Diásporas / Tempo e Argumento / 2009

A revista Tempo e Argumento, do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), chega a seu segundo número cumprindo o objetivo de promover a reflexão sobre a História do Tempo Presente, bem como divulgar os estudos de caráter nacional e internacional produzidos nesta área do conhecimento.

Entre os fenômenos sócio-culturais do Tempo Presente destacam-se os grandes movimentos populacionais ocorridos nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Estas diásporas, como vêm sendo denominadas por pesquisadores das Ciências Humanas, as migrações nacionais ou transnacionais, caracterizam-se por um conjunto de processos articulados ainda pouco investigados pelos historiadores. Compreendem não só a perspectiva de obtenção de bens de consumo como motivação principal para a partida, mas avançam para processos como a fragmentação e / ou reconfiguração identitária, a expectativa do retorno, o permanente contato, através do telefone e da rede mundial de computadores, com os parentes e amigos, a formação de redes sociais em determinados campos laborais, o investimento de recursos financeiros adquiridos pelos migrantes nos seus países ou regiões de origem, sem deixar de mencionar um cotidiano, muitas vezes permeado de tensões e medos, em função da ausência de documentação.1 O Dossiê “Diásporas” pretende ser uma contribuição acadêmica aos estudos e debates que dizem respeito a este fenômeno mundial que percorre nosso tempo presente.

O referido dossiê é composto por cinco artigos escritos por historiadores / as e cientistas sociais. Luiz Fernando Beneduzi analisa as vivências de mulheres migrantes brasileiras e argentinas na Itália. A migração de comunidades de pescadores entre distintas regiões da Espanha é o tema do estudo de Esmeralda Broullón Acuña. Ana Maria Sosa González, por sua vez, apresenta uma reflexão sobre a “diáspora” uruguaia ocorrida nas três últimas décadas do século XX e seus desdobramentos para a sociedade daquele país. Sueli Siqueira, assim como Gláucia de Oliveira Assis e Emerson César de Campos discutem, a partir de diferentes perspectivas, os desafios enfrentados pelos migrantes que retornaram dos Estados Unidos, no início do século XXI, para o Brasil.

Na seção Artigos temos quatro investigações. Pablo Alejandro Pozzi apresenta uma reflexão sobre o perfil dos integrantes da organização clandestina argentina denominada, Partido Revolucionario de los Trabajadores-Ejército Revolucionario del Pueblo (PRT-ERP), entre 1968 e 1976. Francisco Alcides do Nascimento e Regianne Monte Lima, em seu estudo, abordam o processo de constituição da periferia da cidade de Teresina (PI), na década de 1970, a partir da chegada de migrantes. A interdição e criminalização da violência sexual contra crianças e jovens realizada pelo Poder Judiciário e a influência deste processo na formação da sociedade do município de Londrina (PR), entre 1930 e 1970 são analisados por Lucia Helena Oliveira Silva e Cristiano Gustavo Biazzo Simon. Por fim, Nilo Dias de Oliveira discute os meandros da atuação do Serviço Secreto da Delegacia de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP), entre 1950 e 1961, sobre os integrantes das Forças Armadas brasileiras.

A obra resenhada pelo pesquisador Raphael Freitas Santos, intitulada “Diáspora Negra no Brasil”, aborda o legado cultural dos africanos oriundos da África Central para a sociedade brasileira.

Na seção Fontes do Tempo Presente temos uma reflexão elaborada pelo historiador Carlos Barros, acerca da experiência do grupo História a Debate, sobre a produção historiográfica da História Imediata. Este mesmo tema é abordado por Marlene de Fáveri e Felipe Côrte Real de Camargo, em uma entrevista, com as historiadoras argentinas Marina Franca e Florência Levin, as fundadoras da Red Interdisciplinaria de Estudios sobre Historia Reciente (RIEHR).

Nota

1. HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG; Brasília: representação da UNESCO no Brasil, 2003.

Os Editores


Comitê editorial. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.1, n.2, 2009. Acessar publicação original [DR]

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