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Diversidade: percepções e conflitos / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2016
Uma coletânea de discursos que primam por olhares sobre ações humanas num tempo social eivado de experiências que nos chegam neste mundo de incertezas e guinadas direitistas ultraliberais globais. Resistir é preciso e que seja pela escrita também! Nos textos demonstra-se que não estamos atônitos, pois vemos na história e em nosso cotidiano das ruas e redes sociais movimentos identificados com pequenas resistências vindos de trabalhadores, feminismos, lutas contra o racismo e pelos direitos de outras minorias despojadas de uma existência digna. As percepções e conflito geracionais e educacionais bem como o mundo dos trabalhadores arrazoam por novas possibilidades de estar no mundo. Neste sentido se inserem os escritos do dossiê cuja temática se espraia sobre as questões da diversidade. Cláudio José Piotrovski Dias nos alude sobre a experiência do militante Herbert Daniel tangenciando olhares sobre democracia, direitos homossexuais e a resistência à normatividade a partir dos discursos sobre a doença e a homossexualidade. Este autor optou pelo uso dos conceitos “making up people / looping effect” propostos por Ian Hacking, para entender como ocorre o relacionamento entre indivíduo e as categorizações sociais.
Na sequência, o pesquisador italiano Enrico Bocciolesi nos brinda como uma análise sobre as lacunas educacionais em relação aos processos comunicacionais relacionadas às identidades e alteridades. Para este autor, o fato de não haver interseções entre o real e o virtual nos leva a impossibilidade de um encontro. Daí deriva a necessidade de investigações para novas posições frente ao espaço real.
As contribuições estrangeiras têm sido uma constante tanto na publicação de textos quanto na composição do conselho consultivo da revista, como por exemplo, o professor Anibal Herib Caballero (fez apresentação da edição n° 9, v. 18), o professor Enrico Bocciolesi, com um texto nessa edição, assim como o professor Robert Wilcox e a professora Encarnacion Medina, que integram o conselho consultivo da revista. A parceria internacional no campo histórico tem se tornado uma ambiência interdisciplinar importante para pesquisadores, instituições e, sobretudo para os leitores.
Nesta edição Carlo Guimarães Monti prima por um olhar sobre “concessão de alforrias em época da diminuição da produção aurífera em Nossa Senhora do Carmo entre 1750 e 1779, atual cidade de Mariana”, observando, através de fontes como: cartas de alforria, testamentos e inventários dos senhores que alforriaram no período; como houve uma influência da situação aurífera na concessão dessas cartas de liberdade. Além disso, Monti destaca que o processo de concessão de alforrias demonstrou uma complexidade que ultrapassa o âmbito econômico.
Na perspectiva econômica temos um texto de Ivo dos Santos Farias sobre a atuação de uma fábrica de fiação e tecelagem em Maceió, Alagoas no processo de modernização brasileira. Ao estudar a atuação do grupo os relaciona com a formação da burguesia nacional e o processo de desenvolvimento da indústria têxtil. O autor ainda parte do pressuposto de que o processo de modernização brasileira esteve articulado a um conjunto de práticas, pensamentos e ideologias que atrelavam a burguesia nacional ao mercado mundial.
Com foco no medievo Andréia Rosim Caprino perscruta a formação de identificações na península ibérica medieval. A autora ainda nos alude que a questão das identidades e fronteiras se espraiam espacialmente e não possuem temporalidade definida, sendo possível tecer relações com o momento histórico contemporâneo. Na temática de conflitos e interditos segue uma análise de Edson Silva sobre a ação normatizadora de combate ao hábito da população citadina de Jacobina, Bahia (1955-1959), em criar animais como jegues, cabras, porcos e vacas em quintais ou soltos nas ruas da cidade. Observa-se neste texto que houve um processo de recrudescimento no combate a criação de animais no perímetro urbano, porém processos de resistência na cidade se configuravam em novas correlações de força, permitindo dobras e ranhuras frente a desejada submissão ao ordenamento e a estética do desenho urbano.
Mario Teixeira de Sá Junior analisa o lugar de africanos e seus descendentes na nossa história através de uma incursão no processo de mineração e o uso de tecnologias próprias no Mato Grosso do século XVIII. Estes escritos são corroborantes da ideia de que os conhecimentos africanos foram fundamentais para a construção do Brasil através de suas tecnologias e não tão somente de sua mão de obra.
Na seção de artigos livres contamos com um texto que vislumbra uma batalha de palavras pela “periodização” da história do Brasil, cujo século XIX pareceu ser um paradigma, tanto na obra de Alfredo Ellis Jr., quanto na de Sérgio Buarque de Holanda. Este artigo é de Diogo da Silva Roiz sendo o mais extenso da edição, porém mantido dado a pertinência do debate e da temática em questão. O próximo texto de Max Lanio Martins Pina nos alenta para a linha investigativa em educação histórica como possibilidade inovadora no ensino de história. No artigo apresenta-se a historicidade desse modelo bem como se observa os pressupostos já alcançados pelos estudos que foram efetuadas nesse campo e também aponta para os mais importantes projetos desenvolvidos na Europa e no Brasil. Por fim temos uma aproximação entre a história regional e a história ambiental de autoria de Débora Nunes de Sá cujo espaço referenda a floresta nacional de Passo Fundo (FLONA PF), Unidade de Conservação de Uso Sustentável, inserida no Bioma Mata Atlântica e localizada no município de Mato Castelhano no Rio Grande do Sul.
Pesquisadoras e pesquisadores contribuíram de forma singular nesta edição preocupad@s com temas e problemáticas que também atentam para indagações do presente. Os textos são corroborantes da assertiva múltipla do fazer-se humano com suas infindáveis experiências a espera do olhar profissional de historiadores. Mediações são necessárias para novos fios de esperança pela partilha da economia, o cuidado com o ambiente e com a cultura reivindicando o direito de nos expressarmos e criarmos. Ao visibilizar o passado com suas conexões presentistas seremos semeadores de futuro também!
Tânia Regina Zimmermann – Professora de História da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
ZIMMERMANN, Tânia Regina. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 10, n. 19, jan. / jun., 2016. Acessar publicação original [DR]