Aprendendo e ensinando na Idade Média e renascimento: novas perspectivas/ Brathair/2021

Colocados lado a lado, os livros, as revistas, os capítulos de livros, os artigos e os ensaios que trazem estampados em suas páginas os estudos acerca da educação no Medievo certamente são capazes de ocupar algumas dezenas de estantes de uma biblioteca, quando não uma inteira. Desde pelo menos as décadas finais do século XIX com os seus “verdadeiros heróis filosóficos” presentes nas numerosas narrativas de cunho nacionalista de então (BOSCH, 2021, p. 25), este é um importante objeto de estudos disposto bem no centro das mesas de trabalho não apenas de historiadores-medievalistas, mas também de filósofos, teólogos, juristas e filólogos. Leia Mais

Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores II / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2020

Neste ano tão diferente, tão inédito, trazemos à luz mais um número da HISTEMAT. O último de 2020 e também o derradeiro dessa forma de publicação. Considerando os novos modos de edição das revistas científicas, também a HISTEMAT terá publicação contínua, tendo um número por ano, a partir de 2021. E que ele seja para todos nós, um Feliz Ano Novo!

Em meio à pandemia e às suas nefastas consequências, encerrados em suas casas e apartamentos, os pesquisadores muito vêm trabalhando, elaborando artigos e colocando os resultados de seus estudos à apreciação da comunidade, da seara da História da educação matemática. Haja vista a enorme quantidade de artigos que foram submetidos sob a temática da constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores em perspectiva histórica. O número de contribuições excedeu em muito as expectativas. Assim, seguindo as normativas da quantidade de artigos por número em torno de 12, foram recebidos mais do dobro desse limite. Dessa forma, esta edição da HISTEMAT reúne textos aprovados para publicação na edição anterior, mas que por excesso, foram trazidos para este Volume 6, número 3, de 2020.

A Editoria da HISTEMAT muito agradece o trabalho realizado pelos Editores Convidados Professores Eliene Barbosa Lima, da UEFS, Bahia e David Antonio da Costa, da UFSC, Santa Catarina. O empenho desses professores, em grande parte, explica a grande quantidade de artigos submetidos.

Em específico este número reúne estudos de pesquisadores estrangeiros e brasileiros que se dedicaram a temáticas diversas sob a ótica da História da educação matemática. Formação de professores é assunto dominante dos estudos; há, ainda, pesquisas que trouxeram à vista o papel de determinados personagens na produção de novos saberes – os experts; também é dominante nos artigos, as apropriações de bases teórico-metodológicas vindas da Universidade de Genebra. Em razão disso, o último artigo deste número da HISTEMAT reproduz texto em tradução para o português de pesquisadores daquela universidade.

Boa leitura!

O Editor


VALENTE, Wagner Rodrigues. Editorial. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.6, n.3, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores (I) / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2020

Quando fomos convidados pelo editor chefe da HISTEMAT para a tarefa de organizar o número temático de 2020, sentimos o peso da responsabilidade de executar um bom trabalho dada a qualidade das publicações presentes nesta revista. A HISTEMAT tem se consolidado como um importante periódico da área da História da educação matemática e nesse sentido cumpre importante papel na disciplinarização do campo científico (Hoffmann, Costa & Valle, 2019).

Como resposta ao convite formulado, decidimos então propor o tema Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores. Ao iniciarmos as divulgações no âmbito internacional e nacional, rapidamente tivemos o acolhimento de pesquisadores comprometendo-se a encaminhar propostas. Isso demonstrou o reconhecimento pelos investigadores do espaço assumido pela HISTEMAT no campo científico da História da educação matemática. Agradecemos aqueles que responderam a esta chamada. Procuramos identificar, dentre os artigos submetidos, os que melhor apresentaram aderência a proposta.

Os artigos apresentados neste número contemplam divulgações de pesquisas e estudos de autores em âmbito internacional e nacional. Como resultado deste processo, apresentamos neste Número Temático doze artigos dos quais quatro foram escritos por pesquisadores estrangeiros e oito foram escritos por pesquisadores brasileiros.

Dos quatro primeiros artigos estrangeiros podemos observar distintas abordagens metodológicas abrangendo temas relacionados a história do saber matemático em espaços de ensino e formação, particularmente em Portugal, Espanha, México e Venezuela. Privilegiou-se a diversidade geográfica não necessariamente vinculados a uma periodização no desenvolvimento de seus estudos ou mesmo no tratamento do nível de ensino.

O primeiro artigo intitulado CONSTRUINDO O CONHECIMENTO PEDAGÓGICO DO CONTEÚDO EM TEMPOS DA MATEMÁTICA MODERNA: as múltiplas facetas da lógica de autoria de José Manuel Matos e Teresa Maria Monteiro intenta caracterizar os significados atribuídos ao termo “lógica” em tempos da reforma da Matemática Moderna. As análises apresentadas se apoiam sobre um corpus de 26 trabalhos produzidos pelos estagiários do Liceu Pedro Nunes em Lisboa entre 1956 e 1968. Esta instituição, no período considerado, era responsável pela formação de professores de matemática do ensino secundário em Portugal.

A MATEMÁTICA PARA ENSEÑAR EN LOS LIBROS DE AURELIO RODRÍGUEZ CHARENTÓN: la numeración y las operaciones é o artigo produzido por Encarna Sánchez-Jiménez e tem como objetivo caracterizar a matemática para ensinar nos livros indicados deste autor. O prof. Charentón está ligado diretamente ao processo de disciplinarização da metodologia da matemática. Essa narrativa se dá nos espaços de formação dos professores normalistas que preparavam futuros professores para ensinar matemática nas escolas primárias espanholas em tempos de difusão da escola nova na década de 1930.

Retrocedendo no tempo, mas mantendo-se na temática dos saberes matemáticos, o terceiro artigo escrito por Alberto Camacho Ríos tem como título EL POSITIVISMO MEXICANO DEBATE SOBRE LOS FUNDAMENTOS DEL CÁLCULO INFINITESIMAL A FINALES DEL SIGLO XIX. Neste trabalho, o autor relata o debate sobre a fundamentação filosófica do cálculo infinitesimal engendrado no Centro de Ensino preparatório de matemática por dois professores que promoveram sua criação em 1867. A Escola Nacional Preparatória é o cenário da discussão presente no texto e esta instituição se desdobra contemporaneamente na Universidade Nacional Autónoma de México.

O quarto artigo, de autoria de Walter O. Beyer K, intitula-se EL CÁLCULO INFINITESIMAL EN LA FORMACIÓN DE INGENIEROS Y SU PROFESORADO EN EL SIGLO XIX VENEZOLANO. Tomando a história de um saber matemático do ensino superior, este texto apresenta resultados de uma investigação sobre o processo que conduziu a incorporação do Cálculo Infinitesimal nos estudos superiores da Venezuela por alguns dos seus docentes na Academia Matemática de Caracas (AMC), na Universidade e Escola de Engenharia. Para este empreendimento o autor se utilizou de outros estudos históricos e bibliográficos, de catálogos comerciais de livros e de bibliotecas, dos informes da AMC, assim como tomou as obras de cálculo infinitesimal que circularam na Venezuela no século XIX.

A partir das contribuições recebidas pelos pesquisadores brasileiros, podemos destacar que no Brasil há, também, um crescente movimento de historiadores da educação matemática preocupados em construir histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores, sob uma variedade de abordagens teóricas, metodológicas e de estilos narrativos, alinhados com certo fazer de uma história dita cultural.

Nessas historiografias, há espaços não apenas para os fatos regulares, mas, ainda, para episódios que fogem ao comum em um dado tempo histórico, sem nenhuma preocupação com grandes sínteses generalistas que tudo explicam independentemente do contexto sociocultural e suas peculiaridades (Vainfas, 1997). Seguem essa ótica as pesquisas nacionais que compõem este número temático.

De fato, tais pesquisas evidenciaram, em primeiro plano, que os saberes matemáticos não foram constituídos no ensino e na formação do professor de forma homogênea, estanque e inflexível nas mais diversas localidades brasileiras em cada tempo histórico-pedagógico (Valente, 2016). Houve, nesse sentido, uma pluralidade de saberes matemáticos, sedimentados por certos ideários de educação e por contextos socioculturais como sendo necessários e importantes para cada uma das dimensões das modalidades de ensino e de formação do professor que ensinaria matemática, em distintos períodos históricos.

Sob o contexto das escolas normais, que formavam o professor que iria lecionar nas escolas primárias brasileiras (Tanuri, 2000), os saberes matemáticos foram analisados em três diferentes cenários.

Nesse sentido, no quinto texto intitulado OS SABERES A ENSINAR DESENHO PARA A ESCOLA NORMAL DO MARANHÃO: um encaminhamento pelas finalidades de ensino, 1905-1934, o autor Marcos Denilson Guimarães direciona sua investigação para as finalidades do saber Desenho na formação dos professores normalistas maranhenses durante a primeira metade do século XX.

Os dois textos seguintes refletem uma política de expansão da educação baiana para o interior voltada para a formação do professor na década de 1950. Assim, ambos os textos foram construídos no mesmo espaço geográfico, isto é, no estado da Bahia e possuem periodizações semelhantes. Contudo, revelam cenários diferentes, tanto em termos de localidades, bem como em relação às categorias administrativas das instituições analisadas.

Com efeito, o texto SABERES RELACIONADOS AO ENSINO DE MATEMÁTICA NO CURSO PEDAGÓGICO DO GINÁSIO DE JEQUIÉ de Marly Gonçalves da Silva e Janice Cassia Lando direciona-se para os saberes matemáticos, mais precisamente, para aqueles presentes nas disciplinas de Matemática, Estatística e Desenho, no período de 1954 a 1966. Tais saberes, faziam parte das práticas pedagógicas dos professores formadores do Curso Pedagógico do Ginásio de Jequié, uma instituição de iniciativa privada criada no município de Jequié.

Já o trabalho de Wesley Ferreira Nery, Larissa Pinca Sarro Gomes e Martha Raíssa Iane Santana da Silva intitulado SABERES RELACIONADOS AO ENSINO DE MATEMÁTICA NO CURSO PEDAGÓGICO DO GINÁSIO DE JEQUIÉ contempla o ensino dos saberes aritméticos na Escola Normal Teodoro Sampaio no período de 1954 a 1963. Trata-se de um estabelecimento público, localizado na cidade de Santo Amaro, outra cidade do interior da Bahia.

O oitavo artigo, A MATEMÁTICA PROFISSIONAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES, escrito por Nara Vilma Lima Pinheiro, também aborda os saberes profissionais em um espaço específico de formação do professor que iria ensinar matemática em escolas primárias. No entanto, sua análise sobre a constituição e sistematização de uma matemática profissional própria na formação do docente foi circunscrita ao Instituto de Educação do Rio de Janeiro, criado na década de 1930. Esse Instituto, diferentemente ao modelo de formação que predominava até aquela conjuntura nas escolas normais, trouxe uma estruturação fundamentada nos saberes advindos das ciências da educação a partir de uma preocupação com o desenvolvimento infantil.

De outra parte, os autores Jonathan Machado Domingues e Denise Medina de Almeida França, no nono texto deste número temático da HISTEMAT, intitulado DIDÁTICA ESPECIAL DA MATEMÁTICA: em busca dos saberes da profissão docente fazem, do mesmo modo, uma investigação dos saberes da profissão docente, mas debruçados na obra de Manuel Jairo Bezerra, intitulada “Didática Especial da Matemática”, publicada em 1958.

Para além dos saberes matemáticos na formação do professor, essa edição temática, ainda, contemplou trabalhos que tiveram um enredo construídos em torno dos saberes matemáticos presentes em duas modalidades de ensino: primário e industrial.

Na ambiência do ensino primário, Elenice de Souza Londron Zuin conduz a análise de seu artigo FRAÇÕES NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DE SANTA CATARINA: um olhar sobre planos de aula da década de 1940 para o ensino de frações a partir de planos de aula de aritmética para o 3º e 4º anos, elaborados por docentes de escolas do Estado de Santa Catarina, nos anos de 1941 e 1942.

Outro estudo, nessa mesma modalidade de ensino, foi realizado por Nícolas Giovani da Rosa e Elisabete Zardo Búrigo. Esses autores no texto APRENDER E DECORAR: aulas de matemática da Escola Evangélica Duque de Caxias nos anos 1960 realizam uma investigação sobre as aulas de matemática ministradas na Escola Evangélica Duque de Caxias, Rio Grande do Sul, nos anos de 1960, por meio de entrevistas com ex-alunas e uma professora dessa Escola e, ainda, fazendo uso de um Relatório de Estágio escrito no ano de 1967.

Por último, finalizando o rol de artigos deste número temático da HISTEMAT tem-se o texto de Oscar Silva Neto e David Antonio da Costa intitulado SABERES MATEMÁTICOS NO ENSINO INDUSTRIAL: o caso dos números complexos e incomplexos, produzido na esfera do ensino industrial brasileiro, criado mediante promulgação do Decreto-Lei nº 4073, de 30 de janeiro de 1942. Em tal texto, os autores analisam o ensino dos números complexos e incomplexos (não entendidos como números imaginários) nos cursos industriais básicos brasileiros por meio da obra “Caderno de Matemática”, de Arlindo Clemente, publicada no ano de 1955.

Assim, a partir desse universo de 12 pesquisas, foi possível perceber que os saberes matemáticos passaram por processos de transformações a depender dos objetivos educacionais e do contexto sociocultural que vigoravam em cada tempo histórico, nas mais diversas localidades internacional e nacional. Sob essa ótica, ratifica-se, portanto, uma compreensão problematizadora acerca da pluralidade de histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores.

Boa leitura!

Referências

HOFFMANN, Y. T.; Costa, D. A. & Valle, I. R. (2019). Transversalidade entre Bourdieu e Fleck: campo e produção do conhecimento científico. Educar em Revista, (78),283-301. https: / / www.redalyc.org / articulo.oa?id=1550 / 155062213016

tanuri, L. M. (2000, maio / ago.). História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, (14), 61-88. https: / / www.scielo.br / pdf / rbedu / n14 / n14a05

VAINFAS, R. (1997). História das mentalidades e história cultural. In: Cardoso, C. F.; Vainfas, R. (Org.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, p. 127-162.

VALENTE, W. R. (2016). Sobre a investigação dos saberes profissionais do professor de matemática: algumas reflexões para a pesquisa. Caminhos da Educação Matemática em Revista (online), 6 (1), 1-13. https: / / aplicacoes.ifs.edu.br / periodicos / index.php / caminhos_da_educacao_matematica / iss ue / view / 16

David Antonio da Costa

Eliene Barbosa Lima

Os organizadores,


COSTA, David Antonio da; LIMA, Eliene Barbosa. Editorial. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.6, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Desafios e Caminhos do Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações Internacionais no Brasil | Meridiano 47 | 2017

A ampliação dos cursos de graduação e de pós-graduação, a diversidade das atividades com interface internacional, assim como os avanços teóricos e empíricos da disciplina nos últimos anos evidenciam a consolidação do campo de Relações Internacionais no Brasil. Ao mesmo tempo, as mudanças nas tecnologias da informação, as novas possibilidades de atuação profissional e os desdobramentos interdisciplinares estimulam a discussão sobre o perfil dos egressos, bem como sobre as expectativas do mercado de trabalho e do Estado em relação ao campo.

Questões sobre ensino, aprendizado e concepções pedagógicas são discutidas e rediscutidas em todas as áreas, assim como a questão das competências e habilidades profissionais. Há um esforço constante em diminuir lacunas entre o que os cursos oferecem, a expectativa dos estudantes e as oportunidades profissionais. O dinamismo do mundo real, do mercado de trabalho e das agendas de pesquisa acadêmicas constantemente estimulam balanços e avaliações sobre o processo de aprender a aprender, de ensinar a aprender e de aprender a ensinar. Para a área de Relações Internacionais essa discussão tem uma relevância adicional, pois, trata-se de uma área estratégica para o desenvolvimento nacional com enorme responsabilidade em formar quadros a serem absorvidos pelo setor privado, órgãos governamentais, não governamentais, academia, entre outros. Leia Mais

Ensino e História de Alagoas / Crítica Histórica / 2010

Talvez o trabalho mais árduo e o mais compensador do ofício historiográfico é aquele da pesquisa e da elaboração sistemática de seus resultados. As horas dedicadas às leituras, à investigação em arquivos e fundos documentais somadas às discussões com alunos e colegas são resumidos e apresentados em textos que deverão cumprir, por sua vez, um outro ciclo de debates. Estes, quando bem recebidos, transformar-se-ão em fontes e referências para novas pesquisas e tantas outras discussões. Esse processo da produção historiográfica, apresenta-se como um continuum nas universidades, grupos e centros de pesquisa e ensino no Brasil e em outros países.

Tendo isso em mente, os Cursos de História (Bacharelado e Licenciatura) da UFAL, através do CPDHis (Centro de Pesquisa e Documentação Histórica) apresenta ao público a Revista Crítica Histórica. Tal publicação almeja fazer parte do processo continuado de debate e produção historiográfica nacional e local, contemplando as diferentes temáticas e os resultados de pesquisa originais, contribuidores para a fortificação de linhas teórico-metodológicas explicativas dos processos históricos. Com isso, quer-se contribuir para o aumento de uma consciência crítica histórica em nossa sociedade, essencial para a constituição de um espaço social mais justo e plural.

Este primeiro número foi, portanto, pensando para atender a essas perspectivas. O Dossiê Ensino e História de Alagoas traz artigos da produção historiográfica local em diferentes temporalidades que renovam o tratamento dado à História alagoana, apresentando novas fontes e análises. Os textos de Antonio Filipe Pereira Caetano (Existe uma Alagoas Colonial?…) e de Janaína Cardoso de Mello (Alagoas e a Escrita de Si Mesma…) problematizam temas consagrados sobre a história de Alagoas, tais como a identidade cultural e política da região, os cabanos e os conflitos em torno do poder político. Pela contribuição na renovação dos debates tais textos tornam-se referência para os estudantes e pesquisadores da área. Sobre a história política contemporânea de Alagoas, José Alberto Saldanha (Governadores Alagoanos e os “Tempos de Antes”) analisa através do debate sobre identidades, memória e mito político os discursos dos governadores Arnon de Mello e Muniz Falcão que nas décadas de 1950 e 1960 apresentavam-se como “portadores da modernidade”. O tratamento dado pelo historiador aos discursos, é exemplar do uso das fontes, esclarecendo aspectos importantes da história política alagoana. No debate sobre a criação do Curso de História da UFAL e sobre o Ensino em Alagoas têm-se os textos de Ana Luiza de Araújo Porto (O Curso de História da Universidade Federal de Alagoas) e Maria Aparecida de Farias (Uma Prática Pedagógica Comum…). Os dois artigos abrem oportunidades para novos pesquisadores pensarem a História da Educação em Alagoas, contribuindo sobremaneira, para um olhar crítico sobre a formação e profissionalização do historiador local, como também do entendimento de parte das transformações institucionais na UFAL ocorridas nas últimas décadas.

Para fechar o Dossiê tem-se a análise comparativa de documentação apresentada por Osvaldo Batista Acioly Maciel (Estatutos de Sociedades Mutualistas e a História Social do Trabalho…). Este texto contribui ao apresentar a história e a memória dos trabalhadores de Fernão Velho no século XIX e seus modos de organização, tendo em vista suas demandas e as necessidades de “proteção e auxílio” mútuos, comentandos a partir de seus estatutos.

Os artigos de fluxo contínuo, abordam temáticas e temporalidades diversas, em que são privilegiados diferentes tratamentos teórico-metodológicos para a documentação histórica e sua análise. Rossana Pinheiro (Apontamentos sobre poder, autoridade e ascetismo: Uma breve comparação entre Agostinho e João Cassiano) apoia-se em Max Weber e Hannah Arendt para discutir os conceitos de poder, autoridade e ascetismo nas obras de Agostinho de Hipona e João Cassiano. Já Grazielle Rodrigues do Nascimento (No Tempo dos Loronhas se Erguia uma Ilha Presídio no Atlântico, 1504-1800) apresenta uma análise da história da Ilha de Fernando de Noronha, defendendo sua participação na história do Brasil como “espaço” de configuração de relações sociais e econômicas. Marcelo Souza Oliveira (Um Confronto Literário: abolição e cidadania negra na ficção baiana na segunda República) traz o interessante artigo que discute a produção de Anna Ribeiro (1843-1930) e Xavier Marques (1860-1942), em que se pode compreender como os temas ligados à cidadania negra no Brasil foram importantes para as futuras definições e debates sobre a identidade nacional. Na temática História e Literatura temos o texto de Ana Cláudia Aymoré Martins (Não há Pecado ao Sul do Equador: histórias de amor construindo o Brasil), debatendo a construção simbólica da identidade nacional através das obras Iracema, de José de Alencar, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e O Xangô de Baker Street, de Jô Soares. Por fim, os textos de Irinéia Maria Franco dos Santos (História e Antropologia: relações teórico-metodológicas, debates sobre os objetos e os usos das fontes de pesquisa) e João Carlos de Oliveira Luna (História e Pensamento Hermenêutico na Alemanha do Século XX) contemplam temáticas de Teoria e Métodos da História, apresentando panoramas sobre a relação multidisciplinar da História e Antropologia, e também os autores e as discussões importantes sobre a hermenêutica alemã, respectivamente.

A seção Documentação, traz a análise de Marco Antonio Mitidiero Junior (A Geografia dos Documentos Eclesiais: o envolvimento da Igreja Católica com a questão agrária brasileira) sobre a participação de parte do clero católico no debate sobre a questão agrária no Brasil e a sua decorrente produção teológica contemporânea. Esta teve como substrato ideológico a Teologia da Libertação e luta política dos movimentos sociais de base.

Fechando esta primeira edição tem-se duas Resenhas que são outros exemplos de tratamentos dados às fontes visuais, em especial ao cinema e, suas possibilidades de análise histórica. Karine Mileibe de Souza, escreve sobre a obra Cinematógrafo: um olhar sobre a história organizada por Jorge Nóvoa, Soleni Biscouto Fressato e Kristian Feigelson. Fábio Henrique Gonçalves (Quando a guerra faz da verdade um butim), problematiza a construção da verdade histórica através do filme polonês Katyn de Andrezj Wajda.

Este número inaugural da Revista Crítica Histórica marca um processo muito rico para o Curso de História da UFAL, de modo particular. De modo geral, insere a produção historiográfica local no âmbito nacional da articulação de espaços em rede para troca de informação e produção entre diferentes centros, grupos de pesquisa, pesquisadores e estudantes de História. Tal construção coletiva do conhecimento historiográfico só é possível mediante a participação e apoio dos estudantes, professores e pesquisadores-autores. A eles é dedicado esta edição.

Irinéia Maria Franco dos Santos – Conselho Editorial.

Maceió, Junho de 2010.


SANTOS, Irinéia Maria Franco dos. Editorial. Crítica Histórica, Maceió, v. 1, n. 1, junho, 2010. Acessar publicação original [DR]

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