Castigar la disidencia. Juicios y condenas en la elite dirigente rioplatense, 1806/1808- 1820 | Irina Poastrelli

Acreedor del Premio de la Academia Nacional de la Historia a las Obras Inéditas (2015-2016) y publicado como resultado en 2019, Castigar la disidencia presenta una versión revisada de la tesis doctoral defendida por Irina Polastrelli en la Universidad Nacional de Rosario durante 2016. En ella, la autora abordó un problema medular de la política argentina: la conflictividad en la tramitación de la oposición en el momento mismo en que la crisis del orden colonial y la disrupción revolucionaria inauguraban la era de la política en el Río de la Plata. Su investigación explora los mecanismos judiciales para procesar la conflictividad política en el período que va desde la crisis desatada por las Invasiones Inglesas en 1806 y 1807 hasta la disolución del poder central en 1820, revisando, de manera crítica, la literatura elaborada por la historia tradicional del derecho que ha señalado, de manera anacrónica, que esa conjunción de la justicia y la política atentaba contra la independencia de los poderes públicos.

Como la autora señala en la introducción, las preocupaciones por la gobernabilidad y la domesticación del conflicto estuvieron anudadas a lo largo del período al anhelo por la recomposición del cuerpo político, que tanto las autoridades coloniales como las dirigencias revolucionarias entendieron como fracturado por la inestabilidad abierta con la respuesta a las Invasiones Inglesas, y luego, por las disidencias sostenidas sobre el rumbo que debía seguir el proceso revolucionario. Es decir que los mecanismos por los cuales se intentó pacificar la política en esos años estuvieron siempre informados por una forma particular de entender las disputas y la disidencia: como elementos extraños y accidentales, no constitutivos, del orden político (colonial o revolucionario) que buscaba preservarse. Leia Mais

Discurso da Dissidência / Noam Chomsky

Talvez Chomsky seja mais lembrado por sua rica produção acadêmica na área da lingüística. Lecionando esta disciplina no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), desde 1955, tornou-se seguramente uma das maiores expressões no campo da lingüística. Hoje, através de seus inúmeros discursos políticos se credencia como uma das mais importantes vozes contra o establishment. Trata-se portanto de um especialista no estudo da linguagem com reconhecimento internacional que ora contribui com seus escritos e palestras para diminuir as injustiças sociais através de contundentes análises sobre a conjuntura mundial, particularmente sobre as conseqüências das políticas externas estadunidense e européia. Levando-se em conta o alcance que têm seus estudos face à problemática política atual pode-se dizer que é um autor relativamente pouco conhecido do grande público e, no caso brasileiro, também do público intelectual. Tendo em vista o seu indiscutível comprometimento em todas as situações que envolvem disputas internacionais e também a competência em tratar temas contemporâneos, mereceria maior atenção destes diferentes públicos.

O livro que escolhemos para comentar aqui é uma coletânea de diferentes artigos e entrevistas que apresentam um Chomsky ativista de direitos humanos e desmistificador da propaganda que objetiva controlar as pessoas nas mais diversas situações de exploração política e social.

Um exemplo do seu vanguardismo no tratamento de questões internacionais e do pragmatismo do seu trabalho pode ser ilustrado através da forma como abordou fatos da história recente do Timor Leste. Há quase três décadas não se via qualquer perspectiva de solução para os conflitos naquela região, tampouco qualquer voz entre os intelectuais que os denunciasse. Foi exatamente Noam Chomsky quem mais uma vez entrou em cena, denunciando a falta de comprometimento internacional para resolver problemas desta natureza. O silêncio jornalístico e literário mantido face aos desmandos indonésios no Timor foi quebrado através das palavras do nomeado autor. Para ele este terrível crime do século, pois: “…o assalto indonésio a Timor está nos lugares cimeiros, não só pela sua dimensão de holocausto – talvez o mais elevado número de mortes da população civil – mas porque poderia ter sido facilmente previnido ou pelo menos interrompido a tempo”, é um exemplo de como um pacto estabelecido entre governos e imprensa termina por beneficiar os agressores, colocando as vítimas na escuridão do esquecimento deliberado.

Nesta coletânea de textos pode-se portanto apreender muito da sua forma de pensar questões sóciopolíticas em perspectivas novas, que trazem às vezes consigo certo valor de previsão. Dizemos isso porque Chomsky escreve para intelectuais sem esquecer daqueles que estão fora de tal grupo, uma vez se tratar aqui também de pessoas interessadas em compreender o que de fato está acontecendo nas circunstâncias e regiões abordadas.

O autor afirmava já nos idos de 1996 que, ao contrário de outros conflitos como na Bósnia, Angola, Ruanda e Iraque-Kuwait, no caso do Timor, não havia ambigüidade nem complicações sobre a solução apropriada e nem necessidade da ameaça do uso de força para alcançá-la, nem mesmo a necessidade de sanções.

Fazia-se necessário, portanto, apenas o reconhecimento da mea culpa e a desistência dos cúmplices daquele crime. Certamente hoje se vê após toda a humilhação e sofrimento pelo qual passou o povo timorense, que aquelas nações outrora coniventes com a situação se viram acuadas pela opinião pública, cedendo espaço para a força de resistência da pequena população local. Mas o livro de Chomsky não se reduz ao problema do Timor. Há pois uma explanação de seus posicionamentos seguros face à política externa das nações ricas, em especial da norteamericana, encontrando novos paradígmas para analisar ações criminosas contra populações, muitas vezes esquecidas pela mídia. Os posicionamentos diferenciados “rebeldes e independentes” nos seus escritos e na sua fala mostram a distância que cultiva da maioria dos seus pares norte-americanos, o que não poderia deixar de lhe render grandes dificuldades no mercado editorial de peso daquele país e venha a justificar inclusive a dificuldade de difundir suas obras em língua portuguesa.

Além da reportagem onde mostrou à imprensa inglêsa a farsa dos países ricos envolvidos no genocídio de Timor Leste, alertando para a iminente extinção de um povo, caso países como os Estados Unidos, Inglaterra, Austrália continuassem cúmplices das investidas indonésias, Chomsky nos traz nesta obra outros critérios para compreender diversas problemáticas emergentes das relações internacionais como por exemplo, a investida das forças da OTAN no Kosovo ou do NAFTA na América Latina. Um tratamento detalhado é dado à reestruturação do livre mercado imposta pelas potências industriais cusadora de uma contínua deteriorização sócio-econômica dos países latino-americanos. Aborda os falaciosos benefícios da grande vitória do capitalismo mostrando suas verdadeiras conseqüências: (…) a porção dos bens do mundo controlada pelos países pobres e de rendimento médio desceu de 23 para 18 por cento entre 1980 e 1988. O informe do Banco Mundial de 1990 acrescentava que, em 1989, os recursos transferidos dos ‘países em vias de desenvolvimento’ para o mundo industrializado alcançaram um novo recorde. Calcula-se que o pagamento do serviço da dívida ultrapassou os novos caudais de fundos em 49,2 mil milhões de dólares, um aumento de cinco mil milhões de dólares desde 1988, e os novos fundos fornecidos pelos credores caíram ao nível mais baixo da década.

As imensas oportunidades do “novo mundo” pós Guerra Fria para a expansão e consolidação da democracia de mercado e vitória dos mercados abertos foi parte da retórica do governo Clinton no início da década de noventa e encontram uma análise no capítulo do livro intitulado de “Democracia e Mercados na nova Ordem Mundial.” A idéia da Guerra Fria como bloqueadora da política externa americana de dominação é contraposta ao fato de que no mesmo período nada impediu a continuidade e manutenção desta política.

No texto sobre “O acordo de Paz Para o Kosovo” busca esclarecer os denominados efeitos colaterais dos bombardeamentos americanos e da OTAN que se disseram vitoriosos após 10 semanas de luta com a rendição de Milosevic. Foi com esta ação bélica que os auto-proclamados “Estados esclarecidos” (Estados Unidos, GrãBretanha e alguns outros associados) afirmaram ter dado início a uma nova era na história da humanidade, guiados por ‘um novo internacionalismo, em que a repressão brutal de grupos étnicos não voltará a ser tolerada.'” Outros temas menos específicos, porém de igual intensidade, importância e atualidade no que tange às relações desiguais entre os denominados países ricos com aqueles do hemisfério sul e Europa Oriental encontram espaço no livro. O estrangulamento destas nações pelo rápido crescimento da dívida externa; os interesses de elementos de dominação interna naquilo que a Organização Mundial do Comércio defende; a política antidrogas norte-americana e sua relação com o terceiro mundo encontram análises à luz de novas vertentes. O livro é concluído com uma entrevista sobre “O Poder das Elites e a Responsabilidade dos Intelectuais” que concedeu a David Barsamian em fevereiro de 1988. Barsamian compilou posteriormente (no ano de 1993) três entrevistas por ele feitas com o autor em um trabalho intitulado “A minoria próspera e a Multidão Inquieta” traduzido por Mary Grace Figheira Perpétuo, editado no Brasil pela Universidade de Brasília (2a. edição, 1999). Trata-se de idéias complementares àquelas presentes no livro ora comentado e em especial às de seu último capítulo versando sobre temas diversos como o das minorias, do sionismo, da religião, dos limites da responsabilidade intelectual, do controle da informação pelas elites, dentre outros de semelhante envergadura.

As entrevistas, os artigos acadêmicos e as reportagens que formam o conjunto de textos interagem e se complementam. Anarquista confesso, Chomsky pode ser lido inclusive por não-anarquistas, pois sua linguagem é universal e não por menos é hoje considerado um dos mais conhecidos e influentes pensadores norteamericanos, apesar do ceticismo com que o trata a grande imprensa de seu país. Não por menos encontra o autor uma audiência cada vez maior e mais fiel para suas palestras sobre temas políticos, sejam elas proferidas nos Estados Unidos ou noutros países. Encontra-se ainda em anexo ao livro uma lista com os principais trabalhos de cunho político do autor, embora muitos deles acessíveis apenas em seu idioma de origem.

Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá – Universidade Federal do Ceará.


CHOMSKY, Noam. Discurso da Dissidência. Tradução de Ana Barradas e Isabel Palha. Lisboa: Edições Dinossauro, 2000. Resenha de: Revista Trajetos, Fortaleza, v.1, n.2, 2002. Acessar publicação original. [IF].