Estado, sociedade, culturas políticas e economia no longo século XIX brasileiro | Vozes, Pretérito & Devir | 2022

A organização do dossiê Estado, sociedade, culturas políticas e economia no longo século XIX brasileiro é parte do esforço coletivo de um grupo de pesquisadores vinculados ao Grupo de Pesquisa Política, Sociedade e Economia do Brasil no longo século XIX, cadastrado no Diretório de Pesquisa do CNPQ. O referido grupo, que é formado por docentes e pesquisadores de cursos de Graduação e Pós-graduação de diversas regiões do país, escolheu como uma das suas estratégias de ação a criação de espaços institucionais de discussão e divulgação de pesquisa historiográfica, e tem como foco temporal o longo século XIX brasileiro.

Assim, a intenção do presente dossiê na Revista Vozes, Pretérito e Devir é a de acolher artigos que expressem o resultado de pesquisas articuladas dentro e fora do Grupo de Pesquisa e que, partindo de diversas matrizes teóricas e documentais, desenvolvam trabalhos de cunho historiográfico relacionados aos quatro campos de investigação propostos. Igualmente é necessário enfatizar as disposições das relações entre Estado e sociedade, a vida política, as interações sociais entre os indivíduos, as práticas discursivas, os grupos institucionalizados, a economia política, o processo econômico, os projetos de sociedade e a natureza conflituosa dessas relações. Tudo isso no transcorrer do longo século XIX no Brasil, entendido aqui como o período que abarca as últimas décadas do século XVIII até as primeiras décadas do século XX, tempo que compreende a crise colonial, o processo de independência e a construção da nacionalidade brasileira. Leia Mais

Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência / Revista Brasileira de História das Religiões / 2021

O presente dossiê teve contribuição de treze excelentes textos que nos ajudam a contribuir a atuação intercessão entre cristãos e a política brasileira mais recente. Pode-se dizer que política e religião a cada momento, a cada nova configuração governamental se relacionam de forma distintas tal como narram Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) sobre a arena dos diferentes estados nacionais. Agora, nos diferentes estados acaba que se tornou em alguns aspectos, caracterizado pelo questionamento da laicidade por seus atravessamentos.

1 A laicidade e o esboço de suas formas

Assim, uma questão da hora que se coloca sobre as desventuras de religião e política é sobre o aparato caraterizado como “laicidade” no âmbito dos Estados, sobretudo, nas questões da abstenção da religião. Esse sentido e grau de abstenção envolve no âmbito da sociedade uma infinidade de “embates de interpretações envolvidos sobretudo nos nichos promotores e suas diferentes apreensões religiosas” (RICOEUR, 1995, p.313). Esse curto-circuito de intensos conflitos foram apontados em linhas gerais em importante entrevista de Paul Ricoeur de 1995 – um dos raros textos que tratou dessa topografia teórico-social.

A definição de laicidade, as conexões de religião e política no âmbito dos Estados, é primeiro uma variável da conjuntura da gestão governamental do estado. Paul Ricoeur (1995) admite sobre isso que a noção de laicidade é diferente no Egito, na França, Portugal, Gabão e Inglaterra, nisso se alinha com teóricos com Nicos Poullantzas (1976), Judith Butler e Gayatri Spivak (2007) que a interpelação nos estados é uma variável local dependente de cada história social da religião oficial e do conjunto de forças hegemônicas. Por exemplo, Poullantzas (1976) indica que a Inglaterra respeita seu processo de laicidade respaldando os conflitos religiosos internos, mesmo assumindo, a partir a figura da rainha como liderança rainha e dirigente anglicanismo. A laicidade inglesa é descrita por Christian Smith (2003) vai designar de aberta para experiencias de fé, mesmo dando a primazia para o cristianismo de Westminster.

De igual forma Smith (2003) escreve sobre a França emergida no ambiente da Revolução Francesa, prorrogou um critério de laicidade, de retirada de símbolos e expressões religiosas dentro dos gabinetes até o ano de 2018. Por isso, Smith (2003) vai chamar o estado francês de “fechado” as discussões, diálogos e embates das expressões de fé. A partir de 2013, com uma série de campanhas e levantes mulçumanos e de migrantes acarretou na revisão da noção francesa de abolição de símbolos religiosos, até porque ocorriam cobranças das populações mulçumanas por conta das rezas diárias que se fazem na direção de Meca. Essa revisão de décadas da laicidade francesa se deu como uma série de acusações das populações emigradas que se referiram “o racionalismo europeu como racista” (PORTIER, 2019).

2 Laicidade no âmbito da sociedade

A noção de laicidade brasileira é ligada a laicidade portuguesa, uma forma mista das operações dos ambientes ingleses e franceses. Por isso Smith (2003) utiliza a expressão laicidades “mistas”, o que se torna mais desafiadora para as análises, pois admite internamente duplicidades de narrativas e aparentes contradições de argumentos.

Só por isso, afirma-se a importância desta edição da Revista Brasileira de Histórias das Religiões/ANPUH, com a discussão sobre cristãos e política em tempos difíceis.

Ao olhar mais o panorama da sociedade, ainda que sobre as sinalizações dos teóricos franceses, Phillip Portier (2011, p.190-195) indica-se que exista “há a laicidade do Estado, que pode ser referida com uma palavra: abstenção, com conotações restritiva e negativa”. O “Estado laico deve assumir papel de neutralidade em relação à religião e, consequentemente, às instituições religiosas” (PORTIER, 2011, p.195). Logo, seus representantes e estatutos não deveriam privilegiar ou posicionar-se de maneira agressiva em relação a nenhuma manifestação religiosa, o que para Paul Ricoeur (1995) esse caminho seria de uma espécie de “agnosticismo estatal”. Nesse sintagma a separação entre Estado e religião não implica simples ignorância de um em relação ao outro, mas, “há o intento de delimitar de maneira adequada o papel de cada um, de maneira que a religião seja reconhecida pelo Estado como entidade, com regimentos, registro e estatuto público, submetida às leis que regem os demais grupos e agremiações sociais” (RICOEUR, 1997, p.81).

Em termos jurídicos as instituições religiosas não têm o poder centralizador, configurando-se como mais uma associação dentre as outras, portanto, a religião não é “todo o estado, mas parte dele” (PORTIER, 2011, p.196). Paul Ricoeur (1995 p. 181), está convencido de que este conceito de laicização se mostra mais normativo do que efetivo, quando diz: “creio que é preciso ter mais sentido histórico e menos ideológico, para abordar os problemas ligados à laicidade”. O que se quer esmiuçar: os diversos Estados-nação, a partir de sua formação histórica peculiar, há mobilizações próprias sobre as religiões e as instituições estatais.

Junto a esse conceito de laicidade existe outro mais dinâmico. Quando se analisa no âmbito da sociedade civil, a laicidade coloca-se como embate de posicionamentos distintos, como pluralidade e diversidade de perspectivas. Esses conflitos de posicionamentos pressupõe uma sociedade marcada pelo pluralismo de concepções de mundo, de crenças, de ideias, de ideologias, de interpretações e de convicções. Em uma sociedade marcada por esta diversidade, a laicidade assume caráter dinâmico em razão do campo de disputas que se instaura. Esse “conflito de interpretações” não tem por objetivo a harmonização, um consenso. Mas, antes, assume-se que, em muitas questões, a impossibilidade de um acordo é patente. O que não é negativo, desde que se preserve as partes em desacordo. O conflito das interpretações, desde que se preserve os atores e seus argumentos, é uma forma de preservação das liberdades e dos conjuntos.

3 Tensões e questões da laicidade em disputa no Brasil

No Brasil atual, em que cada vez mais se aumentam os atravessamentos entre religião e política, deve-se lembrar que os conflitos de interpretações religiosas são inerentes a formação do Estado republicano (1889) que se mantém neutro, ao menos oficialmente, em relação a instituições religiosas, ou então, deveria ser mantido. Com esses dados sobre religião e política no Brasil podemos vislumbrar incursões dos atores religiosos, em especial católicos e evangélicos, na construção de uma patrulha ideológica nos postos do Estado brasileiro e sua ocupação efetiva, e, todos os níveis, local, regional e federal e se espraiando pelos três poderes. Daí a importância desse dossiê, e sobretudo, que a laicidade brasileira não seja um conceito dado, fixo, mas se encontra em disputa.

É o que se pode perceber, quando o atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, afirmou em 2019 no maior evento evangélico do país, a Marcha para Jesus: “O país é laico, mas eu sou cristão”. Está ocorrendo um claro deslocamento da neutralidade do estado, e o se preservando as partes nos conflitos religiosos internos a nossa sociedade (PY, 2020). Por outro lado, isso sempre foi uma ponta de disputa, como por exemplo, com o advento do Estado de 1892, na primeira Carta Constitucional da República, tratou-se sobre a laicidade brasileira, e por conta dela o clero viram a necessidade de tentar “recatolicizar”, e passaram a investir nas novas instituições republicanas, buscando influenciar decisões políticas e sociais por meio da formação de uma elite intelectual católica (SILVEIRA, 2019).

Um dos marcos desse início e reação católica foi a promulgação, em 1916, da Carta Pastoral de Dom Sebastião Leme, arcebispo de Olinda e Recife, tornou-se, mais tarde, arcebispo e cardeal do Rio de Janeiro pelas mãos do Papa Pio XI (SILVEIRA, 2019). A Carta Pastoral fazia parte de um momento que se delineava desde a origem da República Brasileira, quando a Igreja Católica reuniu suas forças para consolidar reformas internas, como o recrutamento de novos membros estrangeiros para as ordens religiosas, a criação de novas dioceses e a consolidação de um discurso e de uma ação mais homogêneos (SILVEIRA, 2019). Assim, o dossiê apresentará uma série de reflexões teóricas e de objetos empíricos, construtos de seus autores e autoras, na forma de treze artigos que brindam os leitores e pesquisadores dos temas do Brasil contemporâneo.

4 Os artigos do dossiê

Logo em seguida, o trabalho intitulado “Pela “família tradicional”: campanha de candidatos evangélicos para a ALEP nas eleições de 2018”, escrito pelos pesquisadores Frank Antonio Mezzomo, Lucas Alves da Silva, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro, discutem a partir do material de campanha (coletado nas redes sociais e sites) de alguns candidatos a deputados estaduais no estado do Paraná, seus posicionamentos políticos. Os temas centrais encontrados em geral foram: a defesa da escola sem partido, a luta contra a ideologia de gênero, e debates sobre a reprodução da vida. A preocupação destes candidatos é em geral com temas religiosos e morais.

A pesquisadora-docente Dora Deise Stephan Moreira contribui com o artigo denominado “A trajetória de Marcelo Crivella: de cantor gospel a prefeito da segunda maior cidade brasileira em 2016”. O texto discute as ações adotadas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para eleger inicialmente para o cargo de senador o bispo licenciado Marcelo Crivella, e depois, ao cargo a prefeitura do Rio de Janeiro que foi eleito em 2012. A dança entre a imagem religiosa e a imagem política se complexifica e é utilizada por Crivella de forma instrumental, ao sabor das circunstâncias políticas-eleitorais. Em todas as campanhas disputadas por Marcelo Crivella houve a vinculação da sua imagem com o projeto Nordeste. Projeto este desenvolvido pela IURD para fins sociais. Percebeu-se a associação do referido político com a questão midiática, assistencial, religiosa e moralista.

O próximo texto a ser apresentado e de autoria do docente da Universidade do Estado do Pará Saulo Baptista. O título do seu trabalho é “Os Evangélicos e o Processo Republicano Brasileiro”. No início do seu trabalho, o autor faz uma recapitulação histórica da chegada dos protestantes em terras brasileiras e sua presença pública em contraponto a hegemonia católica. Logo em seguida, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento dos pentecostais e dos neopentecostais na política brasileira. O texto termina com uma eximia reflexão a respeito da presença dos evangélicos na atual conjuntura política nacional.

O docente Aldimar Jacinto Duarte e Seabra Vinicius contribuem com este número com o texto chamado “O campo político e o campo religioso a partir dos jovens ligados a International Fellowship of Evangelical Students (IFES) na América Latina”. Muito interessante a reflexão desenvolvida a respeito da postura, aparentemente, apolítica do grupo do IFES. Para chegar a esta conclusão foram aplicados questionário via Google-Forms em vinte países da América Latina, obtendo 228 respostas. A análise dos dados foi feita a partir dos conceitos da teoria de Pierre Bourdieu. Tal grupo é majoritariamente formado por jovens universitários.

Os pesquisadores Ricardo Ramos Shiota e Michelli de Souza Possmozer escreveram o texto denominado “O Brasil cristão da Frente Parlamentar Evangélica: luta pela hegemonia e revolução passiva”, que discute a partir das informações contidas no Facebook da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), criada em abril de 2019. Sabemos que a FPE é entusiasta apoiadora do governo Jair Bolsonaro (sem partido), sobretudo pelo alinhamento ideológico na defesa das pautas de costume ou morais, fundamentalismo religioso e defesa de postura vinculadas aos expecto ideológico de extrema direita. Foram analisadas 209 publicações, entre 01 de abril e 31 de outubro de 2019. A teoria escolhida para analisar os dados foram os conceitos desenvolvidos por Gramsci.

Os autores Cézar de Alencar Arnaut de Toledo e William Robson Cazavechia adotaram como título do texto, “As Formas de Adaptabilidade do Neopentecostalismo Brasileiro à Mídia” e discutem a presença do conservadorismo religioso neopentecostal na mídia brasileira. Historicamente os evangélicos tiveram concessão de rádio, tv, criaram páginas de internet, e o uso das redes sociais com o intuito de posicionarem a respeito dos mais variados temas nacionais na perspectiva do fundamentalismo cristão. O texto é instigante e nos mostra como a mídia é bem trabalhada por este grupo religioso no Brasil.

O texto publicado foi de autoria dos autores Fabio Lanza, Luiz Ernesto Guimarães, José Neves Jr. e Raíssa Rodrigues, cujo título é “Engajamento político e Renovação Carismática Católica em Londrina-PR (2014-2016)”. O texto discute os posicionamentos políticos dos grupos católicos carismáticos (RCC) na cidade de Londrina inteiro de São Paulo. A partir de visitas de campo e entrevistas semiestruturadas, os autores conseguiram perceber a visão de mundo das lideranças deste universo religioso sobre o atual momento político brasileiro, Em geral, os representantes ou postulantes da RCC a cargo para o poder legislativa ou executivo, defendem pautas conservadoras, são fundamentalistas religiosos e benefícios institucionais para organismos de inspiração carismática católica e outros segmentos da Igreja Católica no Brasil.

Ao discutir o governo Bolsonaro na relação religião e política, a união entre católicos e evangélicos tem evidenciado de forma rotineira. O texto “Entre a articulação e a desproporcionalidade: relações do Governo Bolsonaro com as forças conservadoras católicas e evangélicas” escrito por Marcelo Ayres Camurça Lima e Paulo Victor Zaquieu-Higino tenta compreender se esta aproximação pode ser caracterizada como uma ação ecumênica de extrema-direita, num contramovimento do que no passado caracterizou as tentativas de aproximação entre os diferentes grupos cristãos em torno, por exemplo, da Teologia da Libertação e das lutas sociais na América Latina. Uma forte indagação é feita e discutida ao longo do texto: nessa trama religioso-política de extrema-direita, o catolicismo estaria sendo “eclipsado” e o pentecostalismo destacado? Não tenha dúvida que o atual governo aciona a religião para fundamentar suas ações e visões de mundo na política.

O próximo trabalho a ser apresentado traz como título “Guerras culturais e a relação entre religião e política no Brasil contemporâneo” escrito pelos pesquisadores Roberto Dutra e Karine Pessôa. O texto versa da presença da moralidade na política, provocada pela religião nas eleições de 2018. Os autores recorrem as categorias da sociologia política sistêmica de Niklas Luhmann para analisar o fenômeno religião e política na eleição referida.

O artigo chamado “A ‘governabilidade’ petista” escrito pela pesquisadora Amanda Mendonça é bem interessante e supre lacuna na literatura a cerca religião e política, que versa sobre a relação do Partido dos Trabalhadores (PT) com os pentecostais e os católicos, no período que esteve à frente da presidência do Brasil. A autora mostra que evangélicos e católicos uniram-se em torno da defesa de pautas conservadoras e, ainda que dando alguma sustentação político-partidária, causaram conflitos com a gestão petistas por entenderem que a “essência” do governo era contrária ao seu ideário religioso. Por outro lado, os governos petistas ofereceram alianças, cargos e apoio direto e indireto – subvenção de comunidades terapêuticas religiosas para o tratamento de drogadições, concessões de rádio e TV por exemplo – aos grupos cristãos em nome da governabilidade, essa geringonça feita de modos heteróclitos e que em 2018 entrou em um novo patamar de crise.

Os pesquisadores do campo das relações internacionais Anna Carletti e Fábio Nobre com o texto intitulado “A Religião Global no contexto da pandemia de Covid-19 e as implicações político-religiosas no Brasil”, nos mostra como líderes religiosos no Brasil e no mundo reagiram a pandemia Covid-19. Os pesquisadores André Ricardo de Souza e Breno Minelli Batista contribuem com o trabalho intitulado “Os efeitos políticos no Brasil dos sete anos iniciais do Papa Francisco”, tentando compreender as relações políticas e religiosas do Papa Francisco com o governo Jair Bolsonaro (sem partido). Sabemos que o Papa Francisco assume o papado em 2013, logo após, a renúncia do atual Papa Emérito Papa Bento XVI.

E por fim, o docente Graham McGeoch com o trabalho “Field Notes from Brazil: We don’t believe in Democracy”, faz uma interessante reflexão da presença dos elementos religiosos na atual conjuntura política brasileira, elegendo a eleição e o governo Bolsonaro como tema de análise. Daí, extraímos algumas perguntas: Que tipo de democracia é esta que temos e o porquê ela se enredou em uma trama político-religiosa de extrema-direita? É possível acreditar nesse tipo de democracia? E, por fim, que outra democracia podemos sonhar para sairmos uma relação disfuncional, inflamada e perversa entre cristianismo reacionário e política estatal (um estado de sítio) que a democracia liberal-representativa permitiu vir à luz.

Referências

BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri. Who sings the Nation-State? Language, Politics, Belonging. New York: Seagull. 2007

POULANTZAS, Nicos (Org.), La Crise de l’État. Paris : Presses Universitaires de France, 1979.

PY, Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.

RICOEUR, Paul. Phenomenology and the social sciences. In: KOREBAUM, M. (Org.). Annals of Phenomenological Sociology, Ohio: Wright State University, 1977.

RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações. Ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro: Imago, 1978.

RICOEUR, P. Leituras 1. Em torno ao Político. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

SMITH, Christian. The secular revolution: power, interests, and conflict in the secularization of American public life. Berkeley: University of California Press, 2003.

SILVEIRA, Emerson. J. S. Padres conservadores em armas: o discurso público da guerra cultural entre católicos. Reflexão, PUCCAMPINAS, v. 43, 2019, p. 289-309.

Fábio Py – Professor do Programa de Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Riveiro. E-mail: pymurta@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7634-8615.

Emerson Sena da Silveira –  Doutor em Ciência da Religião, antropólogo, professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. E-mail: emerson.pesquisa@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5407-596X.

Marcos Vinicius Reis Freitas – Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Pós-Graduação em História Social pela UNIFAP, Docente do Curso de Pós-Graduação em Ensino de História (PROFHISTORIA). (CEPRES-UNIFAP/CNPq). E-mail para contato: marcosvinicius5@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0380-3007.


PY, Fábio; SILVEIRA, Emerson Sena da; FREITAS, Marcos Reis. Apresentação – Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência. Revista Brasileira de História das Religiões. Marigá, v.13, n.39, p.5-12, jan. / abr. 2021. Acessar publicação original [IF].

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Juntos pero separados. Estado y organizaciones sociales en la provincia de Buenos Aires (fines del siglo XIX-Primera mitad del XX)/PolHis/2020

Los vínculos entre el mundo asociativo y el Estado en la provincia de Buenos Aires desde las últimas décadas del siglo XIX y durante la primera mitad del XX han concitado la atención de algunos investigadores, tanto de la historia política como de la socio-cultural, que encontraron en este cruce un terreno fecundo para explorar la politicidad de lo cotidiano y la experiencia de lo político en el interior del país (Pasolini, 2007; Bisso, 2009; Cernadas, Bracamonte, Agesta y de Paz Trueba, 2016; Cernadas, Agesta y López Pascual, 2018). Leia Mais

Arte e política: Estado e nacionalismo / Faces de Clio / 2020

A Revista Faces de Clio, periódico discente ligado ao programa de pós graduação em história da Universidade Federal de Juiz de Fora, tem o prazer de apresentar a sua mais nova edição “Arte e política: Estado e nacionalismo”. Essa edição foi toda construída, desde a escolha do tema, o recebimento de artigos, avaliação dos textos até a diagramação dos arquivos, durante a pandemia do Coronavírus e a crise sanitária, política e social que estamos vivendo. Por esse motivo, reconhecemos e agradecemos o esforço de toda a nossa equipe e dos pareceristas que colaboraram para manter a qualidade da revista. Diante do complicado momento que enfrentamos, a Faces de Clio reforça o seu compromisso com a ciência e com a defesa da Universidade pública, ressaltando a importância de combatermos o negacionismo, o autoritarismo e as falsas notícias.

O presente dossiê apresenta vinte artigos que versam sobre o tema das relações e disputas entre a arte e política, com a temática mais ligada à utilização da arte pelo Estado e como instrumento de construção de nacionalismos. Partindo dos mais diferentes suportes artísticos, da música à história em quadrinhos, dos mais diversos espaços geográficos e períodos históricos, os textos apresentam grande contribuição historiográfica e cultural.

Abrimos a edição com o artigo do Álvaro Saluan da Cunha que busca apresentar alguns aspectos observados na coleção de gravuras e textos intitulada “Quadros historicos da guerra do Paraguay” e nas imagens e notícias da Guerra que circularam em periódicos como a Semana Illustrada e A Vida Fluminense, que foram úteis, não só para informar o povo da Corte, mas também para a consolidação da memória e do imaginário popular sobre o conflito.

Em seguida, ainda no campo da história militar, o artigo da Bárbara Tikami examina a relação entre a Marinha Brasileira e um determinado conjunto de quadros pintado por Eduardo de Martino, um oficial da Marinha Italiana que renunciou a sua carreira castrense para se dedicar a atividade artística após chegar a América do Sul.

Carlos Cesar de Lima Veras, em seu artigo, “Deus e o Diabo em Bacurau” tem por objetivo realizar uma análise acerca dos usos da história em duas produções cinematográficas brasileiras: Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de 1964 dirigido por Glauber Rocha, e Bacurau, filme de 2019 dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.

Continuando com a leitura, Carlos Conte Neto realiza um relato da recepção de Uivo e de outros textos beats na sociedade norte-americana dos anos 50 e 60, em seguida, aponta indícios de como essa literatura reverberou em Portugal durante a ditadura do Estado Novo, onde também provocou reações adversas, mas inspirou poetas. O artigo tem o objetivo de evidenciar aproximações entre a poesia ginsberguiana e os textos de alguns poetas portugueses da segunda metade do século XX.

Deivid Fernando Franco, em seu artigo “Do desencanto a desilusão: Rock e política nos anos 80” discorre sobre a relação entre rock e política, por meio da análise de letras de músicas e de entrevistas cedidas por artistas às mídias da década de 80. Buscou-se perceber se existem posicionamentos políticos nesses discursos e como se deram as relações entre política e rock nos quadros da redemocratização brasileira.

Em “Tancredo em Charges: A representação do humor gráfico na redemocratização (1985)”, Fábio Donato analisa charges publicadas em um conjunto de periódicos durante o período de transição da ditadura civil-militar no Brasil, selecionando periódicos da chamada grande imprensa.

A pesquisadora Fernanda Arouca, se propõe a analisar os trabalhos dos caricaturistas Calixto e Storni, integrantes da revista O Malho, que tiveram como tema a Grande Guerra, e a identificar o discurso sobre o conflito veiculado em um contexto no qual a propaganda e a censura da imprensa foram determinantes para o desdobramento do conflito.

Continuando a leitura, o autor Fernando Cardoso, pretende articular a memória visual e a política cultural imbricadas no painel figurativo “Capela dos fundadores” do artista curitibano Sérgio Ferro, com o que Fraçois Hartog denomina de os sintomas presentistas: memória e patrimônio.

Em seguida, Indaiá Demarchi Klein, busca compreender a presença da obra O Lago dos Cisnes (1887), originaria do período czarista, durante o regime soviético até o seu uso em turnês internacionais, como propaganda ideológica.

Janine Figueiredo de Souza Justen em seu texto “Imagens como tomadas de posição: Uma análise da caricatura política na revista O Malho (1902-1906)” propõe-se investigar as relações editoriais, ideológicas e estilísticas estabelecidas entre as imagens publicadas n’O Malho e seus produtores no contexto do “Bota-Abaixo” (1902-1906).

Leandro Martan Bezerra Santos faz uma reflexão sobre disputas de poder, narrativa, espaço e proeminência no campo musical, a partir da análise das composições do cantor Belchior. Para isso relaciona os trabalhos de Belchior com outros artistas da Tropicália e Pessoal do Ceará, além de tratar sobre a relação deste com a indústria musical.

No artigo “Arte, política cultural e cooperação teuto-italiana no Rio de Janeiro da Era Vargas”, Liszt Neto tem como base os interesses e estratégias comuns utilizados pela política cultural alemã e italiana no Rio de Janeiro ao se estabelecerem nas Américas. A partir disso, o autor estuda como a colaboração no campo artístico e cultural teve influência direta nas atividades da Pro Arte, associação de artistas e amantes das artes alemãs no Brasil.

Já Luciana da Costa de Oliveira realiza um estudo sobre o artista Pedro Weingärtner (1853-1929), atentando-se principalmente as pinturas sobre os espaços da imigração no Rio Grande do Sul e as atividades dos gaúchos, procurando problematizar as indagações que estiveram no entorno da construção da pintura Rodeio, finalizada no ano de 1909 e produzida a partir de uma encomenda do governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Em “Napoleão como Filoctetes: Apropriação de um mito grego em uma caricatura antinapoleônica”, Mateus Dagios apresenta um caso de reapropriação do mito de Filoctetes na caricatura antinapoleônica, Nicolas Philoctète dans l’Îsle d’Elbe (1814-1815), que compôs um Napoleão ferido e abandonado, a partir da mistura da antiguidade, discurso nacional e caricatura.

O artigo escrito por Mikaela Moreno Vasconcelos Araujo, “Pintura Histórica na Amazônia: O vernissage de 1908 como Hauptmomente da história na Amazônia”, reflete sobre a Amazônia enquanto capital da borracha, na qualificação de uma Petit Paris. A autora destaca o projeto artístico-civilizador do intendente e mecenas que idealizara uma representação épica da história da nação, aos olhares pintores-historiadores da Europa do século XIX. A partir deste contexto, o artigo salienta a narrativa visual pintada por Theodoro Braga e Antônio Parreiras acerca da Amazônia.

Com intuito de analisar as representações do presidente Ronald Reagan (1911-2004) na história em quadrinhos “Batman, o Cavaleiro das Trevas” (1986), roteirizada por Frank Miller, Millena Barbosa de Carvalho, traz uma discussão sobre as possíveis relações entre este gênero textual e o contexto de sua produção, a década de 1980 nos Estados Unidos.

Em tempos de pandemia do vírus Covid 19, Pablo Lemos Lucena se propôs a pensar sobre as condições precárias dos entregadores que trabalham com aplicativos. O autor associa as imagens e vídeos feitas destes entregadores com autores como Achille Mbembe e Vladimir Safatle ou sobre arte política, arte como tomada de posição a exemplo de Georges DidiHuberman e Hall Foster, a fim estabelecer um diálogo sobre diversos aspectos, como o tempo, a impermanência, além das contradições e fraturas presentes em nossa sociedade.

A autora Paola Pascoal apresenta uma abordagem sobre a relação entre a criação de uma arte nacional e a própria formação da nação brasileira, a partir da análise da ressignificação dos resquícios da cerâmica arqueológica Marajoara, na primeira metade do século XX, que foram utilizados como fonte original da verdadeira arte brasileira.

A fim de realizar uma discussão sobre a consagração da baiana e dos balangandãs como um elemento da identidade nacional na Era Vargas, a autora Sura Souza Carmo faz uma análise das ações de fortalecimento do Estado, que na década de 1930, valorizaram as atividades artístico-culturais para reforçar o nacionalismo e unidade nacional.

No trabalho “Ingênua e frouxa substância humana: A Moreninha na encruzilhada entre Miroel Silveira e João Apolinário (1969)”, Thales Reis Alecrim, busca investigar o programa da peça A Moreninha, baseada no romance de Joaquim Manuel de Macedo (1844) e encenada em 1969, relacionando esta com uma crítica teatral escrita por João Apolinário, visto que este apresenta uma leitura diferente do romance.

Encerrando a sessão do dossiê temático, Wagner Pires da Silva, apresenta um diálogo com base na literatura, para mostrar como os russos se esforçaram na construção de uma Rússia comunista com melhor infraestrutura de ferrovias, estradas e fábricas, após a destruição destes, devido anos de conflitos.

A próxima edição da Revista Faces de Clio também terá o tema de Arte e Política. Felizmente recebemos muitos artigos de alta qualidade e resolvemos dividir a edição em duas partes, o segundo dossiê será lançado no início de 2021. Desejamos a todos e todas uma boa leitura e um 2021 mais leve e de muita luta!

Bárbara Ferreira Fernandes – Editora-chefe da Revista Faces de Clio, doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: barbaraffernandes@outlook.com

Carolina Martins Saporetti – Editora-chefe da Revista Faces de Clio, doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: carolinamartinssaporetti@gmail.com


FERNANDES, Bárbara Ferreira; SAPORETTI, Carolina Martins. Editorial Faces de Clio, Juiz de Fora, v.6, n.12, jul / dez, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Estado, democracia e movimentos sociais na América Latina contemporânea | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2020

Desde princípios do século XX, os países da América Latina se veem diante do desafio de construir alternativas para a modernização do Estado e o desenvolvimento nacional, frente à crise e ao colapso dos regimes de dominação oligárquica, fundamentados no modelo primário-exportador. Liberais em aspectos econômicos, na política, o Estado oligárquico era bastante interventor, especialmente na garantia da exclusividade do poder para os grupos primário-exportadores por meio de intensa repressão contra os demais setores da sociedade. Nas primeiras décadas do século, alguns países vivenciaram rupturas com o modelo oligárquico, como a Revolução Mexicana, iniciada em 1910, e a eleição de Hipólito Yrigoyen para presidente da Argentina, em 1916. Porém, é somente a partir dos anos de 1930, que a maioria dos países da América Latina se depara com o desafio de superação da dominação oligárquica, frente ao colapso do modelo primário-exportador no contexto da depressão mundial. Intensificam-se as mobilizações em prol da democratização da sociedade e de novos modelos de desenvolvimento econômico. Esse cenário foi marcado pela exacerbação do nacionalismo, do autoritarismo, dos movimentos sociais e das polarizações ideológicas. As propostas para superação do modelo oligárquico das sociedades latino-americanas não foram adotadas sem conflitos e convulsões. Leia Mais

Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) -parte 2 / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2016

A Revista Clio abre este volume com a segunda parte do dossiê Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889), que versa sobre instituições, atores e processos políticos no Brasil império, no período de 1850 a 1889. Sua abordagem procura compreender o campo da política, ultrapassando as fronteiras restritas do Estado, em suas dimensões e articulações com a sociedade e a cultura. Também privilegia a atuação, individual e coletiva, de pessoas anônimas, para além da figura dos “grandes” lideres. Seu corte cronológico se estende da consolidação ao fim do estado imperial. Um período de afirmação do poder central sobre os locais, rearticulações políticas nas províncias, de férteis debates em torno da construção do estado. É o tempo compreendido entre o fim do tráfico e o da escravidão, assinalado ainda por movimentos sociais e políticos, como o abolicionista e o republicano. Cidadania, Estado, elites políticas, eleições, movimentos sociais são os principais temas que este dossiê se propõe a discutir.

Os dois primeiros artigos tratam do recrutamento e da Guarda Nacional no Ceará. O trabalho de Maria Regina Santos de Souza, A implacável surdez das autoridades do império: as súplicas dos veteranos da Guerra do Paraguai (1870-1889)analisa, no período posterior a Guerra do Paraguai, a (des)atenção do governo brasileiro com os direitos concedidos aos excombatentes, tais como pensões, empregos públicos, terras e compensação financeira. Souza mostra os problemas gerados para os veteranos. Parte significativa deles enfrentou a desorganização e a falta de conhecimento jurídico da burocracia do Estado. Este artigo aborda a luta dos veteranos do Ceará pelos direitos de guerra.

O artigo de Ana Sara Cortez Irffi, “O cidadão não encontra garantia senão na própria força” – Recrutamento, milícias privadas, quadrilhas de „cabras‟ e a propriedade privada (Cariri Cearense, século XIX), analisa o processo de construção do Estado brasileiro em meados do Oitocentos, o recrutamento para a Guarda Nacional e a formação de milícias privadas no sertão das chamadas províncias do Norte. A análise se volta às milícias surgidas a partir das relações estabelecidas dos senhores com agregados e moradores, mas também, no bojo desse processo, à formação de grupos alheios aos senhores que ficaram conhecidos como „quadrilhas de cabras‟.

Rafael Sancho Carvalho da Silva analisa os aspectos políticos do banditismo no sertão baiano em seu artigo Antonio José Guimarães: banditismo e disputas políticas no sertão baiano Oitocentista. Rafael discute a relação do banditismo com as disputas políticas no sertão baiano, usando o caso de Antonio José Guimarães que atuou entre 1849 e 1854 pelos sertões da Bahia e de Goiás. Mostra também que podemos analisar o banditismo como um fenômeno da história política.

Em seguida temos o artigo Práticas docentes no Recife e Olinda na segunda metade do século XIX de Dayana Raquel Pereira de Lima e Yan Soares Santos. Partindo da metodologia da microanálise, analisam as trajetórias e demandas dos membros da Sociedade Propagadora da Instrução Pública de 1872, e as petições feitas pelos professores aos poderes públicos dos principais expedientes práticos do trabalho docente. Mostram que a docência foi marcada por práticas individuais de cidadania, quando os professores desenvolviam estratégias pessoais, de acordo com privilégios conquistados ao longo da carreira, os quais, na prática, afastavam a possibilidade de constituírem uma identidade docente.

Os próximos três artigos se dedicam a história agrária do Brasil oitocentista. O artigo A política de acesso à terra no Brasil Imperial e a compra de terras devolutas no planalto da Província de Santa Catarina, de Paulo Pinheiro Machado e Flávia Paula Darossi, analisa a aplicação da Lei de Terras na Província de Santa Catarina, com ênfase no município de Lages. O estudo foi realizado com base em requerimentos de compra de terras devolutas, lavrados entre 1850 e 1889, previstos na legislação como a única forma legal de acesso à terra. Machado e Darossi mostram que, por tratar-se de uma fronteira agrícola e de povoamento em expansão, o planalto catarinense foi ocupado de diferentes maneiras – que ultrapassavam as disposições da própria Lei -, o que repercutiu em complexas estratégias de regulamentação da propriedade.

Em seguida Francivaldo Alves Nunes contribui ao Dossiê com o estudo da questão agrária na Amazônia em seu artigo Entre outras estratégias de controle e dominação: Estado, agricultura e colonização na Amazônia Oitocentista. Nunes analisa a relação entre os discursos construídos em torno da agricultura e colonização, caracterizados pela moralização da sociedade e a atuação do Estado imperial. Baseado em relatórios governamentais, mostra como esses valores, associados à atividade agrícola, exigiram do Estado um desempenho não apenas de manutenção da ordem, mas como instituição promotora de políticas que elevassem os hábitos das populações na Amazônia. A afirmação do Estado também se deu, no interior das províncias do Pará e Amazonas, através de ações revestidas de um discurso de promoção da ordem, da modernidade e da civilização.

O artigo Formação do ambiente rural sul-mato-grossense (1829-1892), de Maria do Carmo Brazil e Elaine Cancian, discute a organização da sociedade agropastoril nos campos sulinos de Mato Grosso. Partindo principalmente de relatos memorialísticos e inventários post-mortem, as autoras analisam o peso da pecuária nos municípios de Santana de Paranaíba, Rio Brilhante, Coxim, Corumbá, Campo Grande e Miranda,entre os anos de 1829 e 1892, na expansão da fronteira fundiária do centro-oeste brasileiro. Brazil e Cancian mostram a concentração fundiária, e a exclusão social nela inscrita e dela decorrente, e a montagem de um aparato político repressivo e autoritárioinscritos no processo de ocupação das terras sulmato-grossenses.

O Dossiê é encerrado com o artigo Índios / as, negros / as, mestiços / as, para além da paisagem amazônica: a construção de experiências locais em notas etnográficas da obra de Alfred Russel Wallace (1850-1852) de Victor R. L. Silva e José O. Aguiar. O artigo tece considerações sobre as viagens científicas no Brasil Imperial, com destaque para a trajetória de Alfred Russel Wallace pelos rios e matas equatoriais da Amazônia e para os mais variados encontros culturais que tiveram espaço nessa jornada coletora. Ganha relevo o destaque à descrição de índios / as, negro / as e mestiços / as na ótica do naturalista-viajante e a análise das características e recorrências de seu olhar tanto em sentido de continuidade quanto à base do pensamento oitocentista, quanto em sentido de ruptura, dissensão e criatividade.

A parte dedicada aos artigos livres conta, neste volume, com sete textos referentes à abordagens diversas no tempo e no espaço. O primeiro deles é de autoria de Grasiela Florêncio de Morais e enfoca as relações de subordinação e controle entre as autoridades do Recife e a população pobre da cidade no período 1830-1850. A autora aponta como os projetos de melhoramentos materiais redundavam na vigilância cotidiana das camadas despossuídas da capital pernambucana. Martha Victor Vieira discute em seu texto como a circulação de ideias liberais na imprensa da província de Goiás se insere no processo de consolidação da consciência nacional brasileira no período regencial. Gustavo Magno Barbosa Alencar também trabalha a década de 1830, mas sua abordagem se dirige para a província do Ceará. Utilizando os periódicos e manuscritos de época, o autor procura analisar as concepções do pensamento liberal com atenção para a compreensão dos usos do vocabulário político da época.

Continuando nos estudos sobre o século XIX, Thiago Broni de Mesquita e João Victor da Silva Furtado nos apresentam o processo de estabelecimento de prisões na província do Grão-Pará nos tempos da Cabanagem. Os autores discutem a criação das cadeias no contexto das medidas de coerção postas em prática pelas autoridades daquela província. De volta ao Ceará, nos deparamos no texto de Antônio José de Oliveira com a análise sobre o processo de invisibilização dos índios Kariri na historiografia que se dedicou ao estudo da segunda metade do século XIX naquela província.

Passando para o século XX, encontramos aqui dois textos relativos à história cultural de Pernambuco e Ceará. Lucas Victor Silva nos traz sua abordagem da atuação da Federação Carnavalesca Pernambucana durante os anos 1930. O autor aponta como essa instituição procurou controlar as manifestações carnavalescas no estado como forma de manifestar a coesão nacional em consonância com as aspirações políticas do regime pós-1930. Fechando o volume, contamos com o texto de Anderson de Sousa Silva sobre as políticas de cultura e artes nos anos 1960 no Ceará. O pesquisador reflete sobre as relações entre Estado e cultura e também dedica atenção ao processo de inserção do Ceará no panorama artístico brasileiro.

Os organizadores deste número da Revista Clio desejam que os estudos aqui publicados possam estimular debates e novas contribuições à historiografia brasileira.

Boa leitura!

Suzana Cavani Rosas e Cristiano Luís Christillino

Organizadores do Dossiê

George F. Cabral de Souza

Editor

Suzana Cavani Rosas – Organizadora do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: suzanacavani@uol.com.b

Cristiano Luís Christillino – Organizador do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: christillino@hotmail.com

George Felix Cabral – Editor da Revista. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: georgecabral@yahoo.com


ROSAS, Suzana Cavani; CHRISTILLINO, Cristiano Luís; CABRAL, George Felix. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.34, n.2, jul / dez, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) (1) / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2016

O dossiê Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) abre este número da revista e versa sobre instituições, atores e processos políticos no Brasil Império, no período de 1850 a 1889. Sua abordagem procura compreender o campo da política, ultrapassando as fronteiras restritas do Estado, em suas dimensões e articulações com a sociedade e a cultura. Também privilegia a atuação, individual e coletiva, de pessoas anônimas, para além da figura dos “grandes” líderes. Seu corte cronológico se estende da consolidação ao fim do Estado imperial. Um período de afirmação do poder central sobre os locais, rearticulações políticas nas províncias, de férteis debates em torno da construção do Estado e de crise do regime. É o tempo compreendido entre o fim do tráfico e o da escravidão, assinalado ainda por movimentos sociais e políticos, como o abolicionista e o republicano. Cidadania, Estado, elites, movimentos sociais e cultura política são alguns dos principais temas que o dossiê se propõe a discutir. Em vista do grande número de trabalhos inscritos e aprovados para publicação, os seus organizadores e o editor da revista CLIO optaram por dividi-lo em duas partes, contemplando-se a primeira neste número da revista, ficando a segunda para o próximo, a sair no segundo semestre do presente ano.

O seu primeiro artigo, “Notícias d´além-mar: o tema do sufrágio e da cidadania das mulheres na imprensa brasileira oitocentista”, de Priscila Salvaia, se debruça sobre um tema destacado da história cultural, a imprensa e as experiências de leitura, procurando discutir, através do jornal O Globo, as ideias e possíveis reações do público brasileiro sobre o nascente movimento feminista e suas lutas pela cidadania e o voto das mulheres.

Os três trabalhos que se seguem, “De repente ‘povo’: maneiras de pensar a participação política a partir da campanha abolicionista de 1884”, “Monarquia federativa e democrática: o congresso liberal de 1889” e “Os sentidos do reformismo nos momentos finais do império”, estão direcionados para história política no “ocaso” do Império e buscam compreender o caminho trilhado pelo Partido Liberal diante das novas demandas da sociedade por reformas, cada vez mais frequentes no final do Império. O primeiro artigo acima referido, de Felipe Azevedo Souza, analisa a concepção de Joaquim Nabuco sobre o povo e sua defesa da ampliação da cidadania política no país. O autor ainda realça o lugar dos segmentos populares nas eleições de 1884, procurando descortinar sua condição de cidadão ativo na política, embora dela formalmente estivessem excluídos, por não possuírem o direito de votar, especialmente após a promulgação da Lei Saraiva. Já o segundo artigo, de Felipe Niciletti Ribeiro, está centrado nos liberais e seu Congresso de 1889, ocorrido na Corte. O referido congresso buscava adequar o Partido a uma nova pauta de reivindicações da sociedade à época, sobressaindo-se entre elas a reforma do Estado, a expansão do sufrágio e da educação, sem esquecer também das novas demandas por autonomia provincial, como no caso da proposta da elegibilidade dos presidentes de província. No plano social, o destaque ficava para a continuidade da pauta reformista abolicionista que passava pelo combate ao latifúndio. Ressalta-se no artigo a perspectiva de um Partido Liberal nada resignado a ameaça da República, disposto a reinventar-se como força política identificada com a Monarquia e também mais aberto aos novos anseios e inquietações da população por mudanças.

Duas instituições, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Colégio D. Pedro II, são objetos de estudo do artigo “Fronteira e integração territorial na escrita da história “didática” oitocentista”, realizado por Luís César Castrillon Mendes e Renildo Rosa Ribeiro. Na sua leitura nos deparamos com as construções discursiva e pedagógica sobre as fronteiras do país difundidas nos manuais escolares do período, associados ao Colégio Pedro II e ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Valendo-se da narrativa histórica dos feitos de brasileiros e portugueses, o artigo revela o quanto os representantes de ambas as instituições, patrocinadas pelo Estado imperial, contribuíram para definição, consolidação e preservação do território brasileiro.

O poder judiciário e seus agentes são o alvo da atenção do artigo de Jonas Moreira Vargas, intitulado “Magistrados imperiais: atuação política e perfil social e de carreira dos juízes de direito no Rio Grande do Sul (1833-1889)”. Direcionado para abordagem dos magistrados que atuaram nessa província, encontramos nas suas páginas, primeiramente, um trabalho de perfil prosopográfico que, como a maioria das pesquisas orientadas por este viés, muito elucida sobre uma fração privilegiada de um segmento desse corpo de funcionários. Todavia, os autores vão mais além em sua pesquisa, ao explorarem a relação entre o exercício do judiciário e o da política , atentando para as redes clientelistas locais nas quais estas autoridades estavam envolvidas e o papel que lhes eram reservadas especialmente no processo eleitoral.

A Literatura é o tema do artigo de Alexsandro da Rosa Menez em seu artigo intitulado “Entre a literatura e a História: a formulação da literatura e identidade brasileira na crítica literária de José de Alencar (1856 – 1865)”. Menez analisa o desenvolvimento da ideia de identidade brasileira elaborada no campo literário. Seu artigo examina a obra do escritor José de Alencar, demonstrando sua importante contribuição para a concretização da nacionalidade brasileira que vinha sendo gestada desde os primeiros escritores românticos, como os literatos em torno da revista Nitheroy, lançada em Paris no ano de 1836.

Em seguida temos o artigo Wellington Barbosa da Silva, que analisa a segurança no Recife oitocentista. Seu trabalho intitulado “‘Vivemos sob o império do punhal do assassino…’: polícia e criminalidade no Recife do século XIX (1860-1889)”, resulta da pesquisa, em diversos documentos, produzidos tanto pela burocracia administrativa e policial, como também pelos cidadãos comuns. Estas fontes davam a impressão de que o Recife vivia às voltas com um renitente e crescente quadro de criminalidade. Os furtos, roubos e homicídios seriam constantes e a polícia não conseguia controlar ou pelo menos limitar a ação dos facinorosos. Em seu artigo, Wellington discute esse contexto histórico de uma “onipresente criminalidade” e a constante requisição, feita por diversos segmentos da sociedade, de um policiamento regular e eficiente – visto como o antídoto certo para a coibição dos delitos e a instauração da segurança pública.

A discussão sobre a cidade e suas representações está presente no artigo de Bruno Miranda Vargas, intitulado “A cidade e suas representações: Manaus no século XIX (1850-1883)”. A partir das práticas cotidianas da cidade, Bruno analisa Manaus na segunda metade do século XIX, que se tornara um local de sociabilidades múltiplas. A visão dos “de fora” sobre Manaus se distancia e muito da elite local, para a qual a cidade ostentava o “orgulho da civilização”. O artigo parte da análise iconográfica do álbum souvenir da Exposição de Chicago de 1883, na qual Manaus foi apresentada como um lugar de riqueza e civilização e o entorno da Província, um lugar de ruralismo e natureza extensa.

O Dossiê é encerrado com o artigo de Rosilene Gomes Farias, “Saúde e poder no Recife Imperial”. Farias mostra que em 1856, durante a epidemia de cólera que atingiu o Recife, foram implantadas medidas de prevenção à doença, que pressupunham o controle social das camadas mais pobres da população. O artigo discute como essas medidas demonstram as relações de poder que envolveram autoridades públicas e médicos, no Recife do século XIX.

Para além do dossiê temático, este número da revista apresenta sete artigos livres. No primeiro deles, Bruno Kawai Souto Maior de Melo, a partir do estudo da trajetória de Domingos Loreto Couto, analisa as estruturas de poder dentro da Igreja na América Portuguesa e as relações entre as dioceses ultramarinas e os poderes centrais da cristandade católica em meados do século XVIII. Thiago de Souza Júnior analisa, à luz das inovações teórico-metodológicas da segunda metade do século XX, a formação da Maçonaria na França do Antigo Regime, a recepção de suas ideias no Brasil e a sua influência na secularização da política brasileira no século XIX. Em seu artigo, Williams Andrade de Souza buscou nos debates parlamentares sobre a administração municipal os elementos de análise para compreender o papel das elites políticas locais no processo de institucionalização do liberalismo no Império do Brasil.

Passando para o período republicano, chegamos ao artigo de Júlio César da Rosa que enfoca a sociabilidade das populações afrodescendentes na cidade de Laguna (SC) na primeira metade do século XX, mormente nos clubes sociais negros União Operária e Clube Literário Cruz e Souza. Luís Cláudio Machado dos Santos nos traz em seu texto uma análise da atuação de Alvaro Lins como embaixador do Brasil em Portugal entre 1956 e 1959 e a influência de suas posições na construção da política externa brasileira no pós-guerra. Márcio Ananias Ferreira Vilela dedica seu artigo à análise da trajetória de Paulo Stuart Wright, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil e deputado estadual em Santa Catarina, que foi perseguido e assassinado pelos órgãos de repressão do regime militar após o golpe de 1964. Fechando este número da Revista Clio, temos o artigo de Augusto Neves da Silva, que em seu texto nos remete ao carnaval do Recife de 1985, quando a Mãe-de-Santo Badia foi a homenageada da festa. A partir deste fato, o autor analisa questões referentes à tradição, religiosidade popular e identidade e cultura negras no Recife.

Os organizadores deste número da Revista Clio, bem como o seu editor desejam que os estudos aqui publicados possam estimular debates e novas contribuições à historiografia brasileira. Boa leitura!

Suzana Cavani Rosas e Cristiano Luís Christillino

Organizadores do Dossiê

George F. Cabral de Souza Editor

Suzana Cavani Rosas – Organizadora do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: suzanacavani@uol.com.b

Cristiano Luís Christillino – Organizador do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: christillino@hotmail.com

George Felix Cabral – Editor da Revista. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: georgecabral@yahoo.com


ROSAS, Suzana Cavani; CHRISTILLINO, Cristiano Luís; CABRAL, George Felix. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.34, n.1, jan / jun, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) -parte 1 / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2016

O dossiê Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) abre este número da revista e versa sobre instituições, atores e processos políticos no Brasil Império, no período de 1850 a 1889. Sua abordagem procura compreender o campo da política, ultrapassando as fronteiras restritas do Estado, em suas dimensões e articulações com a sociedade e a cultura. Também privilegia a atuação, individual e coletiva, de pessoas anônimas, para além da figura dos “grandes” líderes. Seu corte cronológico se estende da consolidação ao fim do Estado imperial. Um período de afirmação do poder central sobre os locais, rearticulações políticas nas províncias, de férteis debates em torno da construção do Estado e de crise do regime. É o tempo compreendido entre o fim do tráfico e o da escravidão, assinalado ainda por movimentos sociais e políticos, como o abolicionista e o republicano. Cidadania, Estado, elites, movimentos sociais e cultura política são alguns dos principais temas que o dossiê se propõe a discutir. Em vista do grande número de trabalhos inscritos e aprovados para publicação, os seus organizadores e o editor da revista CLIO optaram por dividi-lo em duas partes, contemplando-se a primeira neste número da revista, ficando a segunda para o próximo, a sair no segundo semestre do presente ano.

O seu primeiro artigo, “Notícias d´além-mar: o tema do sufrágio e da cidadania das mulheres na imprensa brasileira oitocentista”, de Priscila Salvaia, se debruça sobre um tema destacado da história cultural, a imprensa e as experiências de leitura, procurando discutir, através do jornal O Globo, as ideias e possíveis reações do público brasileiro sobre o nascente movimento feminista e suas lutas pela cidadania e o voto das mulheres.

Os três trabalhos que se seguem, “De repente ‘povo’: maneiras de pensar a participação política a partir da campanha abolicionista de 1884”, “Monarquia federativa e democrática: o congresso liberal de 1889” e “Os sentidos do reformismo nos momentos finais do império”, estão direcionados para história política no “ocaso” do Império e buscam compreender o caminho trilhado pelo Partido Liberal diante das novas demandas da sociedade por reformas, cada vez mais frequentes no final do Império. O primeiro artigo acima referido, de Felipe Azevedo Souza, analisa a concepção de Joaquim Nabuco sobre o povo e sua defesa da ampliação da cidadania política no país. O autor ainda realça o lugar dos segmentos populares nas eleições de 1884, procurando descortinar sua condição de cidadão ativo na política, embora dela formalmente estivessem excluídos, por não possuírem o direito de votar, especialmente após a promulgação da Lei Saraiva. Já o segundo artigo, de Felipe Niciletti Ribeiro, está centrado nos liberais e seu Congresso de 1889, ocorrido na Corte. O referido congresso buscava adequar o Partido a uma nova pauta de reivindicações da sociedade à época, sobressaindo-se entre elas a reforma do Estado, a expansão do sufrágio e da educação, sem esquecer também das novas demandas por autonomia provincial, como no caso da proposta da elegibilidade dos presidentes de província. No plano social, o destaque ficava para a continuidade da pauta reformista abolicionista que passava pelo combate ao latifúndio. Ressalta-se no artigo a perspectiva de um Partido Liberal nada resignado a ameaça da República, disposto a reinventar-se como força política identificada com a Monarquia e também mais aberto aos novos anseios e inquietações da população por mudanças.

Duas instituições, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Colégio D. Pedro II, são objetos de estudo do artigo “Fronteira e integração territorial na escrita da história “didática” oitocentista”, realizado por Luís César Castrillon Mendes e Renildo Rosa Ribeiro. Na sua leitura nos deparamos com as construções discursiva e pedagógica sobre as fronteiras do país difundidas nos manuais escolares do período, associados ao Colégio Pedro II e ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Valendo-se da narrativa histórica dos feitos de brasileiros e portugueses, o artigo revela o quanto os representantes de ambas as instituições, patrocinadas pelo Estado imperial, contribuíram para definição, consolidação e preservação do território brasileiro.

O poder judiciário e seus agentes são o alvo da atenção do artigo de Jonas Moreira Vargas, intitulado “Magistrados imperiais: atuação política e perfil social e de carreira dos juízes de direito no Rio Grande do Sul (1833-1889)”. Direcionado para abordagem dos magistrados que atuaram nessa província, encontramos nas suas páginas, primeiramente, um trabalho de perfil prosopográfico que, como a maioria das pesquisas orientadas por este viés, muito elucida sobre uma fração privilegiada de um segmento desse corpo de funcionários. Todavia, os autores vão mais além em sua pesquisa, ao explorarem a relação entre o exercício do judiciário e o da política , atentando para as redes clientelistas locais nas quais estas autoridades estavam envolvidas e o papel que lhes eram reservadas especialmente no processo eleitoral.

A Literatura é o tema do artigo de Alexsandro da Rosa Menez em seu artigo intitulado “Entre a literatura e a História: a formulação da literatura e identidade brasileira na crítica literária de José de Alencar (1856 – 1865)”. Menez analisa o desenvolvimento da ideia de identidade brasileira elaborada no campo literário. Seu artigo examina a obra do escritor José de Alencar, demonstrando sua importante contribuição para a concretização da nacionalidade brasileira que vinha sendo gestada desde os primeiros escritores românticos, como os literatos em torno da revista Nitheroy, lançada em Paris no ano de 1836.

Em seguida temos o artigo Wellington Barbosa da Silva, que analisa a segurança no Recife oitocentista. Seu trabalho intitulado “‘Vivemos sob o império do punhal do assassino…’: polícia e criminalidade no Recife do século XIX (1860-1889)”, resulta da pesquisa, em diversos documentos, produzidos tanto pela burocracia administrativa e policial, como também pelos cidadãos comuns. Estas fontes davam a impressão de que o Recife vivia às voltas com um renitente e crescente quadro de criminalidade. Os furtos, roubos e homicídios seriam constantes e a polícia não conseguia controlar ou pelo menos limitar a ação dos facinorosos. Em seu artigo, Wellington discute esse contexto histórico de uma “onipresente criminalidade” e a constante requisição, feita por diversos segmentos da sociedade, de um policiamento regular e eficiente – visto como o antídoto certo para a coibição dos delitos e a instauração da segurança pública.

A discussão sobre a cidade e suas representações está presente no artigo de Bruno Miranda Vargas, intitulado “A cidade e suas representações: Manaus no século XIX (1850-1883)”. A partir das práticas cotidianas da cidade, Bruno analisa Manaus na segunda metade do século XIX, que se tornara um local de sociabilidades múltiplas. A visão dos “de fora” sobre Manaus se distancia e muito da elite local, para a qual a cidade ostentava o “orgulho da civilização”. O artigo parte da análise iconográfica do álbum souvenir da Exposição de Chicago de 1883, na qual Manaus foi apresentada como um lugar de riqueza e civilização e o entorno da Província, um lugar de ruralismo e natureza extensa.

O Dossiê é encerrado com o artigo de Rosilene Gomes Farias, “Saúde e poder no Recife Imperial”. Farias mostra que em 1856, durante a epidemia de cólera que atingiu o Recife, foram implantadas medidas de prevenção à doença, que pressupunham o controle social das camadas mais pobres da população. O artigo discute como essas medidas demonstram as relações de poder que envolveram autoridades públicas e médicos, no Recife do século XIX.

Para além do dossiê temático, este número da revista apresenta sete artigos livres. No primeiro deles, Bruno Kawai Souto Maior de Melo, a partir do estudo da trajetória de Domingos Loreto Couto, analisa as estruturas de poder dentro da Igreja na América Portuguesa e as relações entre as dioceses ultramarinas e os poderes centrais da cristandade católica em meados do século XVIII. Thiago de Souza Júnior analisa, à luz das inovações teórico-metodológicas da segunda metade do século XX, a formação da Maçonaria na França do Antigo Regime, a recepção de suas ideias no Brasil e a sua influência na secularização da política brasileira no século XIX. Em seu artigo, Williams Andrade de Souza buscou nos debates parlamentares sobre a administração municipal os elementos de análise para compreender o papel das elites políticas locais no processo de institucionalização do liberalismo no Império do Brasil.

Passando para o período republicano, chegamos ao artigo de Júlio César da Rosa que enfoca a sociabilidade das populações afrodescendentes na cidade de Laguna (SC) na primeira metade do século XX, mormente nos clubes sociais negros União Operária e Clube Literário Cruz e Souza. Luís Cláudio Machado dos Santos nos traz em seu texto uma análise da atuação de Alvaro Lins como embaixador do Brasil em Portugal entre 1956 e 1959 e a influência de suas posições na construção da política externa brasileira no pós-guerra. Márcio Ananias Ferreira Vilela dedica seu artigo à análise da trajetória de Paulo Stuart Wright, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil e deputado estadual em Santa Catarina, que foi perseguido e assassinado pelos órgãos de repressão do regime militar após o golpe de 1964. Fechando este número da Revista Clio, temos o artigo de Augusto Neves da Silva, que em seu texto nos remete ao carnaval do Recife de 1985, quando a Mãe-de-Santo Badia foi a homenageada da festa. A partir deste fato, o autor analisa questões referentes à tradição, religiosidade popular e identidade e cultura negras no Recife.

Os organizadores deste número da Revista Clio, bem como o seu editor desejam que os estudos aqui publicados possam estimular debates e novas contribuições à historiografia brasileira. Boa leitura!

Suzana Cavani Rosas e Cristiano Luís Christillino

Organizadores do Dossiê

George F. Cabral de Souza Editor

Suzana Cavani Rosas – Organizadora do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: suzanacavani@uol.com.b

Cristiano Luís Christillino – Organizador do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: christillino@hotmail.com

George Felix Cabral – Editor da Revista. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: georgecabral@yahoo.com


ROSAS, Suzana Cavani; CHRISTILLINO, Cristiano Luís; CABRAL, George Felix. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.34, n.1, jan / jun, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889) -parte 2 / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2016

A Revista Clio abre este volume com a segunda parte do dossiê Estado, nação e cidadania no oitocentos (1850-1889), que versa sobre instituições, atores e processos políticos no Brasil império, no período de 1850 a 1889. Sua abordagem procura compreender o campo da política, ultrapassando as fronteiras restritas do Estado, em suas dimensões e articulações com a sociedade e a cultura. Também privilegia a atuação, individual e coletiva, de pessoas anônimas, para além da figura dos “grandes” lideres. Seu corte cronológico se estende da consolidação ao fim do estado imperial. Um período de afirmação do poder central sobre os locais, rearticulações políticas nas províncias, de férteis debates em torno da construção do estado. É o tempo compreendido entre o fim do tráfico e o da escravidão, assinalado ainda por movimentos sociais e políticos, como o abolicionista e o republicano. Cidadania, Estado, elites políticas, eleições, movimentos sociais são os principais temas que este dossiê se propõe a discutir.

Os dois primeiros artigos tratam do recrutamento e da Guarda Nacional no Ceará. O trabalho de Maria Regina Santos de Souza, A implacável surdez das autoridades do império: as súplicas dos veteranos da Guerra do Paraguai (1870-1889)analisa, no período posterior a Guerra do Paraguai, a (des)atenção do governo brasileiro com os direitos concedidos aos excombatentes, tais como pensões, empregos públicos, terras e compensação financeira. Souza mostra os problemas gerados para os veteranos. Parte significativa deles enfrentou a desorganização e a falta de conhecimento jurídico da burocracia do Estado. Este artigo aborda a luta dos veteranos do Ceará pelos direitos de guerra.

O artigo de Ana Sara Cortez Irffi, “O cidadão não encontra garantia senão na própria força” – Recrutamento, milícias privadas, quadrilhas de „cabras‟ e a propriedade privada (Cariri Cearense, século XIX), analisa o processo de construção do Estado brasileiro em meados do Oitocentos, o recrutamento para a Guarda Nacional e a formação de milícias privadas no sertão das chamadas províncias do Norte. A análise se volta às milícias surgidas a partir das relações estabelecidas dos senhores com agregados e moradores, mas também, no bojo desse processo, à formação de grupos alheios aos senhores que ficaram conhecidos como „quadrilhas de cabras‟.

Rafael Sancho Carvalho da Silva analisa os aspectos políticos do banditismo no sertão baiano em seu artigo Antonio José Guimarães: banditismo e disputas políticas no sertão baiano Oitocentista. Rafael discute a relação do banditismo com as disputas políticas no sertão baiano, usando o caso de Antonio José Guimarães que atuou entre 1849 e 1854 pelos sertões da Bahia e de Goiás. Mostra também que podemos analisar o banditismo como um fenômeno da história política.

Em seguida temos o artigo Práticas docentes no Recife e Olinda na segunda metade do século XIX de Dayana Raquel Pereira de Lima e Yan Soares Santos. Partindo da metodologia da microanálise, analisam as trajetórias e demandas dos membros da Sociedade Propagadora da Instrução Pública de 1872, e as petições feitas pelos professores aos poderes públicos dos principais expedientes práticos do trabalho docente. Mostram que a docência foi marcada por práticas individuais de cidadania, quando os professores desenvolviam estratégias pessoais, de acordo com privilégios conquistados ao longo da carreira, os quais, na prática, afastavam a possibilidade de constituírem uma identidade docente.

Os próximos três artigos se dedicam a história agrária do Brasil oitocentista. O artigo A política de acesso à terra no Brasil Imperial e a compra de terras devolutas no planalto da Província de Santa Catarina, de Paulo Pinheiro Machado e Flávia Paula Darossi, analisa a aplicação da Lei de Terras na Província de Santa Catarina, com ênfase no município de Lages. O estudo foi realizado com base em requerimentos de compra de terras devolutas, lavrados entre 1850 e 1889, previstos na legislação como a única forma legal de acesso à terra. Machado e Darossi mostram que, por tratar-se de uma fronteira agrícola e de povoamento em expansão, o planalto catarinense foi ocupado de diferentes maneiras – que ultrapassavam as disposições da própria Lei -, o que repercutiu em complexas estratégias de regulamentação da propriedade.

Em seguida Francivaldo Alves Nunes contribui ao Dossiê com o estudo da questão agrária na Amazônia em seu artigo Entre outras estratégias de controle e dominação: Estado, agricultura e colonização na Amazônia Oitocentista. Nunes analisa a relação entre os discursos construídos em torno da agricultura e colonização, caracterizados pela moralização da sociedade e a atuação do Estado imperial. Baseado em relatórios governamentais, mostra como esses valores, associados à atividade agrícola, exigiram do Estado um desempenho não apenas de manutenção da ordem, mas como instituição promotora de políticas que elevassem os hábitos das populações na Amazônia. A afirmação do Estado também se deu, no interior das províncias do Pará e Amazonas, através de ações revestidas de um discurso de promoção da ordem, da modernidade e da civilização.

O artigo Formação do ambiente rural sul-mato-grossense (1829-1892), de Maria do Carmo Brazil e Elaine Cancian, discute a organização da sociedade agropastoril nos campos sulinos de Mato Grosso. Partindo principalmente de relatos memorialísticos e inventários post-mortem, as autoras analisam o peso da pecuária nos municípios de Santana de Paranaíba, Rio Brilhante, Coxim, Corumbá, Campo Grande e Miranda,entre os anos de 1829 e 1892, na expansão da fronteira fundiária do centro-oeste brasileiro. Brazil e Cancian mostram a concentração fundiária, e a exclusão social nela inscrita e dela decorrente, e a montagem de um aparato político repressivo e autoritárioinscritos no processo de ocupação das terras sulmato-grossenses.

O Dossiê é encerrado com o artigo Índios / as, negros / as, mestiços / as, para além da paisagem amazônica: a construção de experiências locais em notas etnográficas da obra de Alfred Russel Wallace (1850-1852) de Victor R. L. Silva e José O. Aguiar. O artigo tece considerações sobre as viagens científicas no Brasil Imperial, com destaque para a trajetória de Alfred Russel Wallace pelos rios e matas equatoriais da Amazônia e para os mais variados encontros culturais que tiveram espaço nessa jornada coletora. Ganha relevo o destaque à descrição de índios / as, negro / as e mestiços / as na ótica do naturalista-viajante e a análise das características e recorrências de seu olhar tanto em sentido de continuidade quanto à base do pensamento oitocentista, quanto em sentido de ruptura, dissensão e criatividade.

A parte dedicada aos artigos livres conta, neste volume, com sete textos referentes à abordagens diversas no tempo e no espaço. O primeiro deles é de autoria de Grasiela Florêncio de Morais e enfoca as relações de subordinação e controle entre as autoridades do Recife e a população pobre da cidade no período 1830-1850. A autora aponta como os projetos de melhoramentos materiais redundavam na vigilância cotidiana das camadas despossuídas da capital pernambucana. Martha Victor Vieira discute em seu texto como a circulação de ideias liberais na imprensa da província de Goiás se insere no processo de consolidação da consciência nacional brasileira no período regencial. Gustavo Magno Barbosa Alencar também trabalha a década de 1830, mas sua abordagem se dirige para a província do Ceará. Utilizando os periódicos e manuscritos de época, o autor procura analisar as concepções do pensamento liberal com atenção para a compreensão dos usos do vocabulário político da época.

Continuando nos estudos sobre o século XIX, Thiago Broni de Mesquita e João Victor da Silva Furtado nos apresentam o processo de estabelecimento de prisões na província do Grão-Pará nos tempos da Cabanagem. Os autores discutem a criação das cadeias no contexto das medidas de coerção postas em prática pelas autoridades daquela província. De volta ao Ceará, nos deparamos no texto de Antônio José de Oliveira com a análise sobre o processo de invisibilização dos índios Kariri na historiografia que se dedicou ao estudo da segunda metade do século XIX naquela província.

Passando para o século XX, encontramos aqui dois textos relativos à história cultural de Pernambuco e Ceará. Lucas Victor Silva nos traz sua abordagem da atuação da Federação Carnavalesca Pernambucana durante os anos 1930. O autor aponta como essa instituição procurou controlar as manifestações carnavalescas no estado como forma de manifestar a coesão nacional em consonância com as aspirações políticas do regime pós-1930. Fechando o volume, contamos com o texto de Anderson de Sousa Silva sobre as políticas de cultura e artes nos anos 1960 no Ceará. O pesquisador reflete sobre as relações entre Estado e cultura e também dedica atenção ao processo de inserção do Ceará no panorama artístico brasileiro.

Os organizadores deste número da Revista Clio desejam que os estudos aqui publicados possam estimular debates e novas contribuições à historiografia brasileira.

Boa leitura!

Suzana Cavani Rosas e Cristiano Luís Christillino

Organizadores do Dossiê

George F. Cabral de Souza

Editor

Suzana Cavani Rosas – Organizadora do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: suzanacavani@uol.com.b

Cristiano Luís Christillino – Organizador do Dossiê. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. E-mail: christillino@hotmail.com

George Felix Cabral – Editor da Revista. Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em História. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: georgecabral@yahoo.com


ROSAS, Suzana Cavani; CHRISTILLINO, Cristiano Luís; CABRAL, George Felix. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.34, n.2, jul / dez, 2016. Acessar publicação original [DR]

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1964-2014: Memórias, testemunho e Estado / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2014

O número 24 da revista Fronteiras, a Revista Catarinense de História, traz o Dossiê – 1964-2014: memórias, testemunho e Estado, com discussões produzidas a partir do XV Encontro Estadual de História da ANPUH-SC – “1964-2014: Memórias, Testemunhos e Estado”, ocorrido em agosto de 2014, em Florianópolis. Neste volume, o dossiê apresenta artigos de autores e autoras que se debruçaram, em diferentes perspectivas e enfoques, na temática que envolveu o período militar no Brasil, especialmente no Estado de Santa Catarina; e um relato da Comissão da Verdade em Santa Catarina. Também apresenta artigos de fluxo contínuo e resenhas.

Caroline Jacques Cubas apresenta o artigo Igreja Católica em tempo de ditadura militar: do diálogo à subversão em páginas impressas, onde problematiza os posicionamentos desta instituição religiosa em relação ao regime militar; as representações sociais e políticas observadas em periódicos nacionais entre 1968 e 1979. Reinaldo Lindolfo Lohn, no artigo intitulado Santa Catarina e a ditadura empresarial: o caso da política agrária, nos mostra como a política agrária dos setores vinculados à agropecuária empresarial em Santa Catarina, encontrou meios para impor diretrizes e interesses com a instauração do golpe militar; e analisa o aparelho estatal ao longo das décadas de 1950 e 1960.

O documentário “Que bom te ver viva” é tema de estudos de Arielle Rosa Rodrigues e Mariana Cristina Silva. As autoras analisam questões relacionadas com as memórias de mulheres ex-militantes da esquerda revolucionária brasileira, sobreviventes da tortura física e psicológica sofridas nas prisões da ditadura, entre as décadas de 1960 e 1970; refletem sobre a relação entre história e memória e as experiências traumáticas vividas por mulheres. Segue o tema das mulheres com o artigo Novembrada: as mulheres, o cárcere e as solidariedades, de Marlene de Fáveri. A autora recupera memórias de mulheres que participaram do evento contestatório ao regime militar ocorrido em Florianópolis, em novembro de 1979; mostra parte do cotidiano da prisão, os atos de solidariedade e as resistências, observando as relações de poder e gênero.

Em seguida, o artigo de Luiz Felipe Falcão que traz o título Alegorias da verdade: esboços nas conexões entre História Oral e História do Tempo Presente sobre a resistência à ditadura e o processo de democratização no Brasil nas últimas décadas do século XX. O autor analisa depoimentos de ex-militantes e ativistas das esquerdas brasileiras acerca de suas atividades de resistência ao regime militar, e o processo de democratização; aborda versões dos acontecimentos e reflexões historiográficas para formulações de uma história do Tempo Presente.

Derlei Catarina de Luca apresenta um relato dos trabalhos da Comissão Estadual da Verdade de Santa Catarina, criada para auxiliar a Comissão Nacional da Verdade; o intuito era de examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas por motivação exclusivamente política, ocorridas entre 1946 e 1988, no Estado de Santa Catarina. Esta Comissão foi criada por decreto governamental em março de 2013, com o objetivo de efetivar o direito à memória e à verdade histórica. Neste relato, que se intitula A Busca da Verdade, a autora historiciza os trabalhos da Comissão; seus resultados; publiciza nomes de pessoas que estiveram sob a mira do aparato repressivo; as resistências; assassinatos; torturas; e conclui que é “Para que nunca se esqueça. Para que nunca mais aconteça.” Derlei Catarina de Luca é membro da Comissão Estadual da Verdade e militante do Coletivo Catarinense Memória, Verdade, Justiça.

Na seção Artigos, André Souza Martinello e Marcos Fábio Freire Montysuma apresentam o texto intitulado Experiências e percepções ambientais de migrantes japoneses no sul do Brasil nos anos de 1950 a 197; observam, através das memórias destes migrantes, o contato com diferentes configurações geográficas, climáticas e culturais; as adaptações e as diferenciações em relação aos espaços de terra trabalhados. Noutro artigo, com o título “Não deixe o Canto do Morcego acabar”: embates entre preservacionistas e investidores na Praia Brava – Itajaí (SC), Gloria Alejandra Guarnizo Luna mostra as denúncias sobre a ocupação de forma desordenada e a consequente destruição da orla marítima no município de Itajaí, analisando discursos das mídias contemporâneas e os movimentos de resistência da população.

Na seção Resenhas, Waldir José Rampinelli faz uma análise sobre a trilogia de Elio Gaspari, que trata da ditadura militar brasileira: A ditadura envergonhada: as ilusões armadas; A ditadura escancarada: as ilusões armadas, e A ditadura derrotada: o sacerdote e o feiticeiro. Heloísia Nunes dos Santos resenha o livro de Derlei Catarina de Luca, No corpo e na alma; e Daniele Beatriz Manfrini apresenta a obra de Margareth Rago, A aventura de contar-se.

Marlene de Fáveri

Janine Gomes da Silva

Samira Moretto Peruchi

Organizadoras do Dossiê


FÁVERI, Marlene de; SILVA, Janine Gomes da; PERUCHI, Samira Moretto. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.24, 2014. Acessar publicação original [DR]

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História, Estado, Relações de Poder e Movimentos Sociais / Crítica Histórica / 2013

A edição da Revista Crítica Histórica nº 8 – Dossiê História: Estado, Relações de Poder e Movimentos Sociais apresenta temáticas que se estendem da organização do um comércio legal na grande Senegâmbia, pós proibição do tráfico de escravos, atravessando o Atlântico e terminando no Brasil para entender a formação de relações de poder nos oitocentos, chegando ao debate racial dos anos trinta.

O artigo que abre o Dossiê, apresenta como na Senegâmbia Histórica, após a proibição do tráfico de escravos, outras atividades comerciais se desenvolveram. A extinção do tráfico negreiro alterou a visibilidade das relações de poder sobretudo, econômicas, políticas e sociais, no interior da Costa da Guiné e daí com os portugueses. Quais atividades comerciais se formam aí e como elas aconteciam são perguntas as quais o artigo de Diego Zonta e Cristina Portellla, pretendem responder.

Já o artigo de Martha Vieira, procura entender como o processo de Independência do Brasil, em especial, entre 1821 e 1822, alterou significativamente as relações políticas institucionais na Província de Goiás, gerando uma crise de autoridade local que acabou por reorganizar seus próprios fundamentos.

Pensando no cotidiano, Sebastião Pimentel Franco, apresenta-nos as características sociais da população da Comarca de Vitória (ES) em meados dos oitocentos. Ressalta-se, porém, no artigo, como, através dos autos criminais, é possível dar visibilidade aos aspectos do cotidiano daquela sociedade.

De forma geral, o artigo de Célia Nonato articula a ideia de que o messianismo oitocentista pode ser pensado como movimentos sociais diferenciados na medida em que se articularam no mundo rural, contra o reformismo e o barroco, tornando tais aspectos centrais na ação coletiva que empreenderam e projetaram.

Encerrando o Dossiê, o artigo sobre o médico alagoano, Arthur Ramos, parte de sua atuação profissional, em especial entre os anos trinta e quarenta, na qual atua em diferentes áreas cujo foco central era o “racismo”, sempre tratado pelo médico nas suas dimensões políticas, sociais e culturais.

Na Seção Artigos, há uma complexa e interessante abordagem sobre a historiografia do Congo, ao mesmo tempo em que a articula na abordagem epistemológica e nas estratégias metodológicas plurais que evidenciam as contribuições da historiografia africanista ao campo da História.

Ana Paula Palamartchuk – Professora Doutora. Editora Chefe / Coordenadora do Dossiê


PALAMARTCHUK, Ana Paula. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 4, n. 8, dezembro, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Poder y organización institucional de espacios regionales en las construcciones estatales latinoamericanas / História Unisinos / 2013

Poder – Organización Institucional de Espacios regionales en las construcciones estatales latinoamericanas / História Unisinos / 2013

El objetivo de este dossier es debatir sobre el peso del espacio regional en la construcción de la nación en la historia contemporánea. La participación de los inmigrantes extranjeros y de la población indígena autóctona nos permite abordar la transformación de la “nacionalización” de los países latinoamericanos a partir del proceso independentista del siglo XIX.

Los ejes fundamentales de análisis son la organización asociativa para incluir nuevos grupos a la nacionalidad en construcción; los proyectos estatales que procuraron garantizar la civilización de regiones diversas; el uso de ámbitos educativos o publicitarios a la hora de divulgar los proyectos centralizadores; las redes sociales y de sociabilidad que avalaron la difusión de las ideas nacionalistas a través del arte y la cultura; y la presión ejercida desde el ámbito religioso en la búsqueda de defi niciones territoriales de carácter nacional, en particular en zonas de frontera, siendo el centro de esa discusión la articulación de las relaciones con las diversas autoridades e instituciones gestadas al calor de la construcción de las naciones latinoamericanas.

Sobre esta base, el artículo de Gabriela DallaCorte Caballero, titulado La Misión Franciscana de Laishí: el proyecto del ingeniero José Elías Niklison (1910-1920), aborda el debate sobre el rol de la misión franciscana en la zona fronteriza entre Paraguay y Argentina, una región de gran importancia para el estudio de la integración indígena del espacio chaqueño. Como señala la autora, la Misión de Laishí fue implantada a inicios del siglo XX en el Territorio Nacional de Formosa gracias a la actuación de los misioneros franciscanos de la Diócesis de Santa Fe. El objetivo era “nacionalizar” a los indígenas de la zona formoseña, en particular los aborígenes tobas, con la intención de asegurar su supervivencia. El responsable de la Misión de Laishí durante los años analizados fue el misionero fray Buenaventura Giuliani, convertido en Prefecto de Misiones. A su cargo quedó la cooperación de uno de los intelectuales más destacados de la década de 1910, el ingeniero José Elías Niklison, que en 1914 fue enviado por el gobierno argentino a inspeccionar a zona chaqueña y regular las condiciones laborales de los indígenas de la zona. Fray Giuliani recibió al inspector, que era miembro del Departamento Nacional del Trabajo, y en el año 1917 lo invitó al seno del Convento San Carlos Borromeo de San Lorenzo para publicitar sus conclusiones sobre las posibilidades de “nacionalizar” a los tobas, conservando su condición de indígenas.

La construcción de la Nación demandó movilizar el imaginario social, que tuvo en las conmemoraciones patrias sus puntos más álgidos, forjándose en ella un sentimiento común, la mayoría de las veces solapando otro tipo de identidades. Así, en Nacionalizando memorias periféricas: conmemoraciones y nacionalismo chileno en las regiones de Antofagasta y Tarapacá, 1879-1910, Gabriel Cid analiza ese proceso en esas dos regiones del país trasandino, incorporadas por la Guerra del Pacífi co, enfatizando el período que va de 1879, con el inicio de la Guerra, y 1910, centenario de la Independencia chilena. Por ello, debían pasar de forma urgente por un acelerado proceso de integración identitária, sumamente rico en simbologías y signifi cados, en particular, referentes al territorio, discusión que hoy se resignifi ca ya que el mismo se tuvo como base una intensa labor para hacer desaparecer lo que no se encuadraba con el objetivo pretendido.

A su turno, Ronen y Julieta Man, en su artículo Proyecciones sobre el habitante “deseable”. Colonos, inmigrantes y comunidades nativas en áreas de la “frontera interior” cuestionan el proceso de “suplantación interétnica” que se produjo en la Norpatagonia Argentina durante el último cuarto del siglo XIX, con la construcción de la imagen “vacío desértico”, geográfi co y humano, que produjo la invisibilización de los pueblos originarios, substituidos por las fi guras de los colonos y pioneros. En manos de la elite dirigente, éstos fueron elevados a agentes de la “modernidad” y símbolos de la “civilización”, gérmenes de una nueva sociedad y un nuevo Estado nacional, que los tuvo como sus valores, en detrimento de las culturas de diversas etnias, que durante más de una centena de años no solo han sido postergadas sino que también estigmatizadas por ese discurso dominante. Cielo Zaidenwerg, por su parte, titula su trabajo Un proyecto ‘argentinizador’. Educación y efemérides en la región patagónica y rionegrina (1908-1930). Según la autora, el proceso de consolidación del Estado nacional argentino tuvo lugar entre fi nales del siglo XIX y principios del siglo XX. En función de este principio seprocedió a la construcción de la nacionalidad, por lo que el Estado se abocó a la tarea de defi nir e implementar de tal tipo de identidad. El hecho de mantener vivo el espíritu patriota condicionó la conformación de los Territorios Nacionales argentinos con dependencia respecto del gobierno nacional. La autora califi ca de “estrategia argentinizadora” el impulso llevado adelante también por las localidades afectadas e incluidas en dichos territorios. En su caso, a diferencia del estudio dedicado a los indígenas tobas del Territorio Nacional de Formosa, Zaidenwerg aborda la población heterogénea, destacada por su aislamiento y lejanía. En relación a los inmigrantes europeos establecidos en estos nuevos espacios en proceso de nacionalización, fue indispensable arraigar en estas regiones el amor al suelo y la adscripción a la nación”. La autora resalta las prácticas simbólicas implementadas en el ámbito de la educación formal y de las efemérides patrias en la región patagónica, en concreto en la gobernación rionegrina, durante las primeras décadas del siglo XX.

Sandra Fernández titula su trabajo Sociabilidad, arte y cultura. Una experiencia en la Argentina de entreguerras, en el cual procura analizar el papel de los sectores dominantes de la ciudad de Rosario a partir de 1910. En particular analiza el proyecto de dicha élite para consolidar sus esferas de interés al desarrollar diversas estrategias tendientes para fortalecer el perfil cultural, intelectual y educativo ciudadano. La articulación del espacio público con el privado es la base de la propuesta a partir de la distinción entre cultura y civilidad en las décadas de 1920 a 1940. Precisamente, el periodo de entreguerras sirvió para establecer diferentes formas de acción, todas ellas instancias que vincularon expresiones asociativas con instituciones estatales y su impacto sobre la sociedad argentina.

Los artículos de este dossier se centran en los ámbitos regionales de América Latina a partir de la refl exión sobre la organización institucional y la expansión del poder en el marco de la construcción de los Estados Nacionales. Los trabajos brindan mayor información sobre espacios concretos que, en ocasiones, difieren de las conclusiones historiográfi cas sobre un ámbito generalizado y por tanto resultan un aporte importante para la discusión de una revista como História Unisinos, que se ha destacado por dar espacio a discusiones que tienen nuestra América Latina como temática central. Esperamos haber contribuido en este sentido, agradecemos la dedicación de autores y editores, a la vez que deseamos una buena lectura a todos.

Gabriela Dalla-Corte Caballero – Universitat de Barcelona

Hernán Ramírez – Universidade do Vale do Rio dos Sinos


CABALLERO, Gabriela Dalla-Corte; RAMÍREZ, Hernán. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.17, n.3., setembro / dezembro, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Estado e Poder: Sociedade Civil / História & Perspectivas / 2013

A Revista História & Perspectivas traz nesta edição o dossiê temático intitulado “Estado e Poder: Sociedade Civil”. O tema remete ao recorte apresentado pelo VII Simpósio Nacional Estado e Poder: Sociedade Civil, realizado em Uberlândia de 20 a 22 de agosto de 2012. O evento, originário do Núcleo de Estudos Estado e Poder no Brasil – Nupep / U.F. Fluminense, nessa 7ª edição, partilhou a organização com o Núcleo de Pesquisa e Estudos em História, Cidade e Trabalho – Nupehcit / UFU, ao qual se vincula a revista. O objetivo do evento foi promover uma avaliação do estado atual dos estudos sobre a problemática da sociedade civil na sua relação com o Estado, em distintos espaços e temporalidades, aprofundando o intercâmbio de pesquisas e reflexões sobre a temática, buscando também identificar os embates atuais em torno de práticas intra e interestados no movimento mais amplo de mundialização do capital, destacando-se os seguintes questionamentos: qual o papel desempenhado pelos agentes sociais e pelos “intelectuais” nesse processo? Como podemos pensar as atuais configurações políticas, sociais, econômicas e culturais do Estado desenvolvimentista, em suas relações internas e internacionais? Como se colocam as questões humanas e ambientais dentro dessa configuração? Como esses embates e combates têm sido travados na sociedade civil? Constatamos que a atual conjuntura impõe novos desafios ao pensamento crítico e nos colocamos diante da necessidade de repensarmos as práticas do passado e do presente, descortinando memórias e procurando abrir sendas e veredas em direção a novas utopias, no esforço incessante de incrementar o diálogo acadêmico com e a partir de práticas sociais, em toda a sua complexidade.

Vale lembrar que a História & Perspectivas, nos idos de 1991, na época Revista do curso de História da UFU, dedicou um número especial aos 100 anos de Antônio Gramsci, com uma observação dos editores que nos parece ainda fundamental: “a elaboração aqui apresentada recusa-se a ‘usar’ Gramsci. Ou seja, recusa reduzir o texto gramsciano à condição de verdade. Mais do que verdade, o pensamento gramsciano é estímulo à produção. Este é o nosso propósito” (Conselho Editorial. História & Perspectivas, n. 5, 1991, p. 3). O “fascínio” dos textos gramscianos se mantém, desafiando ortodoxias, buscando um diálogo aberto a novas indagações, estimulando o pensamento crítico e totalizante e, no fundo, buscando alternativas à realidade existente e apontando para outros possíveis mundos (onde caibam muitos mundos, no dizer zapatista), característica de produções no campo do marxismo.

Recebemos muitas contribuições, com artigos variados, demonstrando a pertinência e atualidade da ampla temática proposta. Todavia, o presente número apresenta apenas alguns dos artigos, ficando os demais para outras edições. Os textos que compõem este dossiê da História & Perspectivas são, em parte, de autores presentes no VII Simpósio, que apresentam artigos onde discutem a relação entre Estado e sociedade civil na perspectiva proposta por Antônio Gramsci. Dessa forma, Elder Andrade de Paula mostra como a recente complexificação da sociedade civil trouxe também novos refinamentos nas práticas hegemônicas, mormente no que se refere ao campo do conservacionismo ambiental, terreno de atuação das grandes ONGs. Sonia Regina de Mendonça trata das políticas agrícolas na primeira metade do século XX, correlacionando sua dinâmica aos interesses patronais agroindustriais organizados junto a dois aparelhos de hegemonia da sociedade civil do período: a Sociedade Nacional de Agricultura e a Sociedade Rural Brasileira. Maurício G. Margalho investiga a sociogênese do projeto industrial dos anos 1930-1940 por meio da trajetória do grupo empresarial Klabin. O artigo de Dilma Andrade de Paula, por meio do conceito de “intelectual”, propõe uma discussão sobre o papel do conhecimento no campo das Ciências Humanas e Sociais, em particular na História, em sua trajetória recente.

O primeiro e o último artigo do dossiê são de autores externos ao evento. Mabel Thwaites Rey e José Castillo, instigados pelo recente retorno de temas como desenvolvimento, dependência e o papel desempenhado pelos Estados Nacionais na América Latina, realizam uma grande revisão bibliográfica dentro do marxismo e do neomarxismo em torno desses temas. É o artigo que abre o dossiê, que auxilia a refletir de maneira global os destinos históricos da América Latina, desde as primeiras décadas do século XX até os dias de hoje, os desafios de ontem e os atuais. Para finalizar o dossiê e instigar a discussão, contamos com artigo de João Alberto, em outra vertente do marxismo, apresentando outra perspectiva de análise do Estado e da sociedade civil, propondo uma reflexão sobre o conjunto da obra teórica de João Bernardo, historiador marxista português, apresentando os “gestores” como classe dominante e o seu poder institucional de controle do processo produtivo capitalista. Acreditamos, com a apresentação de artigos com perspectivas distintas, que a busca de saídas para o “pensamento único” e o “fim da História” não deva ser a formação de novas ortodoxias e novos encarceramentos do pensamento. A complexidade do real nos instiga a buscar a pluralidade e desafiar nossos próprios pressupostos.

Conselho Editorial


Estado e Poder: Sociedade Civil. História & Perspectivas, Uberlândia, v.26, n.48, 2012. Acessar publicação original [DR].

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Igreja e Estado / Revista Brasileira de História / 2012

Revista Brasileira de História, criada em 1981 com o objetivo de se constituir em um canal de divulgação da produção dos professores e historiadores brasileiros, está lançando seu 63º número. Com periodicidade semestral, a partir do número 59 a RBH iniciou uma nova etapa, passando a ser somente digital e a oferecer uma versão em inglês. Essas inovações visam ampliar o escopo de circulação do periódico, permitindo o acesso à nossa produção de um público não conhecedor da língua portuguesa, bem como agilizar a consulta dos volumes novos e antigos. Um balanço dos acessos aos dez últimos números da RBH na internet nos mostra a dimensão e a repercussão que nossa produção pode alcançar através da web. A quantidade de acessos por mês a esses dez números foi superior a 20 mil (mais de 240 mil / ano), uma abrangência impensável para os impressos, confirmando a grande importância da internet na disseminação dos conteúdos da Revista e fazendo da web um instrumento precioso para a divulgação da historiografia produzida no Brasil e sobre o Brasil.

Neste número o Conselho Editorial elegeu o tema “Igreja e Estado” para o dossiê, que está sendo ampliado de forma significativa. Usualmente, a RBH tem formado um dossiê com cerca de cinco ou seis artigos e selecionado para a seção de avulsos um número semelhante. No entanto, o interesse em publicar na Revista tem sido crescente pela comunidade de historiadores e cientistas sociais, e a cada número aumenta o volume de contribuições para avaliação. Nestes dois últimos números, recebemos mais de duzentos artigos, tendo sido aprovados por pareceristas um montante expressivo, o que nos levou a ampliar não só o dossiê, mas também a quantidade de avulsos. Essa nova demanda da produção historiográfica brasileira em busca de canais para internacionalização dos seus estudos é muito bem-vinda, mas coloca muitos desafios para a RBH e indica a necessidade não só de ampliarmos a extensão dos números, mas também de adotarmos uma maior periodicidade. Por esses motivos este número conta com 18 artigos.

Para este Dossiê foram selecionados dez artigos, sendo objeto principal de atenção as temáticas voltadas para as questões religiosas na América portuguesa. Foram apresentados também três artigos localizados no Brasil Independente (Império e República) e artigos centrados em discussões conceituais e historiográficas. Iniciamos com o texto de Vinicius Miranda Cardoso, “Cidade de São Sebastião: o Rio de Janeiro e a comemoração de seu santo patrono nos escritos e ritos jesuíticos”, que analisa os usos e discursos jesuíticos relacionados com o cerimonial de recebimento de uma relíquia de São Sebastião no Rio de Janeiro no contexto de uma visitação inaciana ocorrida entre 1584 e 1585. Com base em diferentes fontes também focalizou-se a rememoração coletiva e sacramental da proteção de São Sebastião aos fundadores do Rio de Janeiro e a consagração do santo flechado como padroeiro da cidade. Pollyanna Gouveia Mendonça Muniz em “Cruz e Coroa: Igreja, Estado e conflito de jurisdições no Maranhão colonial” trata dos conflitos entre as jurisdições da Igreja e do Estado, com foco no século XVIII, quando ascendeu ao poder o marquês de Pombal com sua política regalista que tentava cada dia mais secularizar o Estado português. A autora objetiva acompanhar os conflitos e os motivos dessa disputa de jurisdição e analisar o desrespeito às imunidades eclesiásticas no Maranhão. Fernando Lobo Lemes em “Na arena do sagrado: poder político e vida religiosa nas minas de Goiás” tem como objeto a análise os conflitos e embates entre o poder secular e as autoridades eclesiásticas naquela região. Eliane Cristina Deckmann Fleck e Mauro Dillmann no texto “‘A Vossa graça nos nossos sentimentos’: a devoção à Virgem como garantia da salvação das almas em um manual de devoção do século XVIII” analisam o manual Mestre da Vida que ensina a viver e morrer santamente, publicado na primeira metade do século XVIII. O eixo central é o estudo das representações da Virgem, das orientações que os fiéis deveriam seguir no culto e nas práticas devocionais. Tal análise insere-se nas recentes discussões historiográficas acerca das práticas de leitura, considerando as formas plurais de apropriação e de recepção de textos, inseridas em seus contextos de produção e circulação. Ana Rosa Cloclet da Silva em “Padres políticos e suas redes de solidariedade: uma análise da atuação sacerdotal no sertão de Minas Gerais (1822 e 1831)” estuda o perfil de clérigos brasileiros que aliaram de modo peculiar a formação pastoral e intelectual à atuação política, em favor de seus interesses privados, buscando usufruir de suas redes de sociabilidade para resistir às normatizações encaminhadas pelo Estado nacional, pós-Independência. O artigo seguinte, de Maurício de Aquino, “Modernidade republicana e diocesanização do catolicismo no Brasil: as relações entre Estado e Igreja na Primeira República”, trata dos reflexos da proclamação da Republica e do fim do regime do padroado, que levaram à implementação de um processo de reforma e reorganização eclesiástica cujo fulcro consistiu na criação de dioceses e jurisdições similares – ao qual se pode denominar diocesanização. Christiane Jalles de Paula no artigo “Gustavo Corção: apóstolo da ‘linha-dura'” tem como objetivo analisar a participação de setores do laicato católico na legitimação do golpe militar de 1964. Partindo da atuação de Gustavo Corção, a autora procura demonstrar como os argumentos desse personagem buscaram legitimar as bases antidemocráticas da chamada ‘democracia’ do regime militar defendida por esses setores.

O segundo bloco de artigos que integram o Dossiê “Igreja e Estado” apresenta reflexões sobre conceitos de santidade e de realeza cristã na Idade Média e um balanço das relações entre essas duas esferas. Igor Salomão Teixeira em “O tempo da santidade: reflexões sobre um conceito” apresenta e analisa o processo de canonização de Tomás de Aquino (1323-1274). A proposta do autor é destacar que o conceito de santidade, tal como apresentado, torna-se um fenômeno social construído coletivamente. André Luis Pereira Miatello no artigo “O rei e o reino sob o olhar do pregador: Vicente de Beauvais e o conceito de realeza no século XIII” discute, com base no De morali principis institutione, do religioso francês, os critérios, a instituição e a função social da realeza cristã no século XIII. O propósito é perscrutar a imagem antiga do pastorado régio por oposição à ideia de razão de Estado. Escrevendo para o rei capetíngio, Luís IX, Vicente de Beauvais contrapõe a situação ordinária em que o governo político se apresenta, no plano histórico, ao modelo social visível em uma realidade sobrenatural, chamada ecclesia. Finalmente, Olivier Abel em “Igrejas e Estado” fornece ao leitor um balanço bibliográfico que percorre diferentes conjunturas e diferentes autores acerca das relações entre esses dois poderes.

A seção de avulsos apresenta oito artigos. Clara Maria Laranjeira Sarmento e Santos em “A Correspondência Luso-Brasileira: narrativa de um trânsito intercultural” explora a experiência entre Portugal e o Brasil, no início do século XIX, de duas famílias oriundas da pequena nobreza rural do Norte de Portugal, com especial atenção ao percurso intercultural feminino. O trabalho articula os contextos concretos e situados do seu objeto de estudo, com o propósito de construir o conhecimento de diferentes momentos históricos, racionalidades e mundividências. Eduardo Munhoz Svartman em “Formação profissional e formação política na Escola Militar do Realengo” aborda a primeira etapa do processo de formação profissional de oficiais do Exército Brasileiro que iniciaram suas carreiras no decorrer da década de 1920. Com foco numa instituição que pretendia formar oficiais ‘apolíticos’, o autor chama atenção para a criação de um espaço de politização desenvolvido nessa escola. Fernando Vale Castro em “Um projeto de diplomacia cultural para a República: a Revista Americana e a construção de uma nova visão continental” tem como objetivo analisar esse periódico como um instrumento da estratégia do Itamaraty para pensar uma aproximação entre o Brasil e o restante da América do Sul, destacando o papel a ser exercido pela diplomacia na República recém-proclamada. Cleber Santos Vieira em “Civismo, República e manuais escolares” analisa aspectos do civismo no alvorecer da República brasileira, com ênfase na pesquisa sobre dois livros escolares: História do Brasil ensinada pela biografia de seus heróis, de Silvio Romero (1890), e A História de São Paulo pela biografia de seus nomes mais notáveis (1895), publicado por Tancredo Amaral. Por um lado, trata-se de apresentar nuanças da Historia Magistra Vitae presentes nesses objetos da cultura material; por outro, de destacar em que medida suas histórias foram pontuadas por divergências em torno da questão educação ou instrução cívica pela afirmação de um civismo de coloração regional, bem como palco de conflitos entre protagonistas do republicanismo paulista. Lucília Siqueira em “Os hotéis na cidade de São Paulo na primeira década do século XX: diversidade no tamanho, na localização e nos serviços” analisa três estabelecimentos de hospedagem de dimensões distintas, ressaltando sua heterogeneidade. Seguindo os inventários post mortem de proprietários de hotéis, o artigo possibilita apreender a variedade dos equipamentos e serviços existentes, bem como a diversidade dos grupos aos quais pertenciam os donos desses estabelecimentos. Maria Bernardete Ramos Flores no texto “Quando o dragão assume o lugar do cavalo: um caráter pós-colonialista na obra criolla de Xul Solar” analisa como esse artista, representante da vanguarda argentina, desenvolve a proposta de que a América, com seus sistemas de mitos e crenças, revelava um espaço espiritual no qual se desenvolveria a nova humanidade, e toma o dragão para subverter os fluxos da colonização do Mundo Novo. Antonio Maurício Dias da Costa em “Festa e espaço urbano: meios de sonorização e bailes dançantes na Belém dos anos 1950” discute o uso de referências simbólicas de origem memorialística e jornalística atribuídas ao contexto socioespacial dos bailes dançantes de orquestras e ‘sonoros’ em Belém, nos assim chamados ‘clubes sociais’ e ‘clubes suburbanos’. Raquel Varela em “‘Um, dois, três MFA’: o Movimento das Forças Armadas na Revolução dos Cravos – do prestígio à crise” analisa o golpe militar de 25 de abril de 1974 que põe fim aos 48 anos de ditadura do Estado Novo em Portugal. Busca explicar a ascensão e queda desse movimento de oficiais, a forma como ganhou apoio popular e as razões do seu desmoronamento.

Este número apresenta ainda quatro resenhas. Rodrigo Patto Sá Motta analisa João Goulart: uma biografia, de Jorge Ferreira; Livia Lopes Neves fala de Leituras, projetos e (re)vista(s) do Brasil (1916-1944), de Tania Regina de Luca; Cristina Ferreira resenha Cláudio Manuel da Costa: o letrado dividido, de Laura de Mello e Souza, e Luciana Fernandes Boeira analisa Présent, nation, mémoire, de Pierre Nora.

Mais uma vez convidamos nossos leitores a consultarem o site da Anpuh e do SciELO e baixar nos computadores ou nos leitores digitais os artigos do seu interesse.

Marieta de Moraes Ferreira


FERREIRA, Marieta de Moraes. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.32, n.63, 2012. Acessar publicação original [DR]

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Estado e Sociedade Civil: Ditaduras na América Latina / Estudos Ibero-Americanos / 2012

O presente Dossiê apresenta uma síntese das reflexões resultantes do diálogo estabelecido entre historiadores do Uruguai, da Argentina e do Brasil, e suas respectivas pesquisas desenvolvidas em torno do tema das Ditaduras latino-americanas e suas interfaces com o Estado e a Sociedade Civil. O diálogo desde então estabelecido entre eles proporcionou várias reflexões, das quais buscou-se uma síntese no conjunto de artigos que formam este Dossiê.

Pretendeu-se apresentar perspectivas diversas sobre alguns regimes ditatoriais que vigoraram na América Latina no século passado. Essa abertura à diversidade de interpretações que marca as pesquisas sobre o tema é percebida não apenas como decorrência da amplitude e heterogeneidade características do campo de investigações, mas sobretudo como um compromisso fundamental com o conhecimento.

O elemento central em todas as variadas análises aqui apresentadas é a abordagem histórica das relações estabelecidas entre Estado e sociedade civil naqueles contextos autoritários. Trata-se de questão chave para compreensões mais profundas dos modos pelos quais aqueles regimes foram estabelecidos, eventualmente transformados e por fim substituídos. As ditaduras passam assim a ser vistas como produtos sociais complexos, moldados por conflitos de interesses individuais e coletivos, disputas por poder, relações de forças dinâmicas, tradições autoritárias mais ou menos arraigadas, dentre outros fatores igualmente importantes.

Tal é o fio condutor a unir os diferentes artigos que compõem o dossiê ora apresentado. Nos textos, toma-se como objeto de análise determinados aspectos dos regimes ditatoriais instaurados no Uruguai, na Argentina e no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980. Um balanço das mais recentes análises da historiografia uruguaia sobre o regime autoritário que vigorou naquele país entre 1973 e 1985 é apresentado por Jaime Gabriel Yaffé Espósito (Universidad de la República, Uruguai). Também abordando o caso uruguaio, Enrique Serra Padrós (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Ananda Simões Fernandes (Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul) debruçam-se sobre o tema do governo Bordaberry, avaliando o papel de setores militares em relação ao golpe de 1973. Miguel Ángel Taroncher (Universidad Nacional de Mar Del Plata, Argentina) examina a questão da opinião pública no contexto do golpe de 1966, na Argentina. Uma leitura comparativa das alianças entre civis e militares que resultaram nos golpes de Estado no Brasil e na Argentina é apresentada por Hernán Ramiro Ramírez (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil). Ainda em relação a Brasil e Argentina, mas privilegiando as relações entre imprensa e ideologia, Helder Volmar Gordim da Silveira (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil) propõe algumas reflexões sobre o modo como o diário argentino Clarín noticiou a crise política que envolveu o golpe de 1964 no Brasil. Tratando da mesma conjuntura, Jaime Valim Mansan (Ddo do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil) apresenta uma análise da atuação da Comissão Especial de Investigação Sumária instalada em maio de 1964, com objetivos repressivos, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Helder Gordim Silveira – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Miguel Ángel Taroncher – Universidad Nacional del Mar Del Plata

Organizadores


SILVEIRA, Helder Gordim; TARONCHER, Miguel Ángel. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 38, n. 1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Estado, políticas públicas e violência / Dimensões / 2011

A Revista Dimensões busca neste número, mediante o dossiê intitulado: Estado, políticas públicas e violência, discutir a relação entre tais questões, vinculando este tema à violência criminal e simbólica tanto em nível, regional, nacional como internacional. O propósito é inserir esta discussão, já realizada em nível acadêmico pela linha de pesquisa Estado e Políticas Públicas do Programa de Pós-Graduação em História, por meio do NEI (Núcleo de Estudos Indiciários) e do Laboratório de História das Relações Institucionais, a um olhar mediado pela interdisciplinaridade das Ciências Sociais.

Neste sentido, é na interseção da interface de múltiplos olhares que se pretende discutir o fenômeno da violência, cujo propósito é o de superar a dicotomia ainda existente entre diversos campos de estudo e pensá-lo, a partir do aporte da história, em suas diversas dimensões, desde a do imaginário e da fantasia (inerente ao humano), a ação política. O fenômeno da violência em geral e o aumento significativo do índice de delito em particular, têm se apresentado na sociedade contemporânea como um desafio constitutivo e definidor de políticas públicas para a promoção do desenvolvimento humano.

Assim a importância de discutir esta temática vinculando-a diretamente ao Estado e às Políticas Públicas. Nesta direção, os pesquisadores participantes deste Dossiê apresentam uma rica abordagem e trazem suas experiências do campo historiográfico, antropológico, da ciência política e sociológico apresentando um painel de acontecimentos na Colômbia, no México, no Brasil e no Espírito Santo e que refletem, por sua vez, as demandas por políticas públicas. Esperamos que a contextualização proposta possibilite aos leitores a construção de novos indícios para a pesquisa das ciências humanas.

Maria Cristina Dadalto

Márcia Barros F. Rodrigues

Organizadoras.


DADALTO, Maria Cristina; RODRIGUES, Márcia Barros F. Apresentação. Dimensões. Vitória, n.27, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Dimensões da política na História – Estado, Nação, Império / Locus – Revista de História / 2007

Neste número, Locus – Revista de História dá continuidade à publicação de dossiês temáticos e abre espaço para a publicação dos textos apresentados no I Seminário Dimensões da Política na História: Estado, Nação, Império, realizado na UFJF entre 22 e 24 de maio de 2007. Com origem numa iniciativa do programa de pós-graduação desta universidade, em conjunto com seu Núcleo de Estudos em História Social da Política, os trabalhos resultantes deste seminário e aqui publicados retratam um pouco da renovação e da diversidade de um campo de discussões que vem se consolidando e se ampliando nos últimos anos.

O trabalho de Gladys Sabina Ribeiro, proferido como conferência de abertura do evento, focaliza os processos de construção da cidadania e da identidade nacional dialogando com contribuições historiográficas de diferentes linhagens, as quais convergem, em seu texto, para uma abordagem profundamente enraizada na tradição da história social, que substitui a imagem de um Estado demiurgo atuando na formação da nação por uma pluralidade de sujeitos sociais, com necessidades específicas, a partir das quais vão ganhando sentido os conceitos políticos em circulação.

Nesse mesmo sentido, a maneira como as estruturas políticas vão se definindo em consonância com a necessidade de lidar com demandas sociais é o que encontramos nos textos de Andréa Slemian e de Silvana Mota Barbosa. No primeiro, o período compreendido entre a Independência e o Ato Adicional é analisado sob o prisma da institucionalização dos canais de representação política, num processo que conduziria à hegemonia da moderação e ao fechamento das vias legais ao radicalismo. No segundo, a clássica interpretação de Ilmar Rohloff de Mattos sobre a construção do Estado imperial é o ponto de partida para uma reflexão a respeito do caráter assumido pelo parlamentarismo brasileiro no século XIX, demonstrando que, muito além do que possa ser visto como uma instituição lacunar ou imperfeita, encontra-se a relação hierarquizada entre os grupos políticos em disputa.

Da definição da política em seu nível institucional passamos às suas práticas sociais com os trabalhos de Jefferson Cano e Maria Fernanda Vieira Martins. Esta última investiga a trajetória política de um indivíduo reconstruindo as redes sociais em que ele se inseria e mostrando como essas redes podiam definir interesses que, em última análise, se sobrepunham a outras formas de identificação política, como os campos partidários. Já o artigo de Jefferson Cano se detém sobre a construção das identidades políticas, e dos próprios campos partidários, como um processo que ocorre na interação de grupos sociais em torno de questões cujos significados extrapolam os projetos que disputam espaço nas instâncias políticas institucionalizadas.

Por fim, a maneira como se dá a politização de diferentes espaços da sociedade por diferentes sujeitos é o problema que surge nos textos de Elciene Azevedo, Ronaldo Pereira de Jesus e Marco Antonio Cabral dos Santos. No artigo de Elciene Azevedo, esse problema é tratado a partir da atuação do abolicionista Antonio Bento como magistrado, que, ao mover-se nas margens das normas legais, transformava os tribunais numa arena dentro da qual desenrolavam-se os embates em que se testavam as estratégias de construção da liberdade por dentro do direito escravista. Ronaldo Pereira de Jesus enfoca a problemática do associativismo numa abordagem que busca cruzar a experiência dos trabalhadores livres do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX com a crise das políticas de dominação paternalista que marcaram as últimas duas décadas da história da escravidão. O estudo de Marco Antonio Cabral dos Santos sobre a polícia paulistana do início do século XX mostra como um projeto modernizador, no qual se inseria o controle de uma crescente população trabalhadora por parte do aparato policial, via-se condicionado pelos limites que seus próprios agentes lhe impunham, buscando garantir o cumprimento da lei por meio de práticas muitas vezes arbitrárias, e decisivas para a definição de cidadania naqueles primeiros momentos de vida republicana.

Dessa maneira, delineia-se, em meio a diferentes recortes temáticos e temporais, por meio de diferentes procedimentos metodológicos e diálogos historiográficos, o eixo de uma problemática comum que estrutura as discussões realizadas nesse seminário, e que busca perceber os múltiplos sujeitos sociais que atuam junto aos diversos espaços institucionais da vida pública.

Sirva este dossiê como um convite para futuras reflexões, e que a diversidade e a renovação constantes continuem ditando os caminhos da ampliação dessa área de estudos.

O presente número da Locus inclui, ainda, mais dois artigos, além dos que compõem o dossiê Dimensões da Política na História. Em Ode a Salvador Dalí e O mel é mais doce que o sangue, Ângela Brandão analisa um período específico da produção poética de Federico García Lorca e da obra pictórica de Salvador Dalí, por meio da interseção das duas biografias, com ênfase em um poema de Lorca: Ode a Salvador Dalí, e um quadro: O mel é mais doce que o sangue. A partir daí, desvenda alguns dos tantos elementos simbólicos já presentes nas origens do surrealismo nas obras do pintor e do poeta.

José D’Assunção Barros busca elaborar uma visão panorâmica sobre a História das Idéias, apresentada em suas relações dialógicas com a História Cultural, a História Política e outras modalidades historiográficas, em História das Idéias – em torno de um domínio historiográfico. São discutidos alguns conceitos envolvidos na perspectiva da História Cultural e da História das Idéias, a partir de uma produção historiográfica diversificada que se desenvolveu ao longo do século XX.

Por fim, Lucilha de Oliveira Magalhães resenha a obra Introdução ao pensamento de Bakhtin, de José Luiz de Fiorin.

Boa leitura!

Alexandre Mansur Barata

Ignacio Godinho Delgado

Jefferson Cano

Silvana Mota Barbosa

Organizadores do volume.


BARATA, Alexandre Mansur; DELGADO, Ignacio Godinho; CANO, Jefferson; BARBOSA, Silvana Mota. Apresentação. Locus – Revista de História. Juiz de Fora, v.13, n.1, 2007. Acessar publicação original [DR]

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Estado e Poder / Tempos históricos / 2007

Seguimos vivendo Tempos Históricos. Impossível não perceber em nosso cotidiano a degradação das condições sociais de existência. A aparência é de desesperança: muita corrupção, muita impunidade, muita desigualdade. Aparência que certamente é parte do real, mas que é difundida como instrumento de reforço do conformismo e da apatia, como espécie de atestado de que nada pode ser transformado e de que não existe sujeito social capaz de intervir construtivamente na realidade e enfrentar os mecanismos e instrumentos de dominação.

Historicamente determinados, tais instrumentos e mecanismos precisam ser historicamente compreendidos. De fato, a realidade é sombria: as formas de dominação e exploração imperialistas permanecem avassaladoras, seja sob a intervenção opressora do capital financeiro transnacionalizado, seja sob a violência explícita e direta perpetuada pelos Estados Unidos contra o povo iraquiano (já sem argumentos ou mediações), contra o povo afegão (sob a capa da Otan) e contra o povo haitiano (com a participação cúmplice do Brasil e outros países latino-americanos) O massacre midiático contra qualquer alternativa ao pensamento único segue indelével: a demonização de Hugo Chaves aparece como eixo articulador de campanhas midiáticas em prol da construção da aparência de um mundo em que não há e não pode haver espaço para construções alternativas ou mesmo pensamento divergente. Ao mesmo tempo a crescente repressão estatal e criminalização dos movimentos sociais em países como México, Peru e Colômbia é simplesmente omitida e tais países são apresentados como exemplos de “democracia”.

Há um discurso que denota uma aparente mudança no comportamento imperialista. Em nome de uma suposta consciência ecológica, a nova mina de ouro são os biocombustíveis, energia supostamente “limpa” e eternamente “renovável”, capaz de alimentar a utopia da perpetuação dos atuais níveis de consumo. A simples proposição do debate em torno da segurança alimentar, ameaçada pela febre dos biocombustíveis, é desqualificada de imediato sob um argumento falsamente “ecológico” por parte dos mesmos que conduziram o planeta às portas da hecatombe. Mais uma vez o papel dos países periféricos é assentado: reestruturar sua economia para abastecer o império que consome cada vez mais, reforçando sua entendidas por eles como lugar desses conflitos e de construção dos embates históricos concretos. Não se trata também de história que proponha a entificação do Estado como algo externo à sociedade, um ser todo-poderoso que a todos impõe sua dominação. O Estado de formas distintas aparece nessas análises como um organizador da dominação de classe, e a partir daí as relações sociais são percebidas e problematizadas, inclusive na resistência dos sujeitos a ela.

Os demais artigos seguem trazendo elementos para a compreensão dos tempos atuais. Tratam de temáticas vinculadas à questão da terra em Senhores de terras e de gentes: Os poderosos senhores das armas na capitania no Ceará (século XVII), de José Eudes Arrais Barroso Gomes e a questão do trabalho em Vivências de metalúrgicos durante o processo de reestruturação produtiva em São José dos Campos, de Mônica Xavier de Medeiros. A revista traz ainda três resenhas, duas delas integrando o Dossiê Estado e Poder.

Conselho Editorial da Revista Tempos Históricos


Conselho editorial. Apresentação. Tempos Históricos, Paraná, v.10, 1º semestre de 2007. Acessar publicação original [DR]

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Estado e Controle Social / Revista Brasileira de História / 2001

O dossiê Estado e controle social, que a Revista Brasileira de História apresenta aos seus leitores, traz inicialmente um documento de Maurice Halbwachs registrando suas impressões sobre sua eleição para o Collège de France. O autor, que elaborou significativa contribuição teórica para os estudos sobre memória, desvenda neste texto sua própria vida em atividade de memorialista, abrindo perspectivas para a história das ciências humanas e de suas relações com a política. O “grupo de Strasbourg” e suas ramificações no mundo acadêmico francês, suas estratégias de inclusão / exclusão constituem temáticas que remetem à história e à sociologia.

O documento, inédito no Brasil, inicialmente foi publicado na Revue d’ Histoire des Sciences Humaines graças ao trabalho de transcrição e notação de Laurent Mucchielli e Jacqueline Pluet-Despatin. Infelizmente, por motivo de formatação de nossa revista, tais notas foram aqui suprimidas. A apresentação do documento, feita pelos dois autores, contextualiza sua escrita na França ocupada pela Alemanha nazista e revela dados biográficos do autor relacionados à Resistência. O Collège de France é também analisado a partir da perspectiva de campo social dada por Bourdieu, revelando aspectos complexos da inclusão acadêmica dos durkheimianos e de suas ligações com o Estado, até o extremo da eliminação física dos indesejáveis, presenciada por uma instituição incapaz de reagir.

O campo acadêmico e suas relações com o Estado também constituem o tema do artigo de Cláudia Callari, publicado postumamente com a revisão de Lilian Starobinas. Nele, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais é analisado do ponto de vista da produção do saber histórico e sua instrumentalização pela política durante o Império e a República, mediante a construção de narrativas modelares.

João Fábio Bertonha analisa o Estado a partir das concepções do Integralismo, discutindo as relações deste movimento com o fascismo italiano e sua difusão entre os descendentes de italianos no Brasil. Retoma as discussões sobre as relações entre o modelo europeu e a proposta dos seguidores de Plínio Salgado, tendo como referência as variáveis étnica e de classe especialmente em São Paulo, sem perder de vista outras regiões de colonização italiana.

As políticas emergenciais de Getúlio Vargas para minorar os efeitos da seca no Nordeste constituem o tema do artigo de Frederico de Castro Neves. As relações entre o Estado e os retirantes das secas de l932 e 1942 foram focalizadas em sua intenção de controlar a população migrante mediante a implantação de campos de concentração de flagelados, visando evitar saques e depredações.

O período do governo Vargas constitui também o tema do artigo de Elio Chaves Flores, que analisa as representações cômicas da República publicadas entre 1930 e 1954. O traço memorialístico presente nas caricaturas publicadas em jornais e revistas, é aqui confrontado com discursos satíricos e irônicos numa perspectiva de intertextualidade.

A seção de artigos inicia-se com o trabalho de Anita Novinsky sobre os marranos em Minas Gerais no período colonial. A análise de processos de cristãos-novos revela uma identidade específica, antes uma visão de mundo que uma prática religiosa. A Inquisição atuou nas regiões auríferas motivada pela ação confiscatória, revelando nos documentos arquivados em Portugal aspectos da vida dos acusados de práticas judaizantes, tais como as sociedades secretas e as atividades profissionais a que se dedicaram.

O período colonial foi também abordado por Cristina Pompa, que analisou outro aspecto da religiosidade no Brasil, a construção de profetas e santidades. A partir de relatos missionários, a autora analisa o campo semântico da leitura do xamanismo e a interpretação do profetismo tupi-guarani na perspectiva da alteridade, no contexto do encontro entre indígenas e europeus no Brasil.

Néri de Almeida Souza dá continuidade aos estudos sobre religiosidade no artigo sobre a hagiografia medieval portuguesa, no qual aborda os temas de peregrinação, conquista e povoamento a partir da Vida de Santo Amaro. Trata-se de uma narrativa de viagem ao paraíso terrestre cisterciense, que permite a compreensão de relações entre pensamento histórico e pensamento mítico, da Reconquista aos Descobrimentos portugueses.

Descobrimentos constituem o tema do artigo de Paulo de Assunção em análise das descrições feitas por jesuítas sobre as terras brasileiras. A mentalidade do século XVI é ali abordada a partir de relatos que enfatizavam a natureza tropical da região ao sul do Equador.

O artigo de Carlota Boto insere-se também nos estudos sobre Portugal, desta feita abordando o debate pedagógico ali travado no final do século XIX e início do século XX. A partir de periódicos, a autora analisa o tema da hereditariedade como fator determinante da ação educativa e sua influência sobre as concepções de método e conteúdo. Este número contou com a colaboração financeira dos Núcleos Regionais da AMPUH.


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.40, 2001. Acessar publicação original [DR]

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