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Arquitetura, Cidade e Documentação / Mnemosine Revista / 2020
Entendendo-se que documentar é registrar, organizar informações textuais e gráficas sobre objetos investigados, esse dossiê enfoca a documentação de pesquisas arquitetônicas e urbanísticas em cidades brasileiras – dialogando com as variantes da história, cultura, arquitetura e cidade.
Parte-se do princípio que os edifícios e as cidades, devem também ser considerados documentos construídos que trazem em suas essências, elementos e condicionantes que os compõem e nos seus respectivos conjuntos composicionais- caracterizam e atribuem valores aquele determinado bem.
Considerando-se então, que a documentação é o somatório de fontes primárias coletadas em arquivos privados, públicos- compostas de materiais de projetos, como plantas baixas, cortes, fachadas, perspectivas, esboços, mapas, gráficos, fotografias, textos originais- e do próprio bem material construído em si, seja uma edificação, ou lugar- a proposta desse dossiê é apresentar ao público interessado no tema, as maneiras pelas quais tais “objetos” vêm sendo trabalhados, no que diz respeito às suas políticas de preservação e conservação.
Dessa maneira, esse dossiê reúne através de dez artigos, alguns resultados de estudos de professores, pesquisadores, arquitetos, historiadores- vinculados a programas de pós-graduação, e grande parte dos autores atuando como membros do comitê nacional de documentação do Icomos Brasil.
Através dos trabalhos de investigação e de análises críticas produzidas pelos autores, resgata-se a documentação das arquiteturas de distintas linguagens, ou de cidades de diversas regiões brasileiras, com escalas que vão desde centros urbanos interioranos, até cidades polos.
Tal diversidade investigatória proporcionará ao leitor, o conhecimento de uma multiplicidade cultural rica e com identidade marcante, que analisada com olhares diversos, será aqui apresentada em forma de artigos trabalhados, tanto textualmente, quanto graficamente, pois a imagem em tais estudos possui um papel fundamental.
As imagens documentais da história da arquitetura e da cidade são informações básicas e importantes na construção desse saber, pois enriquecem e ilustram as informações textuais. Através de desenhos realizados à mão, ou utilizando-se de programas gráficos contemporâneos, como AutoCAD, sketchup, entre outros, as ferramentas digitais vêm contribuindo de forma fundamental na produção de documentos complementares ao resgate patrimonial.
E acredita-se ser de fundamental importância o diálogo entre história e imagem, gerando uma rica documentação sobre determinado objeto, seja esse uma obra, ou um lugar.
Assim, na produção dos artigos que aqui se apresenta, observou-se que o tema voltado para a documentação da modernidade arquitetônica esteve presente em quatro artigos voltados para objetos arquitetônicos protomodernos e modernos presentes nas cidades de Recife, Campina Grande, São Luis, São Paulo.
Esses quatro artigos tratam de casos isolados de profissionais com trajetórias marcantes, ou de conjuntos arquitetônicos.
Como exemplo de casos isolados, pode-se citar o artigo que tratou do resgate documental da obra do arquiteto português Delfim Amorim e sua atuação em Recife, através de um olhar específico em uma obra residencial moderna, e que infelizmente foi abruptamente demolida- a Casa Miguel Vita (1958); o caso do Teatro Municipal Severino Cabral (1962-1988), projetado pelo mestre campinense Geraldino Duda; e o artigo que enfocou a obra de Rino Levi, com o objetivo de analisar como se deu a aproximação entre artistas e arquitetos, e quais foram os resultados desse intercâmbio de atuações na arquitetura moderna brasileira, tomando como estudos de casos, o Edifício Prudência (1948) e o Teatro Cultura Artística (1950), implantados na cidade de São Paulo.
Como casos de documentação de conjuntos, foram produzidos três artigos: um voltado para a análise documental de detalhes da arquitetura Art déco em São Luís do Maranhão.
A discussão sobre a documentação de lugares e cidades transitou por regiões interioranas nordestinas como Cabaceiras, e Campina Grande, na Paraíba; e Gravatá do Ibiapina, em Pernambuco, ricas em seus conjuntos históricos e em seus acervos patrimoniais; bem como, pelos calçadões famosos da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
O tema da cultura vernácula que vem sendo valorizada na discussão patrimonialista está presente em artigo que trata sobre a arquitetura popular de platibanda nordestina, no qual foram realizadas notas sobre enquadramentos discursivos e terminologias do acervo regional.
A documentação do design de superfície presente na produção de ladrilhos hidráulicos do edifício do Paço dos açorianos de Porto Alegre enriquece o dossiê, dialogando saberes da história, arquitetura e do design, trazendo à tona o uso de tecnologias digitais no resgate e na salvaguarda desse elemento construtivo considerado patrimônio material industrial.
E fechando nosso dossiê, o instigante artigo que trata sobre o medievalismo na arquitetura contemporânea como experimento arqueológico. O autor explicou que existe um ramo peculiar da arquitetura contemporânea que tenta [re]construir o passado utilizando métodos e técnicas medievais, auto- proclamadas como experimentos arqueológicos.
Através da leitura dos artigos aqui apresentados, poderão ser adquiridos conhecimentos que subsidiem estudos, trabalhos de investigação, pesquisas que conectem os distintos saberes, e que façam que as ideias circulem, alimentando a rede voltada aos estudos históricos arquitetônicos e urbanísticos, interligando culturas e cidades, através da produção e preservação documental.
Alcilia Afonso de Albuquerque e Melo – Doutora em Projetos Arquitetônicos (ETSAB / UPC / Espanha). Professora adjunta do curso de Arquitetura e Urbanismo / UFCG e Professora efetiva do PPGH / UFCG
ALBUQUERQUE E MELO, Alcilia Afonso de. Apresentação. Mnemosine Revista, Campina Grande – PB, v.11, n.2, jul / dez, 2020. Acessar publicação original [DR]