada de silêncios, Bruno Zétola analisa a repercussão dos atos heroicos de Simão Salvador, um africano livre que na segunda metade do século XIX ganha as páginas dos principais jornais do país, e passa a ser reconhecido por associações civis e pelo próprio Imperador. O artigo, absolutamente instigante, resgata a história de um personagem pouco conhecido e estudado de nossa historiografia, e, com base em seus feitos, nos faz refletir sobre o lugar do negro no Império escravista brasileiro e as contradições de uma sociedade escravocrata que se vê obrigada a louvar um africano livre.
Ainda na segunda metade do século XIX, Cleudiza Fernandes de Souza apresenta-nos algumas reflexões acerca das possibilidades do cruzamento entre a História Atlântica e a historiografia de outros contextos, como o pós-abolição no Brasil, por exemplo. Assim, por intermédio de obras que tratam da questão das trocas atlânticas, comparações e seus desdobramentos, a autora discute sobre os desafios da contemporaneidade em unir estas duas abordagens historiográficas, os possíveis caminhos para o encontro das duas perspectivas e os ganhos advindos a partir desse cruzamento teórico.
Finalizando a sessão do dossiê temático, Leonardo Aboim Pires examina o impacto da Grande Depressão em Portugal num contexto de transição política entre a Ditadura Militar e o Estado Novo. Tendo o desemprego rural como objeto de estudo, o autor analisa este fenómeno de forma mais completa, refletindo sobre as circunstâncias em que ocorreu, suas consequências sociais, dinâmicas exógenas, mecanismos institucionais e de governação atuantes no período em análise.
Na sequência, a 11° edição da Revista Faces de Clio inicia a sessão de artigos livres com as contribuições do historiador Pablo Gatt, que, no contexto da antiguidade grecoromana, analisa a trajetória das representações acerca do corpo feminino, visto como herdeiro direto de Eva, cunhadas pelas filosofias pagãs, pelos discursos da Igreja cristã dos primeiros séculos, e dos discursos medievais, visto que o mesmo esteve dividido por uma linha bastante tênue.
Temática ainda pouco estudada na história da imprensa mineira, Michel Saldanha investiga a configuração político-doutrinária da imprensa periódica da província de Minas Gerais na década de 1860. Ao aprofundar a questão pesquisada com a utilização de fontes primárias, o autor verifica quais periódicos levantaram a bandeira dos partidos políticos de Minas Gerais, ou da Liga Progressista, e em quais ideias político-partidárias esses periódicos se apoiaram. Em síntese, compreende as principais tendências partidárias circuladas através dos periódicos na província mineira.
Encerramos esta edição com “Os bacharéis fardados: cor, meritocracia e mobilidade social na Escola Militar da Praia Vermelha (1870-1880)”, trabalho de Geisimara Soares Matos. Através de algumas trajetórias de ofício de militares, a autora analisa o discurso do mérito que foi praticado dentro da Escola Militar da Praia Vermelha. Ancorado a isso, o autor procura entender como a cor e a origem social dos alunos influenciava a prática do discurso da meritocracia na instituição.
Por fim, gostaríamos de agradecer aos membros(os) da equipe editorial, ao conselho consultivo, aos pareceristas e autores(as), que participaram ativamente da construção deste dossiê. Aos leitores, que prestigiarão o nosso trabalho, ressaltamos que a História se faz, cada vez mais, através de um exercício democrático e de cidadania, constituindo-se como palco profícuo para novos debates e aprendizado. Desta feita, esperamos que a edição da Revista Faces de Clio que por ora se apresenta possa ampliar os conhecimentos e instigar novas pesquisas históricas. Seremos resistência.
A todos, o desejo de uma excelente leitura!
BÔSCARO, Ana Paula Dutra; FERNANDES, Bárbara Ferreira. Editorial Faces de Clio, Juiz de Fora, v.6, n.11, jan / jun, 2020. Acessar publicação original [DR]
Catolicismo, poder e sociedade / Faces de Clio / 2019
Com muita satisfação, a Revista Faces de Clio lança o dossiê Catolicismo, poder e sociedade (Julho – Dezembro de 2019). O presente arquivo reúne artigos de historiadores e cientistas da religião sobre as relações do catolicismo para com as instituições políticas e sociais em diferentes contextos históricos, considerando não apenas os espaços oficiais ou teológicos da Igreja Católica, mas também as suas manifestações não oficiais ou populares.
Visando facilitar a difusão dos nossos artigos, damos início a uma nova fase da Revista, que agora se integra ao novo Portal de Periódicos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Com nosso novo site (OJS 3), teremos todo o fluxo editorial administrado na plataforma, facilitando a comunicação entre autores, editores, pareceristas e leitores.
Iniciamos este número com o artigo de João Antônio Fonseca Lacerda Lima, que analisa a importância das cerimônias católicas nos vários âmbitos dos bispados do Maranhão e do Pará, desde a sua instalação até o modo de seleção dos clérigos nas dioceses. Assim, mediante o estudo da “pompa e circunstância”, o autor demonstra o lugar da Igreja e dos eclesiásticos naquela sociedade.
Em seguida, temos o artigo de Júnior Cesar Pereira, “Lágrimas no púlpito A morte de D. Pedro III na parenética de Teodoro de Almeida”, que explora a relação entre a esfera do político e do religioso a partir da oratória sagrada, entendida com prática cultural. No texto, o autor procurou demonstrar como a morte de Dom Pedro III foi refletida no púlpito, a partir da análise de um sermão pregado pelo padre Teodoro de Almeida (1722-1804).
Nívea Mendonça, doutoranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense, analisa o processo de entrada de pessoas na Ordem Terceira do Carmo em Vila Rica e em Mariana. De acordo com a autora, tal processo era extremamente criterioso e, somente ao final de todas as etapas, os noviços eram reconhecidos como Irmãos Terceiros da Ordem do Carmo.
No artigo intitulado “A Igreja Católica e o Movimento de recatolização no início do século XX”, Allan Fernandes discorre sobre a Igreja Católica no contexto político das décadas de 1920 e 1930. No texto, o autor relaciona o movimento de Recatolização no Brasil, a crise dos anos 1920, a ascensão de Vargas ao poder com os Levantes comunistas de 1935.
O texto de Pedro J. Silva Reis, Mestre em história contemporânea pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa, retoma o debate em torno da problemática da observação do comportamento político dos católicos produzido no âmbito da historiografia francesa, confrontando e equacionando as vantagens e desvantagens do universo crente contemporâneo.
No artigo intitulado “O Social Catolicismo e a sua atuação no meio rural na segunda metade do século XX no Brasil”, Nilmar Carvalho analisa a atuação da Igreja Católica no meio rural brasileiro, na segunda metade do século XX, sobretudo em relação à reforma agrária. A pesquisa está circunscrita aos eventos que ocorreram entre os anos de 1950 e 1964 e analisa os documentos eclesiais e bibliografias sobre o assunto.
Leiliane Louise Lucena da Costa, por sua vez, investiga por meio de cartas e rabiscos deixados por suicidas nos processos policiais de 1920 e 1952, a busca pelo perdão do pecado cometido contra si mesmo. O suicídio, tema tabu e hodierno para sociedade, é trabalhado na perspectiva da Igreja Católica, que com o desenvolvimento da medicina e áreas afins, fez rever algumas de suas doutrinas e passou a permitir o cumprimento de todos os rituais necessários para encomendar o enterro destes sujeitos.
Ainda no século XX, o artigo “Orientando o voto católico sul-rio-grandense: a LEC (Liga Eleitoral Católica) e a propaganda político-partidária veiculada na imprensa escrita em 1950” tem como objetivo compreender a influência da Igreja Católica por meio dos ditames apregoados pela Liga Eleitoral Católicos (LEC) na propaganda político-partidária do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) veiculada nos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias.
Finalizando a sessão do dossiê temático, trazemos o artigo de Rita Suriani Lamas, que apresenta uma revisão bibliográfica sobre a atuação da Igreja Católica durante o governo ditatorial militar brasileiro, entre as décadas de 1960 e 1980. Ao longo do texto, a autora analisa documentos oficiais emitidos por órgãos ligados à Igreja, examinando as transformações ocorridas no clero brasileiro relativas às posturas adotadas frente às ações dos militares no poder.
Quanto aos artigos livres, iniciaremos com as contribuições do historiador Aguiomar Rodrigues Bruno, que no artigo intitulado “Por tudo que é vivo morre: a morte negra numa freguesia do Recôncavo da Guanabara, Rio de Janeiro (Séc. XVIII)”, o autor analisou as representações e as práticas do bem morrer católico entre os indivíduos forros da freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, no Recôncavo da Guanabara, ao longo do século XVIII.
Adentrando na segunda metade do século XIX e início do século XX, o Professor Doutor Antônio Gasparetto Junior explora as manifestações culturais da comunidade germânica em Juiz de Fora, município que recebeu elevado número de imigrantes alemães e em muito se destacou pelas manifestações culturais e profissionais que os mesmos empreenderam na cidade. Por meio de fontes provenientes de suas antigas associações, o autor avalia a relevância que elas tiveram para a proteção dos germanos na região.
Finalizando os artigos da revista, Geovano Chaves, professor de história do IFMS, apresenta o artigo intitulado “O cinema polonês nos trilhos da História: As 200 crianças do Doutor Korczac de Andrej Wajda”. Ao longo do texto, o autor analisa as afinidades entre política e religião através do cinema, refletindo sobre os aspectos do antissemitismo no território polonês. No artigo, o autor analisa o filme “As 200 crianças do Doutor Korczac” com o objetivo de exemplificar alguns “trilhos” da história da Polônia.
Agradecemos a todos(as) membros da equipe editorial, ao conselho consultivo, aos pareceristas, aos autores(as), que participaram ativamente da construção deste dossiê, e aos leitores que prestigiarão o nosso trabalho.
Ana Paula Dutra Bôscaro – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: anapaulaboscaro@gmail.com
Bárbara Ferreira Fernandes – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: barbaraffernandes@outlook.com
Jorge William Falcão Junior – Doutorando em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williamfalcaojr@gmail.com
BÔSCARO, Ana Paula Dutra; FERNANDES, Bárbara Ferreira; FALCÃO JUNIOR, Jorge William. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.5, n.10, jul / dez, 2019. Acessar publicação original [DR]
Múltiplos olhares sobre política e religião / Faces de Clio / 2019
Com muita satisfação, a Revista Faces de Clio lança o dossiê Múltiplos olhares sobre política e religião (Janeiro – Junho de 2019). O arquivo é composto de trabalhos que observam os limites entre os espaços públicos e privados, assim como as fronteiras entre as experiências religiosas e as atuações políticas. Contamos, nesta edição, com artigos que transitam sobre diversos períodos da história, desde a “Grécia antiga” ao Brasil contemporâneo.
Visando facilitar a difusão dos nossos artigos, damos início à uma nova fase da Revista, que agora se integra ao novo Portal de Periódicos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Com nosso novo site (OJS 3), teremos todo o fluxo editorial administrado na plataforma, facilitando a comunicação entre autores, editores, pareceristas e leitores.
Iniciamos este número com um artigo de Thales Moreira Maia Silva, no qual a semântica do conceito de “experiência religiosa” é explorada a partir de fontes da Grécia antiga e de um diálogo com a historiografia. O fio condutor do trabalho é a relação com o contexto político das “religiões de mistério” helenísticas.
Ainda sobre História Antiga, Eduardo Belleza traz a sua contribuição com o artigo “Os Césares” de Juliano como construção de uma propaganda política. Recorrendo à sátira intitulada “Os Césares”, demonstra as tentativas do imperador Juliano (361 – 363 d.C.) para difundir uma propaganda política e religiosa no intuito de promover a sua imagem e reestabelecer os antigos cultos romanos em oposição ao avanço do cristianismo.
No artigo O príncipe indômito: uma análise das políticas praticadas nas vidas de São Hermenegildo para a construção hagiográfica do príncipe mártir visigodo, a historiadora Luanna Klíscia explora as implicações políticas das vidas do príncipe visigodo São Hermenegildo (564 – 585 d.C., considerado mártir da Igreja espanhola), sobretudo na disputa contra o rei Leovigildo (seu pai, que adotava em seu reino uma perspectiva ariana do cristianismo).
Recorrendo como fonte aos jornais A República e O Apologista Christão Brasileiro, o historiador João Gabriel Moraes de Souza trata das tensões presentes no processo de laicização da República Federativa do Brasil a partir da polêmica em torno ao casamento civil no Belém do Pará. A problemática envolve o missionário metodista Justus Nelson, os católicos e os republicanos entre os anos de 1890 e 1893.
Nilciana Alves explora o olhar de Emma Goldman sobre o puritanismo, sobretudo no que se refere às relações estabelecidas entre mulher, política e religião. Para tanto, a autora, além de explorar o artigo “The Hypocrisy of Puritanism” (1910), analisa os livros “La palavra como arma”, “O indivíduo, a sociedade e o Estado, e outros ensaios” e “Vivendo minha Vida”.
Karina Fonsceca Soares Rezende apresenta uma reflexão histórica acerca da teologia política que orientou Dietrich Bonhoeffer (teólogo conhecido por sua atuação contra o nazismo), tendo como fio condutor a análise do conceito de “comunhão”, dado sua importância para a articulação de uma ideia de responsabilidade cristã em relação aos problemas de ordem pública. Além disso, a historiadora traça um paralelo entre o referido termo e o conceito de “amizade política”, desenvolvido por Hanna Arendt no livro “As origens do totalitarismo”e as ideias de Bonhoeffer.
Em relação ao envolvimento dos evangélicos na política, o historiador Vinícius Rodrigues Dias propõe uma análise das eleições para deputados estaduais de Rondônia em 1982, as primeiras depois da criação do Estado, com ênfase nas trajetórias de Amizael Silva do PDS e de Sadraque Muniz filiado do PMDB. Para isso, o estudioso recorre à fontes orais, jornais e cartas.
Adentrando no século XXI, Aline Beatriz Coutinho investiga as disputas em torno à questão do aborto na Câmara dos Deputados por parte dos movimentos feministas, dos deputados federais pentecostais e do poder executivo. Coutinho explora o impacto da temática a partir das eleições de 2014 e observa em que medida a discussão é pautada no âmbito da moralidade e da religião e no contexto da saúde pública.
Sobre os eventos políticos recentes da História do Brasil, o prof. Dr. Emanuel Freitas da Silva (Universidade Estadual do Ceará) aborta as tensões entre os parlamentares evangélicos o governo de Dilma Rousseff. Além de discutir o conceito de modernidade e secularização aplicados aos eventos recentes da história política do Brasil, o sociólogo apresenta brevemente a constituição da bancada evangélica desde 1988 ao governo Dilma. Por fim, expõe sete cenas, como o debate sobre o conceito de família, que marcaram os debates entre o governo e a bancada evangélica.
O historiador Marcelo Noriega reflete acerca dos desafios no Ensino de História no combate à intolerância religiosa. Pautado na abordagem da Educação Histórica, tendo como fundamento às contribuições da Jorn Rusen, o autor demonstra a importância de desenvolvermos, além dos aspectos cognitivos, as capacidades dos estudantes se posicionarem como cidadãos autônomos aptos a conviverem numa sociedade plural.
Enceramos esta edição com uma resenha produzida por Edson Silva de Lima sobre o livro Bram Stoker e a Questão Racial. Literatura de horror e degenerescência no final do século XIX.
Agradecemos a todos (as) membros da equipe editorial, ao conselho consultivo, aos pareceristas, aos autores(as), que participaram ativamente da construção deste dossiê, e aos leitores que prestigiarão o nosso trabalho.
Ana Paula Dutra Bôscaro – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: anapaulaboscaro@gmail.com
Bárbara Ferreira Fernandes – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: barbaraffernandes@outlook.com
Jorge William Falcão Junior – Doutorando em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williamfalcaojr@gmail.com
BÔSCARO, Ana Paula Dutra; FERNANDES, Bárbara Ferreira; FALCÃO JUNIOR, Jorge William. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.5, n.9, jan / jun, 2019. Acessar publicação original [DR]