Gênero, Democracia e Direitos Humanos / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2019

O presente dossiê Gênero, Democracia e Direitos Humanos, edição Número 33 da Fronteiras: Revista Catarinense de História, foi construído a partir dos debates realizados no XVII Encontro Estadual de História, realizado entre os dias 21 e 24 de agosto de 2018, na Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), em Joinville, Santa Catarina. As problemáticas colocadas nesse encontro nortearam a reflexão acerca dos desafios e possibilidade envolvendo as pesquisas e práticas relacionadas as questões de gênero articuladas à democracia e aos direitos humanos.

Estamos vivenciando, no Brasil, movimentos ultraconservadores que desqualificam e demonizam o feminismo e o gênero, palavras tidas como proibidas, e que tem brutalizado corações e mentes. Ambas, se tem gerado discussões acaloradas, é porque estão no âmbito do político. Projetos inconstitucionais, que aviltam a democracia e os direitos humanos, são apresentados com intuito de eliminar o gênero como categoria de análise nas relações sociais e culturais, bem com destruir políticas públicas arduamente conquistadas e caras a emancipação dos sujeitos históricos. Neste sentido, este dossiê visa refletir e aprofundar pesquisas e debates que abordem o gênero, com enfoque nos direitos humanos, cidadania, emancipação, liberdade, educação, feminismos, preconceitos e violências, promovendo o conhecimento para mudanças de práticas discriminatórias, reconhecendo as mulheres de diferentes gerações, raça, etnia, gênero, orientação sexual como sujeitos de direitos.

O Dossiê é formado sete artigos e duas resenhas. O primeiro artigo, intitulado A televisão como campo de memória e representação social: Documento Especial: Televisão Verdade (1989 – 1995) de Lucas Braga Rangel Villela, procura problematizar as disputas pela memória e de representação a respeito da realidade brasileira após Ditadura Civil-militar. O autor discute, através programa telejornalístico “Documento Especial: Televisão Verdade” da emissora de televisão Rede Manchete, o papel da televisão como instrumento de representação social e de construção de memória coletiva no Brasil no período da redemocratização.

No artigo Mulherio na Constituinte (1985-1987), Cintia Lima Crescêncio e Renata Cavazzana da Silva analisam como o jornal Mulherio (1981-1988) pautou em suas páginas a campanha do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres no período de debates sobre a Constituinte, especificamente nos anos entre 1985-1987. O jornal procurou atuar na tentativa de garantir os direitos e a cidadania das mulheres em meio as disputas políticas e das limitações dos movimentos sociais com o Estado.

O artigo intitulado A luta pela expansão da democracia em Pernambuco nos anos de 1930: o movimento feminista como protagonista, escrito por Emelly Sueny Fekete Facundes e Alcileide Cabral do Nascimento, analisa a atuação da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino (FPPF) na luta pela expansão dos ideais democráticos de igualdade civil, direito ao trabalho e a educação para mulheres na década de 1930. Através de periódicos recifenses que circulavam na época e de relatórios de atividades da FPPF enviado à sua matriz, no Rio de Janeiro, as autoras procuram compreender a importância do movimento feminista na conquista de direitos sociais e na luta pela consolidação da democracia no Brasil.

Em Saúde sexual e saúde reprodutiva no cárcere: uma discussão necessária para garantia de direitos das mulheres privadas de liberdade, Camila Azevedo dos Reis e Luciana Patrícia Zucco, a partir de uma perspectiva interseccional, abordam o acesso à saúde sexual e reprodutiva das mulheres em privação de liberdade no Presídio Feminino de Florianópolis, a partir dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. Procurando dar destaque às narrativas das mulheres e profissionais da Instituição o trabalho evidencia como as mulheres presas são tratadas, as violações aos seus direitos e as lutas por condições dignas que atendam as especificidades destas sujeitas.

Já Neide Cardoso de Moura, no artigo intitulado Da educação do campo ao PNLD / campo: do anúncio educacional a denúncia social, apresenta os resultados relativos à pesquisa realizada no ano de 2016, intitulada “Análise das imagens de livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático para a educação do campo, na perspectiva de gênero”. O artigo procura reconhecer os avanços relativos à educação no campo sem deixar de ressaltar os desafios que ainda se colocam para as políticas e os programas educacionais que orientam os rumos da educação brasileira.

No artigo Debates e disputas sobre a legalização do aborto no Brasil: a laicidade na corda bamba, Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva e Luciana Patrícia Zucco analisam o processo de legalização do aborto no Brasil a partir da categoria laicidade, com dados coletados na audiência pública do Supremo Tribunal Federal acerca da ADPF442. As autoras partem da discussão sobre aborto e laicidade, analisam os argumentos da audiência pública já citada e discutem as possibilidades da categoria de laicidade para o avanço dos debates sobre a descriminalização do aborto no Brasil.

Por fim, tratando de memórias sobre a primeira fase de escolarização, o artigo Ensino Primário e infância, de Elaine Prochnow Pires, versa sobre memórias de ginasianas do Alto Vale do Itajaí – Santa Catarina, acerca de seu percurso escolar no ensino primário nos tempos dos exames de admissão ao ginásio. Através de entrevistas, a autora evidencia práticas da vida escolar num tempo em que aos alunos e as alunas era aplicada uma prova para prosseguirem seus estudos ginasiais, seleção obrigatória entre os anos de 1931 a 1971. São narrativas que trazem elementos para análise, destacando-se a frequência dos elementos de sentido e a forma como isso reverberou nas narrativas orais e escrita dos sujeitos da pesquisa.

Na Seção Resenha dois trabalhos compõem esta edição. O primeiro é de Isadora Muniz Vieira apresentando o livro do historiador François Hartog, Crer em História, lançado em 2017 no Brasil pela Editora Autêntica. E o segundo trabalho é de Diego José Baccin, tratando do livro Tierras, leyes, história: estudios sobre “La gran obra de la propiedad”, da pesquisadora Rosa Congost. Este livro foi publicado em 2007, pela editora Crítica, em Barcelona, e se encontra em língua espanhola, ainda sem tradução para o português.

No momento em que se fecha este Dossiê, é orquestrado por parte de quem governa o Brasil um acintoso movimento de destruição das conquistas que levaram décadas para se concretizarem, como vários direitos das mulheres, das populações indígenas, quilombolas, populações LGBTI+; bem como a retiradas de direitos trabalhistas e previdenciários. Além desses infortúnios, que recaem sobre as populações mais pobres, violentando-as e negando sua cidadania, os ataques ao ensino público com o contingenciamento de verbas para seu funcionamento são crimes contra o direito dos jovens de terem um futuro menos árduo. A educação pública é direito constitucional garantida na Constituição Cidadã, como o é o direito das crianças e jovens de aprender a refletir e a posicionar-se como sujeito neste mundo e suas relações, reflexões que advém das disciplinas das Ciências Humanas, tão vilipendiadas atualmente. A destruição da pesquisa evidencia retrocessos nunca vistos; a destruição do ambiente é criminosa, dentre outros ataques à democracia, são fatores que contribuem para eliminar o Brasil dentre os países confiáveis para investimentos. Lastimável. As violências contra as mulheres, especialmente as negras, indígenas e pobres, tem-se se exacerbado como práticas de abusos e feminicídios – a liberação do porte de armas trará mais tragédias, e as mulheres são, e serão, as principais vítimas. Não desistiremos das lutas de salvar vidas que importam.

Marlene de Fáveri

Fernanda Arno

Organizadoras do Dossiê Gênero, Democracia e Direitos Humanos


FÁVERI, Marlene de; ARNO, Fernanda. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.33, 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Segunda Guerra Mundial e o Brasil: 70 anos depois / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2015

Compreender os processos políticos, econômicos, sociais e culturais que envolveram o Brasil na Segunda Guerra Mundial, remete a novas possibilidades interpretativas para a História do Brasil Contemporâneo, pois, como enfatizou Elizabeth Cancelli em entrevista recente, é imprescindível conhecer mais a fundo a violência política nos processos históricos enveredados pelo país no século XX. Afinal, indicou ela, os anos Vargas e a ditadura militar “deixaram uma herança muito grande em nossa cultura política, infelizmente. Houve, entretanto, rupturas e continuidades. São dois períodos ditatoriais que se utilizaram da violência em seus projetos políticos de poder.” (CANCELLI, 2013:12).[1]

A polícia, na Era Vargas, utilizava costumeiramente a violência como instrumento de manutenção da ordem e controle social e, portanto, como parte de uma concepção de mundo, com todas as suas implicações e repercussões no conjunto da sociedade. Em particular, as contingências do período autoritário caracterizado pelo Estado Novo, entre 1937 e 1945, marcaram significativamente a vida de grupos étnicos no Brasil e reverberaram tanto no âmbito das políticas institucionais, quanto na questão da família, da língua, etc.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os aparatos repressivos incidiram de forma abrupta sobre populações ítalo-germânicas e nipônicas, culminando com processos no Tribunal de Segurança Nacional, organismo que se tornou uma espécie de ‘tribunal do medo’. Por isso, em muitas localidades do interior do país falar da guerra ainda é um tabu, traduzido em rancores e silêncios. Nesse sentido, organizar e publicar o Dossiê Segunda Guerra Mundial e o Brasil: 70 anos depois, com artigos de diferentes enfoques sobre a memória, as intolerâncias e preconceitos, o Integralismo, as relações interacionais, a economia, a repressão, possui toda uma atualidade para uma compreensão mais ampla e profunda do papel da violência na cultura política brasileira e catarinense.

Nessa perspectiva, João Fábio Bertonha discute a suposta “naturalidade” na formatação das duas alianças chave da Segunda Guerra Mundial: os Aliados e o Eixo, observando os interesses geopolíticos, econômicos, de poder e ideológicos na composição e desses dois blocos em luta. Dennison de Oliveira apresenta pesquisa sobre a política de Defesa Hemisférica desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial pelos Estados Unidos da América (EUA) em aliança com o Brasil e o enfrentamento das ameaças (reais ou supostas) dos países do Eixo ao continente; problematizando a forma como ela era entendida pelas autoridades militares brasileiras e estadunidenses. Ludolf Waldmann Júnior procura entender o papel da Marinha do Brasil no processo de alinhamento do país aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, destacando o apoio daquela arma a tal alinhamento.

Andrea Helena Petry Rahmeier aborda questões relacionadas ao corte das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha em janeiro de 1942 e à declaração de guerra, em agosto do mesmo ano, analisando documentação militar e diplomática alemã. Já Méri Frotscher busca memórias de pessoas que emigraram para a Alemanha em 1938, explorando histórias de vida, a repressão ao partido nazista no Sul do Brasil, a emigração, a vida em meio ao conflito, e a repatriação ao Brasil, em 1946 / 7.

Moisés Wagner Franciscon explora textos jornalísticos de jornais do PCB sobre a produção cinematográfica soviética voltada para a Segunda Guerra, e as formas como se dava esse contato através de jornais do PCB, buscando apreender seu alcance e conteúdo. Marcos Dalcatagne estuda a conjuntura econômica brasileira dos anos de 1942 a 1945, período de intensa produção do medo da escassez que afligia a população, tentando compreender como variados seguimentos da população vivenciaram esta situação.

Bibiana Werle analisa memórias de descendentes de imigrantes alemães de um município do Rio Grande do Sul trazendo à tona lembranças de um tempo marcado por proibições em relação a suas representações de caráter étnico, setenta anos após o fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial. Leandro Mayer mostra a repressão sofrida pelos moradores de Itapiranga (SC) durante o Estado Novo de Vargas, visto que ali se concentrava um núcleo relativamente homogêneo de alemães católicos, afetando fortemente a história regional e remodelando a sociedade local. Por fim, Gustavo Tiengo Pontes trata de notícias e seções relacionadas com a temática das Forças Armadas que foram publicadas no jornal integralista “Flamma Verde” editado em Florianópolis entre 1936-1938; procurando contribuir para um melhor entendimento das relações dos chamados “camisas-verdes” com as Forças Armadas.

Por seu turno, na sessão Traduções, Carlo Romeo, integrante da Associação Nacional dos Partisans da Itália (Associazione Nazionale Partigiani d’Italia) apresenta o texto A Resistência italiana no Alto Ádige e a questão sul-tirolesa, fruto de apresentação no Colóquio “Resistência e Autonomia, em ocasião do Dia da Autonomia”, em setembro de 2015com uma interpretação da resistência italiana durante a Segunda Guerra Mundial

Na sessão Resenhas, Juliano Benatti Machado Paz apresenta o livro Tempos diferentes, discursos iguais: a construção do corpo feminino na história, de Ana Maria Colling; e Yomara Feitosa C. de Oliveira Fagionato resenha a obra Histórias na ditadura: Santa Catarina (1964-1985), organizada por Ana Brancher e Reinaldo Lindolfo Lohn.

Nota

1. CANCELLI, Elizabeth. VIOLÊNCIA NA VIDA POLÍTICA BRASILEIRA E A URGÊNCIA DE NOVAS PESQUISAS HISTÓRICAS. Entrevista. Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 5, n. 9, jul. / dez. 2013.

Luiz Felipe Falcão

Marlene de Fáveri

Editores


FALCÃO, Luiz Felipe; FÁVERI, Marlene de. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.26, 2015. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

1964-2014: Memórias, testemunho e Estado / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2014

O número 24 da revista Fronteiras, a Revista Catarinense de História, traz o Dossiê – 1964-2014: memórias, testemunho e Estado, com discussões produzidas a partir do XV Encontro Estadual de História da ANPUH-SC – “1964-2014: Memórias, Testemunhos e Estado”, ocorrido em agosto de 2014, em Florianópolis. Neste volume, o dossiê apresenta artigos de autores e autoras que se debruçaram, em diferentes perspectivas e enfoques, na temática que envolveu o período militar no Brasil, especialmente no Estado de Santa Catarina; e um relato da Comissão da Verdade em Santa Catarina. Também apresenta artigos de fluxo contínuo e resenhas.

Caroline Jacques Cubas apresenta o artigo Igreja Católica em tempo de ditadura militar: do diálogo à subversão em páginas impressas, onde problematiza os posicionamentos desta instituição religiosa em relação ao regime militar; as representações sociais e políticas observadas em periódicos nacionais entre 1968 e 1979. Reinaldo Lindolfo Lohn, no artigo intitulado Santa Catarina e a ditadura empresarial: o caso da política agrária, nos mostra como a política agrária dos setores vinculados à agropecuária empresarial em Santa Catarina, encontrou meios para impor diretrizes e interesses com a instauração do golpe militar; e analisa o aparelho estatal ao longo das décadas de 1950 e 1960.

O documentário “Que bom te ver viva” é tema de estudos de Arielle Rosa Rodrigues e Mariana Cristina Silva. As autoras analisam questões relacionadas com as memórias de mulheres ex-militantes da esquerda revolucionária brasileira, sobreviventes da tortura física e psicológica sofridas nas prisões da ditadura, entre as décadas de 1960 e 1970; refletem sobre a relação entre história e memória e as experiências traumáticas vividas por mulheres. Segue o tema das mulheres com o artigo Novembrada: as mulheres, o cárcere e as solidariedades, de Marlene de Fáveri. A autora recupera memórias de mulheres que participaram do evento contestatório ao regime militar ocorrido em Florianópolis, em novembro de 1979; mostra parte do cotidiano da prisão, os atos de solidariedade e as resistências, observando as relações de poder e gênero.

Em seguida, o artigo de Luiz Felipe Falcão que traz o título Alegorias da verdade: esboços nas conexões entre História Oral e História do Tempo Presente sobre a resistência à ditadura e o processo de democratização no Brasil nas últimas décadas do século XX. O autor analisa depoimentos de ex-militantes e ativistas das esquerdas brasileiras acerca de suas atividades de resistência ao regime militar, e o processo de democratização; aborda versões dos acontecimentos e reflexões historiográficas para formulações de uma história do Tempo Presente.

Derlei Catarina de Luca apresenta um relato dos trabalhos da Comissão Estadual da Verdade de Santa Catarina, criada para auxiliar a Comissão Nacional da Verdade; o intuito era de examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas por motivação exclusivamente política, ocorridas entre 1946 e 1988, no Estado de Santa Catarina. Esta Comissão foi criada por decreto governamental em março de 2013, com o objetivo de efetivar o direito à memória e à verdade histórica. Neste relato, que se intitula A Busca da Verdade, a autora historiciza os trabalhos da Comissão; seus resultados; publiciza nomes de pessoas que estiveram sob a mira do aparato repressivo; as resistências; assassinatos; torturas; e conclui que é “Para que nunca se esqueça. Para que nunca mais aconteça.” Derlei Catarina de Luca é membro da Comissão Estadual da Verdade e militante do Coletivo Catarinense Memória, Verdade, Justiça.

Na seção Artigos, André Souza Martinello e Marcos Fábio Freire Montysuma apresentam o texto intitulado Experiências e percepções ambientais de migrantes japoneses no sul do Brasil nos anos de 1950 a 197; observam, através das memórias destes migrantes, o contato com diferentes configurações geográficas, climáticas e culturais; as adaptações e as diferenciações em relação aos espaços de terra trabalhados. Noutro artigo, com o título “Não deixe o Canto do Morcego acabar”: embates entre preservacionistas e investidores na Praia Brava – Itajaí (SC), Gloria Alejandra Guarnizo Luna mostra as denúncias sobre a ocupação de forma desordenada e a consequente destruição da orla marítima no município de Itajaí, analisando discursos das mídias contemporâneas e os movimentos de resistência da população.

Na seção Resenhas, Waldir José Rampinelli faz uma análise sobre a trilogia de Elio Gaspari, que trata da ditadura militar brasileira: A ditadura envergonhada: as ilusões armadas; A ditadura escancarada: as ilusões armadas, e A ditadura derrotada: o sacerdote e o feiticeiro. Heloísia Nunes dos Santos resenha o livro de Derlei Catarina de Luca, No corpo e na alma; e Daniele Beatriz Manfrini apresenta a obra de Margareth Rago, A aventura de contar-se.

Marlene de Fáveri

Janine Gomes da Silva

Samira Moretto Peruchi

Organizadoras do Dossiê


FÁVERI, Marlene de; SILVA, Janine Gomes da; PERUCHI, Samira Moretto. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.24, 2014. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História e Imprensa / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2013

O número 22 da revista Fronteiras, a Revista Catarinense de História, com o dossiê História e Imprensa, apresenta discussões produzidas por pesquisadores e pesquisadoras de diferentes formações e de distintos lugares. Em comum um tema, ou ainda um objeto de estudo: a imprensa. Objeto de investigação complexo e instigante, a imprensa tem feito parte da agenda de pesquisa e análise da historiografia bem como de diversas áreas do conhecimento, e tem recebido notável destaque. Neste volume, apresentamos artigos cujos autores se debruçaram sobre jornais de grande circulação, jornais locais, bem como sobre jornais clandestinos. Assim, temos notícias do cotidiano, de política, de arte, de movimentos sociais, de turismo, dentre outros, analisados à luz dos instrumentos da interpretação histórica.

O artigo de autoria de Luciana Rossato e Mariane Martins, cujo título é “Um pedacinho de terra perdido no mar”: um novo destino turístico em construção, apresenta a discussão através de notícias publicadas no jornal catarinense O Estado na década de 1980. Em meio ao interesse político de impulsionar o turismo na cidade de Florianópolis, este jornal teve papel importante colocando em evidência temas que acionavam o passado da cidade para referenda-la como “destino turístico”.

A mídia catarinense é também discutida no texto de Rafaela Duarte, A euforia na imprensa: o movimento Diretas Já visto pelos jornais catarinenses, no qual a autora procura compreender o papel da imprensa como “ator social” durante o movimento Diretas Já. Tem como fontes textos e fotografias dos jornais O Estado, Jornal de Santa Catarina e A Notícia, todos de circulação em Santa Catarina.

Douglas Satírio da Rocha e Vicente Neves da Silva Ribeiro também de debruçaram sobre a mídia catarinense, e apresentam o artigo com o título Ocupando os editoriais: representações do MST no Jornal Diário da Manhã no Oeste Catarinense (1985 – 1989). Os autores analisam as representações sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a partir da análise do jornal Diário da Manhã, publicado entre os anos de 1985 e 1989 no Oeste catarinense, e percebem que questões relacionadas ao MST estão presentes no citado jornal em editoriais marcados por opiniões e interesses.

Outro texto sobre a mídia catarinense é apresentado por Anelise Rodrigues Machado de Araujo, As crianças estão nos noticiários: a imprensa escrita periódica na construção da História da Infância (Jornal Diário Catarinense, 1986-1990). Este artigo propõe reflexões relativas à História da Infância a partir de pesquisa realizada no Jornal Diário Catarinense (edições entre 1986 e 1990).

A exposição de notícias em jornais clandestinos do Brasil e do Uruguai, que denunciavam violências cometidas contra mulheres militantes contrárias às ditaduras desses países, é tema do artigo Miriam Alves do Nascimento, Os discursos nas denúncias de violência: Brasil e Uruguai. A pesquisadora utiliza os estudos de Gênero, além da História Comparada e da História Oral, buscando perceber se as autorias de tais jornais se utilizavam de prescrições de Gênero para estabelecer algum tipo de sensibilização junto aos seus leitores.

Crimes que se tornam “sensação” na imprensa carioca do século XIX são discutidos por Marilia Rodrigues de Oliveira, em Quando os crimes se tornam “sensação”: narrativas da imprensa, ciência e moral no Rio de Janeiro da Primeira República. Tais crimes eram apresentados relatando os problemas vividos pelos cidadãos-leitores e também de modo a suscitir o extraordinário ente eles. A autora parte de um caso especifico do caso da “Tragédia da rua Januzzi” para analisar porque determinados crimes mereciam tal espaço na mídia em detrimento de outros.

Completando a revista, na seção Artigos, temos o texto Nasce uma estrela: os primeiros anos da trajetória musical de Elis Regina, onde Andrea Maria Vizzotto Alcântara Lopes estuda a carreia musical da cantora e a recepção à sua obra, bem como a relação desta com a indústria fonográfica e meios de comunicação brasileiros.

Conectando-se com a História: a oficina “A História em diálogo com as NTICs e com o mundo virtual: o saber, o fazer e o ensinar histórico de Marcella Albaine Farias da Costa é outro texto da seção. A pesquisadora traz uma discussão sobre a ampliação da noção de fonte histórica a partir das novas linguagens midiáticas. Mais especificamente trata-se de uma investigação sob a ótica especifica de professores de História em formação inicial que vivem o desafio de pensar o ensino de História a partir das NTICs.

Na seção Resenha, a obra Mujeres peruanas. El otro lado de la Historia, de Sara Beatriz Guardia é apresentada por Edda O. Samudio, com ênfase na historiografia feminina e na historiografia latinoamericana. Temos também a resenha de Luisa Rita Cardoso feita para o livro de Gabriel Felipe Jacomel cujo título é Falar de si, falar de nós: o teatro feminista em tempos de ditadura.

Marlene de Fáveri

Nucia Alexandra Silva de Oliveira

Editoras de Fronteiras – Revista Catarinense de História


FÁVERI, Marlene de; OLIVEIRA, Núcia Alexandra de. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.22, 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História e Linguagens Midiáticas / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2013

O presente número da revista Fronteiras, a Revista Catarinense de História, dossiê História e Linguagens Midiáticas, traz um conjunto de textos resultantes de pesquisas que abordam diferentes linguagens midiáticas contemporâneas como fontes para a escrita da História, bem como a sua aplicabilidade no campo do ensino. Temas e fontes como a internet, as mídias corporativas, mídias impressas, mídias televisivas, filmes, documentários, arte contemporânea, novas tecnologias da informação e da comunicação, analisam os usos destas fontes, suas apropriações e representações em sincronia com as demandas e experiências inseridas na História do Tempo Presente.

O artigo intitulado Internet, História e Esquecimento: sobre pensar o passado escrito no universo virtual, de Sonia Meneses, problematiza relações entre história Internet na produção de memória e artefatos históricos no universo virtual. Antero Maximiliano dos Reis, em Mídias Corporativas e Sociais entre Práticas e Discursos: Trabalhadores Juvenis e fast-foods, observa o processo de comunicação interna das corporações de fast-foods, percebendo a complexa linguagem midiática corporativa através da análise sites, revistas empresariais, e folders de programas de incentivo e competição.

As mídias de comunicação são instituições que produzem e distribuem informações, e isto é analisado num estudo de caso por Sonia Wanderley, no artigo Cultura histórica e as mídias de comunicação. Através do olhar para o telejornal Jornal Nacional, autora percebe relações de poder e capacidade na fabricação de representações que forjam significados e afirmam memórias individuais e coletivas quando invasão militar da Companhia Siderúrgica Nacional, durante uma greve de metalúrgicos, em 1988.

Carlos Eduardo P. de Pinto, em História, sexo e risos: quem tem medo de Xica da Silva?, aborda as relações entre o cinema e a história, através da análise do filme Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976), para refletir sobre as formas como os sentidos históricos podem ser transformados pela linguagem cinematográfica, identificando o humor como uma estratégia de politização.

Tendo como fonte a arte contemporânea, o texto Construindo novos sentidos para os palestinos: narrativas visuais de Manal Deeb, de Carolina Ferreira de Figueiredo, analisa como Manal Deeb utiliza sua arte para veicular outros tipos de informações acerca da Palestina que não as das mídias ocidentais, e apresenta outras histórias dos sujeitos desta região. Ao problematizar identidades, Manal se apropria dos sentidos de positividade em relação ao palestino, e a partir de sua própria trajetória, desafia as notícias midiáticas homogeneizadoras.

Já Rafael Rosa Hagemeyer, no artigo Reencenando o drama do passado: a greve no documentário Os queixadas (1978), de Rogério Corrêa, analisa os desdobramentos da ação sindical após o golpe militar de 1964. O filme evidencia as contradições e mudanças do contexto político da abertura, antecipando o que viria ser chamado “cinema de intervenção”. Através da análise da produção do filme e de sua proposta narrativa, interpretada através de críticas, reportagens e entrevista com o autor do documentário, pode-se perceber o alcance e os limites dessa proposta de reconstituição histórica.

Estabelecendo a relação entre História e linguagens midiáticas, Marcella Albaine Farias da Costa, em Conectando-se com a História: a oficina “A História em diálogo com as NTICs e com o mundo virtual: o saber, o fazer e o ensinar histórico”, problematiza como as novas tecnologias da informação e da comunicação ampliam a noção de fonte histórica, modificam as concepções de tempo e espaço, alteram o conceito de arquivo, patrimônio e memória e abrem novas possibilidades à pesquisa e ao ensino de História.

José Antonio Ferreira da Silva Júnior e Natália Ayo Schmiedecke, com o artigo Esquerdas latino-americanas e discursos identitários nos anos 1960 / 70: os casos da revista Casa de las Américas e da Nova Canção Chilena, observam as expressões culturais de artistas e escritores contidas em uma revista e num movimento musical, analisando o engajamento político e intelectual identificado com o imaginário político da época.

Ainda, dois artigos de demanda contínua: de Silvia Maria Fávero Arend, intitulado Ainda vivemos como nossos pais? Notas sobre mudanças nas famílias brasileiras das classes médias urbanas (1980-2000), onde o autor faz uma narrativa histórica, de caráter ensaístico, analisando as principais mudanças que se operaram nas famílias brasileiras das classes médias urbanas, entre 1980 e 2000; e, o de Denilma Santos Figueiredo, As senhoras e as donas nas vilas de Bragança e de Ourém (Pará, Brasil) no século XIX, com análises de testamentos de testamentos e inventários post-mortem das Vilas de Bragança e Ourém do século XIX, onde observa mulheres na sociedade rural daquele contexto, na posse e manutenção do patrimônio familiar herdado, superando o estereótipo de mulher branca frágil e submissa.

Assim, são oito artigos que conduzem leituras para interpretações, reapropriações e reflexos acerca de História e Linguagens Midiáticas, nas suas diversas fontes e olhares. Somados aos artigos da revista, apresentamos a resenha do livro O corpo nas expressões gráficas de humor: Dilma Rousseff e a política brasileira contemporânea, de Michele Bete Petry, apresentada por Michelle Carreirão Gonçalves.

Marlene de Fáveri

Núcia Alexandra de Oliveira

Editoras de Fronteiras – Revista Catarinense de História


FÁVERI, Marlene de; OLIVEIRA, Núcia Alexandra de. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.21, 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Guerra e Nacionalização / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2005

Fruto do evento Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil, ocorrido em maio de 2005 em parceria entre a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, a Fronteiras – Revista Catarinense de História, em seu número 13, apresenta o Dossiê Guerra e Nacionalização, divulgando, assim, os textos das mesas e das conferências.

Com a proposta de refletir sobre a Era Vargas, a Nacionalização e as tensões da Segunda Guerra Mundial, foi oportuno promover um evento no momento em que se marcavam 60 anos de final do conflito, provocando o debate e revendo interpretações e, mais ainda, denunciando intolerâncias.

O Sul do Brasil foi enfocado, sem desconsiderar outras regiões, porque efetivamente, as normalizações e medidas repressivas para com os descendentes de ítalo-germânicos (também outras etnias, menos representativas no sul) provocaram um torvelinho de denúncias, de medo, de silêncios, de prisões, de torturas, de interdições, ao mesmo tempo em que se exacerbava uma onda de nacionalismo e a construção de imagens maniqueístas, culminando com repressões e violências.

Refletir sobre a guerra e sobre a nacionalização forçada implica lançar olhares que alcançam políticas governamentais, identificações, religiosidades, relações étnicas e de gênero, educação e escolarizaçâo, entremeadas às transgressões, resistências, burlas, denúncias, ganhos e perdas, onde as relações de poder do Estado, da polícia política ou dos civis, aparecem nas entrelinhas do período de conflito. Um tempo outro, onde a realidade vivida na cotidianidade compõe o pano de fundo de muitas histórias e memórias.

Efetivamente, no torvelinho entontecedor vivido nesse outro tempo, permeado de práticas antidemocráticas, urge reavivar outras histórias para além daquela que o Estado Novo cuidou, deliberadamente, de construir como unívoca, convergida para a eliminação das diferenças regionais na tentativa de dar uma forma peculiar ao passado, de festejá-lo, de apaziguá-lo, silenciando experiências e vozes. Esse tipo de história foi contado para o domínio, e, como bem afirma Marc Ferro, “controlar o passado ajuda a dominar o presente e a legitimar tanto as dominações quanto as rebeldias1. Possibilitar a publicação destes textos permite refletir sobre práticas cotidianas versus políticas governamentais, levadas a efeito no período da Segunda Guerra, bem como dizer algo sobre a sociedade onde vivemos hoje. Eric Hobasbawm nos dá essa lição; “É tarefa do historiadores tentar remover essas vendas, ou pelo menos levanta-las um pouco ou de vez em quando – e na medida que o fazem, podem dizer à sociedade contemporânea algumas coisas das quais ela poderia se beneficiar, ainda que hesite em aprende-Ias”.2 Essa é uma possível aposta contra as intolerâncias de ontem e de hoje.

Os textos apresentados, em número de sete, analisam a nacionalização e a guerra de diversos ângulos e olhares, permitindo reflexões sobre as intolerâncias, a violência, o preconceito étnico, a língua, a literatura, as relações do Estado com o clero, com a escolarização e a repressão, interpretados a partir das fontes que escaparam à destruição daquele tempo de arbítrio. Eles ampliam, assim, o leque de possibilidades da análise histórica, cujas narrativas deixam entrever cenas do cotidiano, os imaginários sociais construídos e as conseqüentes representações de mundo deixadas em registros por homens e mulheres que viveram naqueles anos. Os textos apresentados são uma contribuição dos professores e professoras Maria Luiz Tucci Carneiro (USP), René Gertz ( PUCRS), Walquiria Renk (PUCPR), Priscila Perazzo (USP), Marlene de Faveri (UDESC), Cinthya Campos ( UFSC), Lúcio Kreutz (UNISINOS) Neide Fiori (UNISUL), pelo que agradecemos.

Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil foi gestado e realizado por uma comissão organizadora que reuniu professores / as e alunos / as das duas instituições envolvidas (UDESC e UFSC), e realizado nas dependências da Faculdade de Educação / Faed / UDESC.

Pesquisadores do tema, oriundos de instituições catarinenses e de outros estados, participaram de cinco Simpósios Temáticos, onde apresentaram seus trabalhos e estabeleram diálogos e debates, o que favoreceu a publicação dos anais completos, disponíveis no sítio «www.simposioudesc.cjb.net» O evento contou com o apoio da Associação Nacional de História, Núcleo de Santa Catarina – Anpuh / SC, da Fiepe, do Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura da Udesc, do Programa de Pós-Graduação em História da Ufsc e do apoio inestimável do Centro de Ciências a Educação / Faed / UDESC, por meio do Núcleo de Estudos Históricos e da Direção Assistente de Pesquisa e Extensão / Dape.

Notas

1. FERRO, Marc. A manipulação da História no ensino e nos meios de comunicação. 2.ed. são Paulo. Ibrasa, Instituto Brasileiro de Difusão Cultural Ltda 1999. P.11

2. HOBASBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, p. 48.

Marlene de Fáveri – Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)


FÁVERI, Marlene de. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.13, 2005. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê