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Os eruditos e a cidade / Urbana / 2012
Trajetória ou biografia? Uma ou outra seriam aproximações indistintas para estudos sobre a experiência vivida por algum personagem? Poderíamos dizer que a ideia de trajetória remete imediatamente ao aspecto profissional dessa experiência pessoal e, portanto, equivaleria à trajetória profissional? Seria a biografia justificável somente pela abordagem da experiência pessoal, por uma suposta singularidade? Ou ainda, seria possível falar em biografia profissional, como uma “entrada” híbrida, que remeteria necessariamente para a experiência profissional e pessoal, entrecruzadas? Sem eleger, de antemão, uma entre essas abordagens, a proposta do dossiê “Os eruditos e a cidade” apresenta uma oportunidade para se discutir o tema.
A opção foi favorecer o diálogo, nem sempre convergente, entre diversos campos disciplinares a partir das seus aportes conceituais, resultando em diferentes visões sobre a questão, o dossiê priorizou propostas que buscassem pensar o papel, a atuação, as proposições de representantes dos saberes em suas ações sobre a cidade. Médicos, engenheiros, urbanistas, arquitetos, artistas, entre outros personagens que de modos diversos tematizaram o urbano figuram entre aqueles que fizeram dos saberes eruditos seu referencial para problematizar e atuar na cidade, seja na construção das infra-estruturas urbanas, dos sistemas viários, dos planos para moradias e saneamento habitacional, dos planos de expansão urbana, dos planos de intervenção urbana, das obras de abastecimento de água, ou ainda na configuração de um campo profissional para se pensar a cidade, por meio de associações, conferências, instituições de ensino, na administração municipal, entre outras atuações. O interesse do Dossiê “Os Eruditos e a Cidade” é justamente perscrutar a atuação daqueles que a partir de sua formação técnica e erudita atuaram na construção do sistema urbano brasileiro ou na forma de se pensar a cidade, sobretudo pela ação direta nas municipalidades.
Perscrutar a vida de uma pessoa não é tarefa simples. A vida profissional pode ser algo fugidia ao pesquisador, sobretudo quando os vestígios da sua trajetória profissional são restritos quantitativamente, ou ainda restritos qualitativamente, quando se depara com aspectos “lacunares” dessa vida, por vezes destituídos de vestígios documentais mais amplos que propiciem uma interpretação substantiva e profunda. Cartas, ofícios, memoriais, projetos, filiações institucionais, interlocutores e tantas outras categorias documentais que viabilizariam uma interpretação mais detalhada, articulada às tramas técnicas, sociais e profissionais que cada vida consubstanciou, orientam, portanto, (e justamente pela eventual inexistência de uma documentação mais densa) uma interpretação interessada não apenas em sua trajetória, digamos, individualizada ou singularizada, mas antes ampliada para as articulações desse personagem, e dos saberes que orientam suas propostas, às questões em pauta em cada momento histórico.
A partir dessas considerações sobre as possibilidades para se pensar a atuação dos profissionais na construção das cidades, o Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade convida à leitura deste número da revista Urbana, manifestando a gratidão dos editores pelas importantes contribuições recebidas.
Rodrigo de Faria – Professor Doutor (UnB)
Josianne Cerasoli – Professora Doutora (Unicamp)
FARIA, Rodrigo de; CERASOLI, Josianne. Apresentação. Urbana. Campinas, v.4, n.1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]