História e Gêneros / Embornal / 2016

O dossiê ora apresentado (História e Gênero) surge de um conjuto de preocupações com o tempo presente, haja vista a complexa conjutura sócio-política que vivenciamos no ano de 2016. Em um país cujo o histórico de relações democráticas foi sistematicamente atacado durante o século XX, a interrupção do governo da primeira presidenta mulher significa um golpe extremamente danoso e preocupante ao nosso Estado de direito, ameaçando se desdobrar de maneira perversa e diversa.

Entendemos que uma dessas ameaças diz respeito à questão de gênero, principalmente diante dos retrocessos materializados no avanço de segmentos conservadores da sociedade brasileira e (im)perfeitamente expresso na imagem do novo quadro ministerial composto exclusivamente por homens, e de idade elevada. Ainda que concordemos que os estudos de gênero tenham avançado no país nas últimas duas décadas, tanto pelo movimento das ruas como pelo trabalhos acadêmicos, entre outros, refletimos como este campo ainda se faz pertinente no sentido de entender e vivenciar a diversidade que se apresenta em nosso mundo, desconstruindo e dirimindo preconceitos tão arraigados em nossa formação social, cultural e histórica.

Trata-se, portanto, de um dossiê de estudos acadêmicos, sem dúvida. Contudo, uma reunião de trabalhos cujo propósito foi o de sublinhar as desigualdades de gênero. Aliás, dada a diversidade dos trabalhos recebidos, tanto no que diz respeito às temporalidades e espacialidades, como no que trata dos enfoques e temáticas, percebemos uma ligação não combinada, mas implícita entre as autoras e os autores que sistematicamente operaram descontruções de certezas, valores e parâmetros que historicamente tentaram abalizar as relações entre os sujeitos.

O trabalho de Tatiana Lima, por exemplo, é um convite aberto para repensarmos as relações estabelecidas no âmbito do espaço doméstico recifense, durante o século XIX. Percorrendo aquela cidade, a autora nos traz uma incessante movimentação a partir das experiências de vida dos indivíduos que executam o trabalho doméstico e transitam entre o público e o privado. Aliás, a própria noção de trabalho doméstico é posta em destaque para análise pormenorizada, além da observância de que a manutenção do serviço doméstico por escravos nas casas ricas e nas de famílias menos abastadas teve relação com a passagem para o trabalho livre, pois a alforria de cativas ocorreu não por humanidade, mas para garantir dependentes e aliados às mulheres em situação de apuros.

Também com foco nas experiências sociais de trabalhadoras domésticas e partindo das categorias de classe e de gênero, Michelle Arantes Costa Pascoa nos apresenta um texto ensaístico em que traz problematizações bastante pertinentes acerca de possíveis continuidades das relações de servidão provenientes do sistema escravocrata no Brasil.

Tomando questões relativas ao tempo presente, a autora assinala a importância do estudo das táticas de sobrevivência e resistência articuladas pelas criadas/empregadas domésticas, dentro e fora do recinto privado, na cidade de Fortaleza, durante o início do século XX.

Saindo da região Nordeste e em uma abordagem desafiadora e instigante, Ana Rita Fonteles problematiza os escritos dos alunos do principal centro formador de lideranças para o regime ditatorial estabelecido no Brasil, pós-1964: a Escola Superior de Guer ra. Perscruta os cursos destinados a civis e militares para analisar questões concernentes à formação de uma censura adaptada ao país daquele contexto em que os meios de comunicação de massa se expandiam, atingindo novos públicos e faixas etárias. A autora nos convida a refletir sobre as formas como a censura era pensada, tendo em vista a preocupação com a moral e a defesa do que seriam os “bons costumes”, dentro de um projeto marcado pela ideia de segurança nacional expressa, entre outros, no delineamento dos inimigos e dos comportamentos perigosos aos “bons costumes”. De fato, o artigo evidencia um projeto maior para o país, com ações efetivas no campo das políticas públicas e da produção cultural, para além da constatação simplória e abstrata de uma censura política e outra moral.

De forma dialógica, o trabalho de Thiago de Sales nos projeta para o contexto de ditadura civil-militar brasileira pós-64, e especifica um debate acerca do controle da rede televisiva, analisando os processos de censura nas telenovelas. Pacientemente, o autor descortina o universo dos censores conferindo centralidade aos pareceres emitidos por eles que são tratados como importantes fontes de análise. Projeta-nos assim para dentro da dinâmica da Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP) com o intuito de analisar as questões relativas ao gênero, mediante a problematização de comportamentos e identidades tratados pela DCDP. As narrativas de telenovelas da década de 1970 são pensadas então para além da comoção do público. São observadas no trabalho de antessala, de operação e acompanhamento, a partir das justificativas no corte de cenas consideradas “impróprias à moral”.

Ainda sobre a década de 1970, o artigo escrito por Rosemeri Moreira e Renata Virgínia Costa apresenta um conjunto de análises das relações de gênero em Guarapuava, Paraná, mas com foco na constituição de masculinidades. O caminho traçado pelas autoras joga luz nas edições do Jornal Esquema Oeste para investigar a relação entre masculinidade(s) e violência homicida/ criminalizada. A partir de uma minuciosa sistematização dos dados encontrados nas reportagens é possível visualizar neste trabalho um grande painel analítico que auxilia na demonstração da construção de um silenciamento das violências praticada por homens. Da construção narrativa jornalística, as autoras observam de maneira bastante pertinente como a “desrazão” é majorada para explicar os atos dos homens, quase sempre afastados da cidade modernizada e imersos em uma masculinidade própria da roça, do mundo rural, que não corresponde ao mundo urbano.

Quem perscruta essa urbanidade em sua intimidade é Jadson Stevan que nos convida a entrar em algumas casas, acessarmos algumas memórias e visitarmos a experiência de vida de cinco mulheres trabalhadoras domésticas. Ao lançar mão da História Oral como metodologia, amparado em entrevistas temáticas, e ao se apropriar da categoria gênero como ferramenta de análise, Jadson desvela os processos de invisibilidade a que as mulheres são submetidas na contemporaneidade, instigando-nos a pensar sobre os problemas específicos concernentes a essa classe trabalhadora, sobre as subjetividades e afetividades construídas por essas mulheres e muitas outras que transitam nas entrelinhas do seu texto, nas residências de Guarapuava e nas infinitas casas espalhadas pelo país. Através das memórias das trabalhadoras é possível visualizar e entender as estratégias que elas dispunham e operavam no campo do afeto para dirimir os seus problemas cotidianos.

Por fim, o artigo de Patrícia Rosalba Salvador Mouta Costa nos transporta para o outro lado do Atlântico. Em Espanha, a autora desvela como a temática educacional foi trabalhada pela Lei Orgânica 01/2004, principalmente no que diz respeito às medidas de proteção integral contra a violência de gênero naquele país. O trabalho toma como central a análise dos discurso produzidos no âmbito legislativo, pondo em reflexão a relação da referida lei com os tratados internacionais para a elaboração de normativas de violência de gênero, especificamente no que diz respeito a violência que tem como vítimas as mulheres, e como autor o homem. O texto de Patrícia trata ainda de como a questão educacional é abordada no âmbito da prevenção prevista pela Lei, percebendo formas distintas de (des)qualificar e discorrer sobre des(igualdades) que afetam homens e mulheres, o educando em si, em níveis educacionais diferentes.

De fato, um conjunto plural e diverso de textos, mas que se conectam entre si, mostrando como os estudos das relações de gênero não são apenas atuais, mas extremamente necessários e desafiadores. É a partir desses trabalhos, e de muitos outros que certamente virão, que acreditamos ser possível manter vivo e latente o debate sobre as questões de gênero.

Trabalhos resultados de pesquisas autônomas e que não se enquadram nos parâmetros ditados a partir de cima, ditados, por exemplo, pelos homens que tomaram o governo e lhe deram um novo (talvez velho) formato, igualmente ameaçadores do nosso Estado de direito.

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História Medieval: Ensino e Pesquisa / Embornal / 2016

Pesquisar sobre Idade Média, ou outros recortes temporais e espaciais mais distantes da nossa realidade, por muito tempo foi um desafio, uma barreira de difícil transposição.

A chegada de Fernand Braudel e Jean Gagé à USP, na década de 1940, alterou o panorama do pensamento medievalista no Brasil, abrindo a senda necessária para que Joaquim Manoel Godinho Braga Barradas de Carvalho e Eurípedes Simão de Paula caminhassem, naquelas cercanias temporais, com seus estudos.

Acanhado em seu início, os estudos sobre o medievo produzidos no Brasil versavam, mormente, sobre temáticas francesas e ibéricas contribuindo, sobretudo, para aproximar nossos pesquisadores de métodos e teorias mais atuais, alargando também, o leque das abordagens, o panorama dos problemas e o horizonte de perspectivas que viriam a reordenar a medivalística nacional. Ainda assim correram anos até o estabelecimento de uma produção polifônica.

Ainda hoje, aliás, a apreciação plena das múltiplas sonoridades dos estudos acerca do medievo tirados no Brasil, sofre de limitada propagação.

Toda pesquisa carrega desafios, fato! Mas também possibilidades, certo! Infelizmente, naquilo que concerne aos estudos sobre a Idade Média produzidos em nossos centros de investigação, a norma tem sido por lupas sobre os desafios do medievalista sem, contudo, fazer o mesmo com as possibilidades de suas pesquisas. Tal situação se reflete no acanhado desenvolvimento de pesquisas sobre o universo medieval, principalmente em centros de menor relevo, ou destaque, na a área.

A organização do volume História Medieval: Ensino e Pesquisa, trazido à lume nas páginas da Revista Embornal, editada pela Associação Nacional de História – Secção Ceará, é uma resposta àqueles que ainda não creem no pleno desenvolvimento dos estudos brasileiros sobre a Idade Média.

De fato, a edição mostra a força e o fôlego das experiências de pesquisa e de ensino no campo da medievalidade, junto aos espaços de graduação e de pós-graduação estabelecidos no Ceará, no Brasil e além. Grupos de pesquisa como o ARCHEA/UECE (Oralidade e Cultura Escrita na Antiguidade e na Medievalidade), o NEVE/UFPB (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos), o GERLIC/UFC (Grupo de Estudos em Residualidade Cultural) e o GERAM/UVA (Grupo de Estudos em Residualidade Antigo- Medieval) têm, aos poucos, apresentado importante produção científica verificadas em publicações, Jornadas, Encontros, Simpósios e demais atividades próprias da lida acadêmica.

Faz-se necessário mostrar essa produção, tantas vezes limitada a um grupo restrito de estudiosos. É importante expor as possibilidades da pesquisa em História Medieval; apresentar a viabilidade de constituir essas pesquisas; indicar a multiplicidade das fontes e suas especificidades; noticiar a amplitude de recortes espaciais e temporais que abrangem a Idade Média.

Precisamos mostrar nossos estudos, enfim. Arroubo da historiografia medievalista cearense, a presente edição foi pensada para dar visibilidade a uma demanda investigativa sofreada.

Pensada a partir da transdisciplinaridade proposta por François Dosse, o leitor encontrará, nas páginas seguintes, textos de várias localidades do país e também de Portugal. São estudos das mais variadas temáticas que estão estabelecidos em recortes temporo-espaciais diferentes.

Intencionalmente constituído pela multiplicidade, o volume traça um quadro geral da atual situação dos estudos medievais no Brasil, mostrando sua abrangência temática, teórica, científica e sua originalidade, além de, é claro, reforçar os espaços de pesquisa estabelecidos em solo pátrio.

Abrindo os trabalhos desta revista temos o estudo teórico-filosófico intitulado Filosofia, retórica e poder em De Providentia de Sinésio de Cirene (século V), assinado pelo Prof. Dr. José Petrúcio de Farias Júnior, da UFPI, sobre a produção de Sinésio de Cirene e suas implicações políticas e administrativas na constituição da tardoantiguidade.

Na sequência, escrito a seis mãos e explorando as múltiplas articulações que se pode fazer sobre a questão dos usos da iconografia e memória no medievo, leremos Henry Chichele e sua tumba: sobre imagem, memória e materialidade no medievo.

Ainda espreitando os mistérios da morte medieval, Munir Lutfe Ayoub (USP), em seu Primeiros apontamentos sobre a diversidade nos cemitérios de Nordre Kaupang e Bikjholberget, por meio de um estudo de base arqueológica, leva-nos a refletir sobre as práticas fúnebre e suas relações com a antiga religião nórdica.

Ainda no concernente à Escandinávia medieval, José Lucas Cordeiro Fernandes (NEVE/GERAM) e André Araújo de Oliveira (UFMT), em seu Entre as linhas e sentidos: Estética literária e Imaginário de cristianização na Íslendingasögur e Biskupasögur, convidam-nos para uma apreciação estético-literária de dois subgêneros das sagas islandesas com fins a compreender a relação entre a religião antiga nórdica e os contatos sincréticos com o Cristianismo naquela região.

Da literatura aos estudos de gênero. Chegamos agora a Uma conversa sobre a feminilidade no processo histórico, texto da Ma. Cynthia Maria Valente (UFPR) e da Dra. Elaine Cristina Senko (UFPR/UNIOESTE), que visa perceber a participação da mulher como construtora de sua historicidade. Ainda na vivência dos estudos de Literatura e das questões de gênero, temos a análise desenvolvida por Luan Lucas Araújo Morais (UECE/ARCHEA) e pelo Prof.

Dr. Gleudson Passos Cardoso (UECE/ARCHEA), sobre o amor cortês presente na literatura produzida nas cortes da França e fixada no texto Soredamors e Alexandre: as .

E sendo a mulher importante persona da experiência histórica, perseguiremos mais um tempo à sua volta. Agora num texto de cariz residual, intitulado A Mulher, o Diabo e o Pecado em Gil Vicente e seus aspectos residuais na obra de Suassuna, produto das investigações de doutoramento do Me. Francisco Wellington Rodrigues Lima (UFC/IFC-Sobral), sob a atenta orientação da Profa. Dra. Elizabeth Dias Martins (UFC).

Reforçando a importância da Literatura como fonte profícua para os estudos de História Medieval, chegamos às Cantigas de Santa Maria e sua relação com elementos de hierofania medieval, exposto em Espaço e Paisagem em Cantigas de Santa Maria, de Dom Alfonso X: Texto e Imagem, texto saído da lavra de Carlos Henrique Durlo (UEM) e Clarice Zamorano Cortez. Maria Luisa Tollendal Prudente (UFF), com seu Relação paterno-filial nas Siete Partidas de Afonso X (1252-1284): ordem, retribuição e exercício do poder, nos presenteia com mais uma leitura sobre a produção do Rei Sábio. Agora a análise gira em torno de uma avaliação da relação paterno-filial e dos aspectos de legitimação do poder régio dentro da fonte analisada.

Findando esta edição, de Coimbra, chega-nos Doença e pecado no Flos sanctorum de 1513, texto da Profa. Dra. Ana Maria Machado, no qual a autora discute questões atinentes à saúde e à doença no cotidiano medieval da Ibéria do século XVI.

Esperamos que caminhos teórico-metodológicos apresentados nos artigos ora arrolados, contribuam para revelar sentidos, paixões, desejos e possibilidades do universo medieval e amplificar as experiências nesta área tão plena de possibilidades.

Superar as dificuldades em torno dos estudos atinentes à Idade Média e contribuir com a divulgação da medievalística brasileira, essa foi nossa a proposta.

A Fructibus Eorum Cognoscetis Eos 1 Os organizadores Dr. Gleudson Passos Cardoso (UECE/ARCHEA) Dr. Tito Barros Leal (UVA/GERAM) Me. Lucas C. Fernandes (NEVE/GERAM)

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Processo civilizador capitalista e tradução nas cidades do Ceará (1860-1930). Agentes e coisas / Embornal / 2015

A cultura material tem um recorte temporal e espacial. Por isso, no nosso trabalho, entenderemos cultura material ligada ao que denominamos de tradução do processo civilizador capitalista da segunda europeização no Ceará, entre os anos de 1860 e 1930. Trata-se, portanto, quando falamos de segunda europeização, dos encontros culturais entre os agentes europeus e os agentes locais da tradução daquele processo civilizador capitalista no Ceará. Encontros mediados pelas sociabilidades que as coisas propiciam. Três aspectos nos parecem importantes para apreendermos a tradução do processo civilizador capitalista, do ponto de vista da cultura material: as empresas e as coisas mediadoras dos encontros culturais; e os homens que, com suas relações, tanto materiais como afetivas, vão tecendo a paisagem específica do processo civilizador capitalista no Ceará. O que chamamos de tradução da civilização.

A definição de cultura material aqui é compreendida a partir da relação entre seu papel de consumo, função sígnica e a produção social dos indivíduos. Nessa perspectiva, que é também a de Marcelo Rede, “a cultura material é equacionada a um sistema de comunicação por meio do qual as sociedades criam e expressam conteúdos discursivos de modo semelhante ao que ocorre com os códigos verbais” (REDE: 2012, p. 138). Portanto, a cultura material, é a dimensão física da vida humana constantemente sujeita aos sentidos atribuídos nas interações sociais. Não se trata somente da ação do homem transformando as coisas, mas, sobretudo, das representações e das práticas que constituem a ação social e sua impossibilidade sem a existência das coisas. Trata-se, portanto, da ‘relação entre o homem e os objetos (sendo aliás o próprio homem , em seu corpo físico, um objeto material), pois o homem não pode estar ausente quando se trata de cultura” (PESEZ: 2005, p. 242) A cultura material é também temporalidade porque espelham as contextualizações. As coisas produzidas e consumidas no Ceará, no período do processo civilizador capitalista da primeira europeização, hegemonicamente portuguesa (1603-1860), são diferentes da segunda europeização, hegemonicamente inglesa, francesa e alemã (1860-1930). As coisas da primeira europeização são preponderantemente as da pecuária, cuja matéria-prima era a carne e o couro bovino. As coisas da segunda europeização estão ligadas ao algodão, ao ferro e, em seguida, a uma variedade de matéria prima decorrentes da Revolução Industrial. Ou seja, “longe de formar um cenário estático, também as coisas físicas têm uma trajetória, uma vida social com sucessivas mutações” (REDE: 2012, p. 147).

Depreende-se daí que trataremos de um contexto específico, o da “segunda europeização”, que encontra na produção do algodão sua matéria-prima e, em Fortaleza, sua centralização econômica, social, política e cultural, não deixando de fazer, porém, uma incursão no período anterior. A segunda europeização é a da chegada das primeiras empresas inglesas e francesas e, consequentemente, inauguração de um novo ambiente de produção e consumo no Ceará.

A nossa pesquisa sobre cultura material nos levou para duas categorias estratégicas: “processo civilizador capitalista” e “tradução civilizacional”. No que concerne à categoria “processo civilizador capitalista”, ela é, antes de tudo, um processo civilizador (ELIAS, 1993), uma experiência complexa (MORIN: 2012) dos investimentos do capital material e do capital simbólico (BOURDIEU: 2003), cujo investimento sobre a população (FOUCAULT: 1979) se constitui no modelo contextualmente hegemônico de bem-estar e estar bem no mundo. Este modelo, por sua vez, se alimenta e se retroalimenta dos encontros entre agentes das cultur as contextualmente hegemônicas e agentes das culturas em processo de tradução do processo civilizador capitalista. Por isso, tanto podemos pensar em termos de cultura material ou, como propôs Braudel, em termos de “civilização material”, “vida material”: os homens, os alimentos e as bebidas, as técnicas e as cidades (BRAUDEL: 1996).

A materialidade do processo civilizador capitalista, do ponto de vista de seus investimentos, é a organização do capital material e do capital simbólico na dimensão da economia- mundo (WALLERSTEIN: 2001), orientada pela produção de saberes que racionalizam a produção, o consumo material, as individuações e as interdependências necessárias para a internacionalização de sua mundialização (MICHALET: 2003). Assim, na contradição entre o racional e o irracional, os planos e as contingências definem a estética, elabora os códigos ético-espirituais e os direitos de contenção das exacerbações ego-narcísicas da acumulação de capital causadas pelo valor das coisas. Estes aspectos não trabalharemos aqui.

No que diz respeito a categoria “tradução da civilização”, para defini-la começaremos por afirmar que ela não reconhece explicações sobre o atraso do capitalismo brasileiro em relação ao norte-americano, inglês ou francês e, consequentemente, não incorpora as argumentações do atraso cearense comparado com outros estados do Brasil. Na história dos encontros culturais que aqui analisamos, concluímos que os hibridismos, a exemplo de mestiçagem, imitação, apropriação, acomodação ou aculturação, não são suficientes para dar contar dos trânsitos culturais, devido as “deformações” necessárias que o trânsito provoca tanto na tradução das ideias como na tradução dos usos das mercadorias, das coisas “civilizantes”. Vamos preferir utilizar a categoria tradução concordando com Burke que vê nele um termo neutro, “com associações de relativismo cultural. Esta foi de fato uma das razões de seu apelo original para os antropólogos” (BURKE: 2003, p. 58/9).

Por mais que se imite não conseguimos, e não é uma questão de desejo, sermos ou transpormos os modos de utilização das mercadorias exatamente como os franceses, os ingleses ou os norte-americanos o fizeram ou fazem. O processo civilizador é homogeneidade na diferença.

As historicidades das culturas “locais” deformam os “imperialismos”, as “culturas dominantes”. Se o processo civilizador capitalista é homogeneidade na diferença não é por uma questão de democracia, de alteridade, mas devido aos limites causados pelos trânsitos complexos entre as culturas contextualmente hegemônicas e as não-hegemônicas. A tradução é, nesse caso, uma “zona de intersecção cultural” com influências “para cima” (a mundialização do processo civilizador capitalista) e influências “para baixo” (traduções da civilização). Ou seja, a tradução da civilização é o processo civilizador capitalista agregado de suas “natividades” históricas. É a categoria que “tem a vantagem de enfatizar o trabalho que tem que ser feito por indivíduos ou grupos para domesticar o que é estrangeiro” (BURKER: 2003, p58). A tradução, numa certa medida, não seria a biografia das coisas que, no contexto de encontros culturais, mostra que “o que é significativo sobre adoção de objetos estrangeiros – ideias estrangeiras – não é a sua adoção, mas sim a maneira pela qual eles são aculturadamente redefinido e colocados em uso?” (KOPITTOF: 2008, p. 93).

Um dos aspectos importante da tradução cultural é a cultura material, as coisas, as mercadorias e sua propiciação de momentos e sociabilidades diversas. Da praça de compra e de venda ao consumo público, privado, do acordar ao deitar, do amor ao ódio, do repouso ao suplício as mercadorias estão lá. Elas não só fazem parte do que é mais visível, mas do que define o processo civilizador capitalista. Por isso, talvez, é que Igor Koppitof veja na mercantilização o processo de transformação do sistema em sua “totalidade”, pois uma “biografia econômica culturalmente informada de um objeto o encarará como uma entidade culturalmente construída, dotada de significados culturalmente específicos e classificada e reclassificada em categorias culturalmente constituídas” (KOPITTOF: 2008, p. 94).

O presente trabalho, portanto, trata de compreender o processo civilizador capitalista, da segunda europeização, a partir da tradução da materialidade da vida; do seu deslocamento da capital, Fortaleza, para as outras cidades do Ceará (Aracati, Crato, Sobral, Quixadá) e entender como essa materialidade se modificou enquanto transformou paisagens e relações sociais. Os encontros entre estrangeiros e população nativa foram se impondo sobre a persistente primeira europeização, da pecuária, e “atualizando” suas formas de produzir, consumir e “amar” a partir das influências europeias. Essas transformações causadas pelos agentes do “imperialismo informal” (estrangeiros e nativos) modificaram as práticas comerciais e industriais, o conceito de organização da espacialidade urbana, assim como dos materiais de construção (introdução do ferro, por exemplo), o ambiente do interior das casas (novos design dos móveis e dos objetos de higiene pessoal), das vestimentas, de bebidas (vinhos do porto, chapagnes francesas etc), de comidas (fois gras, manteiga inglesa etc). Esperamos que gostem tanto como nós que estudamos e trabalhos nestes temas.

Boa leitura.

Referências

BURKER, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Volume 2: Formação do Estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Ed.16ª. Rio de Janeiro: Graal. 2001.

FREYRE, Gilberto. Os ingleses no Brasil: aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil. 3ª edição, Rio de Janeiro: Top Books Editora/UniverCidade, 2000.

GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura de classe média (1815-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

GIRÃO, Raimundo. Um Studart Ilustre. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza, Ano LXXXVIII, 1974.

LIMA, Herman. Imagens do Ceará. 2ª edição, Fortaleza: UFC/Casa José de Alencar, 1997, 158p.

MACFARLANE, Alan. A cultura do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.

MAYER, Arno. A força da tradição: a persistência do antigo regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000. (Clássicos cearenses; 2).

MICHALET, Charles-Albert. O que é mundialização: pequeno tratado para o uso dos que ainda não sabem se devem ser a favor ou contra. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

MORIN, Edgar. O método 5: A humanidade da humanidade – a identidade humana. 5ª edição – Porto Alegre: Sulina, 2012.

MOTA, Francisco de Assis Sousa. A secular Casa Boris e a importância de seu arquivo. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1982.

NOBRE, G. O processo histórico de industrialização do Ceará. Fortaleza: SENAI/DR-CE, 1989.

OPYTTOFF. Igor. A biografia cultural das coisa: a mercantilização como processo. In: APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008.

PESEZ, Jean-Marie. História da cultura material. In: LE GOFF, Jacques , CHARTIER, Roger. A história Nova. 5ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2005.

REDE, Marcelo. História e cultura material. In: CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo. Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

SCHIMMELFENG, Gisela Paschen. A participação alemã no desenvolvimento sócio-econômico do Ceará. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará – NUDOC/Stylus Comunicações, 1989. (Memória e Documentos, 2).

SOUZA, JOSÉ Bonifácio de. Associação Comercial do Ceará (1868-1968); Memória Histórica. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1968.

STUDART, Guilherme (Barão de Studart). Estrangeiros e Ceará. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza, Ano XXXII, 1918.

TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França e Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995.

TEÓFILO. Rodolfo. A fome; Violação. Rio de janeiro: J. Olympio; Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1979. (Coleção Dolor Barreira; v. n. 2).

WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.

Antônio de Pádua Santiago de Freitas

Altemar da Costa Muniz

Ana Alice Miranda Menescal

Tito Barros Leal

Organizadores

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Práticas letradas / Embornal / 2015

A historiografia contemporânea já vem enriquecida pelo menos a três décadas por estudos no campo da cultura escrita. Cada vez mais a literatura, a imprensa, o livro, os intelectuais, entre outros elementos relacionados ao letramento, têm mostrado que as sociedades fizeram uso das atividades do intelecto como ferramentas de poder, reinvindicação, inserção e afirmação de experiências ao longo da história.

Desta feita, o presente número da Embornal – Revista Eletrônica da ANPUH-CE se ateve ao exercício das “práticas letradas” ou as ações cotidianas de letramento, compreendidas como aquelas realizações em torno da difusão das ideias e visões de mundo e de sociedade.

Trata-se da leitura e dos leitores, da impressão e circulação dos livros, revistas e jornais, dos debates realizados nas associações e grêmios literários, científicos e filosóficos, bem como, da produção intelectual ordinária que são as experiências, práticas e realizações do saber letrado [1].

Estes são territórios de lutas, embates e disputas por exercício de poder e capital simbólicos [2].

Em geral, os artigos que ora se apresentam compõem a produção científicas realizada no seio do eixo de pesquisa “Práticas Letradas” [3] do grupo “Práticas Urbanas” [4] (GPPUR-DGP/ CNPQ).

Fruto dos debates em comum entre os eixos “Práticas Letradas” e “Governamentalidade e Dispositivos de Controle Social” do GPPUR, em torno das ideias políticas, da imprensa e dos intelectuais, o artigo “Os Ecos do Discurso Liberal nos Domínios da Precariedade Estrutural: o Jornal Libertador e a Defesa da Liberdade na Província do Ceará”, assinado pelo Professor Érick Assis Araújo e Francisco Paulo Mesquita, traz a discussão em torno dos temas debatidos na imprensa abolicionista cearense, sobretudo, o que o que fora tratado no jornal abolicionista Libertador.

O texto “‘Uma República na Esquina das Trincheiras’. Cidade, Imprensa e Política na Construção do Regime Republicano em Fortaleza (1889 – 1892)”, por Gleudson Passos e Taynara Rodrigues dos Anjos, trata da circulação de ideias em torno do modelo republicano, entre os órgãos de imprensa que disputavam o público leitor da cidade de Fortaleza, palco de conflito entre as facções políticas do período.

“A ‘Soberania da Lei’: A Função Civilizatória do Direito nas Práticas Letradas dos Bacharéis da Academia Cearense (1894-1914)”, texto que leva a pena do Professor Allyson Bruno Viana e Lucas Araújo Gomes Frota, aborda a inserção dos intelectuais de Fortaleza na virada entre os séculos XIX e XX, quando estes se ocuparam da produção intelectual em torno de uma racionalidade das leis que deveriam reger o país, durante os primeiros anos do regime republicano.

O artigo “Sob o Domínio da Oligarchia que Opprime, Rouba e Envergonha”: A Atuação Letrada Denunciativa de Antônio Sales através da Obra O Babaquara, da autoria do Professor André Brayan Lima Correia, retrata a inserção intelectual junto ao debate político no início do século XX.

Da Professora Rafaela Gomes Lima, o texto “‘Aqui publicam-se livros’: os Intermediários da Literatura na Fortaleza do final dos Oitocentos” faz alusão ao mercado livreiro e aos círculos de leitores na capital cearense aos fins do século XIX.

“Os Pedreiros Livres do Império: Em Defesa da Humanidade na Imprensa Cearense (1873 – 1875)”, assinado pelo Professor Paulo Freire Sá, analisa o papel da maçonaria na cidade de Fortaleza, através do jornal Fraternidade em combate às ideias ultramontanas do jornal Tribuna Catholica.

“‘Os Frutos do Progresso’: Análise de Rachel de Queiroz sobre as transformações urbanas promovidas pela modernização conservadora” é o artigo da Professora Lia Távora Moita, a respeito da escrita de Rachel de Queiróz, sobre os seus posicionamentos em torno da urbanidade vivenciada nos anos de ditadura civil-militar instalado no Brasil, entre 1964 e 1985.

O texto “‘A Vitória da Verdade’: Histórias e ‘Posse’ da Verdade em Sobral”, assinado pelo Professor Thiago Braga Teles da Rocha, alude aos combates pela história e pela memória, das apropriações discursivas e narrativas em torno da cidade de Sobral, a partir das referências do Bispo Dom José Tupinambá da Frota.

Por fim, o artigo “‘Pedrada em casa de marimbondo’: Práticas Letradas, Capitalismo e Civilização no livro O Canto Novo da Raça”, do Professor Thiago da Silva Nobre, traz uma reflexão sobre o exercício das práticas letradas em torno da experiência urbana pela qual passava a cidade de Fortaleza, no início do século XX.

Que os leitores e as leitoras se sintam convidados a trilhar por esses caminhos da pesquisa que têm as práticas letradas como possiblidade de investigação no campo da pesquisa histórica.

Boa leitura!

Notas

1. Sobre “Práticas Letradas” ver CHARTIER, Roger (Org). Práticas da Leitura. – São Paulo: Estação Liberdade, 1996. Ver também: CHARTIER, Roger. História Cultural. Entre Práticas e Representações. – Lisboa: Difel, 1994.

2. BOURDIEU, Pierre. Poder Simbólico – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

3. O eixo temático “Práticas Letradas e Urbanidades” tem produção científica no âmbito da pós graduação através das dissertações de mestrado defendidas e/ ou em andamento no Mestrado Acadêmico em História/ MAHIS-UECE pelos discentes Roberta Kelly Maia (2013), Ariane Bastos (2013), Rafaela Gomes (2014), Paulo Freire Sá (2016), Thiago da Silva Nobre (2017), Lia Mirelly Távora Moita (2017) e Thiago Braga Telles da Rocha (2017). Alguns projetos foram amparado por agências de fomento com os seguintes bolsistas de Iniciação Científica: Thiago Nobre, Danielle Almeida, Taynara dos Anjos (PIBIC-CNPQ); Ariane Cordeiro, Albertina Paiva, Tessie Reis (PROVIC-UECE); Francisco Cavalcante Neto, Jéssica Cardoso, Irlas Prata, Thaís Medeiros, Daiane Silva (FUNCAP); Rafael Pinheiro, Victor Dantas e Rubens Sousa (PRAE/ UECE).

4. O grupo de pesquisa “Práticas Urbanas” (GPPUR-DGP/ CNPQ) abrange os seguintes eixos temáticos: “Governamentalidade e Controle Social”, “Ética, Hábitos e Costumes”, “Produção e Consumo de Bens Domésticos” e “Práticas Letradas e Urbanidades”.

Gleudson Passos Cardoso

Organizador

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História e Ensino de História / Embornal / 2014

Os textos ora reunidos, apresentam reflexões sobre a formação e a prática da docência em História e revelam a preocupação em discutir os diversos espaços e práticas de formação do historiador professor/pesquisador, em níveis de formação inicial e continuada; aprofundar as discussões entre cultura e formação de professores; potencializar os diálogos entre informação, tecnologia e aprendizagem histórica, mídia, memória e cultura histórica; problematizar a diversidade da prática docente em espaços escolares e não escolares.

Neste sentido, os artigos ora apresentados relatam as experiências desenvolvidas na Universidade – formação docente – e as práticas escolares na Educação Básica. Desta forma, os textos apresentados dissertam sobre a relação teoria e prática no ensino de História.

Os dilemas e desafios na formação do professor-pesquisador são analisados no texto da Profª Drª Fátima Leitão. A reflexão resulta da análise das falas de estudantes do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará – UECE, no campus do Itaperi.

As reflexões sobre o estágio e formação inicial do docente de História são apresentadas no texto do Prof. Dr. Halferd Carlos Ribeiro Júnior, que analisou a dinâmica da realidade escolar, a partir da memória dos alunos e relatos dos estagiários, desenvolvidos nas escolas da região do Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul.

O livro didático é alvo de discussão no texto da Profª Drª Isaíde Bandeira da Silva, que propõe a reflexão sobre seus usos ou desusos nas aulas de História do Ensino Médio. O texto comunica a pesquisa de campo realizada na escola pública no centro de Quixadá, no Ceará.

O texto da Profª Drª Maria Heloisa Aguiar da Silva, também, apresenta a reflexão sobre a formação de professores. A partir da análise de sua própria trajetória docente, discute à docência universitária e os desafios da formação inicial do professor de História.

Por fim, as práticas desenvolvidas nos diversos Laboratórios de Ensino são apresentadas no texto da Profª Drª Valéria Apª Alves, que relata a experiência desenvolvida no projeto de monitoria, durante o ano de 2014, na Universidade Estadual do Ceará.

Assim, os textos ora apresentados revelam a preocupação com a prática pedagógica e evidenciam a importância da reflexão sobre a ação docente e a necessidade de diálogo entre a Universidade e a Educação Básica, visando contribuir no debate sobre a formação do professor-pesquisador, aquele que é capaz de produzir conhecimento e de ensinar, favorecendo a construção de saberes nos diversos espaços escolares – tanto no âmbito acadêmico, bem como nas salas de aula do ensino fundamental e médio, garantindo a aprendizagem significativa, o desenvolvimento da consciência histórica e a formação cidadã.

Valéria Aparecida Alves (UECE)

Organizadora

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História Cultural / Embornal / 2014

O estudo das “representações” como trilha da História Cultural

Este número da Revista Embornal começou a ser pensado em forma de dossiê sobre a História Cultural. Imaginava-se um amplo painel da produção nacional ligada a esse campo de reflexões. Chamada pública realizada, iniciado o envio dos textos, percebeu-se a dimensão da tarefa aspirada. Primeiro, pela amplitude e complexidade do que se propunha. Dificilmente se obteria êxito em tarefa tão vasta se não fosse feito um planejamento de médio e longo prazo, tempo que não dispúnhamos. Depois, pela complexa tarefa de selecionar os textos remetidos, buscando relativa unidade de seus variados contextos de produção, suas diferentes e complexas temáticas e seus diversos usos documentais. Mais: apesar da razoável quantidade de textos enviados, não possuíamos textos com objetos próximos o suficiente para a constituição de um conjunto denso e sustentável de temas.

Diante disso, resolvemos considerar esta publicação não como um dossiê, e sim como uma espécie de ensaio, uma provocação que suscitasse novas e variadas questões.

Dessa forma, surgiu este número da Revista Embornal, voltado para a história cultural, com seus usos e leituras, suas apropriações e abordagens, em algumas de suas possibilidades de pesquisa e enunciação. Procurando nesta edição, contudo, uma trilha possível, evocamos o conceito derepresentação, aqui empregado de diferentes formas e articulado a temáticas e materiais diversos.

Os onze artigos selecionados correspondem ao intuito supracitado de provocação, instigando o aprofundamento das diversas possibilidades de compreensão e uso do conceito de representação e, consequentemente, da história cultural.

Assim, este número se inicia com uma prazerosa reflexão sobre a praia e a construção de papéis e significados de corpos de homens e mulheres, ancorada nos estudos da visualidade e, em última instância, das representações. Gisela Kaczan e Graciela Zuppa analisam, em “La playa como escenario visual de historias culturales. Argentina (1920-1940)”, cenas e práticas existentes na costa sudoeste de Buenos Aires.

O uso documental das imagens aponta uma análise reveladora dos lazeres e prazeres, das muitas formas de elaborar socialmente essas práticas e, sobretudo, de se relacionar com o mar.

Em seguida, numa transição para o espaço da festa e de suas manifestações, temos dois artigos, um, sobre a festa junina na imprensa da cidade de Belém, escrito por Elielton Benedito Castro Gomes e intitulado ”O São João dos cronistas, memorialistas e jornalistas: festa junina e imprensa em Belém nos anos 1950”, de onde emanam crônicas, romances e matérias jornalísticas que buscavam valorar essa manifestação em seus aspectos “tradicionais”, revelando a constituição saudosista de um “São João de antigamente”.

Outro, mais recuado no tempo, de Ana Luíza Rios, intitulado “Mercadores de partituras e críticos musicais: Música urbana e tradição em Fortaleza (1897-1949)”, no qual a autora, inspirada nas reflexões de Néstor Canclini, define a arte a partir da intervenção de vários sujeitos (marchands, jornalistas, críticos e mercadores de partituras), que delineiam nossas convenções sobre esse campo do sensível.

Cotejando a produção “crítica” do período com as partituras editadas nas casas de músicas e/ou grafadas por copistas, a autora aponta a existência de “uma escrita de tom caracteristicamente nacionalista”, dada a influência do modernismo de Mário de Andrade. Assim, com um uso documental distinto – mais uma iluminação da História cultural –, ela discute uma música urbana sob a ótica de tradições inventadas.

Depois, inicia-se uma sequência de cinco artigos, que refletem sobre gênero e educação, morte, doenças e panaceias, uma revolta e imprensa gay. Em comum (sobretudo os quatro últimos), além das representações, uma atenção voltada aos usos e importância dos periódicos.

Alfrancio Ferreira Dias e Maria Helena Santana Cruz assinam “A docência sob suspeita: as representações de gênero no campo da educação”. Por meio de entrevistas, os autores analisam trajetórias familiares e profissionais de professores do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, a fim de compreender como as identidades de gênero se relacionam com o trabalho docente e ao cotidiano escolar.

Pedro Holanda Filho, em “Representações sobre a morte em Fortaleza-Ce (1920-1940)” investiga, por meio da obra de dois memorialistas, representações e práticas fúnebres em Fortaleza, capital do Ceará, pontuando que alterações ocorridas na cidade implicaram em novas formas de ritualização de atos fúnebres e de significação sobre a morte.

Em “Das moléstias e dos prodígios: anotações sobre doenças e panaceias no jornal ‘A Campanha’ (1900-1934)”, Lúcio Reis Filho e Graciley Borges analisam o imaginário da saúde e da doença no sul de Minas Gerais, salientando o papel da imprensa na difusão de valores morais e comportamentos sociais alinhados com a ciência médica, a indústria farmacêutica e os projetos de poder das elites mineiras. Segundo os autores, a urgente preservação e divulgação desse acervo documental e a reflexão sobre o papel dos jornais na construção da vida social e política de Minas Gerais são prioridades – que eles atendem.

Eduardo Barreto de Araújo, em escrito intitulado “A construção da revolta: as representações da revolução de 1930 na revista do Globo (1929-1932)”, além do marco histórico, explica como foi construída, no supracitado veículo, a imagem de Getúlio Vargas em sua dimensão de político regional e líder da revolução. Discorre, ainda, acerca das alianças políticas no Rio Grande do Sul que culminaram nesse acontecimento marcante da vida política republicana.

No artigo intitulado “História cultural e algumas reflexões: imprensa gay como fonte e objeto histórico”, Victor Hugo S. G. Mariusso, além de refletir sobre a imprensa e a história cultural – inspirado em autores basilares desse campo, como Roger Chartier, Raymond Williams e Stuart Hall –, debruça-se sobre uma sexualidade vivida de formas outras.

Lastreado no jornal “Lampião de Esquina” e nas revistas Sui Generis e ……., o autor examina identidades de gênero e orientações afetivo-sexuais, buscando entender a construção de uma normatividade sobre a erótica homossexual que, a seu ver, exclui a passividade e reitera a virilidade, no que denominou de “homonormatividade”.

Por fim, em uma última sequência de artigos, apresenta-se uma provocante reflexão sobre a ação dos intelectuais na Amazônia, no Ceará e na Europa.

Em “Heróis do deserto: notas sobre a intelectualidade amazonense (1920-1960)”, Vinicius Alves do Amaral desconstrói o “provincianismo” e os “anos de crise” do Amazonas, especialmente no campo artístico e intelectual, entre o fim do boom da borracha e a criação da zona franca de Manaus, dois momentos-chave da região.

Rycardo Wylles Pinheiro Nogueira se volta para um político, escritor e educador atuante na cidade de Aracoiaba, no Ceará, para entender a escrita de si. Em seu artigo “Escrita de si, memória dos outros: narrativa autobiográfica em Salomão Alves de Moura Brasil”, a personagem se expressa como um “eu narrado” que é o “eu da história”, pois o que faz em vida o possibilita atuar no “espaço do papel”, promovendo memórias que, em alguma medida, guardam intimidade com a memória coletiva, entrelaçando a história dele com a da cidade.

Para finalizar este número da Embornal, André da Silva Ramos colabora com o artigo “Robert Southey e o redescobrimento de Portugal: a valorização da herança gótica europeia”. O autor discute as formas como o historiador inglês refaz ou reconfigura suas noções acerca da pátria lusitana, a partir da publicação de Letters written during a short residence in Spain and Portugal (1797), tendo como pano de fundo sua atuação como resenhista na Grã-Bretanha, onde teria ampliado sua erudição. Simpatizando com a herança gótica, reavalia a contribuição de Portugal ao estilo, meditação que teria influenciado o direcionamento de sua carreira literária.

Para concluir, caros leitores, chamamos a atenção, novamente, para a diversidade temática, os variados usos documentais e as singulares interferências metodológicas que revelam a vivacidade e a pulsão de uma historiografia em pleno processo de constituição e em meio ao desafio de se reinventar.

Esperamos que apreciem a leitura.

Messejana, fevereiro/março de 2015.

Francisco José Gomes Damasceno

Sander Cruz Castelo

Lídia Noemia Santos

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História Política e Cultura Política / Embornal / 2013

Caros leitores,

Estamos colocando a vossa disposição os números 07 e 08 da Embornal, Revista Eletrônica da ANPUH-CE. Neste número apresentamos o Dossiê História Política e Cultura Política. Foram recebidos vários artigos de todo o país e queremos agradecer de antemão a todos os que colaboraram para o sucesso desta edição.

Foram selecionados 15 artigos, que serão publicados em dois números deste periódico.

No primeiro número, dividido em 02 blocos. Num primeiro bloco temos os temas vinculados aos estudos Ibero-latino-americanos:

O primeiro venho do Rio Grande do Sul, de Gabriela Bercht intitulado “Quem canta a Nação? – Apontamentos de pesquisa para o caso da Ibero América”. Interessante estudo sobre as pesquisas histórica em torno da constituição dos estados nacionais na América Ibérica, colocando em discussão a validade da utilização e mesmo da existência de modelos históricos que buscam compreender a constituição da nação enquanto referencial político moderno a partir da análise do desenvolvimento de tal conceito para casos exclusivamente europeus;

Do Rio de Janeiro venho a colaboração de Marco Antonio Serafim de Carvalho sobre “As Representações na Obra Literária de Julio Cortázar Durante o Peronismo Clássico (1946-1955)”. Ele estuda a obra literária do referido escritor, publicada em 1951 na Argentina, presidida por Juan Domingo Perón (1946-1955), e busca analisar a leitura do fenômeno multidimensional conhecido como peronismo através da literatura.

Também do Rio de Janeiro é o trabalho de Thiago Pereira da Silva Magela, Alfonsus dei gratia Rex Portugalie, et judicatu de Bayam : Estado no Portugal do duzentos. O artigo propõe uma análise das relações de dominação no medievo português quando o Estado volta ao centro do debate como conceito analítico durante o reinado de Afonso III.

Já na temática de Estudos Nacionais temos quatro trabalhos:

De Minas Gerais, Marcelo Alves de Paula Lima, enviou O “Fascismo Cordial” de Gustavo Barroso, onde estuda os escritos integralistas de Gustavo Barroso. Em sua opinião, ao defender os valores familiares diante das ameaças comunista e capitalista, e ao propor que o Estado deveria ser uma expressão das famílias, Barroso foi um dos exemplos do que Sérgio Buarque de Holanda quis dizer ao afirmar que, no Brasil, a família moldava as demais esferas da vida;

Do Rio de Janeiro, Raimundo Helio Lopes contribuiu com o estudo O Norte no Combate aos Constitucionalistas: Articulações Políticas e outras Possibilidades de Participação Militar na Guerra de 1932. Ele analisa o envolvimento dos interventores do Norte na Guerra de 1932, para além das normas oficiais determinadas pelo Governo Provisório. As articulações nortistas não foram efetivas, por determinação, principalmente, das lideranças militares do Governo Provisório, o que mostra como o combate aos rebeldes paulistas nesse evento foi completo e sujeito a divergências entre os próprios aliados;

Nosso colega Allysson Bruno Viana, por sua vez, indicou sua pesquisa Memória e cultura política libertária: algumas notas sobre a história do anarquismo no Brasil, para abordar, por meio dos jornais libertários dos anos da “redemocratização” (1945-1964), aspectos da construção da memória do movimento anarquista nas páginas de sua imprensa, buscando compreender a auto-imagem que construíam como herdeiros e continuadores do legado das lutas sociais.

Edmilson Alves Maia Jr., também do Ceará nos agracia com o artigo “E Que Tudo Mais Vá Pro Inferno”: “Fãs-Militantes” e Circulação de Idéias em Canções do “Rei”, onde interpreta a circulação de idéias em três canções do artista Roberto Carlos: “Quero que tudo vá para o inferno”, “A Janela” e “O Divã”. Com a análise dessas canções a partir de fontes que as discutiram e com as narrativas de “fãs-militantes” do artista, fez uma discussão de como as idéias de juventude, rebeldia e reconciliação foram apresentadas pelo cantor e como foram apropriadas por diferentes atores em suas trajetórias e escolhas.

Portanto, desfrutem destes trabalhos e depois nos enviem opiniões, sugestões mais artigos para nossa revista.

Boa leitura para todos.

Altemar da Costa Muniz e João Rameres Regis

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Identidades e História Cultural (I) / Embornal / 2012

É com sumo prazer, que apresentamos aos nossos leitores mais um número de nossa Embornal. O prazer da apresentação tem contrastado com a responsabilidade de nossas escolhas, haja vista, a impossibilidade de publicação de todos os textos que nos são submetidos, e que tem se avolumado a cada preparação para a publicação de nosso periódico; o qual, neste número, diante das solicitações realizadas ao longo das atividades realizadas em virtude do XIII Encontro Estadual de História do Ceará, Realizado nas Faculdades INTA (Sobral), traz aos nossos leitores alguns textos que foram apresentados por nossos conferencistas e que versam sobre a temática do objeto do evento: Identidades e Comunidades: História(s) para que(m)?

Com vistas a possibilitar um diálogo mais profícuo entre textos/autores/leitores, optamos por, num primeiro bloco do Volume de número 5 da Embornal, agrupar os textos que refletem em torno das identidades, tendo então os trabalhos de Antonio Clarino Barbosa de Souza, o de Frederico de Castro Neves e o de Nilson Almino de Freitas.

No texto que abre o bloco em torno das identidades, Antonio Clarindo de Souza, Identidades: uma discussão em rede, parte de observações que permeiam nosso cotidiano e que via de regra, nos levam a pensar sobre o que somos, e sobre as quais nos pegamos pensando, por vezes, servem de pivô para o desenvolvimento das reflexões do autor, a partir de referencias clássicas e caras aos que estudam as ditas identidades. Texto brilhante, marcado pelas discussões do nosso efêmero presente e que nos remetem a pensar, como que Deleuze, de forma rizomática, na constituição de intercessores, no como me represento e no como somos representados. Reflexões estas, que nos instigam a refletir sobre o ser e não ser. Instigações que encontram pontos de apoio para mais pensamentos no artigo de Frederico de Castro Neves com seu texto intitulado O Nordeste e a Historiografia brasileira, e por ultimo levando a pensar sobre a construção de identidades culturais; e ainda, no trabalho de Nilson Almino de Freitas com seu trabalho intitulado É possível pensar a identidade cultural? o qual a partir de sua vivencia, tece de forma seminal, reflexões em torno da constituição da constituição uma identidade: a sobralidade triunfante.

Pensando as identidades, saímos das reflexões que pretendem pensa-las em sua constituição para analisar estratégias de fomentar sua existência, o que pode ser observado no renovador artigo apresentado por Tito Barros Leal, intitulado Por um projeto para o Brasil: José de Alencar e a polêmica em torno das cartas sobre a Confederação dos Tamoios. Ainda no campo da constituição de si, do eu na relação que busca estabelecer redes, sociabilidades e identidades, temos o trabalho de Renato de Mesquita Rios, e o de Marcos José Diniz Silva. O de Rios, intitulado Trajetória de vida em textos: João Brígido e o olhar sobre si (1899-1900), onde se busca apresentar ao público as várias faces da escrita de João Brígido. Já o de Diniz, intitulado Redes intelectuais, tradicionalismo e modernismo: religiosidades alternativas no Ceará dos anos 1920 e 1930, reflete sobre o desenvolvimento das referidas práticas de religiosidade, que acabam por fomentar o desenvolvimento de sociabilidades e comunidades (como as define KUNH) no Ceará.

Encerramos nossa Embornal com mais três textos que consideramos extremamente importantes para os estudos que se tem desenvolvido em torno da História Social, sendo o de Francisca Eudésia Nobre Bezerra, Os agouros da maldizença: uma história de um mau presságio no interior do Ceará (1950-2000); onde nos é dado a ler um belo exercício de desenvolvimento de trabalho a partir da História Oral, buscando dar a voz às crenças de um determinado povo, o texto de texto de Caio Lucas Morais Pinheiro Futebol profissional e Futebol espetáculo: a constituição do jogo como espetáculo em Fortaleza (1946-1960), refletindo sobre a profissionalização do jogador de Futebol no Estado, a partir de elementos que muito nos dão a conhecer o processo, assim como, de Sebastião Rocha da Silva Filho, com seu Práticas Sociais como modos de vida: higienização e o seu discurso disciplinador na cidade de Manaus 1891-1910, refletindo sobre um processo instituinte de práticas, aos moldes de um Processo Civilizador (ELIAS), na cidade de Manaus.

Por aqui terminamos então, mais uma apresentação de nossa Embornal, no desejo dos melhores leituras e pesquisas.

Forte abraço.

Thiago Tavares

Editor da Revista Embornal Acessar publicação original deste texto

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Identidades e História Cultural (II) / Embornal / 2012

É com grande prazer que apresentamos aos nossos associados e ao público em geral, o esperado número 6 da Revista Embornal. Nesta edição contamos com a colaboração trabalhos versando sobre as mais diversas temáticas e autores que por pouco não abrangem o território nacional de extremo a outro.

Como entrada de nosso sexto número, apresentamos o texto de Camila Mota Farias, intitulado A invenção de uma comunidade: narrativas de resistência e tradição oral em Balbino-CE, onde a autora desenvolve suas reflexões em torno da criação/invenção de táticas com vistas a garantir a manutenção da comunidade Balbino, na região metropolitana de Fortaleza diante da especulação imobiliária. Invenção esta, que segundo podemos observar aproxima-se das ponderações apresentadas no filme Narradores de Javé; mas semelhanças à parte, a autora desenvolve suas reflexões, articulando de forma exemplar a discussão teórica, às fontes orais das quais se utiliza para o desenvolvimento de seu texto, apresentando elementos que remontam às origens da Comunidade quilombola, segundo informa Camila.

Ainda em se tratando das táticas para a constituição de comunidades, temos as reflexões de Francisco José Gomes Damasceno em seu Vozes do Povo pelas onda do rádio se espalham pela cidade: duas experiências musicais de cantadores do/no Nordeste Brasileiro que busca nos apresentar o meio de produção e circulação da arte dos tocadores de viola nos sertões nordestinos. Comunidade esta que se constitui a partir da métrica dos acordes e marca dos motes e (re)invenção da arte a cada acionamento do saber fazer, saber ser cantador.

Permanecendo ainda no universo da música, temos o trabalho de roberto Camargo de Oliveira com seu inquietante, como um bom Rock, artigo intitulado A Cena alternativa do Hardcore: Cultura e Política.

Como não poderia deixar de ser ainda, apresentamos neste número, mais estudos sobre a questões das identidades, questão nesta edição, ficou sob os auspícios de Josenildo Pereira em seu texto intitulado As identidades quilombolas contemporâneas: nuances das experiências do Maranhão. Ainda na esteira das reflexões em torno das questões étnicas, apresentamos os trabalhos de Eduardo Gomes da Silva Filho, que nesta oportunidade nos apresenta A Política indigenista e a resistência dos Waimiri- Atroari no caso Balbina,1979 a 2012, e o trabalho Liberdade: uma disputa étnica, assinado por Rafael de Almeida Serra Dias.

Caminhando para o fim da apresentação de nosso sexto número, apresentamos o texto de Marcelo Vieira Magalhães, intitulado Os olhares da Alteridade: os sírios e libaneses e suas formas de se representar e ser representado, que nos leva a pensar sobre a constituição de representações sobre oeu/nós/outro, e por último as reflexões de Thiago Tavares em torno da escrita da História ao longo do oitocentos, em seu trabalho Sobre agenciamentos do pretérito: História, Memória e devires.

Por esta edição, ficamos por aqui, e no preparo da Embornal número 07, e lhes desejando boas leituras.

Thiago A N R Tavares

Editor da Revista Embonal.

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Embornal | UECE/ANPU-CE | 2010-2017

EMBORNAL Embornal

Embornal (2010-) é a revista eletrônica da ANPUH-CE, fundada em 2010. Recebe artigos de profissionais de História, além de estudantes de graduação e pós-graduação. Nosso propósito é dar espaços para textos acadêmicos e de experiências didáticas em História no ensino fundamental, médio e universitário.

Embornal é uma sacola a tiracolo que os agricultores usam para carregar sementes durante o cultivo de suas terras. Essa é a intenção da publicação. Um espaço de guarda das sementes de ideias e diálogos frutíferos dentro e, principalmente, fora da academia.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN: 2177-160X

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