Escravidão e Sociedade Colonial / Locus – Revista de História / 2006

A Locus – Revista de História dá continuidade à ordenação temática de suas edições, retomada no número anterior. Quatro artigos abordam aspectos diversos da escravidão e da sociedade colonial no Brasil. Os demais artigos lidam com temas da Hispano-americana, do Brasil Contemporâneo e da História Antiga, num painel diversificado de contribuições para o estudo da História.

O artigo que abre a revista, O comércio das almas e a obtenção de prestígio social: traficantes de escravos na Bahia ao longo do século XVIII, de Alexandre Vieira Ribeiro, focaliza os comerciantes nativos e vindos de além-mar que, no período considerado, desempenharam papel preponderante na vida colonial baiana ao longo do século XVIII e início do XIX. A partir de dados quantitativos e bibliografia específica busca estabelecer o perfil dos comerciantes de escravos estabelecidos na Bahia.

Em Notas iniciais acerca da prática da alforria no Termo de Vila do Carmo, 1711 – 1720, Carlos Leonardo Kelmer Mathias, analisa as escrituras de alforria e liberdade presentes nos livros de nota do 1º Ofício do Arquivo da Casa Setecentista de Mariana, com o intento de estabelecer o perfil das alforrias relativas à comarca de Vila Rica.

Marcia Amantino, através do estudo de anúncios veiculados no Jornal “O Universal”, entre 1825 e 1832, analisa as causas das fugas e o perfil dos escravos em Ouro Preto. Seu artigo, Os escravos fugitivos em Minas Gerais e os anúncios do Jornal “O Universal”- 1825 a 1832, objetiva, ainda, examinar o cotidiano da vida em cativeiro em Minas Gerais do século XIX.

Por fim, encerra o dossiê organizado neste volume, o artigo Recursos e estratégias dos oficiais de Ordenanças: reflexões acerca de sua busca por autoridade e mando nas conquistas, de Ana Paula Pereira Costa, que focaliza as estratégias traçadas e os recursos disponíveis pelos oficiais de mais alta patente das Companhias de Ordenanças, na Vila Rica do século XVIII, para que fossem vistos e permanecessem como homens de “qualidade” e, portanto, detentores de mando.

Peter Blasenheim em Revisiting Richard Morse’s Theory of Spanish American Government for Classroom (Revisitando a Teoria do Governo Hispano-americano de Richard Morse na sala de aula) descreve sua experiência na estruturação do Curso de História da América Latina, no Colorado College, a partir de um dos primeiros escritos de Richard Morse, “Por uma teoria do governo hispano-americano”, publicado em 1954.

Beatriz Helena Domingues analisa os escritos de Javier Clavijero para avaliar a importância da Geração Mexicana de 1750, exilada na Itália em função da expulsão da Companhia de Jesus da Nova Espanha em 1767. O artigo Clavijero’s Perception of the America and American’s from the exile perspective procura evidenciar a abertura deste grupo em relação às idéias modernas e ilustradas, que combinaram com a tradição escolástica.

Estado, e Sindicatos e Direito do Trabalho no Brasil, de Valéria Lobo, argumenta que a forte componente estatal impressa na origem da legislação sindical e trabalhista brasileiras, ao lado da influência dos trabalhadores nesse processo, consolidou uma tradição que tende a inibir a realização de mudanças mais profundas no direito coletivo e individual do trabalho no país. Tal resistência adviria não só dos aspectos materiais decorrentes da legislação trabalhista, mas também dos aspectos simbólicos que envolvem as relações entre Estado e a estrutura organizativa dos trabalhadores.

Márcio Delgado analisa a ascensão e protagonismo de Carlos Lacerda, jornalista, como líder da UDN a e da oposição à herança de Vargas sob a Experiência Democrática de 1946 a 1964. Salienta, em Lacerdismo: A mídia como veículo de oposição na experiência democrática (1946-1964), que o discurso inflamado e contundente de Lacerda soube valer-se de amplo acesso aos diversos meios de comunicação de massas existentes naquele período no Brasil.

A repressão desencadeada, pelo regime militar instaurado em 1964, contra os próprios militares é o objeto de A política repressiva contra militares no Brasil após o golpe de 1964, artigo de Cláudio Beserra de Vasconcelos. Seu propósito é identificar a correspondência desse processo como o contexto político mais global de disputa político-ideológica pelo controle do Estado brasileiro.

O último artigo desta edição focaliza os Aspectos simbólicos da cultura jurídica na antiga Mesopotâmia. Nele, Marcelo Rede assinala que as práticas e representações jurídicas na Mesopotâmia não constituíram uma esfera autônoma, revelando relação estreita com o universo religioso e mágico.

O presente volume, inclui, ainda a resenha de Fernanda Fioravante, relativa ao livro O central e o local: a vereação do Porto de D. Manuel a D. João III, de Maria de Fátima Machado.

Agradecemos à colaboração da Pro- Reitoria de Pesquisa, ao Instituto de Ciências Humanas, ao Departamento de História e ao Programa de Pós-Graduação em História, da UFJF, que criaram condições para a viabilização deste número da Locus – Revista de História.


Conselho editorial. Apresentação. Locus – Revista de História. Juiz de Fora, v.12, n.2, 2006. Acessar publicação original [DR]

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