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Experiências intelectuais negras: Brasil e diásporas/Estudos Históricos/2022
A experiência intelectual negra é um tema de pesquisa que, nos últimos anos, tem sido sistematicamente debatido por diferentes ramos do conhecimento, em particular na História e nas Ciências Sociais. Ela tem composto um desafio, seja pelas fontes de difícil acesso, pela invisibilidade histórica de sua existência — invisibilidade que todos os artigos deste dossiê problematizam e questionam, cada qual à sua maneira — ou mesmo uma concepção inadequada e excludente do que seria a produção intelectual. A ideia para a construção do dossiê “Experiências intelectuais negras: Brasil e Diásporas” partiu do diálogo dos organizadores, cientistas sociais, em parceria com colegas de História, em diferentes eventos acadêmicos, sobre a aproximação temática dos assuntos de suas pesquisas e a percepção de que esse campo analítico dava sinais inequívocos de consolidação. Leia Mais
África e Diáspora: 15 anos da Lei Federal 10.639/2003 e os desafios do campo de estudos no Brasil / Revista de História da UEG / 2018
O presente dossiê, escrito para Revista da UEG, a qual agradecemos a equipe editorial, se torna público em um dos momentos mais dilacerantes da História recente de nosso país. E nasce do desejo de mobilizar pessoas em torno de pessoas e seus escritos que buscam manter acesa a chama da esperança, do desejo de investir em produções e experiências na educação básica e superior, de modo a cambiar a cultura escolar e enfrentamento das práticas de opressão, inclusive aqueles que partilhamos por hábito, ou por dificuldades enfrentar o colonialismo que habita em nós mesmos.
Agradecemos a cada um dos autores e autoras, que atenderam ao nosso apelo e vemos neles, na diversidade de pontos de vista, evidências de mudanças que se processaram nos últimos 15 anos. Eles, igualmente, são expressão de diversos atores sociais, em meio a uma conjuntura política nem sempre favorável, de agências governamentais, universidades, setores da sociedade civil, em especial intelectuais, pesquisadores, militantes e professores, todos e todas têm contribuído para a transformação positiva de abordagens coloniais e colonizadas sobre o tema. Mas, como sabemos, há muitos desafios.
Lidamos com a urgência de superar uma historiografia generalizante ao abordar as experiências afrodescendentes, compreendendo-as enquanto lutas diárias de diferentes pessoas e agrupamentos organizados em busca por melhores condições de vida. Ansiamos indicar como essas populações ultrapassaram e / ou implodiram noções de condição cativa, enxergando-se a partir de seus próprios termos e perspectivas, mobilizando-se e reorganizando espaços próprios de atuação, sociabilidade e solidariedade.
A música, a dança, a performance, o movimento, constituíram formas de manutenção, reatualização e ressignificação cultural de Áfricas nas Américas, atentando para o fato de que o corpo constitui espaço de memória, encharcado de vivências e códigos culturais. Neste sentido, a partir de experiências corporais os estudos da diáspora africana podem avançar e alavancar universos outros, para além do corpo-trabalho-escravizado, tão enfatizado em diferentes estudos históricos, mas tão pouco conhecido em suas dimensões éticas, estéticas e culturais.
O presente dossiê procura evidenciar experiências de África e Diáspora em diferentes áreas do conhecimento preocupadas com a educação antirracista e o cumprimento da Lei Federal 10.639 / 03, que completou 15 anos de promulgação em 09 de janeiro de 2018. Incorporando narrativas de diferentes áreas do conhecimento, em especial Educação, História e Literatura, dentre outras atentas às críticas ao colonialismo e seus impactos na educação ainda nos dias atuais, este dossiê espera contribuir, por meio de debates recentes em torno de desafios do presente, quanto ao tema em questão.
Em A sala de aula após a Lei Federal 10.639 / 03: avanços, desafios e possibilidades, narrativa desenvolvida por Pauliana Maria de Jesus (UFPI) e Marcio Douglas de Carvalho e Silva (UFPI), apresenta um panorama da Lei Federal 10.639 / 03 e uma avaliação de práticas docentes realizadas em Campo Maior (PI). As autoras destacam, ainda, a importância do papel do poder público na implementação da Lei, em especial com a oferta de formação para professores, material didático, cursos e afins.
Na sequência, adentramos no artigo Narrativas sobre a Diáspora Africana em Sala de Aula: apontamentos sobre práticas docentes e possibilidades para o Ensino de História, de Carolina Corbellini Rovaris (UDESC), que discute práticas docentes em sala de aula, estratégias e metodologias para repensar conteúdos e temas abordados em explicações e atividades desenvolvidas com os alunos sobre a temática. A partir de narrativas de homens e mulheres de origem africana, a autora sugere possibilidades de abordagem no ensino de História.
O terceiro trabalho intitula-se O que você sabe sobre a África? Um estudo de caso de uma escola da rede pública do Distrito Federal, da autora Júlia Schnorr. O estudo aponta que estudantes e professores têm interesse na História da África, contudo, a formação docente existente e a formação docente ofertada antes da Lei, não produzem instrumentalização suficiente para abordagem da temática, o que resulta ainda numa visão colonizadora da África e do africano na formação do Brasil.
Carina Santiago dos Santos, em Os 15 anos da Lei 10.639 / 03: reflexões sobre a Rede Municipal de Florianópolis, análise as “configurações sociais que permeiam as unidades educativas e a importância de debater sobre o ensino de História no ambiente escolar, entendendo o percurso histórico da disciplina”, apontando avanços e desafios no fazer cotidiano para que a legislação seja efetivada.
A implementação da Lei 10.639 / 2003 na formação inicial de professores de História: uma análise de projetos políticos pedagógicos de universidades públicas mineiras, de Mônica Maria Texeira Amorim, Samira de Alkimim Bastos Miranda e Raimara Gonçalves Pereira, consiste em texto analítico sobre os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) de universidades públicas que ofertam o curso de licenciatura em História no estado de Minas Gerais. O estudo tomou por base os dados disponíveis no “sistema INEP-DATA do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e as matrizes curriculares disponíveis nas páginas oficiais dos cursos de licenciatura em História de 09 das 11 universidades públicas mineiras que ofertam tal licenciatura”.
A autora Laura Luiza Pagliari Cruz, no artigo A história africana nos livros didáticos do Ensino Fundamental de Montividiu-GO, destaca como a africana é retratada nos livros didáticos do 6º ano de 2015, na única escola urbana da rede municipal de ensino fundamental de Montividiu-GO. No entendimento de Cruz, “embora as obras estejam de acordo com a Lei 10.639 / 03, a história africana tem pouco destaque, aparecendo fragmentada e desconexa da história eurocêntrica que norteia o material didático”.
Em se tratando de distintas temáticas que compõem as abordagens em sala de aula, Camila do Socorro Aranha dos Reis, Edvandro Luise Sombrio de Souza e André Vinícius Gomes da Silva trazem à tona o texto Estandartes para os orixás: mitologia iorubá nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na produção, os autores enfatizam uma proposta pedagógica desenvolvida sobre a mitologia iorubá, na disciplina de Artes Visuais, com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, em uma escola da zona norte do Rio de Janeiro. “Aliados aos estudos teóricos, temos como resultado plástico a produção de estandartes com referência aos orixás pertencentes ao culto do Candomblé de Ketu”. O trabalho procurou “questionar hierarquias sustentadas pelo campo da arte, na qual alguns objetos são classificados como ‘artísticos’, enquanto outros são relegados a categorias marginais”.
Luís Ernesto Barnabé e Ruhama Sabião, em Entre História e Literatura: reflexões acerca do uso do romance “a flecha de deus”, buscam refletir acerca da possibilidade do uso do romance histórico “A Flecha de Deus”, do escritor Chinua Achebe. Com narrativa que envolve “pontos de vista de europeus e africanos acerca do imperialismo europeu do século XIX, o romance também oferece ricas informações a respeito das relações sociais entre famílias, o funcionamento das estruturas econômicas e religiosas antes e durante a chegada dos europeus”. Esse romance possibilita abordagens interdisciplinares para efetivação da Lei Federal nº10.639 / 03.
No artigo Caminhos identitários: contribuições de Kabengele Munanga na construção da identidade negra positiva, Quecia Silva Damascena e Eduardo Oliveira Miranda elucidam o papel das obras Negritude: usos e sentidos (1986), Superando o racismo na escola (2005) e Uma Abordagem Conceitual das Noções de Raça, Racismo, Identidade e Etnia (2004), de Kabengele Munanga. Apontam que as reflexões proporcionadas nessas obras ressignificaram a construção das identidades docentes, impactando positivamente sobre as “possibilidades culturais dispostas no chão da escola”.
A presença negra na história do Paraná: a memória entre o esquecimento e a lembrança, de Delton Aparecido Felipe discute a negação da memória negra no Paraná enquanto projeto ideológico de construção baseada em uma política de branqueamento vigente no final do século XIX e início do XX no Brasil. “O paranismo foi uma das estratégias utilizadas para alicerçar uma identidade paranaense a partir dos imigrantes europeus que chegaram no estado na segunda metade do século XIX”. Conforme Felipe, essa gestão da memória, com papel do governo e da literatura especializada, tentou apagar a presença negra da história oficial do Paraná.
Em nosso penúltimo texto do dossiê, Eval Cruz, no artigo intitulado Diáspora e conexões do Atlântico: histórias, identidades e resistências africanas em Laranjeiras / SE, salienta diferenças presentes entre as muitas variedades de grupos religiosos de matriz africanas presentes no país. Seu texto aponta também que a “diáspora estendeu a cultura africana a vários povos, levando-os a um mundo totalmente desconhecido daquele em que estavam acostumados; todavia, mesmo com os traumas provocados pela travessia atlântica, sua cultura religiosa foi preservada e cuidadosamente ressignificada para que pudesse florescer no novo habitat”.
Fechando a seção de artigos do dossiê, Línguas africanas e a pesquisa em História da África a partir do Brasil: um desafio em aberto, de Felipe Barradas Correia Castro Bastos, evidencia teórica e metodologicamente “a pertinência do treinamento linguístico para ressaltar a premência da implantação de cursos de línguas africanas em universidades brasileiras”. O trabalho articulou aspectos do interesse de instituições e indivíduos ocidentais na apreensão de línguas africanas, em particular a língua suaíli.
Na seção de traduções, Pablo Biondi, em PESQUISAS SOBRE UM MODO DE PRODUÇÃO AFRICANO de Catherine COQUERY-VIDROVITCH, apresenta um texto importante e pouco conhecido em português, a respeito das relações de organização da produção e hierarquias, enfatizando as relações sociais em sociedades africanas que não se “encaixam” na denominação de “classes”.
Paulino de Jesus Francisco Cardoso – Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); docente da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). E-mail: paulino.cardoso@gmail.com
Karla Leandro Rascke – Doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); docente da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA); pesquisadora associada ao NEAB-UDESC e ao CECAFROPUC / SP. E-mail: karlaleandro@gmail.com
CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco; RASCKE, Karla Leandro. Editorial. Revista de História da UEG, Morrinhos – GO, v.7, n.1, jan / jun, 2018. Acessar publicação original [DR]
África e Brasil – diáspora escravidão e heranças / Em Tempo de Histórias / 2013
Neste ano de 2013 completou dez anos a Lei 10.639 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas instituições públicas e privadas de nível fundamental e médio. Esta data histórica tem sido comemorada com balanços diversos a respeito dos resultados e perspectivas da lei. Especialistas no assunto e acadêmicos têm discutido sobre o tema com o propósito de realizar outras pesquisas contribuindo para uma maior reflexão sobre a história da África e da diáspora em diferentes sociedades ao longo do tempo. Todas essas discussões realizadas em congressos, seminários, mesas redondas, produziram os mais diversos tipos e meios de publicações. Portanto, é com grande expectativa que a revista Em Tempo de Histórias, na sua 22º. edição, contribui para essa temática ao apresentar o dossiê África e Brasil – diáspora, escravidão e heranças.
A edição conta com uma entrevista com o historiador João José Reis, professor titular de História da UFBA, sobre as relações África e Brasil tecidas nos últimos anos na área de História, abordando aspectos de nível mais profundo de uma herança africana no Brasil. Além disso, o dossiê conta com dois artigos que abordam a temática do ensino de história, que são eles: Percurso da lei 10639/03 e o ensino de história e cultura africana no Brasil: antecedentes, desdobramentos e caminhos, Maurício Silva e Márcia M. Pereira e Dos hominídeos ao homo sapiens: as pesquisas sobre a cor da pele e a utilização de suas informações no ensino da História da África como uma alternativa à desconstrução de mitos raciais, Márcio Paim.
As outras publicações do dossiê percorrem caminhos diferentes, mas que contribuem para uma discussão mais ampla das questões relativas ao tema da revista. Em Sob os signos do poder: a cultura objetificada das joias de crioulas afro-brasileiras, de Amanda Gatinho Teixeira, discute-se a questão da produção de joias por crioulos no período colonial brasileiro. Temos também a contribuição de Elaine Falheiros ao analisar a trajetória de um africano liberto e deportado para seu lugar de origem em: Luis Xavier de Jesus: o “lugar social” de Africanos Libertos na Bahia do século XIX .
O artigo A mídia ruandesa no genocídio de 1994: a relação entre tutsis, Inkotanyis e a Frente Patriótica Ruandesa, de Danilo Ferreira da Fonseca, realiza um estudo midiático contemporâneo sobre o genocídio Ruandês. Já a pesquisa Por uma antropologia do negro: O diálogo convergente entre Arthur Ramos e Dante de Laytano, Maurício Lopes Lima analisa a imagem do negro na perspectiva desses dois autores. Em As influências das ideologias do trabalhismo, da negritude e da democracia racial nas demandas por educação da população negra brasileira, Arilson dos Santos Gomes, propõe uma discussão sobre os desdobramentos das políticas educacionais de inclusão na década 1930.
Os artigos do Dossiê são acompanhados por outros cinco de temática livre, que destacam temas de relevado interesse em sua especificidade e que contribuem para a diversidade da revista.
Transferências e circulações culturais: Alemanha e França na tradição literária e política do século XIX brasileiro, de Aruanã Antonio dos Passos e Alexandro Neundorf, é o primeiro texto de temática livre. Neste trabalho os autores abordam a trajetória de duas escolas literárias, o condoreirismo da Escola de Recife e o simbolismo, que guardam em si um projeto cultural fundamentado no caráter da nação próprio à efervescência da crise e declínio do Império no Brasil. Os autores ponderam que ambas “escolas” buscaram na França e na Alemanha os referenciais do quais apropriaram conceitos adequando-os a realidade do Brasil, o que justifica a ideia de transferências e circulações culturais.
O artigo, O Tribunal de Nuremberg como um Ícone da Justiça de Transição: Aspectos Históricos da Responsabilização Política e do Quadro Ideológico dos Direitos Humanos, Elitza Bachvarova analisa alguns aspectos dos Tribunais de Nuremberg e de Tóquio, ao fim da Segunda Guerra Mundial. O objetivo da autora é retomar polêmicas que surgiram na época, compreender o impacto de tais questões no contexto político internacional do pós-guerra e analisar os principais referenciais políticos que surgiram e os dilemas da responsabilização política que definem a busca por políticas democráticas desde a época desses marcos históricos.
Em Planadores e Dirigíveis: os primeiros resultados práticos para o sucesso do vôo controlado, Suâmi Abdella Santos realiza um estudo sobre pioneiros da aviação que não conseguiram construir máquinas voadoras práticas, mas serviram de apoio para que outros inventores pudessem obter êxito na construção dos seus aparelhos voadores.
No texto Os direitos humanos (re)conquistados no Brasil, desde a década de 1970 Marcos Evandro Cardoso Santi analisa as lutas de reconquista de um regime democrático e dos direitos a ele associados a partir dos anos 1970 no Brasil. Santi apresenta uma breve introdução sobre a perda da democracia brasileira na década de 1964 para que se compreenda a importância do processo de (re)conquista dos direitos humanos e da democracia brasileira. Constata que a trajetória histórica peculiar da redemocratização brasileira explica em grande parte os próprios impasses atualmente constatados para que os direitos humanos sejam mais efetivamente observados no País.
O corpo editorial da revista Em tempos de história convida a todos os leitores a uma boa leitura!
Diáspora, literatura e arte / Revista Brasileira do Caribe / 2012
Como afirma Brah (1996) na diáspora múltiplas posições de sujeitos se justapõem, se questionam, se proclamam, negam e se narram. A região do grande Caribe tem na diáspora experiências fundamentais para entendermos a história de sua sociedade e sua cultura. Seja no que diz respeito às emigrações de caribenhos para a Europa, América do Norte ou do Sul no século XXI, seja no que concerne à diáspora africana, do período moderno, ou as diásporas europeias mais recentes como aquela vivenciada pela comunidade de espanhóis fugidos da queda da República. Isso sem contarmos a diáspora síria, libanesa e chinesa do começo do século XX. Outrossim, a migração de trabalhadores indianos contratados deve ser lembrada.
A diáspora tem sido pensada como intersecção da errância com a fronteira, da localização com o deslocamento; é ponto confluência de processos econômicos, sociais, políticos, culturais ocasionados no trânsito, no deslocar-se. Nesse sentido, como parte da história caribenha, ela marcou as experiências e se constituiu em contextos fundamentais de produção artística e literária caribenha, quando não tema para artistas e escritores caribenhos diaspóricos ou não. Não poucas vezes, para retomar a expressão de Hall (2003) eles foram obrigados a pensar as suas sociedades na diáspora.
Esse número da Revista Brasileira do Caribe reúne textos sobre a relação entre Diáspora, Literatura e Arte no Caribe, fruto do trabalho de cooperação em rede entre grupos de pesquisa das Universidades de Granada, Carlos III y Autônoma de Barcelona, a Filmoteca de Madri, na Espanha, a Universidade Federal do Tocantins, Universidade Federal de Goiás e Universidade Federal de Maranhão, no Brasil e a Universidade do Atlântico, na Colômbia. Abre o Dossiê o artigo “Anecdotario de una visa imaginaria. Diáspora y activismo en la obra de Jean-François Boclé,” que analisa a produção artística da diáspora caribenha a partir da trajetória e do ativismo do artística plástico Jean-François Boclé. Na sequência, Jordi Lladó, “Literatura catalana en la prensa latinoamericana: una nación en la diáspora” trata da relação estabelecida no século XX entre a literatura catalã e o mundo cultural latino-americano, mostrando, por um lado, o enriquecimento da produção cultural na América Latina e Caribe, e, por outro, como as revistas catalãs na América se constituíram como lugar de fortalecimento cultural da língua catalã quando ela era perseguida na Espanha.
O artigo “La ‘primera piedra’: José Gómez Sicre y la fundación de los museos interamericanos de arte moderno de Cartagena y Barranquilla” de Alessandro Armato, reconstrói a história do primeiro lançamento do museu interamericano de arte moderna em Cartagena de Índias e Barranquilla e o envolvimento de personagens diáporicas, como o cubano José Gómez Sicre e a Martha Traba nesse projeto, mostrando o papel de migrantes no desenvolvimento do modernismo artístico na Colômbia. Seguindo uma mesma perspectiva, Danny González Cueto en “Arte, literatura, prensa e intelectualidad en el Caribe colombiano (1917-1980)” escreve sobre a produção cultural na cidade de Barranquilla, focando, entre outros aspectos, a importância de personagens diáporicos como o judeu David Zacarías López (Penha) e o catalão Ramon Vinyes. Ainda no que diz respeito á produção cultural, Alexa Cuesta Flórez apresenta o artigo “Feminismo, género o reivindicación en el arte del Caribe colombiano: Colectivo La REDHADA” no qual se problematiza a produção artística feminina do Caribe Colombiano, fazendo ênfase nas trajetórias diaspóricas de muitas dessas artistas.
Os estudos que seguem tratam de personalidades inquietas e errantes como o crítico Juan Acha, o escritor Alejo Carpentier e o artista Jaime Suárez. No primeiro caso, aparece o artigo de Dagmary Olívar Graterol “Revisión del latinoamericanismo en la propuesta teórica y crítica de Juan Acha”, nesse propõe estudar a obra desse importante crítico de arte em torno da questão do latino-americanismo. Dernival Venâncio Ramos e Marina Haizenreder Ertzogue em “Performance biográfica e narrativa no Caribe: um estudo de La consagración de la primavera, de Alejo Carpentier” problematizam o lugar da biografia como discurso legitimador na narrativa de um dos maiores escritores cubanos. Por fim, Daniel Expósito Sánchez em “Jaime Suárez ante la crítica de arte puertorriqueña. Impresiones de una década (1975-1985)” problematiza o lugar da crítica de arte na projeção do artista porto-riquenho como um dos mais importantes criadores de seu país.
Este dossiê, tenta contribuir para o aprofundamento da discussão sobre o lugar da diáspora na experiência histórica cultural caribenha. Como se pode perceber, o trânsito de gentes do e pelo Caribe foi um contexto importantíssimo para a produção artística regional; no entanto, a experiência da diáspora tem sido também o contexto no qual muitos escritores, artísticas, críticos têm localizado sua produção artística e literária.
Na sequência aparece o artigo “En torno a la Ciénaga de García Márquez: El proyecto de adaptación de La Casa Grande de Álvaro Cepeda Samudio por Luis Alcoriza” de Javier Herrera. Neste se descreve o projeto de filmar a obra La casa grande de Álvaro Cepeda Samudio. Simultaneamente, mostra a faceta cinematográfica do autor de Cien años de soledad. Fecha essa edição o artigo “Filosofía de la Historia y Teoría de la Frontera en el Ensayo Americano” de Luiz Sérgio Duarte da Silva que, centrado na produção literária e ensaísta, chega a insights que podem ser aplicados a outros campos, como as artes plásticas. Para Silva, a arte é produção de sentido, tentativa de dar conta das demandas sociais e, por isso, tenta orientar à sociedades no modo como ela compreende seu passado e futuro.
Referencias
BRAH, Arthur. Cartographies of Diaspora: Contesting identities. New York: Routledge, 1996.
HALL, Stuart. Da diaspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
CUETO, Danny González; RAMOS, Dernival Venâncio; LLADÓ, Jordi. Diáspora, literatura e arte. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.12, n.24, jan./jun., 2012. Acessar publicação original. [IF].