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Pandemias e epidemias em perspectiva histórica | Topoi | 2021
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o narrador registra sua perplexidade e sofrimento contido pela morte de sua pretendente. Esta, entre muitas mortes, fora causada pela chegada e instalação da febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, na segunda metade do século XIX:
[…] doeu-me um pouco a cegueira da epidemia que, matando à direita e à esquerda, levou também uma jovem dama que tinha de ser minha mulher; não cheguei a entender a necessidade da epidemia, menos ainda daquela morte. Creio até que esta me pareceu ainda mais absurda que todas as outras mortes (ASSIS, 1881, cap. 126 – Desconsolação, p.327-328.).
Há inúmeras passagens na literatura brasileira sobre epidemias, especialmente a febre amarela, a varíola, a gripe espanhola e, mais recentemente HIV-Aids, seja como pano de fundo e contexto, seja quase como um personagem. De Machado de Assis a Caio Fernando de Abreu, passando por João do Rio, Erico Verissimo e Pedro Nava, entre muitos outros, epidemias e pandemias estão presentes nas várias expressões da cultura brasileira e latino-americana. Resultam de experiências que, ao mesmo tempo, são individuais e coletivas, subjetivas e realistas, singulares e universais que têm sido crescentemente escrutinadas por historiadores e historiadoras, especialmente diante da mesma perplexidade produzida pela pandemia de COVID-19. Leia Mais