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Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses – CUNHA (REF)
CUNHA, Cecília Maria. Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2008. 232 p. Resenha de: NOVAES, Mariana de Souza. Escritoras cearenses do século XIX. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.17 n.3 Sept./Dec. 2009.
O resgate da atuação e da ação de mulheres ao longo da história ainda se torna pertinente em pleno século XXI. Felizmente, hoje, muitas pesquisas têm sido feitas a fim de mostrar a importância exercida pela mulher tanto na história quanto na literatura, nas artes plásticas, na política, na educação e na imprensa, como esta, de Cecília Maria Cunha, que vem nos revelar o que há muito tempo ficou escondido ou esquecido: a produção feminina. Ainda assim, há muito a ser feito a despeito de esforços como o de Cunha. é preciso considerar que grande parte da produção literária feminina se encontra ausente nos estudos acadêmicos e, dessa maneira, esquecida dos leitores. Urge, pois, reapresentar as letras femininas, apontando sua importância na história da literatura.
A pesquisa de Cecília Cunha – mestre em Letras pela Universidade Federal da Paraíba – é pioneira. Através de uma investigação minuciosa e detalhada, a autora apresenta o estudo e o resgate dos primórdios das letras femininas cearenses. A ensaísta faz um recorte do final do século XIX até as duas primeiras décadas do século XX e expõe um panorama da imprensa, da literatura e da situação feminina tanto no Ceará quanto no restante do país.
Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses organiza-se em duas partes. A primeira trata da situação da mulher naquela época: a educação que recebiam; a participação na história do Brasil – o momento da abolição e da chegada da corte ao país – ; e a influência europeia na cultura e na educação das mulheres.
Vale destacar, como um dos pontos mais relevantes de sua pesquisa, o estudo sobre a imprensa feminina cearense e da imprensa feminina brasileira, embora Cecília Cunha não se aprofunde nesta última. Para a pesquisadora, a imprensa se configura como o principal e o primeiro instrumento de inserção das mulheres nas letras e, portanto, como meio de divulgação dos seus trabalhos literários. Ela apresenta diversas autoras que escreveram e colaboraram em jornais, revistas e almanaques femininos (ou não necessariamente só femininos), além de fundarem muitos deles, durante os séculos XIX e XX. Dá-nos a conhecer nomes de importantes escritoras, como Francisca Clotilde – considerada uma das mais presentes na literatura cearense – , Emília de Freitas, Ana Facó, Alba Valdez e Maria da Câmara Bormann, que foram objeto de estudo de sua dissertação de mestrado, agora publicada.
Há que se ressaltar que, na pesquisa de Cecília Cunha, encontram-se informações valiosas a respeito de jornais da época, como O Lyrio, Orvalho e Sexo Feminino. Já na segunda parte, a autora investiga e decompõe a obra literária de quatro escritoras, a saber: Emília Freitas, autora do romance A rainha do ignoto; Francisca Clotilde, ousada, escreveu sobre o divórcio em A divorciada; Alba Valdez, memorialista na sua novela Dias de Luz; e Ana Faço, com Páginas íntimas. Além disso, há, também, a crítica recebida por suas produções.
Deve-se destacar, ainda, os dados preciosos contidos nos rodapés, em que estão as fontes de estudo e de pesquisa utilizadas pela autora, informações importantes sobre as escritoras e os jornais cearenses e, também, algumas observações de indispensável leitura. Merece lembrança a presença de ilustrações de jornais que circulavam na época e de excertos de publicações das escritoras cearenses.
Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses é, pois, uma excelente contribuição no conhecimento da literatura dos séculos passados e, sobretudo, para aqueles que estudam e pesquisam a literatura brasileira de autoria feminina. Cecília Cunha reacende e resgata as letras produzidas por mulheres na literatura que nos antecedeu. O estudo trata-se, nas palavras da própria autora, de “uma verdadeira arqueologia literária”, de “escavações nos porões do silêncio”.
Mariana de Souza Novaes – Universidade Federal de Minas Gerais
(P)