Formação de professores: entre a pandemia e a esperança | Simone Albuquerque da Rocha

Professores homens na Educacao Infantil Imagem TV PUC Rio
Professores homens na Educação Infantil| Imagem: TV PUC-Rio

Em tempos pandêmicos, quando o TIC-TAC do relógio badala em um outro ritmo totalmente diferente e a perplexidade parece tomar conta de todos os segundos, impedindo-os de seguir sua trajetória sucessiva de uma maneira habitual, visto que, diante da insegurança e incerteza o tempo parece infligir uma sensação de tortura, enquanto segue seu caminho infindo de minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, demonstrando que o tempo pode ser dividido para facilitar a contagem de sua passagem, mas ele nunca é o mesmo para cada um de nós.

A condição sanitária fez emergir uma série de sensações, colocando a raça humana diante de sua mortalidade e finitude, ao mesmo tempo em que aflorou a necessidade de discernimento, reflexão e empatia. A consciência chama a atenção para a urgência de toda a sociedade ponderar e estabelecer análises críticas sobre as atitudes pessoais e coletivas, de modo que seja possível pensar novas formas de agir, conviver e sobreviver, diante da impossibilidade de manter o mundo tal qual o conhecíamos até então. Leia Mais

Porto de Esperança: A emigração do Porto para o Brasil entre o final da Primeira Guerra Mundial e a Crise Capitalista de 1929 | Diogo Ferreira

Detalhe de capa de A Junta da Emigracao
Detalhe de capa de A Junta da Emigração: Os discursos sobre a emigração e os emigrantes no Estado Novo do Pós-Guerra (1947-1970), de Marina Simões Galvanese (2013)

Diogo Teixeira Guedes Ferreira possui licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada do Porto. Em 2011 concluiu o Doutorado em História Política Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, como tema “A Emigração a partir do Distrito do Porto para o Brasil: do final da Primeira Guerra Mundial à Grande Crise Capitalista (1918-1931)” sob orientação de Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. Atualmente é investigador do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE). Em suas obras aborda as relações entre Brasil e Portugal, como em “As Relações Portugal-Brasil e a emigração portuguesa. O impacto da legislação nacionalista de Getúlio Vargas” (2017), Além de analisar aspectos do governo português, através das obras: “Os Presidentes do Parlamento Português – III República (1974-2015)”, “Há Cem Anos – A República, Vitorino Magalhães Godinho (2018)”; “A Associação de Futebol do Porto. Uma Instituição Centenária (2018)”; “O noticiário internacional no jornal oficial do Estado português (1715- 1716 e 1868) – uma fonte para a História das Relações Internacionais” (2019).

Analisando a estrutura do livro a ser resenhado, se trata de uma obra da CEPESE, que tem como objetivo publicar pesquisas acerca da presença dos portugueses na Europa. A obra é composta por Resumo, Introdução e mais Cinco Capítulos. Desta forma, o livro a ser analisado trata-se da tese de Doutorado de Diogo Ferreira defendida no ano de 2011. Leia Mais

Mulheres empilhadas | Patrícia Melo

Patricia Melo Imagem Agenda BH
Patrícia Melo | Imagem: Agenda BH

A imaginação como dinamismo criador é a rejeição da tirania da forma fixa que parece se oferecer à percepção. As imagens dinâmicas não só formam, mas, sobretudo, deformam, transformam, ampliam e aprofundam a chamada realidade. É a imaginação, poder maior da natureza humana, que não só inventa coisas, mas, principalmente, inventa caminhos novos.

(Norma Telles, 2010, p. 2) Há exatamente 15 anos, no mês de agosto de 2006, foi sancionada a lei responsável por prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher no Brasil. Fruto da luta contra as violências experienciadas por mulheres e com o apoio de órgãos internacionais, o gênero foi reconhecido como um marcador fundamental de opressões sistematizadas e invisibilizadas pelo Estado, que se ausentava diante da necessidade de medidas legais, ações efetivas e reconhecimento dos agressores.1 A resistência se deu através de vozes e atuações femininas que, organizadas em coletivos feministas, centros de advocacia e assessoria jurídica, possibilitaram a aprovação da lei e continuam zelando por ela. Inspirado nesse contexto real, o romance ficcional Mulheres Empilhadas da premiada autora brasileira Patrícia Melo, nasce em 2019 como um alerta da importância de estarmos atentas ao crime que continua nos tirando a vida. Leia Mais

A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero | Oyèrónke Oyëwümí

Oyeronke´ Oyewumi Imagem Facebook
Oyèrónkẹ´ Oyěwùmí | Imagem: Facebook

A obra “A invenção das mulheres – Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero” foi publicada no Brasil pela Editora Bazar do Tempo no primeiro semestre de 2021. Tal publicação é derivada de seu original em inglês “The Invention of Women: Making an African Sense of Western Gender Discourse” (1997) sob autoria da professora e socióloga nigeriana de origem iorubá, Oyèrónkẹ´ Oyěwùmí. A autora busca compreender a maneira pela qual o gênero foi construído na sociedade iorubá, levando em consideração toda a interferência ocidental nas produções de conhecimento africanas sob histórico de dominação europeia naquele continente, investigando principalmente o contexto da pré-colonização na iorubalândia.

Um dos apontamentos da autora em relação aos Estudos Africanos foi a de que diversos esquemas, teorias e conhecimentos acadêmicos de origem ocidental foram apropriados e utilizados como maneira de compreender o continente africano. Tais compreensões foram comumente impostas pelo domínio estrangeiro (nos processos colonizatórios e tráficos escravagistas do atlântico, por exemplo) às sociedades africanas. Leia Mais

Erotismo no cinema brasileiro: a pornochanchada em perspectiva histórica | Jairo Carvalho do Nascimento

Erotismo no cinema brasileiro: a pornochanchada em perspectiva histórica (2013), publicado pela Editora CRV, é de autoria do Prof. Dr., em História Social, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jairo Carvalho do Nascimento – o historiador também possui outros livros, como: José Calasans e Canudos: a história reconstruída (2008) [resultado de sua dissertação de Mestrado Acadêmico, defendida no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), da UFBA, sob orientação da Profª. Drª. Lina Maria Brandão Aras, em 2004] -, sendo fruto, parcial, de sua tese de doutoramento, Erotismo e relações raciais no cinema brasileiro: a pornochanchada em perspectiva histórica, defendida em 2015, sob orientação do Prof. Dr. Milton Araújo Moura, no PPGH/FFCH/UFBA.

O exercício proposto para esta resenha crítica é questionar qual é a possível tese arquitetada no livro; e, para isso, acredito que o primeiro aspecto a ser avaliado por nós, leitor, é: o que implica, estruturalmente, o termo “relações raciais” não estar presente no título da publicação? Leia Mais

Necropolítica: Biopoder, Soberania, Estado de Exceção, Política da Morte | Achille Mbembe

Achille Mbembe é um intelectual multifacetado no melhor sentido que se pode atribuir a este termo; possui uma formação ampla na área das humanidades, atuação em diversas instituições qualificadas e produções largamente difundidas, inclusive no Brasil. Camaronês, nascido em 1957, testemunhou o processo de descolonização de seu país – uma guerra sangrenta equivalente ao processo argelino e com estimativas de 60 mil vidas perdidas – e, com formações entre graduações e pós graduações em História, Ciências Políticas e Filosofia, tem manifestado interesse nos temas de Filosofia Política abordando questões da África contemporânea descolonizada. Mbembe tem atuações profissionais nas universidades norte-americanas de Duke, Harvard, Columbia, Yale e na Universidade Witwatersrand em Joanesburgo na África do Sul.

O livro alvo desta resenha chama-se Necropolítica: Biopoder, Soberania, Estado de exceção, política da morte publicado pela primeira vez na França em 2003, mas que possuiu edição brasileira só em 2018. Trata-se de um pequeno ensaio de cerca de 70 páginas na edição brasileira nas quais o autor irá desenvolver o seu conceito de necropolítica. Embora seja um texto curto, o leitor deve preparar-se para refletir sobre questões densas acerca de perspectivas de autores chaves para Mbembe e de abordagens de difícil digestão, porem necessárias, em relação aos pesados temas apresentados no texto. Leia Mais

21 lições para o século 21 | Yuval Noah Harari

Yuval Noah Harari é um historiador pop. Pop no sentido de estar nas grandes mídias, fazer TED1 , professor acadêmico, militante em causas no movimento LBTQIA+ ele é autor dos best sellers (mais vendidos) ‘Sapiens, uma breve história da humanidade’ (2011), ‘Homo Deus’ (2015) e do objeto desta resenha 21 lições para o século 21 publicada em 2018 e agora em 2020, um livro sobre pandemia, entre outros livros. Professor acadêmico de história da Universidade Hebraica de Jerusalém, com Doutorado em Oxford e milhões de livros vendidos no Brasil, pela editora Companhia das Letras.

Em ‘Homo Sapiens’ ele estabelece uma análise onde a relação história e biologia e mostra o desenvolvimento de como nos tornamos a espécie dominante. Ele narra e interpreta a história do homem a partir de três grandes revoluções: a cognitiva; enquanto uma mudança no processamento mental do Homo Sapiens, abandonando a determinação biológica criando ficções, culminando no seu deslocamento geográfico. Ela acontece em vários aspectos, que estão ligados a ficcionalização e através dela se cria jeitos de cooperação e cria-se realidades imaginadas, como se estabelecem relações de hierarquia, organizações civilizacionais e institucional. A segunda é da agricultura: para o Harari tem-se um aumento de disputas por poder, espaço, território e acúmulos de comidas. A última é a cientifica: quanto mais nós conhecemos e descobrimos, mais sabemos que somos insignificantes diante do universo. Leia Mais

Nazareno Confaloni: arte & modernidade como experiência religiosa | Jacqueline Vigário

É preciso aproximar o artista da realidade vivida pelo povo, caso contrário, o artista viverá desambientado e incompreendido.

Frei Nazareno Confaloni

As produções acadêmicas pela lente da História Cultural têm muitos exemplos interessantes de reflexões historiográficas a partir das imagens, e a obra Nazareno Confaloni. Arte & Modernidade como experiência religiosa é um dos mais recentes deles. Vencedora do prêmio Sandra Jatahy Pesavento do ano de 2018, trata-se da tese de doutorado de Jacqueline Siqueira Vigário, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás em 2017, que acaba de ser publicada pela Edições Verona e discute a modernidade em Goiás a partir da vida e da obra do frei dominicano e artista plástico italiano, Nazareno Confaloni.

Ao longo de seu texto, Vigário nos leva pelos meandros da construção da modernidade em Goiás ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, a partir das bases, especialmente, da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA) e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), na esteira da transferência da capital goiana da cidade de Goiás para Goiânia por Pedro Ludovico Teixeira na década de 1940, sob as bênçãos do Estado Novo. As reformulações culturais do regime de Vargas são a base para o IHGG, que legitima culturalmente o Estado de Goiás em relação ao resto do Brasil, constituindo-se, segundo a autora, em uma instituição legítima no exercício de promoção dos projetos políticos de modernização e construção do imaginário de modernidade para Goiás (VIGÁRIO, 2021, p. 278). Leia Mais

Maria Antônia, um retrato além da moldura | Fernando Santos da Silva

Perseguir os significados que a Rua Maria Antônia, no distrito da Consolação, adquiriu na vida urbana da cidade de São Paulo desde a sua origem é o principal objetivo do livro Maria Antônia, um retrato além da moldura, de Fernando Santos da Silva (2019). Trata-se de uma produção fruto da pesquisa desenvolvida pelo autor para seu mestrado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e que, transformada em livro, foi publicada em 2019 pela editora Appris.

Já na Introdução, o autor convoca o leitor a pensar sobre a possibilidade de a Rua Maria Antônia ser considerada um lugar de memória. Isso posto, formula a hipótese de que as instituições culturais e educacionais ali implantadas exerceram, em certo sentido, um papel fundamental, transformando-a em uma via urbana que representava a dinâmica da vida intelectual na cidade que se modernizava. Sabe-se que a criação da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade de São Paulo (USP) são desdobramentos dessa relação simbiótica entre cultura e cidade que abre novas perspectivas para a leitura do lugar. Para Silva (2019), a história da Rua Maria Antônia está ligada à memória estudantil como um espaço simbólico de referências a essas duas grandes instituições que vêm formando várias gerações de intelectuais do país. Leia Mais

As cruzadas: uma história | Jonathan Riley-Smith

Ecce quam bonum et quam incundum

Habitare frates in unum!

[Oh! Quão bom e quão agradável habitarem os irmãos em união!]

(Salmo 133,1)

O autor Jonathan Riley-Smith (1938-2016) foi um destacado medievalista inglês. Formou-se em Cambridge, lecionou em St. Andrews, foi diretor de estudos no Queen’s College, professor de História Medieval no Royal Holloway College de Londres e por fim, de volta em Cambridge, catedrático de História Eclesiástica. Foi membro fundador e, posteriormente, presidente da Sociedade para a História das Cruzadas e do Oriente Médio e suas obras figuram entre as contribuições mais relevantes para o estudo das cruzadas no século XX. Como consequência de seu trabalho nas funções de autor e editor, resultaram 17 livros, inúmeros capítulos e artigos em publicações diversificadas, conferências para especialistas e leigos. Riley-Smith foi também Cavaleiro da Ordem de Malta e Bailio Grã-Cruz da Venerável Ordem do Hospital de São João de Jerusalém (RILEY-SMITH, 2019). Leia Mais

A Batalha dos Livros | Lincoln Secco

Lincoln Secco é docente do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) desde 2003. Seu leque de temáticas conta com razoável amplitude. No mestrado, pesquisou a recepção de ideias de Antonio Gramsci na realidade brasileira. Investida que resultou no livro Gramsci e o Brasil (2002) – uma espécie de état de l’art das apropriações do pensador italiano no país. No doutorado, operou uma certa mudança de sentido investigativo. De um estudo circunscrito à História das Ideias deslocou-se para uma análise político-social da crise do império colonial português. A empreitada, que se derivou em dois títulos (SECCO, 2004;2005), foi logo suplantada por outros interesses. Desde então, o docente dedica-se principalmente ao marxismo e às esquerdas, tanto em abordagens mais restritas às construções conceituais, quanto em investigações voltadas às expressões dessas correntes políticas como fenômeno social. O último trabalho de Lincoln Secco originou-se exatamente dessa segunda vertente. A obra lançada em 2017, intitulada A Batalha dos Livros, é uma pesquisa sobre a história editorial das esquerdas brasileiras. Em grande medida, trata-se de um intento de esmiuçar os caminhos textuais do processo de circulação de ideias de esquerda no Brasil.

Os cinco capítulos de A Batalha dos Livros de Lincoln Secco organizam-se a partir de um referencial diacrônico-qualitativo. Cada passagem concentra-se em um período no qual o autor identificou a configuração de uma qualidade editorial específica dentro das esquerdas. Todo o estudo é fundado em um prisma histórico que tem como balizas o final do século XIX e o princípio da segunda década do século XXI. A pesquisa possui como foco principal, embora não único, os projetos editorais e as publicações do Partido Comunista Brasileiro (PCB).1 Tal afirmação somente não é válida para o primeiro e o último capítulo, pois esse se dedica ao momento anterior a Revolução Russa; e aquele ao período pós-ditatorial quando as esquerdas encontravam-se hegemonizadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e o PCB passava por uma profunda crise. Leia Mais

História & Outras Eróticas | Martha S. SAntos e Marcos Antonio Menezes

O que pode um corpo sem juízo? Quando saber que um corpo abjeto se torna um corpo objeto e vice-versa? Não somos definidos pela natureza assim que nascemos Mas pela cultura que criamos e somos criados

Sexualidade e gênero são campos abertos

De nossas personalidades e preenchemos

Conforme absorvemos elementos do mundo ao redor

Nos tornamos mulheres – ou homens,

Não nascemos nada

Talvez nem humanos nascemos

Sob a cultura, a ação do tempo, do espaço, história

Geografia, psicologia, antropologia, nos tornamos algo

Homens, mulheres, transgêneros, cisgêneros, heterossexuais

Homossexuais, bissexuais, e o que mais quisermos

Pudermos ou nos dispusermos a ser

O que pode o seu corpo?

Jup do Bairro.

História & Outras Eróticas, organizado por Martha S. Santos, Marcos Antonio Menezes e Robson Pereira da Silva, é fruto de um esforço científico coletivo que extrapola a materialidade dos textos que compõe a obra. O troca-troca cultural entre arte e agenda política (MEIHY, 2020, p. 13) que nos chega, tem origem na realização do VI Congresso Internacional de História da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí. Desta feita, os louros pela excelência são creditados aos/às autores/as e estendem-se aos discentes e docentes do Curso de Licenciatura em História da referida universidade, bem como, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo investimento na produção científica brasileira. Leia Mais

1968 – 50 anos depois: Culturas – artes – políticas: utopias e distopias do mundo contemporâneo | Alcides Freire Ramos e Rosangela Patriota

Em história, é abstrata toda “doutrina” que recalca sua relação com a sociedade. Ela nega aquilo em função de que se elabora. Sofre, então, os efeitos de distorção devidos à eliminação daquilo que a situa de fato, sem que ela o diga ou o saiba: o poder que tem sua lógica; o lugar que sustenta e “mantém” uma disciplina no seu desdobramento em obras sucessivas, etc. O discurso “científico” que não fala de sua relação com o corpo social é, precisamente, o objeto da história. Não se poderia tratar dela sem questionar o próprio discurso historiográfico. Michel de Certeau

Po di Sangui 1, filme de Flora Gomes, discute questões amplas sobre a produção do conhecimento racionalista e a magia espiritual de Guiné-Bissau. Na aldeia Amanha Lundju, sempre que uma criança nasce, os demais adultos plantam uma árvore para simbolizar o seu crescimento espiritual. A árvore cumpre a função de duplo, de extensão corpórea e existencial, que em muitos casos opera na posição de escuta dos sofrimentos do sujeito, gerando um efeito terapêutico que dilui a agonia interna. A dramatização é desfeita pela fala, dissemelhante, por exemplo, ao drama vivido por Willy Loman, no filme Death of a Salesman 2, de Volker Schlöndorff, que sofre internamente sem a presença de um outro que o pudesse escutar para a elaboração dos seus sofrimentos, ponto dramático que o leva ao trágico falecimento/suicídio. Leia Mais

Foucault e a teoria queer: seguido de Ágape e êxtase: orientações pós-seculares | Tamsin Spargo

[…] tanto investimento na crença de que a sexualidade é natural não significa que ela seja.

Spargo, 2017, p. 15.

Nos últimos anos, os estudos queer no Brasil ganharam destaque para além do que se costumava ver diante dos estudos da área de Educação, Psicologia e das Ciências Sociais. Ganhou força na História, desenvolvendo-se em seus processos autocríticos, de forma a jogar luz em recortes que atravessam gênero, raça, sexualidade e classe social. A construção do campo dos estudos das relações de gênero tomou novas cores e sabores com as percepções das teorias de gênero, as quais se convencionaram chamar de queer, adentrando áreas do conhecimento ainda conservadoras. Leia Mais

História & Teoria Queer | Miguel Rodrigues Sousa Neto

História & Teoria Queer, publicado em 2018 pela editora Devires, é uma das primeiras obras publicadas no Brasil que busca apresentar a potencialidade, os usos e as apropriações da Teoria Queer (PÉREZ NAVARRO, 2019) pelo saber histórico. Com prefácio da socióloga Berenice Bento1 e posfácio de Alessandra Ramos2, a coletânea soma 13 capítulos, divididos em duas partes.

Na primeira, intitulada “Teoria queer e historiografia: contribuições ao debate”, focaliza-se os jogos de (in)visibilidade de temas como as homossexualidades, as transgeneridades e a relação da alteridade na escrita da história. Genealogicamente, a Teoria Queer chegou ao âmbito acadêmico brasileiro no início dos anos 2000 por caminhos diversos como a Educação (LOURO, 2001), a Linguística (LUGARINHO, 2001) e as Ciências Sociais (BENTO, 2006). Todavia, ainda tem uma presença tímida no campo historiográfico (SOUZA e BENETTI, 2012; REA e AMANCIO, 2018). Leia Mais

Práticas de pesquisa em História | Tania Regina de Luca

Práticas de Pesquisa em História (2020), escrito pela Profª. Drª Tania Regina de Luca (UNESP), finaliza a coleção História na Universidade (2020), da Editora Contexto, que teve, em seu conselho, De Luca, Prof. Dr. Paulo Miceli (UNICAMP) e Profª. Drª. Raquel Glezer (USP). Mestre e Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, professora de cursos de graduação e do programa de pós-graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis, e, pela Contexto, “[…] é organizadora dos livros História da imprensa no Brasil e O historiador e suas fontes e coautora dos livros Nova História das mulheres no Brasil, Fontes históricas e História da cidadania” (DE LUCA, 2020, Orelha do livro), nesta obra, à convite da editora, De Luca busca responder: por onde começar uma nova pesquisa em História?

Voltada ao público de graduação, sem pretensão de ser, ou tornar-se, um receituário de História, a obra convida o leitor a

[…] percorrer um amplo panorama que tem por finalidade apresentar, de forma didática, procedimentos e métodos que distinguem a produção do conhecimento historiográfico e, desse modo, incentivá-lo a participar ativamente desse instigante desafio que é escrever História, elaborando e executando seu próprio projeto de pesquisa (DE LUCA, 2020, p. 11). Leia Mais

O Pensamento de Pierre Lévy – comunicação e tecnologia | Guaracy Carlos da Silveira

Há algumas décadas, muito se tem refletido e discutido sobre a importância e as aplicabilidades da comunicação e sua simbiose com a tecnologia, principalmente em tempos de disseminação das redes de comunicação digital. Porém, o que vinha sendo debatido de forma parcimoniosa, numa tentativa de compreender de forma mais profunda, ganhou certa notoriedade nos últimos dias, visto a urgência de atender as demandas sociais.

Almejando reflexionar as reivindicações da sociedade sobre essa temática que se insere a obra: O Pensamento de Pierre Lévy – comunicação e tecnologia, de Guaracy Carlos da Silveira, publicada em 2019 pela Editora Appris. A presente composição, tem como escopo, apresentar a evolução das ideias de Pierre Lévy a uma recente geração de leitores que já nasceram imersos em um cenário de constantes mudanças tecnológicas, cotejando a pertinência do seu pensamento no contexto atual. Leia Mais

A construção da memória da Revolução Cubana: a legitimação do poder nas tribunas políticas e nos tribunais revolucionários | Giliard da Silva Prado

“Vá pra Cuba! Vá estudar História!”, assim que o Prof. Dr. Jaime de Almeida inicia seu Prefácio para a obra do historiador Giliard da Silva Prado, A construção da memória da Revolução Cubana: a legitimação do poder nas tribunas políticas e nos tribunais revolucionários. Tal comentário e o tema do trabalho de Prado são profundamente atuais no contexto político em que vivemos. Numa intensa e fixa polarização da esquerda e da direita políticas os brasileiros estão cada vez mais sujeitos a optarem por um desses parâmetros. Uma das funções da historiografia, nesse debate, é apresentar que necessitamos avaliar cuidadosamente os elementos históricos que estão a nossa frente, construindo nosso pensamento crítico. A Revolução Cubana é um caso emblemático nesse debate, primeiro por conta do que sugere o comentário de Almeida no início, muito utilizado pelos que se reconhecem à direita ao clamarem o imperativo a qualquer indivíduo identificado como de “esquerda”. Segundo, pelo fato de que alguns historiadores julgarem que não podemos olhar criticamente os feitos da Revolução e do regime socialista que se implementou posteriormente a 1961, defendendo a ferro e fogo o governo e fazendo vista grossa para seus erros e tensões. Leia Mais

Ney Matogrosso…para além do bustiê: performances da contraviolência na obra de Bandido (1976 – 1977) | Robson Pereira da Silva

As sensibilidades se apresentam, portanto, como operações imaginárias de sentido e de representação do mundo, que conseguem tornar presente uma ausência e produzir, pela força do pensamento, uma experiência sensível do acontecido. O sentimento faz perdurar a sensação e reproduz esta interação com a realidade. A força da imaginação, em sua capacidade tanto mimética como criativa, está presente no processo de tradução da experiência humana.

SANDRA JATAHY PESAVENTO.

Tão importante quanto analisar as letras dos compositores da Música Popular Brasileira (MPB) e contextualizá-las historicamente, se faz extremamente necessário não perder de vista o trabalho dos intérpretes que além de ressignificar as canções, ainda possuem um árduo trabalho criativo e corporal que corrobora para que essas canções ganhem sentidos que são intrínsecos as questões do seu próprio tempo. Leia Mais

Foucault: saber, verdade e política | Thiago Fortes Ribas

Professor do departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Thiago Fortes Ribas apresenta em seu livro uma reflexão derivada de sua tese doutoral, intitulada Saber, verdade e política no pensamento de Michel Foucault, concluída no ano de 2016 junto à Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do Prof. Dr. André de Macedo Duarte. O problema abordado por Thiago Ribas em seu trabalho toca no cerne de um lugar comum que se constituiu a respeito dos textos de Foucault: trata-se da perspectiva que somente reconhece a emergência de uma concepção política específica em seus trabalhos desenvolvidos a partir de 1970, quando a ênfase à questão das relações de poder, e o exercício microfísico deste em determinadas instituições, vêm à tona em investigações elaboradas a partir do método genealógico – de alegada inspiração nietzscheana. Desse modo, nos trabalhos desenvolvidos por Foucault na década de 1960 – cuja tônica perfaz uma investigação dedicada à dimensão histórica que envolve a constituição dos saberes –, a política seria um tema pouco ou nada desenvolvido, relegada a ângulo obtuso no conjunto de suas preocupações ou, ainda, subjugada pela preferência a uma reflexão supostamente restrita a um âmbito epistemológico. Leia Mais

Cultura e poder entre o Império e a República: estudos sobre os imaginários brasileiros (1822-1930) | Ana Beatriz Demarchi Barel e Wilma Peres Costa

Os estudos em torno da Nova História Cultural têm proposto interessantes abordagens sob a perspectiva da mediação e circulação de ideias entre espaços culturais, simbólicos e nacionais, ao longo do século XIX. A partir desta ótica, as complexas transformações socioculturais, que ocorreram devido ao intenso desenvolvimento técnico, têm sido alvo de revisão historiográfica, sobretudo com grupos temáticos de pesquisa que visam responder às grandes questões em torno dos eventos ocorridos ao longo desta extensa centúria. Este é o exemplo do Seminário Internacional Estado, Cultura e Elites (1822-1930) realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa em 2014 e que resultou na obra Cultura e Poder entre o Império e a República – Estudos sobre os imaginários brasileiros (1822-1930) organizada por Ana Beatriz Demarchi Barel (Universidade Estadual de Goiás) e por Wilma Peres Costa (Universidade Federal de São Paulo) e lançada em 2018 sob o selo da editora Alameda. Leia Mais

História das Américas através do cinema | Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior

Durante muito tempo, no campo da pesquisa em história, as fontes consideradas primordiais, ou mais fidedignas ao passado, eram os documentos oficiais expedidos pelos Estados ou governos instituídos. Essa foi uma prerrogativa da escola metódica francesa e da própria Razão na História (1837)1, de Hegel, durante os séculos XVIII e XIX. Por mais que os primeiros, representados por Langlois e Seignobos2, admitissem a possibilidade do uso da literatura (poesia épica, romances e obras de teatro) na pesquisa histórica, essa possibilidade tinha limites por se tratar, primordial e especificamente, da imaginação do autor da obra, ou seja, não era capaz de retratar a sua época como um todo.

Ao longo do século XX, a forma de abordar essas manifestações artísticas e culturais sofreu algumas modificações. A busca por parte de alguns historiadores em fazer outra história, além da história chamada de oficial, promoveu maior diversificação das fontes históricas, absorvendo, entre elas, as linguagens artísticas. A partir desse momento, vários historiadores se debruçaram sobre a literatura, a música e o teatro, publicando obras que validavam esses objetos como fontes históricas e forneciam metodologias para abordá-los. Leia Mais

Juízes de paz: um projeto de justiça cidadã nos primórdios do Brasil Império | CAMPOS Adriana Pereira Campos, Andréa Slemian e Kátia Sausen da Motta

Em 2017 foi publicado o livro juízes de paz: um projeto de justiça cidadã nos primórdios do Brasil Império escrito por Adriana Pereira Campos, Andréa Slemian e Kátia Sausen da Motta. Trata-se de um trabalho sobre a institucionalização da figura do Juiz de Paz e a estratégia de treinamento lançada por parte das autoridades imperiais brasileiras. Este livro faz parte da Coleção de Filosofia, Sociologia e Teoria do Direito que é coordenada por Fernando Rister de Sousa Lima. Nesta coleção temos títulos de diversas áreas, mas todas em diálogo com o Direito e, mais precisamente, com a pesquisa jurídica. A perspectiva interdisciplinar da coleção lançou o livro que aqui é resenhado numa concepção de aproximação dos debates entre História e Direito.

Adriana Pereira Campos é historiadora formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com a tese intitulada Nas barras dos tribunais: direito e escravidão no Espírito Santo do século XIX. Atualmente é professora da UFES. Andréa Slemian, também docente da UFES, é historiadora formada na Universidade de São Paulo (USP) onde também fez o mestrado e doutorado em História. Sua tese foi intitulada Sob o império das leis: constituição e unidade nacional na formação do Brasil (1822 – 1834). Kátia Sausen Motta é historiadora formada na UFES onde também fez o mestrado e doutorado sob orientação de Adriana Pereira Campos. Sua tese foi defendida em 2018 com o título Eleições no Brasil do oitocentos: entre a inclusão e a exclusão da patuleia na cidadela política (1822 – 1881). 1 Leia Mais

Antonio Fagundes no palco da história: um ator | Rosangela Patriota

A historiadora e professora Rosangela Patriota possui uma trajetória de destaque no âmbito da historiografia do Teatro Brasileiro. Desde 1995, quando a autora concluiu a sua Tese de Doutorado intitulada Fragmentos de Utopias: Oduvaldo Vianna Filho – um dramaturgo lançado no coração de seu tempo, 1 até o presente momento, Rosangela Patriota vem dando significativas contribuições para a escrita da História do Teatro Brasileiro por meio de pesquisas que resultaram em obras como A crítica de um teatro crítico, 2 História e Teatro: discussões para o tempo presente3 e Teatro Brasileiro: ideias de uma história, este último, diga-se de passagem, escrito a quatro mãos em parceria com o crítico, ensaísta, professor e editor Jacó Guinsburg.4

Para além de tais trabalhos, Rosangela Patriota produziu uma série de artigos acadêmicos, capítulos de livros, ensaios e palestras, bem como atuou na organização de diversas coletâneas, geralmente abordando não só as relações da História com o Teatro, mas também com as linguagens artísticas em uma perspectiva mais abrangente. Se tivermos em vista toda essa vasta produção intelectual da pesquisadora e se igualmente levarmos em conta que a mesma também orientou uma série de monografias, dissertações de mestrado e teses de doutorado de outros pesquisadores, não é exagero nenhum afirmarmos que, por todo o seu percurso acadêmico, o trabalho de Rosangela Patriota pode ser descrito, sem sombra de dúvidas, como um dos mais profícuos dentro da historiografia do Teatro Brasileiro. Leia Mais

Fênix | UFU | 2004

Fênix – Revista de História e Estudos Culturais (Uberlândia, 2004-) é uma publicação semestral, que objetiva a divulgação da produção nos campos das Ciências Humanas e Sociais, das Linguagens e das Artes, bem como do encontro entre as distintas áreas, na forma de artigos, traduções, resenhas, ensaios, entrevistas.

A revista é editada pelo Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), da Universidade Federal de Uberlândia. A revista limita ao número de 40 (quarenta) artigos, distribuídos em seus dois números anuais.

Acesso livre

Periodicidade semestral

ISSN 1807-6971

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