Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação / Cadernos de História da Educação / 2017

Sob a designação geral “Produção de conhecimentos, difusão e ensino na (e da) História da Educação”, este dossiê tem o propósito de compreender processos de produção e de ensino do conhecimento histórico-educacional mediante o exame de casos específicos, do recurso a fontes e métodos diversos, bem como da experiência do ensino.

Os seis artigos reunidos retomam e analisam, entre outros aspectos, em especial, a utilização da legislação e dos manuais de ensino situando a discussão a partir de estudos desenvolvidos acerca de situações determinadas como a educação no Maranhão na Primeira República e a elaboração de manuais escolares e os sentidos por eles assumidos no campo educacional, em São Paulo, no período entre as décadas de 1940 e 1950. Características dos processos de autoria e legitimação dos manuais são objeto de atenção.

Também se confere lugar de destaque para as potencialidades da legislação (e de diversas outras fontes) no confronto entre as proposições oficiais e a concretização de práticas na vida escolar, a partir da análise da situação do ensino de História da Educação em Minas Gerais constatando o baixo nível de correspondência entre prescrições e realizações no ensino.

Questões ligadas à produção do conhecimento histórico educacional e suas configurações em países (como Portugal, França e Espanha), cujas relações com o Brasil têm sido marcantes, são o ponto de partida para a discussão sobre o trânsito de modos de interpretação, escolhas teóricas e recurso a fontes que predominaram entre nós desde a década de 1970.

Os textos em seu conjunto evidenciam a preocupação com as possibilidades de concorrer para a história do ensino, da produção de conhecimentos, das escolas e da profissão docente. As potencialidades e limites dos diferentes materiais são problematizados em cada um dos trabalhos bem como o são as questões relativas às experiências de identificação, sistematização, disponibilização e ensino.

Desse modo, é possível afirmar que os artigos reunidos nesse dossiê se caracterizam de forma convergente ao se ancorar, cada um deles, em uma investigação específica de objeto e periodização autônomos e realizar, simultaneamente, incursões metodológicas que explicitam e debatem o potencial de fontes e métodos exemplificando marcas teóricas e enquadramentos diversos que mostram modalidades de construção de interpretações em História da Educação.

O artigo que abre o dossiê, intitula-se “A escrita da História da Educação: distâncias e proximidades na apropriação de fontes e métodos no caso das produções de Portugal, França, Espanha e Brasil”. Ele foi redigido por Denice Barbara Catani, da Universidade de São Paulo, como uma retomada de alguns resultados obtidos em investigação realizada sobre a produção de conhecimentos na área dos estudos educacionais e, em especial, sobre a produção dos estudos da História da Educação no Brasil. Para tanto, a autora recorreu à pesquisa dos processos que permitiram a construção e renovação de matrizes interpretativas a partir do exame da produção da área em países que sabidamente estabeleceram, nas últimas décadas, importantes relações acadêmicas com o nosso país, isto é França, Espanha e Portugal. Indicam-se, assim, as relações entre as transformações da escrita histórico educacional no Brasil e nos países citados atentando especialmente para as apropriações decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos conhecimentos em perspectiva comparada.

Em seguida, Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, da Universidade Federal de Sergipe, no texto intitulado “Fontes para a difusão da didática moderna no ensino da Língua Portuguesa: os manuais do Ensino Ginasial e a autoria docente nas décadas de 1940 e 1950”, relatou resultados de investigação que mobilizou como fontes prioritárias os manuais de língua portuguesa para as séries ginasiais, editados nas décadas de 1940 e 1950, de autoria de professores paulistas, que pregava o aprendizado da gramática a partir de textos literários. A coleção “Páginas Floridas”, de Francisco Silveira Bueno, editada pela Livraria Acadêmica, Saraiva e Cia e a “Coleção Didática do Brasil – Série Ginasial- Português”, assinada por Aída Costa foram selecionadas como exemplares representativos de compreensão da circulação de novos padrões didáticos por professores-autores que ocuparam posições relevantes no campo educacional paulista e mobilizaram diferentes estratégias. A pretensão do estudo foi contribuir com a História da Profissão Docente, e com a História das Disciplinas Escolares ao desvendar a trajetória dos referidos autores, que difundiram o ensino de português e literatura, a partir de coleções, que tiveram circulação nacional.

Cesar Augusto Castro, da Universidade Federal do Maranhão, redigiu o artigo intitulado “A legislação como fonte para a História da Instrução Primária maranhense”, no qual defendeu que a legislação educacional é uma importante ferramenta de investigação do campo da História da Educação por possibilitar uma ampla e fértil compreensão do movimento educativo em determinado tempo e lugar. O autor buscou entender o uso dessa fonte como recurso para a pesquisa sobre a instrução primária maranhense nas últimas décadas do período imperial e no início do período republicano, por meio da discussão dos processos econômicos, políticos, sociais que contribuíram para a criação e expansão das instituições escolares e as várias reformas educativas que objetivaram o desenvolvimento do Maranhão por meio da instrução.

Em seguida, Joaquim Pintassilgo e Carlos Beato, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, redigiram o artigo que intitularam “Balanço da produção recente no campo da História das Disciplinas Escolares: o exemplo das teses de doutoramento (Portugal, 2005-2015)”, no qual realizaram um balanço da produção portuguesa recente em História da Educação, tomando como exemplo as teses de doutoramento passíveis de inserção no campo específico da História das Disciplinas Escolares, para o que, selecionaram o período delimitado pelos anos de 2005 e 2015. Afirmam que a História das Disciplinas Escolares é um campo consolidado no interior da investigação histórico-educativa que possui uma fundamentação teórica sólida, um conjunto diversificado de fontes e uma certa tradição de pesquisa, no que se refere aos procedimentos metodológicos e aos fundamentos teóricos e conceituais. Em um campo que atingiu uma certa estabilidade, e que podia correr algum risco de estagnação, os autores procuraram identificar os desafios que lhe estão a ser lançados, as abordagens que procuram renovar e as tendências que se abrem à investigação futura, assumindo a especificidade, mas, também, a exemplaridade de que se reveste este campo particular no conjunto da pesquisa em História da Educação.

Em “O Ensino de História da Educação no Brasil: fontes e métodos de pesquisa”, Décio Gatti Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia, apresenta os avanços na pesquisa sobre o ensino de História da Educação em Minas Gerais, particularmente, com a apresentação de aspectos de uma trajetória coletiva e pessoal de busca de entendimento do “pré-curso” e dos percursos da disciplina História da Educação no Brasil, particularmente, em Minas Gerais, mas, também, como poderá ser percebido no texto do artigo, em São Paulo. No texto abordam-se os aspectos biográficos da entrada do pesquisador nesta temática da História Disciplinar da História da Educação. Depois, apresenta-se uma breve reflexão teórico-metodológica e, por fim, há uma exposição sucinta dos resultados alcançados em investigações sob os cuidados do autor, diretamente, a partir dos projetos de pesquisa que têm desenvolvido e, indiretamente, especialmente nas orientações de iniciação científica, de mestrado e de doutorado que foram levadas a cabo nos últimos anos.

O dossiê termina com o texto intitulado “O exercicio docente universitario na materia ‘Historia da educación’ ”, escrito por Antón Costa Rico, da Universidade de Santiago de Compostela, com abordagem direta da questão do ensino da disciplina História da Educação. Parte de uma pergunta central: — Com qual História da Educação formar o nosso aluno universitário na atualidade? Para o autor, a resposta envolve a formação de um habitus histórico-educativo e os cenários específicos de formação pedagógica.

Denice Barbara Catani – Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp). Professora Titular Aposentada da Feusp. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1B). E-mail: dbcat@usp.br

Décio Gatti Júnior – Doutor em Educação: História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Professor Titular de História da Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível 1C). Beneficiário do Programa Pesquisador Mineiro da Fapemig. E-mail: degatti@ufu.br


CATANI, Denice Barbara; GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 16, n.1, jan. / abr., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Ensino de História da Educação no espaço luso-brasileiro: Percursos institucionais, Currículos – Manuais Disciplinares / Cadernos de História da Educação / 2014

Este dossiê configura-se como um desdobramento das atividades desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Disciplina História da Educação (Gepedhe), com quatro artigos que comunicam resultados de estudos e pesquisas recentemente desenvolvidas por cinco pesquisadores brasileiros que se vinculam ao referido Grupo, provenientes de diferentes universidades brasileiras. Além disso, há dois artigos, redigidos por três pesquisadores vinculados a duas universidades portuguesas, Universidade de Lisboa e Universidade do Porto, que complementam o presente dossiê.

O quadro de estudos e pesquisas em torno da temática do Ensino de História da Educação tem se avolumado no âmbito da História da Educação, seja no âmbito nacional, mas, também, em âmbito internacional, sendo este dossiê uma colaboração que se soma as demais, em um esforço de contribuir para a consolidação de uma área que se julga essencial desenvolver no rol de investigações da área de História da Educação.

Neste dossiê, os artigos que o integram abordam o ensino de História da Educação, pela via de seus percursos institucionais, curriculares e dos manuais utilizados. Para efeito de sua organização, optou-se por apresentar os artigos conforme a ordem alfabética do nome de seus autores, conforme será apresentado a seguir.

O primeiro artigo foi redigido pelos professores doutores Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro e Sauloéber Tarsio de Souza, da Universidade Federal de Uberlândia. Sob o título, “Educação de mulheres nas páginas de manuais de História da Educação (1930–1970)”, eles apresentam uma discussão sobre a historiografia educacional brasileira, tendo como enfoque o modelo de educação feminina presente nas páginas de manuais amplamente utilizados no ensino de história da educação no século XX. Foram examinados seis manuais utilizados sobretudo em cursos de formação docente e especialmente difundidos entre normalistas e alunas dos institutos de educação e dos cursos de Pedagogia.

Carlos Monarcha, da Universidade Estadual Paulista, redigiu o segundo artigo apresentado neste dossiê, com o título “Um autor polígrafo. Um manual insólito. Raul Briquet e História da Educação: evolução do pensamento educacional”, no qual estudou as circunstâncias de produção de História da educação: evolução do pensamento educacional, manual de ensino publicado por Raul Briquet em 1946, professor da cadeira Educação Nacional do curso de Sociologia e Política da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.

O terceiro artigo, intitulado “As ideias de Rousseau nos manuais de História da Educação com autores estrangeiros publicados no Brasil (1939-2010), foi redigido por Décio Gatti Júnior que analisou doze obras de grande repercussão no país, nas quais os autores dos manuais didáticos analisados não poucas vezes se manifestaram favoravelmente ou desfavoravelmente ao pensamento de Rousseau, com a constatação de que apenas uma pequena parte dos manuais teve êxito no estabelecimento de relações entre as ideias políticas, educacionais e pedagógicas em Rousseau. Uma parte considerável privilegiou o pensamento rousseauniano como precursor do desenvolvimento futuro da psicologia do desenvolvimento humano, com destaque para a psique infantil.

Por fim, algumas obras foram muito críticas em relação as ideias educativas de Rousseau e as ideias liberais de modo geral, o que se deve ao corte analítico enviesado por forte crítica ideológica, seja a do espectro católico tradicional ou a do espectro comunista.

O quarto artigo, intitulado “O espaço curricular da História da Educação na Faculdade de Letras do Porto (1961-2013)”, redigido por Luís Alberto Marques Alves e Carla Luísa Santos Moreira, da Universidade do Porto, no qual constataram que a História da Educação na Faculdade de Letras do Porto percorreu um caminho longo, desde a sua integração no curso de Ciências Pedagógicas até ao seu regresso na atualidade.

Em seguida, Maria Helena Camara Bastos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta o quinto artigo deste dossiê que se intitula “Maria Lúcia de Arruda Aranha e a História da Educação”, analisa a produção, circulação e apropriação do manual de autoria de Maria Lúcia de Arruda Aranha, intitulado História da Educação, abordando a trajetória da autora e sua inserção no campo educacional; a história da obra – da materialidade ao conteúdo, da edição à circulação; e a contribuição para a disciplina.

Por fim, há o sexto e último artigo, escrito por Maria João Mogarro, da Universidade de Lisboa, intitulado “O ensino da História da Educação na Universidade de Lisboa (1950-2013)”, no qual procedeu a análise do espaço ocupado pela História da Educação na Universidade de Lisboa, na segunda metade do século XX e nos anos iniciais deste século, sendo que atualmente, é ministrada no Instituto de Educação, fazendo parte da licenciatura, do Mestrado em Ensino (que configura institucionalmente a legislação que consagrou o chamado processo de Bolonha, em 2007) e é oferecida também como um mestrado e um programa de doutoramento específicos, tendo construído um campo claramente definido de atuação.

Convida-se os colegas da área de História da Educação no Brasil e no exterior para a leitura deste dossiê vinculado ao tema Ensino de História da Educação, com a esperança de ser uma contribuição que some aos esforços de estudos e pesquisas que se tem visto atualmente, no sentido de permitir a melhor compreensão dos lugares institucionais e das formas tomadas pelo conteúdo da disciplina História da Educação.

Décio Gatti Júnior – Organizador


GATTI JÚNIOR, Décio. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 13, n.2, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

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O ensino de história da educação nos cursos de pedagogia no Rio Grande do Sul / Revista História da Educação / 2006

Este número da revista “História da Educação” reveste-se de um significado especial pois representa uma homenagem à Associação Sul-Rio-Grandense de História da Educação no momento em que a mesma completa 10 anos de existência. Esta associação é a mantenedora deste periódico, e com denodo e muito sacrifício tem conseguido manter seu alto padrão de qualidade, atestado, fundamentalmente pela qualidade dos artigos nela publicados.

Neste número mais uma vez, temos o prazer de apresentar trabalhos de investigadores caracterizados como de excelência tanto em nível nacional como internacional. De modo que somos gratos a todos que colaboraram com seus textos para este número e esperamos ter suas contribuições em outras edições desta revista.

Neste número, em substituição ao tradicional “documento’ que publicamos em todos os números anteriores estamos publicando um dossiê sobre o ensino de história da educação nos cursos de pedagogia no Rio Grande do Sul. Estes trabalhos foram, em sua maioria, apresentados no XI Encontro Sul-Rio Grandense de Pesquisadores em História da Educação realizado na Unisinos em S. Leopoldo.

Temos a convicção que a leitura desta revista será de muito proveito a nossos associados, assinantes e ao público interessado em história da educação.

A comissão executiva


Comissão Executiva. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 10, n. 19, jan. / jun., 2006. Acessar publicação original [DR]

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