Posts com a Tag ‘Diálogos (Dar)’
Imagens Interditas: censura e criação artística no espaço ibérico contemporâneo | Diálogos | 2022
O presente dossiê resulta do primeiro Congresso Internacional Imagens Interditas. Cinema e literatura no espaço ibérico – séculos XX e XXI, que decorreu a 12, 13 e 14 de Abril de 2021, numa organização do CEComp – Centro de Estudos Comparatistas (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), em colaboração com o IHA – Instituto de História da Arte (Universidade NOVA de Lisboa) e o CHAM – Centro de Humanidades (Universidade NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores).
O evento contou com 33 comunicações de 38 participantes de 15 universidades (Universidade de Lisboa, Universidade NOVA de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Minho, Universidade Lusíada, UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia, Universidade de Brasília, University of the Western Cape, Université Sorbonne Nouvelle Paris 3, Université Paris Nanterre, Universidad de Alcalá, Universitat Pompeu Fabra, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidad de Málaga e Universidade de Bergen) de seis países (Portugal, Espanha, Brasil, França, Noruega e África do Sul). Contámos ainda com comunicações de um editor e de um realizador de cinema. As duas conferências plenárias do evento foram proferidas por Ana Cabrera (Universidade NOVA de Lisboa) e Josefina Martinez Alvarez (UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia). Leia Mais
Formação das fronteiras latino-americanas | Fábio Aristimunho Vargas
As fronteiras são um tema conceitualmente polissêmico e um objeto multidisciplinar, cujos estudos são de interesse acadêmico diverso, abarcando os campos da Geografia, Relações Internacionais, Direito, História, entre outros. Estudos que procuram contribuir para o entendimento dos processos que levaram à definição dos limites territoriais entre os Estados são de grande valia nessa temática. É nessa perspectiva que o livro Formação das Fronteiras Latino-Americanas, publicado pela Fundação Alexandre de Gusmão em 2017 (640 páginas), insere-se como uma importante contribuição.
O autor é mestre em Direito Internacional, possui doutorado em Integração da América Latina e atua como professor em cursos de Direito e de Relações Internacionais em universidades da região da Tríplice Fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai) onde vive. Sua produção intelectual segue a mesma lógica da temática de seu livro, de sua formação e de sua vivência, com viés inclinado ao Direito Internacional, tratando questões de fronteira. Leia Mais
O conceito de História. | Reinhart Koselleck, Christian Meier, Horst Günther e Odilo Engels
O historiador, filósofo e político italiano, Benedetto Croce (1866- 1952), inspirou-se na filosofia hegeliana para sua concepção teórico-metodológica da história. Aqui nos interessa aquele aspecto do pensamento de Hegel que concebe o conceito como um “universal-concreto”, no sentido de estabelecer “a ligação entre as concretas particularidades do mundo empírico e os princípios gerais do Pensamento” (CONSTANTINO, 2013, p. 286). Assim, temos que o Idealismo croceano perceberia o conhecimento sempre como “conhecimento de conceitos e por meio de conceitos” (CONSTANTINO, 2013, p. 286).
No entanto, este pressuposto não redundaria em uma história dos conceitos. Mais que mera expressão, a Begriffsgeschichte trata-se de uma disciplina que deve determinada parcela da intelectualidade alemã (historiadores, filósofos, linguistas, juristas) seus primeiros empreendimentos de vulto já em meados do século XX. Prevaleceria aqui uma preocupação com “as mutações de termos e significados em sua relação com o invólucro sociocultural” (ASSIS; MATA, 2013, p. 10). Nesse sentido, o “conceito” seria compreendido não propriamente na acepção hegel-croceana, uma vez que o filósofo alemão, assim como Dilthey, era passível de críticas pela “baixa contextualização de ideias e conceitos utilizados no passado, no anacronismo daí derivado e na insistência metafísica da essencialidade das ideias” (JASMIN, 2005, p. 31). O “conceito” seria, antes, compreendido como “resultado de um processo de teorização” na descrição de uma “experiência histórica concreta” (KOSELLECK, 1992, p. 135-136). Desse modo, teríamos um conceito que guardaria em si uma experiência empírica que lhe seria correspondente, da qual decorreria “seu caráter único articulado ao momento de sua utilização” (KOSELLECK, 1992, p. 138). Daí que, para entendermos o conceito de história (ou, precisamente, a história do conceito de história), devemos entender as variações de seus usos e significados ao longo do tempo. Leia Mais
A escrita da repressão e da subversão | Vivien Ishaq, Endrico P. Franco e Teresa E. Sousa
O livro “A escrita da repressão e da subversão” reúne uma coletânea das palavras e expressões, seus significados e sentidos, mais usadas durante a ditadura militar (1964-1985), tanto por agentes da repressão, quanto por militantes de esquerda considerados subversivos. Para a redação do glossário, foram usados como fontes diversos acervos e documentos do período do regime que estão sob custódia do Arquivo Nacional.
A historiadora Vivien Ishaq, juntamente com Pablo Endrigo Franco e Tereza Eleutério de Sousa, pesquisadores do Arquivo Nacional, se debruçaram especialmente sobre o acervo do Serviço Nacional de Informações (SNI). A escolha segue uma lógica importante. O órgão coordenava toda a atividade de informação e espionagem do regime e recebia compulsoriamente dados de órgãos municipais, estaduais e federais do Poder Executivo, tendo então uma abrangência nacional. Além do enorme volume de documentos reunidos. Além do SNI, também foram usados documentos do Conselho de Segurança Nacional (CSN); do Serviço Secreto da Aeronáutica (Cisa); da Divisão de Inteligência da Polícia Federal, entre outros. Todos esses acervos são compostos por diferentes documentos: fichas pessoais dos militantes da esquerda, análises da conjuntura nacional e internacional, relatórios secretos de informação e contrainformação, entre outros. Além dos documentos citados, os pesquisadores também buscaram fotografias para ilustrar os verbetes nos acervos do jornal Correio da Manhã e da Agência Nacional. Leia Mais
Estado Novo e Universidade: a perseguição aos professores | Fernando Rosas e Cristina Sizifredo
Em setembro de 2013, veio a lume em Portugal o livro Estado Novo e Universidade: a perseguição aos professores, de Fernando Rosas e Cristina Sizifredo. A obra trata de episódios ocorridos durante a Ditadura Militar (1926-1933) e o Estado Novo (1933-1974), nos quais pesquisadores e professores, por razões político-ideológicas, foram afastados do campo universitário luso ou nele impedidos de ingressar.
Em um panorama geral da obra, sobressaem-se dois aspectos relativos a seu conteúdo: a solidez da pesquisa histórica em que se apoia a publicação e seu apoio aos movimentos em defesa da memória dos perseguidos políticos portugueses do século XX. No que diz respeito à forma, destaca-se o estilo fluido, um tanto lacônico e bastante claro da narrativa. Leia Mais
The Oxford Handbook of World History | Jerry Bentley
Pouco conhecida no cenário historiográfico brasileiro, a denominada História Global tem se desenvolvido com força desde a década de 1980 nos meios acadêmicos europeus e norte-americanos. As perspectivas globais, a busca por efeitos-causa e a explicitação de grandes processos, que nortearam a produção historiográfica inglesa e norte-americana desde as obras de Arnold Toynbee (1955) nos anos 1930 até Immanuel Wallerstein (1974) e William McNeill (1963) nos anos 1970, passaram por um intenso processo de renovação e rediscussão.
O livro organizado pelo Professor da Hawai’i University, Jerry Bentley†1, reúne as mais atualizadas discussões sobre o tema, proporcionando em seu conteúdo uma visão ampla e sistêmica da História Global. Em seu prefácio, Bentley apresenta ao leitor as novas – e as não tão novas – dificuldades e armadilhas dos historiadores globais. Influenciados pelos estudos póscoloniais e pela descentralização do saber acadêmico, ocorrido ao longo do século XX – que descendeu das cátedras europeias às mais variadas partes do mundo – os historiadores globais rejeitaram velhas idiossincrasias das denominadas “Histórias Universais”, como o etnocentrismo e um manifesto “sentido da história” hegeliano, em prol de uma análise de processos, encontros e trocas entre as sociedades, considerando sua fluidez e permeabilidade, espalhados por dilatadas dimensões espaciais e temporais. Leia Mais
How to Change the World: reflection on Marx and Marxism | Eric Hobsbawm
Nesse último livro de Eric Hobsbawm, antes de sua morte, o historiador inglês aborda um tema muito caro para ele: Marx e o(s) marxismo(s). O livro é uma coletânea de textos escritos entre 1956 e 2009 sobre o impacto do pensamento de Marx depois de sua morte em 1883, portanto não é uma história do marxismo no sentido usual. Hobsbawm procura demonstrar como o pensamento de Marx ainda é importante para nos ajudar a compreender o mundo atual e o século XXI. O livro se divide em duas partes, sendo que a primeira (8 capítulos) aborda Marx e Engels e a segunda (8 capítulos) aborda o marxismo pós-Marx, discutindo apenas Antônio Gramsci especificamente.
O primeiro capítulo intitulado ‘‘Marx Hoje’’, Hobsbawm discute como Marx ainda é relevante hoje e que não pode ser visto como um ‘‘homem de ontem’’ nem ser relegado à lata de lixo da História. O autor apresenta como Marx era interpretado ao longo do século XX com base em três fatos: a divisão entre países em que a revolução era possível e estava na agenda de certos partidos e outros em que não estava; a bifurcação da herança marxista entre revolucionários e reformistas; e o colapso do capitalismo do século XIX pela ‘‘Era da Catástrofe’’ (o período entre as duas Guerras Mundiais). Com o colapso da URSS, em 1991, o marxismo ficou desacreditado, mas o autor salienta como Marx ainda tem força nos aspectos de pensador econômico, historiador e analista social (vale lembrar que Marx é tido como um dos pais da Sociologia). Leia Mais
Machado de Assis: por uma poética da emulação | João Cezar Castro Rocha
Em abril de 1878, em resenha ao recém-saído O Primo Basílio de Eça de Queirós, Machado de Assis – comentando o diálogo estabelecido pelo autor português com a tradição francesa, especialmente com Zola – afirma que se Eça “fora simples copista, o dever da crítica era deixá-lo, sem defesa, nas mãos do entusiasmo cego, que acabaria por matá-lo; mas é homem de talento” (CASTRO ROCHA, 2013, p.138). Ora, para quem bem conhece o vocabulário intelectual do século XIX brasileiro, associar a imitação da tradição francesa com talento pode soar com certa estranheza, haja vista o intenso esforço para a afirmação de uma produção cultural e literária dita própria e conseguir a denominada “independência de espírito” da nação. A resenha de Machado registra, porém, um importante influxo nessa linhagem interpretativa que irá marcar daí em diante a obra do autor, dando início à recuperação de uma interessante prática intelectual que se caracteriza, dentre outras formas, por uma maneira particular de lidar com a tradição e com a posição do homem brasileiro de letras naquele contexto. Leia Mais
Linguagem, cultura e conhecimento histórico: ideias, movimentos, obras e autores | Diogo Roiz da Silva
Diogo da Silva Roiz é mestre em História pela Unesp de Franca- SP e Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná e tem se dedicado à produção de textos na área de Teoria da História e Historiografia, autor de diversos artigos e livros na área. Na obra intitulada “Linguagem, cultura e conhecimento histórico: ideias, movimentos, obras e autores”, Diogo Roiz nos apresenta seis capítulos, divididos em duas partes. Na primeira delas, intitulada “História e Literatura”, destaca os debates teóricos em torno de tal questão, sobretudo no que tange ao período pós-1960, posteriormente à denominada “virada linguística”, mostrando como os historiadores procuraram responder às críticas efetuadas pelas obras de Friedrich Nietzsche, Hayden White, entre outros. Na segunda parte da obra, “Literatura e História”, Roiz exibe algumas possibilidades de empreender um estudo utilizando fontes literárias, mostrando o quanto elas podem ser prósperas para a pesquisa histórica.
O que é instigante no trabalho é o fato de o autor fazer alguns importantes questionamentos, tais como, “De que maneira os historiadores se posicionaram, quando, a partir dos anos 1960, se tornou mais corriqueira a evidência de uma relação ambígua no campo dos estudos históricos, ao ser situado entre a ‘ciência histórica’ e a ‘arte narrativa’?”, ou então, “como as fontes literárias podem ser utilizadas na pesquisa histórica?” (ROIZ, 2012, p. 13). Leia Mais
Intelectuais e Comunismo no Brasil: 1920-1950 | Cândido Moreira Rodrigues
Seguindo o fluxo multidisciplinar na investigação de discursos, práticas, representações, imagens, memórias e esquecimentos, cinco professores – da Universidade Federal de Mato Grosso, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho – condensaram suas reflexões sobre ações, pensamentos e relações de intelectuais com o comunismo na primeira metade do século XX.
O capítulo inicial, a cargo de Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, aborda o comportamento anticomunista de Gustavo Barroso. Bacharel, parlamentar, secretário de Estado e presidente da Academia Brasileira de Letras, Barroso liga-se, na década de 1930, à Ação Integralista Brasileira (AIB), nem sempre se submetendo às diretrizes de seus principais líderes. Leia Mais
Prontos a contribuir: guardas nacionais, hierarquias sociais e cidadania (Rio Grande do Sul – século XIX) | Miquéias Henrique Mugge
A obra enfoca o tema da Guarda Nacional de São Leopoldo articulando muito bem as contribuições teóricas do método das redes sociais sob perspectiva histórica à extensiva pesquisa empírica realizada nas fontes acerca da milícia. Ao anunciar sua abordagem e as possibilidades da história política do cotidiano, Miquéias Henrique Mugge afirma seu propósito de pesquisa: recuperar vivências, comportamentos e estratégias diárias de seus personagens em foco, os guardas nacionais de São Leopoldo. Para tanto, além dos já conhecidos fundos documentais usualmente utilizados pelos historiadores como, por exemplo, as correspondências entre os oficiais e autoridades do Estado Imperial como Presidentes de Província e ministros de Estado, Mugge tem o mérito de acrescentar à análise inventários, processos-crime, entre outras fontes, contribuindo inestimavelmente para o que se propôs, ou seja, recuperar as vivências cotidianas, como sujeitos políticos, dos guardas nacionais de São Leopoldo, tanto do oficialato, mas também daqueles que compunham a hierarquia baixa da milícia, os simples guardas. Cumprindo muito bem tal objetivo, Mugge também revisa a discussão historiográfica sobre o papel dos imigrantes alemães na construção do Estado nacional brasileiro do XIX, resgata muito bem os eixos explicativos da historiografia acerca da imigração alemã, destacando que tais imigrantes não foram “apolíticos”, pelo contrário, viveram e atuaram politicamente na defesa de seus direitos, resistindo ou aderindo a “milícia cidadã” conforme seus interesses. Diga-se que esta questão é apresentada a partir de um pertinente diálogo com a historiografia recente da imigração alemã no Rio Grande do Sul. Leia Mais
Uma genealogia do Estado Moderno | Quentin Skinner
Não é algo absurdo afirmar que o que mais ocupa o espaço nas reflexões ligadas ao pensamento político, seja no campo da ciência política ou especificamente no da história das ideias, é o Estado. Conceito extremamente polêmico, para dizer o mínimo, e que sofreu ao longo dos séculos as mais distintas caracterizações. Com as vertentes teóricas até então conhecidas, pode-se afirmar inúmeras coisas. Para alguns, o Estado se apresenta como uma grande superestrutura imanente à realidade social, e que a todos e a tudo arrasta, conforme a vontade ideológica que lhe é própria, como num turbilhão inescapável rumo a algo que independe das vontades dos indivíduos. Já para outros, não seria mais que um mero conceito abstrato, útil unicamente para nomear o que se enxerga como a mera união dos atores sociais, esses sim, por sua própria vontade agindo para a concretização da realidade efetiva. Há ainda os que pensam o Estado como nada além de um emaranhado burocrático, historicamente constituído para ser o meio de dominação de determinada classe sobre os oprimidos. Enfim, não cabe aqui narrar o grande número existente de ideias sobre o conceito. Não há espaço para tal. Leia Mais
Relações Brasil-Estados Unidos: séculos XX e XXI | Sidnei J. Munhoz e Francisco Carlos Teixeira da Silva
As relações entre Brasil e Estados Unidos constituem um campo riquíssimo de pesquisas. Embora muitos trabalhos de peso sejam publicados anualmente, o assunto está longe de ser esgotado. Isso se deve tanto ao fato dessas relações continuarem a se desenrolar na atualidade (o que as coloca constantemente em debate), quanto aos novos olhares lançados sobre o passado, os quais suscitam releituras e reinterpretações. Além disso, trata-se de uma área de estudo abrangente, onde se entrecruzam fatores políticos, diplomáticos, econômicos, sociais e culturais.
Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência brasileira, em 1824. Desde então, procuraram difundir e ampliar sua influência sobre o país latino-americano, fosse como seu principal parceiro comercial (situação que perdurou por décadas); intervindo politicamente nos rumos do país; ou exportando padrões de consumo e comportamento por meio de sua poderosa indústria cultural. Todavia, a nova posição do Brasil no cenário mundial e a postura do governo Barack Obama estão reconfigurando essas relações. Leia Mais
História do Paraná: séculos XIX e XX. | Angelo Priori
Recentemente, muitos pesquisadores têm se debruçado e lançado novas luzes ao estudo da história paranaense. Incentivados pela presente obrigatoriedade do ensino de história do Paraná na rede pública estadual, através da Lei nº 13.381/2001, vários historiadores procuram investigar a fundo temas até então relegados da maioria dos intelectuais da terra das araucárias. Assim, vêm se buscando, além de ampliar os horizontes temáticos, teóricos e documentais, desconstruir as visões pragmáticas e estereotipadas que permeiam, muitas vezes, o estudo e o ensino de história do Paraná.
Desse modo, é nessa perspectiva que leva em conta as novas pesquisas e experiências historiográficas – procurando se distanciar de uma história tradicional de caráter puramente oficial – que se localiza e se filia o presente livro, “História do Paraná: séculos XIX e XX”, de autoria de Angelo Priori, Luciana Regina Pomari, Silvia Maria Amâncio e Verônica Karina Ipólito. Leia Mais
Ensinar História | Maria Auxiliadora Schimidt e Marlene Cainelli
O livro Ensinar História, da autoria de Maria Auxiliadora Schmidt (UFPR) e Marlene Cainelli (UEL), data, numa primeira versão, de 2004. A versão ora resenhada é de 2009. Em ambos os textos a apresentação diz “Esta obra é destinada a professores e alunos dos cursos superiores de magistério, alunos e professores das licenciaturas em história, professores do ensino fundamental e médio.” Pensamos que o livro se adequa prioritariamente ao último setor mencionado, também por ter um formato de manual (considerando que a obra procura sintetizar os principais avanços realizados nos últimos anos em várias temáticas como o ensino e a aprendizagem de história, de uma forma bastante esquemática, a melhor definição para caracterizá-la é a de manual).
Tal assertiva ganha mais força com o fato de a editora Scipione ter rebatizado a série à qual a obra pertence, Pensamento e Ação no Magistério, para Pensamento e Ação na Sala de Aula. Na sua versão de 2009, o livro também integra o PNBE (Programa Nacional Biblioteca Escola) e como tal faz parte das remessas de material que o Ministério da Educação envia para escolas de todo país. Isso confere à obra grande facilidade no acesso por parte dos profissionais da Educação Básica, outro fator que torna urgente a reflexão sobre alguns aspectos do manual. Leia Mais
Um metódico à brasileira: a história da historiografia de Afonso de Taunay (1911-1939) | Karina Anhezini
Apesar da importância da obra de Afonso de Taunay, durante muito tempo sua obra permaneceu pouco pesquisada. Nos últimos anos esse quadro foi alterado, como nos informa o sugestivo estudo de Ana Claudia Fonseca Brefe, O museu paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional (2005), no qual se dedica a analisar parte da obra deste autor, especialmente, conjecturando sua contribuição na remodelação do Museu Paulista, quando foi seu diretor.
O trabalho de Karina Anhezini (2011) – fruto de sua tese de doutorado, defendida em 2006, e agora publicada – avança ainda mais nessas questões, ao propor analisar a história da historiografia de Afonso de Taunay, tendo em vista os locais que passou, e em que medida contribuíram com sua produção histórica. Assim, contrariando, de certa forma, aos cânones instituídos pela história do pensamento social e político brasileiro, o seu estudo procurou justamente inquirir a história da historiografia construída na obra de Afonso de Taunay, entre 1911 e 1939, e nos oferece uma bela contribuição para o estudo da temática. Leia Mais
O imaginário da realeza: cultura política ao tempo do absolutismo | Marcos Antônio Lopes
Em O Estado monárquico, Emmanuel Ladurie afirma que o “período dito ‘moderno’ de nosso passado [o francês]” estava dividido em duas partes: a primeira, entre 1460 e 1610, constituindo o “estado monárquico”, e a segunda, entre 1610 e 1774, formando o assim denominado “Antigo Regime”. A partir dessa proposta de periodização, pode-se entender que, grosso modo, a Revolução Francesa serviu para sepultar o Antigo Regime (ao menos, na França); contudo, ela não obteve o mesmo sucesso em relação ao interesse de estudiosos por essa parte da História Moderna. Aliás, desde meados do século XIX, na esteira de Tocqueville, o Antigo Regime ocupa páginas e páginas de trabalhos históricos (e de obras ficcionais).
No Brasil, o Antigo Regime mais e mais tem recebido atenção, inclusive a ponto de se propor o estudo de um “antigo regime nos trópicos”, evidenciando os aspectos econômicos, políticos, administrativos e culturais do “Brasil-colônia” em suas relações, ou melhor, no seu pertencimento ao complexo império ultramarino português. Sim, parece que podemos dizer que também vivemos sob um Antigo Regime, de modo que conhecer os elementos dessa configuração sociopolítica pode ser essencial para obtermos melhor compreensão de nosso passado. Leia Mais
Nova história em perspectiva. Propostas e desdobramentos (v. 1) | Fernando A. Novais e Rogério Forastieri Silva
Pensar os caminhos e desdobramentos da Nova História, suas implicações teóricas em meio aos discursos dos historiadores e situá-la no contexto geral da historiografia são algumas das propostas que norteiam este denso e instigante trabalho.
Organizado por Fernando Novais e Rogério Forastieri da Silva, professores de brilhante trajetória em universidades como a Universidade de São Paulo, Instituto de Economia da Unicamp e participação internacional em universidades como Louvain, Coimbra e Lisboa, este vem a ser o primeiro volume de uma coletânea de dois volumes: o primeiro intitulado “Propostas e desdobramento” e o segundo “Debates”. Leia Mais
Sul do Sul: memória, patrimônio e identidade | Carmem Schiavon, Adriana K. Senna e Rita de Cássia P. Silva
A população do arquipélago formado por nove ilhas e várias ilhotas de origem vulcânica foi batizada “açoriana” em reverência às aves da espécie falconídea (“açor”) que povoavam o lugar. Parte desses ilhéus que lá vivia imigrou para o extremo Sul do Brasil em meados do século XVIII, na esperança de conseguir melhores condições de vida e de alcançar um futuro próspero. O deslocamento para o Rio Grande de São Pedro configurou, desde o início, um grande desafio para aqueles que enfrentavam o percurso marítimo que os levaria às terras brasileiras. Ao longo das viagens, a carência de alimentos e a precariedade das condições de higiene fatalmente ocasionavam a emergência de enfermidades e mortes. O contingente que conseguiu sobreviver aos infortúnios da travessia teve um papel essencial na colonização e no desenvolvimento da região após 1752.
A partir desse enfoque, cada um dos autores do livro “Sul do Sul: memória, patrimônio e identidade” investiga a historiografia rio-grandense e luso-açoriana, observando-as criticamente. Organizada por Carmem Schiavon, Adriana Senna e Rita de Cássia Portela, a obra apresenta os resultados de pesquisas sobre os aspectos da história e da cultura do Rio Grande 1, privilegiando as tradições açorianas que se enraizaram entre a população residente naquele lugarejo. Leia Mais
The Shock of the Global: the 1970’s in perspective | Niall Ferguson
Recentemente, os anos 1970 tem chamado a atenção de muitos estudiosos, pelo fato de ter lançado muitas das bases do nosso mundo hodierno, em especial a globalização do final do século XX. Na introdução do livro, Niall Ferguson aponta como a porcentagem de crescimento do PIB mundial vem declinando desde os anos 1970 em todas as regiões, com exceção do Extremo Oriente. Mesmo assim, não se pode caracterizar os anos 1970 como um período de crise, pois a década de 1980 também foi marcada pela crise econômica mundial. Os anos 1970 podem ser vistos mais como o início das crises que afetaram o mundo no período subsequente e não como uma década de crise aguda em si. O milagre chinês, o colapso soviético e a efervescência política no mundo islâmico, todos têm suas raízes nos anos 1970. Leia Mais
La Grande Strategia dell´Impero Bizantino | Edward Luttwak
Edward Luttwak é um importante analista internacional, talvez um dos mais importantes pensadores vivos sobre estratégia e teoria estratégica. Nascido na Romênia em 1942, vive nos Estados Unidos há muitos anos, onde tem assessorado o Pentágono e o governo americano em questões estratégicas e internacionais (sempre numa perspectiva extremamente conservadora) e produzido um cem número de livros e análises sobre a questão da guerra, a geopolítica contemporânea e a posição dos Estados Unidos no mundo.
Luttwak tem manifestado sempre um imenso interesse e curiosidade pela história antiga e um dos seus livros, publicado originalmente em 1976 e que aborda a grande estratégia do Império Romano (LUTTWAK, 1995), se tornou um clássico, recebendo elogios e críticas contínuas. Tais críticas vieram de várias fontes, mas os historiadores especializados em história antiga ficaram especialmente incomodados quando ele procurou aproximar a estratégia romana da dos Estados Unidos pós-guerra do Vietnã, o que seria um anacronismo imperdoável [1]. Leia Mais
Estudos de Historiografia Brasileira | Lucia Maria Bastos Pereira Neves e Lucia Maria Paschoal Guimarães
Estudos de Historiografia Brasileira revela o sentido histórico e plural da produção historiográfica no Brasil. Trata-se de uma competente avaliação de percursos, teorias, métodos e autores que, no conjunto, fornece um panorama variado sobre as nossas formas de interrogar as relações dos homens no tempo.
A coletânea, afinal, resulta do I Seminário Nacional da História da Historiografia Brasileira, realizado no IFCH/UERJ em 2008. Neste evento, ficou claro aos participantes que as reflexões sobre a temática cresceram muito nos últimos anos, e que, além disso, fazem parte de um campo de conhecimento específico: a história da História. O livro – organizado por Lucia Maria Bastos Pereira das Neves, (PUC-RJ), Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ), Marcia de Almeida Gonçalves (UERJ/PUC-RJ) e Rebeca Gontijo (UFRJ) – traduz, portanto, um diálogo instigante entre historiadores de várias gerações e quadrantes brasileiros que se dedicam a pensar a história de seu próprio ofício. Leia Mais
Epistemologias da história: verdade, linguagem, realidade, interpretação e sentido na pós-modernidade | Gabriel Giannattasio e Rogério Ivano
Nas últimas décadas, e bem mais recente quando se tem por base o cenário brasileiro, os debates no campo da História (e também, claro, no da Filosofia e no das Ciências Sociais), mais especificamente na área de Teoria e Metodologia da História tem direcionado suas preocupações em torno de um objeto, ou pode-se dizer ainda, tema, ideia, paradigma, pois as designações são múltiplas. De fato, o que é possível afirmar, aqui sim com convicção, é que a pós-modernidade é a pauta do momento, seja para arrancar suspiros daqueles que a defendem e/ou idolatram, seja para nausear aqueles que acreditam que tudo isso não passa de mera invenção de alguns intelectuais equivocados. E é com a intenção de esclarecer alguns tópicos que a torrente pós-moderna e a enxurrada de problemas, novidades, embates etc que a ela são intrínsecos, que surge o livro organizado pelos historiadores Gabriel Giannattasio e Rogério Ivano. Leia Mais
Os Padres e a Teologia da Ilustração – Pernambuco 1817 – Antônio Jorge Siqueira
O historiador Manuel de Oliveira Lima, em seus escritos, relata que a Revolução Pernambucana de 1817 poderia também ser conhecida como A Revolução dos Padres. Não era para menos, a participação dos clérigos foi bastante vultosa, misturando as mais variadas ordens eclesiásticas e os seus diversos graus hierárquicos em um movimento que rompeu laços com o Império Lusitano por mais de 70 dias. Em 1817, o extenso bispado da Diocese de Olinda se encontrava vago, pois por volta de 1815 o clérigo que exercia a sua direção havia viajado à corte no Rio de Janeiro para receber a sagração episcopal (BERNARDES, 2006) e até então não retornara. Nesse ínterim, o cabido ficou responsável pelo controle do bispado, tendo o Deão Bernardo Luiz Ferreira Portugal como a sua maior autoridade. Rebentada a revolução em 06 de março de 1817, o deão apoiou o movimento com entusiasmo, emitindo ordens a toda a diocese e a todos os padres, para que abraçassem a pátria [1] e logo instruíssem os fiéis a fazer o mesmo. Além da adesão da maior autoridade eclesiástica do bispado à revolução, outro padre, João Ribeiro Pessoa de Mello Montenegro, Professor de desenho do Seminário de Olinda, foi um dos governadores que compôs a junta governativa, formada por cinco membros. Exemplos não faltarão sobre a participação do clero em 1817: além de ocuparem cargos governando a revolução, serviram como soldados, comandantes de tropas, emissários, propagadores dos ideais revolucionários e até o cronista por excelência de 1817 também era membro do clero. Trata-se de Francisco Muniz Tavares que nos legou a obra História da Revolução de Pernambuco em 1817, publicada pela primeira vez em 1840, um clássico da historiografia obrigatório para quem quiser entender o movimento de 1817. Leia Mais
The Invention of the Jewish People | Shomo Sand
Shomo Sand é professor de História Contemporânea na Universidade de Tel Aviv, Israel, autor deste livro, grande best-seller na sua versão original em hebraico, ganhador do prêmio Aujourd’hui, na França e cuja edição em inglês também foi muito difundida, tendo merecido numerosas resenhas, por nomes como Eric Hobsbawm e Tony Judt, entre outros. Sand destacou-se, nas últimas décadas, pelo estudo de temas centrais para entender o mundo contemporâneo, em particular, o papel dos intelectuais na formulação das identidades nacionais, questão da mais alta relevância para compreender a dinâmica da modernidade.
Nesta obra, não hesita as controvérsias, para tratar da invenção de uma identidade, a judaica, cujas características e contradições talvez parecessem por demais complexas e difíceis para outros estudiosos menos arrojados. Na esteira de Eric Hobsbawm, de Benedict Anderson e de outros pioneiros observadores da construção das identidades nacionais modernas, Sand procura mostrar que também a identidade judaica foi forjada em tempos modernos, tendo em vista, como nos outros países, a criar passados imaginários que substanciam relações políticas, econômicas, sociais e culturais da modernidade. Leia Mais
Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do século XIX | João José Reis
Estudos biográficos de indivíduos que experimentaram a escravidão – e mais ainda daqueles que conseguiram superá-la – representam um gênero narrativo de crescente interesse. Esses estudos se referem, sobretudo, ao complexo escravista do Atlântico Norte. As biografias de africanos e de seus descendentes permitiram perceber sob um novo ângulo, e de maneira mais humana, o movimento amplo da história, seja do tráfico de escravos, da ascensão e queda da escravidão no Novo mundo, da reconfiguração do Velho mundo pela colonização e pelo escravismo, enfim da formação de sociedades, economias e culturas atlânticas. É possível fazer dessas histórias pessoais uma estratégia para entender o processo histórico que constitui o mundo moderno e, em particular, as sociedades plantadas na escravidão que dele brotaram. Prospera, também no Brasil, o interesse por estudos biográficos desse tipo […] do sujeito que viveu na sombra do anonimato, de quem não se tem memória constituída, ou cuja memória pertence mais ao mito do que à história […]. (REIS, 2008, p. 315-6).
Com essas palavras, João José Reis justificou, no início do epílogo de seu novo livro Domingos Sodré, um sacerdote africano, o estudo que empreendeu para analisar a trajetória deste na Bahia escravista dos 800. Leia Mais
Poeta do Lápis. Sátira e política na trajetória de Angelo Agostini no Brasil Imperial (1864-1888) | Marcelo BAlaban
Em 2010 completaram-se cem anos da morte do artista italiano Angelo Agostini, o caricaturista responsável por ilustrações em importantes periódicos que circularam no Brasil do século XIX, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na primeira cidade, seus desenhos foram veiculados em dois jornais, Diabo Coxo (1864-1865) e Cabrião (1865-1867).
Já na capital do Império, logo após sua chegada, em 1867, contribuiu em O Arlequim, transformado em A Vida Fluminense. Neste periódico se manteve até 1871, quando seus desenhos passaram a surgir em O Mosquito, do qual somente se retirou em 1875, para fundar, no ano seguinte, a Revista Illustrada considerada por muitos autores como o principal periódico ilustrado do Brasil no século XIX. Possivelmente até mesmo os pesquisadores que não têm interesse por jornais de ilustração já devem ter lido, em algum momento de suas pesquisas, a frase de Monteiro Lobato (1956, p.16) sobre a Revista: “Quadro típico de cor local era o do fazendeiro que chegava cansado da roça, apeava, entregava o cavalo a um negro, entrava, sentava-se na rede, pedia café à mulatinha e abria a Revista”. Leia Mais
Camponeses brasileiros | Clifford Welch
Camponeses brasileiros é uma junção de textos clássicos que abordam a questão da natureza do campesinato nacional. A obra é um dos volumes que compõem a coleção História Social do Campesinato no Brasil, organizada, desde 2004, pelos pesquisadores Horácio Martins de Carvalho, Delma Pessanha Neves, Márcia Maria Menendes Motta, Carlos Walter Porto-Gonçalves e pela Via Campesina do Brasil.
Diante das várias formas de contestação e resistência camponesa que afloraram no século XX e de trabalhos que têm demonstrado a participação ativa dos pobres do campo nas revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, pode-se conferir ao campesinato também um “papel” de protagonista na história da humanidade. Mesmo assim, foram muitos os esforços que visaram apagá-lo da história, ora pela execução de políticas para expropriá-lo de seus territórios, ora pela formulação de teorias para excluí-lo da história (WELCH et al.). Leia Mais
As paixões intelectuais (3 volumes) – E. Badinter
A questão do poder e da eficiência dos intelectuais europeus é, sem dúvida, um ponto de controvérsia na historiografia internacional.
Questões como quando surgiram, como se organizam, o que pensam, como agem e o que fazem os intelectuais são fundamentais não apenas para entendê-los adequadamente, mas também para pensar e inquirir a história que foi e é escrita por eles e sobre eles. Sem deixar de lado esses questionamentos, mas detendo-se num momento que marcou a França e a Europa do século XVIII, Elisabeth Badinter nos ofereceu em sua obra As paixões intelectuais, publicada em três volumes, uma verdadeira radiografia de como surgiram e se organizaram os “intelectuais” franceses em torno do “grande público”, por meio do projeto aglutinador da “Enciclopédia”, tendo por base o “espaço público”, então em formação, com a imprensa periódica. Leia Mais
Mestres do passado: clássicos da sabedoria política moderna | Marcos Antônio Lopes
Um conjunto variado de temas – eis o que nos revela Mestres do passado, coletânea de ensaios do historiador Marcos Antônio Lopes. A obra apresenta a análise de alguns autores que a tradição interpretativa tem considerado como as grandes figuras do pensamento político moderno. De Maquiavel a Montesquieu, passando por Morus, Hobbes e Locke, o livro reúne uma seleção de filósofos tão diferentes quão interessantes. O autor se empenhou em incluir no grupo figuras menos prováveis de ocorrer numa história do pensamento político. São elas o místico italiano Giordano Bruno, o bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet e o intrépido Voltaire, autores que comumente são deixados de lado nas obras do gênero.
O ensaio de abertura do livro intitula-se “Para viver na posteridade: as tradições intelectuais e a permanência das obras de pensamento”. Ao final, o artigo “Esticando conceitos” funciona como um apanhado bastante sugestivo sobre o complexo conceito de política e de Estado tomado numa linha de continuidade que parte de Platão e Aristóteles para chegar a Marx, Weber e Bobbio. Ainda que separados pelos capítulos de exegese de textos clássicos da história da filosofia política moderna, textos que cobrem os séculos XVI, XVII e XVIII, os ensaios em referência são dois momentos nos quais Lopes discorre sobre conceitos operacionais e metodologias interpretativas e acerca de como ler as obras do passado. Leia Mais
Lei, trabalho e política no Brasil. Lutas sociais e reforma agrária (1945-1964) | Sandra Maria Castanho
O livro de Sandra Maria Castanho apresenta uma boa pesquisa e uma boa reflexão acerca dos temas candentes da nossa recente história rural, sobretudo a luta política dos trabalhadores rurais para se tornarem visíveis enquanto sujeitos sociais e de suas históricas reivindicações, como a reforma agrária e uma legislação social que lhes deem segurança em tempos de trabalho e em tempos de júbilo trabalhista. A autora parte deste campo de observação, mas não desvincula a atuação de outros agentes sociais, sobretudo a ação dos sindicatos (e de sua estrutura organizacional) e das instituições que se envolveram na articulação dessas lutas (como é o caso do Partido Comunista Brasileiro e da Igreja Católica).
Os temas e as questões colocados pela autora requerem um esforço metodológico importante. Nem a história do cotidiano da classe trabalhadora está desvinculada das instituições sindicais e partidárias nem a história dos partidos e sindicatos está desvinculada do cotidiano da classe trabalhadora. A autora retoma ideias de Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Hall (A Classe Operária no Brasil: 1889-1930. São Paulo: Brasiliense, 1981), quando enfatizam que sem a compreensão das condições de vida e de trabalho dos membros da classe trabalhadora articulada com a compreensão da natureza da burguesia e do Estado (e das suas instituições) durante o mesmo período o pesquisador poderá ser levado a uma descrição isolada e fora do contexto do mundo do trabalho, o que, na melhor das hipóteses, tornaria a análise “abstrata” e “equívoca”. Leia Mais
Religión y poder en las misiones de guaraníes | Guillermo Wilde
A promoção de lideranças indígenas e a busca da sua colaboração com o sistema colonial, mediante a ação de vários tipos de dispositivos de poder, constituíram um fenômeno marcante da experiência dos Guarani no espaço das missões. Tal experiência, longe de se caracterizar pela passividade, foi antes capitalizada pelos mesmos caciques a fim de requisitar benefícios da administração colonial, manter relações com populações do entorno das missões e manejar uma complexa atualização de suas tradições culturais. Fruto de ampla pesquisa documental e bibliográfica, o livro de Guillermo Wilde procura problematizar o processo de formação de lideranças indígenas entre os Guarani missioneiros, e sugere que os caciques não somente tiveram papel importante na formatação dos pueblos, mas também interferiram no tipo de poder instaurado ali pelo sistema colonial: “ocupando cargos en instituciones coloniales como los cabildos que se impusieron en todos los pueblos misionales”, afirma o autor, “fueron sujetos activos en la incorporación y transformación de categorías e instituciones” (p. 23-24).
Ao atuarem, de um lado, como reguladores das relações entre o interior do espaço missioneiro e o exterior, a vizinhança com colonos espanhóis e portugueses, índios não reduzidos e demais pueblos; e de outro, ao manejarem a relação entre o antes e o depois, entre “el ser infiel” e “el ser cristiano”, as lideranças indígenas (cujo poder era delegado pela própria colonização) contribuíam para a reconstrução e manipulação de identidades e relações políticas com os poderes coloniais. Leia Mais
Repressão política durante o regime militar no Paraná: ocaso da operação Marumbi na terras das araucárias | Leandro Brunelo
Na fatídica reunião do Conselho de Segurança Nacional realizada em 13 de dezembro de 1968, que baixou o Ato Institucional número 5, o coronel e ministro do trabalho Jarbas Passarinho assim justificou o seu voto: De minha parte, senhor presidente, quero, já que estamos em uma sessão histórica, quero me referir às vezes que ouvi de Vossa Excelência, não só coletivamente, como individualmente em despacho, palavras remarcadas de absoluta sinceridade, pois Vossa Excelência não estava, em nenhum momento, sendo menos sincero do que é agora, neste instante, quando Vossa Excelência, inclusive, aqui mesmo neste palácio, no dia do seu aniversário, chamou a atenção para o peso da responsabilidade da ditadura sobre os ombros dos homens, mesmo que fosse um triunvirato, que fosse um colegiado. Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim, e creio que a todos os membros deste conselho, enveredar para o caminho da ditadura pura e simples, mas parece que claramente é esta que está diante de nós. Eu seria menos cauteloso do que o próprio ministro das Relações Exteriores, quando diz que não sabe se o que restou caracterizaria a nossa ordem jurídica como não sendo ditatorial, eu admitiria que ela é ditatorial. Mas, às favas, senhor presidente, neste momento, todos, todos os escrúpulos de consciência. E quando nós encontramos a necessidade de tomar uma decisão fundamental, tudo aquilo que fundamental é em condições normais, passa a ser secundário em condições anormais. Leia Mais
Quaderni del Carcere: Edizione crittica dell’Istituto Gramsci a cura di Valentino Gerratana | Antonio Gramsci
Uma obra pode ser considerada um clássico quando projeta influência para além de seu tempo e espaço. Assim pode ser definida a obra de Antônio Gramsci (1891-1937), cuja influência sobre as Ciências Sociais e Humanas pode ser medida pelo grau de apropriação que as diferentes matrizes e correntes epistemológicas fizeram de seus escritos.
A leitura de Gramsci sobre o desenvolvimento histórico da sociedade italiana e suas análises sobre os problemas culturais, sociais, políticos, econômicos e educacionais de seu tempo tornaram seu pensamento um importante referencial teórico sobre o século XX. Leia Mais
L’histoire des jésuites en Haïti aux XVIIIe et XXe siècles (1704-1763 – 1953-1964) | François Kawas
A Companhia de Jesus teve e ainda tem tido uma decisiva presença na história da América. Este fato, para ser avaliado de modo mais adequado, deve ser considerado juntamente com a ação política, catequética e pedagógica desses padres. Além disso, é necessário lembrar os freqüentes conflitos com as demais ordens religiosas, com os colonizadores, com as autoridades civis, além, é claro, dos protestantes. Esses conflitos, em várias ocasiões, determinaram expulsões ou escaramuças localizadas. Assim, a discussão sobre o papel desempenhado pelos jesuítas na colonização da América torna-se não só um atrativo acadêmico, mas também uma necessidade de atualização do próprio debate acadêmico. Esse debate pode esclarecer vários pontos dessa história, não só os aspectos catequéticos ou religiosos, mas também os políticos e administrativos. No entanto, o acesso às fontes primárias é difícil para a maior parte dos pesquisadores e os deslocamentos para os lugares onde elas podem ser encontradas são custosos. Além disso, é comum a precariedade da conservação e da organização de boa parte dos documentos existentes, o que também dificulta a pesquisa. Leia Mais
História: a arte de inventar o passado | Durval Muniz Albuquerque Junior
Às vezes sigo o (dis)curso, às vezes saio das margens, transbordo, alago, arrasto em meu caminho outras formas organizadas e as transformo em novas formas, e ambas compõem o meu existir de rio. Às vezes objetivado, às vezes sujeitado, às vezes objetivo, às vezes subjetivo, sempre os dois ao mesmo tempo, eu sou rio e eu sorrio, eu, natural e humano, cursivo e discursivo, invento na história e a História (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007, p. 36).
O livro de Durval Muniz Albuquerque Junior História: a arte de inventar o passado reúne uma coletânea de 16 artigos que têm por objetivo refletir sobre a escrita da História, com destaque para a relação entre História e Literatura, bem como fazer uma análise sobre o pensamento de autores de significativa importância para a historiografia contemporânea, entre eles Michel Foucault. Leia Mais
História y teoria social | Peter Burke
Historia y teoria social, de autoria de Peter Burke, é um livro que tem como objetivo principal discutir as aproximações e contribuições da teoria social para os historiadores, a utilidade da história para os teóricos sociais e as contribuições da história e da sociologia na produção do conhecimento do social.
A obra é dividida em seis capítulos. No primeiro encontram-se questões que perpassam as relações entre a história e a sociologia, as quais, segundo o autor, apesar do interesse comum – o estudo do social -, nem sempre foram boas vizinhas, pelo fato de que historiadores e sociólogos, dentro dos limites de suas concepções e do exercício de sua ciência, construíram visões estereotipadas. Historiadores questionam o caráter científico da prática dos sociólogos, alegando que estes não vão além de suposições genéricas, descontextualizadas no tempo e no espaço, apenas classificatórias dos indivíduos. Já os sociólogos falam do historiador como um profissional que coleta informações e faz uma exposição da história, sem embasamento em uma teoria ou método. Leia Mais
Forças Armadas e Política no Brasil | José Murilo de Carvalho
As reflexões sobre a história das Forças Armadas no Brasil têm mudado seu foco nos últimos anos. Com maior zelo empírico e com menor propensão para apriorismos teóricos e políticos, um conjunto crescente de pesquisadores – composto de civis e militares, é bom que se diga – tem ampliado seus interesses, fazendo com que a historiografia sobre as Forças Armadas no Brasil cresça em quantidade e qualidade. Melhor ainda: o debate historiográfico tem sido enriquecido pela variação temática e pelo aperfeiçoamento teórico e metodológico, com proveitos recíprocos. Ao invés de esses pesquisadores se ocuparem quase exclusivamente com a intervenção militar na política, a instituição castrense é estudada como um todo, sem prejuízo de suas relações com a sociedade não fardada.
Nesse sentido, é oportuna a publicação do livro de José Murilo de Carvalho, “Forças Armadas e Política no Brasil” (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005), coletânea de artigos e ensaios escritos pelo autor ao longo de mais de duas décadas de pesquisa sobre as forças armadas brasileiras. A estrutura do livro é dividida em três partes: a primeira delas, “História”, reúne os artigos mais “clássicos” e metodologicamente basilares das reflexões sobre a trajetória das Forças Armadas brasileiras no século XX. Leia Mais
Voltaire político: espelhos para príncipes de um novo tempo | Marcos Antônio Lopes
Voltaire, um conservador?
Nesse novo livro, o professor Marcos Antônio Lopes oferece uma interpretação de como Voltaire, considerado pelo autor como o “Plutarco do Iluminismo”, analisou a política de sua época e escreveu sobre ela, descrevendo a organização de sistemas de governo e a maneira como os príncipes e imperadores da época manifestavam sua ação perante o Estado, em suas biografias comparativas. O texto foi originalmente uma tese de doutorado em História, defendida em 1999, na Universidade de São Paulo. Partes da tese já foram publicadas, em versões reformuladas, sob os títulos de: Voltaire literário em 2000, pela Editora Imaginário, e Voltaire historiador em 2001, pela Editora Papirus. O que o leitor encontra neste novo livro é a parte inédita da tese, que também aparece bastante revista pelo autor. O texto foi dividido em cinco capítulos, antecipados por uma introdução e por uma bela apresentação escrita pelo professor Norberto Luiz Guarinello. Leia Mais
Los usos de las imágenes: estúdios sobre la función social del arte y la comunicación social | Ernst H. Gombrich
Ernst Gombrich (1909-2001) é um dos historiadores da arte mais bem-conceituados internacionalmente. Sua obra abrange livros como A história da arte, Arte e ilusão e vários volumes que reuniram ensaios como: Temas de nuestro tiempo, Meditations on a Hobby Horse, La imagen y el ojo, entre outros. No decorrer de sua trajetória intelectual, ministrou aulas de História da tradição clássica, na Universidade de Londres e foi diretor do Instituto Warburg, organização deslocada para a capital da Inglaterra após a diáspora causada pelo nazismo, que obrigou intelectuais alemães a se exilarem em várias partes do mundo.
A produção de Gombrich, como destacou Omar Calabrese (1987), apresenta traços do chamado “visualismo” de Riegl e do “formalismo” de Wolfflin – pesquisadores germânicos com os quais conviveu no Instituto Warburg. Tanto é que criticou duramente as abordagens sobre a arte, fundamentadas em princípios sociológicos, como foi o caso da obra Historia social da literatura e da arte, de Arnold Hauser (1982). Leia Mais
O integralismo nas águas do Lete: história, memória e esquecimento | Rogério Victor Lustosa
A problemática da memória e as suas múltiplas abordagens têm se tornado um tema recorrente na produção da História nas últimas décadas. A historiografia que aborda o movimento integralista não foge desse novo enfoque, tendo sido produzidos, nos últimos anos, vários trabalhos para analisar tanto a forma como os militantes da Ação Integralista (novos e velhos) interpretam e reelaboram seu próprio passado, quanto a maneira como outros agentes políticos e sociais interpretavam o movimento dos camisas-verdes.
Trabalhando nessa seara, o jovem pesquisador Rogério Lustosa Victor apresenta uma importante colaboração ao tema. No livro ora resenhado, o qual foi apresentado inicialmente como dissertação de mestrado na Universidade Federal de Goiás em 2004 e publicado no ano seguinte, a questão da memória integralista é trabalhada nos mais diferentes ângulos, sendo oferecidas importantes reflexões ao estudioso do tema. Leia Mais
Ancient Warfare | Harry Sidebottom
O estudo da guerra tem passado por grandes modificações, nos últimos anos. Na esteira da explosão das identidades e do reconhecimento da diversidade, sob influxo, também, do pós-modernismo, a guerra passou a ser revista. Manifestação de cultura, ela tem sido vista como parte constitutiva da dinâmica social. O estudo da Antigüidade tampouco deixou de ser afetado por tais questionamentos epistemológicos. Sidebottom procura, com esse livro, introduzir o leitor à pletora de discussões em curso, e o faz com imenso êxito. O autor, professor de estudos clássicos em Oxford, demonstra que mesmo temas na aparência tradicionais e eruditos podem ter alta relevância, tanto historiográfica como social e política.
Começa por enfatizar a relevância do tema para os nossos dias, com destaque para a invenção do conceito de “modo ocidental de guerrear”: o desejo de luta aberta, em batalha decisiva, visando à aniquilação do inimigo. Luta conduzida por um exército bem-equipado, sustentado pela infantaria. A batalha deve ser ganha pela coragem, introduzida pelo treinamento e disciplina. Para isso, seriam necessárias a liberdade política e a propriedade, naquilo que se chama “militarismo cívico”. Inventada pelos gregos, teria sido recebida pelos romanos e renascido na modernidade. A invasão do Iraque, apoiada pelo idealizador da tal teoria, assessor de Rumsfeld, Victor Davis Hanson, historiador militar da Grécia antiga, seria o corolário dessa teoria. Seus livros, traduzidos em muitas línguas, entre elas o português, são best-sellers. Mais do que isso, foi um dos grandes responsáveis pelas decisões que levaram às guerras que presenciamos, neste início de século. Leia Mais
Ideologia Autoritária | Guido Rodriguez Alcalá
Um problema sempre recorrente quando se fala da integração latino-americana no plano cultural é a dificuldade de comunicação entre as metades de origem espanhola e portuguesa do continente. Os livros, revistas e jornais argentinos, mexicanos ou espanhóis circulam pelo imenso espaço entre o México e a Terra do Fogo, formando um conjunto que não é nem de longe homogêneo, mas se comunica através de uma língua comum. A produção cultural brasileira, em língua portuguesa, contudo, não tem esta repercussão fora do país, e nem mesmo entre nossos vizinhos mais próximos há uma real demanda por ela. Como contrapartida lógica, o que se produz na América hispânica nem sempre chega às estantes do Brasil, o que dificulta o diálogo e as trocas numa região que se aproxima, economicamente, cada vez mais.
Numa iniciativa do Itamaraty, surgiu a Coleção América do Sul, cujo objetivo é colocar à disposição do público brasileiro obras fundamentais, publicadas por conhecidos escritores e pesquisadores dos países da América do Sul, para o conhecimento destes países. Tais obras, devidamente traduzidas para o português, buscam estimular no leitor brasileiro o interesse pela nossa própria região do mundo e aproximar as duas metades do continente latino-americano. Tal idéia é mais do que meritória, nem tanto pela tradução dos livros (já que é impensável que um leitor culto de português seja incapaz de ler espanhol), mas pelo fato de disponibilizar, no Brasil, obras de interesse que dificilmente circulariam no país sem o apoio oficial. Leia Mais
Conquista Espiritual. A história da evangelização na Província do Guairá na obra de Antonio Ruiz de Montoya, S. I. (1585-1652) | Jurandir Coronado Aguilar
O livro trata da história da evangelização feita pelos jesuítas no início do século XVII no Guairá, região da fronteira do Brasil com o Paraguai. Pelo lado brasileiro é a região de Guairá, no Paraná. A figura do padre Antonio Ruiz de Montoya S. I. (1585-1652) é destacada pelo autor e analisada mais detidamente. A obra é resultante das pesquisas feitas pelo autor em seu doutorado em História da Igreja cursado na Pontifícia Universidade Gregoriana do Vaticano. A pesquisa mereceu o Prêmio Bellarmino de 2001 e foi publicada no ano de 2002 em Roma. O texto é apresentado em português.
O autor é presbítero da diocese de Campo Mourão, no Paraná, desde 1989. Sua formação sacerdotal básica foi realizada nos seminários de Maringá e Londrina, no Paraná, e em Florianópolis, Santa Catarina (Instituto Teológico). Leia Mais
Palmares, ontem e hoje | Pedro Paulo Funari
Escrito a quatro mãos, o ensaio Palmares, ontem e hoje é mais uma das primorosas narrativas da coleção Descobrindo o Brasil, editada pela Jorge Zahar Ed. Calcado num dos temas mais consagrados da nossa historiografia, o texto de Pedro Paulo Funari e Aline Viera de Carvalho aborda com maestria e originalidade as principais questões que envolvem a saga palmarina desde o período de formação do quilombo até as descobertas mais recentes no campo da arqueologia.
Fugindo das tradicionais e – por que não dizê-lo? – esquemáticas abordagens introdutórias aos episódios marcantes da nossa história, os autores apresentam o quilombo de Palmares como um problema historiográfico, ou seja, um fato histórico que foi e continua sendo constantemente reescrito por historiadores, sociólogos, arqueólogos e antropólogos. Tal honestidade profissional demanda naturalmente um convite ao leitor a compreender os meandros da escrita da história e a produzir suas próprias idéias sobre os fatos tratados. É isso que os autores literalmente fazem ao mostrar como o estudo da história implica na discussão da relação passado e presente, dado que dela resulta o discurso do historiador. Leia Mais
O camponês e a história: a construção da ULTAB e a fundação da CONTAG nas memórias de Lyndolpho Silva | Paulo Ribeiro Cunha
Em 1952, o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) resolveu chamar um amplo pleno sindical, que reformulou as linhas gerais de atuação dos comunistas frente ao movimento sindical. A resolução aprovada neste pleno orientava que os comunistas voltassem a atuar junto aos sindicatos existentes, ampliassem as reivindicações trabalhistas, forjassem alianças com outras forças políticas, notadamente os petebistas, e retomassem a luta pela sindicalização e unidade sindical.
A partir desse momento os comunistas vão investir fundo na “exploração dos espaços legais existentes”, procurando organizar o movimento sindical tanto “por baixo”, como “por cima”. “Por baixo”, fazendo um esforço para organizar a formação de “comissões de fábrica”, de “comissões de salários” e jogando as decisões fundamentais para as assembléias por categorias e gerais. “Por cima”, procurando criar organismos que pudessem contemplar a unidade da classe trabalhadora. Primeiro com o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), surgido durante a grande greve de 1953, mais conhecida como a greve dos “300 mil”; depois com o Pacto de Unidade e Ação (PUA) e por fim, com o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que se transformou na mais importante organização sindical vertical, fora da estrutura oficial, até o golpe de 1964. Aliás, o PCB só conseguiu liderar a “greve dos 300 mil” de 1953 e aquelas que a sucederam, nos anos imediatos, porque operou, previamente, “um realinhamento de sua política sindical, reaproximando-se dos trabalhistas e dos sindicatos oficiais e rompendo, neste ponto, com a estratégia maximalista e foquista que havia patrocinado experiências armadas no campo”, como bem frisou Gildo Marçal Brandão [2]. Leia Mais
As esquinas perigosas da História: Situações revolucionárias em perspectiva marxista | Valério Arcary
Em nossos dias, o tema da revolução socialista é capaz de provocar constrangimento em boa parcela da intelectualidade e das organizações políticas da esquerda brasileira. Vivemos em um período no qual a maioria das organizações de esquerda reduziu as expectativas de transformações políticas e sociais e decidiu seguir o conselho que sugere “contrair o horizonte utópico”.
Para Valério Arcary, no entanto, o tema da revolução social continua atual. Ele julga que a democracia, mesmo assentada no sufrágio universal, é incapaz de esgotar as possibilidades e as necessidades, sentidas pelo proletariado, de promover transformações sociais e políticas. Leia Mais
Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe | Gilberto Hochman e Diego Armus
O livro Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe, formado de 14 capítulos, é apresentado e introduzido por textos de seus organizadores. Segundo Gilberto Hochmann – pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (Brasil) – e Diego Armus – professor do Swarthmore College (EUA), a idéia inicial que motivou a organização da coletânea ora apresentada era oferecer ao leitor brasileiro uma obra que instigasse à reflexão “sobre as relações entre saúde, doença e sociedade na América Latina em perspectiva histórica, espelhando o estado da arte neste campo emergente e constituindo uma referência, e mesmo um livro-texto para profissionais, professores e estudantes das áreas de história, saúde coletiva, medicina, ciências sociais e humanidades em geral” (p.09). Porém, a coletânea apresentada certamente extrapolará os objetivos territoriais de seus organizadores, na medida em que traz informações e reflexões importantes para todos aqueles que, de um modo ou de outro e independentemente da nacionalidade, estão envolvidos com o campo temático, especialmente se for levado em conta que o livro contém textos já publicados – alguns dos quais já consagrados como referências, tanto no Brasil quando no exterior –, adaptados ou atualizados, e textos inéditos, encomendados especialmente para esta publicação. Leia Mais
Jesuítas e Inquisidores em Goa: a cristandade insular (1540-1682) | Célia Cristina da Silva Tavares
O livro de Tavares é resultado de sua tese de doutorado, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, sob a orientação de Ronaldo Vainfas. Para quem se interessa ou pesquisa a história de Portugal, seus domínios e as questões que emergem desse contexto, Jesuítas e Inquisidores em Goa é um texto atrativo, agradável, denso e, por tudo isso, interessante.
O tema do livro é a relação do Ocidente com o Oriente no período de domínio dos portugueses sobre a Índia. O título do livro já evidencia qual o objeto trabalhado: a cristandade na ilha de Goa num período determinado, utilizando-se para explicar o conceito de cristandade a atuação da Companhia de Jesus e do Tribunal da Santa Inquisição. A autora apresenta como justificativa para a delimitação histórica o espaço de tempo entre o recrudescimento da repressão portuguesa à religião hindu, com a destruição de templos (1540), até a criação de uma congregação religiosa masculina exclusiva de padres nativos – Congregação do Oratório da Santa Cruz dos Milagres (1682), período esse em que tanto a Companhia de Jesus como a Inquisição são bastante atuantes no Oriente como um todo e em Goa de forma particular. A fundação da nova ordem religiosa simbolizou “a atitude do clero nativo diante dos problemas de enquadramento na vida eclesiástica local, mais especificamente, no anseio de participação nas actividades missionárias, e desnuda as grandes contradições do processo de cristianização que se desenvolveu na capital do Estado da Índia” (p. 29). Leia Mais
Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica | Edward Telles
Edward Telles nasceu nos Estados Unidos, onde atualmente é professor de Sociologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Viveu no Brasil alguns anos, lecionando como professor-visitante na Unicamp e, posteriormente (1997-2000), trabalhando como Assistente do Programa de Direitos Humanos da Fundação Ford, no Rio de Janeiro. Após publicar diversos artigos em periódicos nacionais e internacionais acerca das relações raciais no Brasil, publica o livro Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica.
A obra está dividida em dez capítulos (Da supremacia branca à democracia racial; Da democracia racial à ação afirmativa; Classificação racial; Casamentos inter-raciais; Segregação residencial; A persistência da desigualdade racial; Discriminação racial; Formulando políticas adequadas; Repensando as relações no Brasil). Seu objetivo é reexaminar os argumentos apresentados na história dos estudos das relações raciais no Brasil; elucidar a lógica interna de funcionamento do sistema racial brasileiro e fazer uma análise comparativa do modelo racial daqui com o dos Estados Unidos (e, em menor escala, com o da África do Sul), por intermédio, sobretudo, do método quantitativo. O livro é fartamente amparado por tabelas e dados estatísticos. Leia Mais
Muitas memórias, outras histórias | Déa Ribeiro Fenelon, Laura Antunes, Paulo R. de Almeida e Yara A. Khoury
A coletânea “Muitas memórias, outras histórias”, organizada pelos professores Déa Ribeiro Fenelon, Laura Antunes Maciel, Paulo Roberto de Almeida e Yara Aun Khoury, apresenta o resultado dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores que integram o PROCAD – Programa Nacional de Cooperação Acadêmica – composto por docentes de diferentes instituições de ensino superior [3]. Esse projeto, desenvolvido entre 2001 e 2004, promoveu um intercâmbio de experiências entre pesquisadores das ciências humanas visando ao fortalecimento de questões relacionadas à memória e à história.
No seu conjunto, o volume reúne ensaios que, mediante distintas interpretações, apresentam abordagens que enfocam a memória, compreendida como uma das mais importantes experiências do tempo, representadas pela capacidade humana de reter vínculos com o passado e de reconhecer neles múltiplas experiências do viver. A memória, no entendimento dos autores, faz “falar o indizível”, trazendo para o presente momentos históricos pretéritos e experiências silenciadas. Leia Mais
O imaginário da cidade. Visões literárias do urbano | Sandra Jathay Pesavento
Gravuras, desenhos e fotografias mostrando os vários lugares e espaços originais das cidades de Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre, em meados do século XIX e inícios do XX, compõem o livro Imaginário da Cidade. Visões literárias do urbano, de Sandra Jatahy Pesavento2. Algumas dessas imagens nos remetem à Paris de 1739 a 1876, aos sobrados sombrios das ruas Marmousets, Pirouette e de la Colombe – hoje desaparecidas em função das reformas urbanas. Outras revelam paisagens de Porto Alegre (no início do século XX) e do Rio de Janeiro (na segunda metade do século XIX). O mercado público, as praças e as ruas da capital gaúcha são flagrados em sua modesta suntuosidade por fotógrafos desconhecidos. A modernidade da Avenida Central da cidade carioca, com seus suntuosos palacetes, se justapõe aos registros de moradias populares (como os cortiços) e da destruição de morros da cidade – cenas captadas pelas lentes das câmeras de Victor Frond, Marc Ferrez e Augusto Malta. Leia Mais
Fascism outside Europe. The European impulse against domestic conditions in the difusion of global fascism | Stein Ugelvik Larsen
O norueguês Stein Larsen é um conhecido estudioso do tema do fascismo global. Entre seus vários trabalhos, destaca-se a coletânea Who were the fascists? Social roots of European fascism (Oslo, 1980), a qual se constitui num livro clássico a respeito das bases sociais do fascismo europeu, da teoria do fascismo e do estudo comparativo entre os vários movimentos e regimes fascistas da Europa.
No presente trabalho, Larsen mantém a sua predileção por grandes coletâneas com colaborações de autores dos mais diferentes países e continua a se dedicar à história comparativa com vistas à elaboração de uma teoria geral do fascismo. No entanto, ele ampliou sobremaneira, com relação ao seu trabalho anterior, de vinte anos atrás, o enfoque da comparação e também o tipo de perguntas a que ele pretende responder. Leia Mais
A leitura e seus lugares | Júlio Pimentel Pinto
Júlio Pimentel Pinto, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), é um historiador que, em sua produção, tem se voltado para os estudos acerca das relações entre a História e a Literatura. Seu trabalho de doutoramento, intitulado Uma memória do mundo: ficção, memória e história em Jorge Luis Borges (publicado pela Editora Estação Liberdade, em 1998), já apresentava um pesquisador instigante, um narrador eficaz e, acima de tudo, um crítico preocupado em não perder a especificidade das áreas pelas quais transita.
Seu trabalho mais recente, A leitura e seus lugares (2004), como o próprio título sugere, reúne ensaios cuja temática principal é a leitura e, mais especificamente, os lugares ocupados por esta prática na historiografia e na ficção. Os textos apresentados no livro – estruturado em quatro blocos ou partes, com três ensaios cada um – foram escritos em diferentes momentos e são, em sua maioria, fruto de reflexão acadêmica (quatro destes textos já haviam sido publicados em revistas especializadas), sendo que cinco dos doze ensaios derivam de cursos de graduação e pós-graduação. Leia Mais
Bastardos do Império: Família e sociedade em Mato Grosso no século XIX | Maria Adenir Peraro
A publicação de “Bastardos do Império: Família e sociedade em Mato Grosso no século XIX”, de Maria Adenir Peraro, é motivo de honra e orgulho múltiplos, quer por parte do Programa de Pós-Graduação em História, da UFPr, de cujos bancos escolares a obra é resultado de tese de Doutorado, quer para o Programa de Pós-Graduação em História, da UFMT, do qual a pesquisadora é integrante. Não bastasse isto, a obra expressa uma política editorial corajosa e encorajadora no sentido de abrigar publicações ditas “regionais”, conotação esta que tem dificultado a inserção acadêmica de temas e objetos relevantes e pertinentes e que extrapolam o caráter “local”. Particularmente, os centros de pesquisa cujo foco reside nas questões de fronteira, populações, territórios e identidades, foram os grandes beneficiados, pois a obra vem chancelar, não apenas um grandioso esforço na preservação de fontes paroquiais, mas, sobretudo, um importante patrocínio institucional à pesquisa da história da família. Neste sentido, imprescindível reconhecer o apoio da Cúria Metropolitana de Cuiabá, que facilitou o acesso ao seu acervo documental. Leia Mais
Negócios jesuíticos: O cotidiano da administração dos bens divinos | Paulo de Assunção
Negócios jesuíticos é um livro atrativo. O titulo sugere um tratamento inovador a respeito de um tema já bastante estudado, como a Companhia de Jesus. A edição é muito bem cuidada, com uma bela apresentação gráfica. O sumário predispõe o leitor para uma fruição “redonda” do assunto. A documentação referenciada é vasta. Assim, foi com avidez por melhor conhecer a atuação econômica da Companhia que nos dedicamos a uma atenta leitura dessa obra de quinhentas e seis páginas
No prefácio desse alentado e atrativo volume, Mary del Priore afirma:
Negócios Jesuíticos abre um vasto campo de reflexão e de pesquisa sobre a ordem religiosa que mais marcou a história de nossa colonização. O livro completa inteligentemente o grande canteiro de pesquisas internacionais que o tema dos jesuítas inspirou e segue ensejando. Ao mesmo tempo rigorosa e lúcida, sua narrativa traduz conhecimentos sobre a sociedade, a política, e a economia do período em questão, introduzindo-nos a uma história social da ordem religiosa. Obra obrigatória para conhecer um período-chave de nossa história, ela ainda confirma o talento de um refinado e arguto historiador. Leia Mais
A Era dos Festivais – Uma Parábola | Zuza Homem de Mello
Os festivais da canção realizados ao longo das décadas de 1960 e 1970 constituem, sem dúvida, marcos significativos na trajetória da história da música brasileira. Nesse período, novos talentos foram descobertos, movimentos musicais se renovaram e redimensionaram a música popular brasileira. Uma revisão do conceito de MPB impulsionou intensos debates acerca das relações entre a música e a política, fomentou discussões sobre a estética e suas articulações com o social. No bojo dessa efervescência cultural, compositores, músicos e intérpretes se depararam com as limitações impostas pelo regime militar, seus atos de exceção e, principalmente, pela ação censória. Não por acaso, muitos dos artistas envolvidos nos embates estéticos e políticos do período foram exilados, perseguidos e presos.
A Era dos Festivais – Uma Parábola reporta o leitor à magia dos festivais e o coloca diante da euforia do público, da competitividade entre os participantes, dos bastidores dos eventos musicais. O volume que integra a coleção “Todos os Cantos”, publicada pela Editora 34, se mostra envolvente como uma crônica, mas alia à narrativa romanceada uma vasta documentação, capaz de suscitar múltiplos interesses e chamar a atenção das mais distintas gerações. Zuza Homem de Mello atua como “testemunho ocular da história” – parafraseando o locutor do memorável programa Repórter Esso; envereda pela atmosfera agitada daqueles anos e apresenta versões controvertidas de casos pitorescos flagrados durante a realização dos festivais. Leia Mais
A Social History of Anthropology in the United States | Thomas C. Patterson
Pode escrever-se uma história da ciência apenas a partir da discussão de questões metodológicas? Pode isolar-se a história de uma ciência social de sua inserção no tecido social? Podem entender-se as transformações de uma disciplina sem relacioná-las aos avatares da política? Questões como estas parecem teóricas no contexto internacional da história das ciências, na medida em que a academia faz parte da sociedade e, por isso, nunca poderia ser dela desvinculada. No Brasil, contudo, assim como em outros países periféricos, a ciência, imbricadíssima com as vicissitudes da política, tem sido considerada por alguns como atividade impérvia às relações de poder, importação tecnológica periférica que se ressentiria somente do atraso metodológico. Neste contexto, adquire particular importância o livro de Thomas C. Patterson sobre a trajetória da Antropologia nos Estados Unidos. Patterson considera as condições históricas que permitiram a existência da disciplina, assim como as circunstâncias nas quais o conhecimento antropológico foi produzido, ressaltando que as contradições nesse conhecimento produzido pelos antropólogos americanos refletem divisões nas sociedades. Leia Mais
A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII | Giovanni Levi
A Herança Imaterial, do historiador italiano Giovanni Levi, chegou ao Brasil quinze anos após sua publicação pela editora Einaudi, em 1985, conservando o seu título original, (L’eridità immateriale. Carriera di un esorcista nel Piemonte del seicento. Torino: Einaudi, 1985) uma vez que na França tinha sido publicada como Le pouvoir au village. A tradução, sim, manteve o prefácio de Jacques Revel entitulado “A história ao rés-do-chão”, publicada pela primeira vez na edição francesa (Paris: Gallimard, 1989). Esse prefácio oferece numerosas pistas que facilitam a leitura deste livro que já foi consagrado como um clássico da micro-história por parte da crítica especializada. Ora, nesta breve resenha pretendo entrar na análise, não tanto do conteúdo, mas sobretudo do método desta produção historiográfica, em especial naquilo que caracteriza a micro-história italiana, ou seja, a redução da escala de análise no seu método de pesquisa e, em seguida, o jogo entre a dimensão detalhada do enfoque e a escala ampliada do contexto social que lhe atribui sentido e que é enriquecido com as novidades provenientes da microanálise. Leia Mais
América latina no século XIX: tramas, telas e textos | Maria Lígia Coelho Prado
Não existe historiador que se preze que jamais tenha tomado contato com as obras de Bloch, Thompson, Duby, somente para citar alguns, independentemente da área de atuação ou do objeto de estudo de sua especialidade. Isto se dá não apenas por serem autores ditos “clássicos”, mas, sobretudo, por tratar-se de textos cuja leitura permite discutir, transcendendo a problemática proposta, a própria disciplina histórica. O livro da Profa. Maria Lígia Prado, sem ter a pretensão de ser um “clássico”, convida o leitor à analise de diferentes possibilidades de abordagem para a história. Apesar da delimitação sugerida pelo título, não se trata de um livro restrito aos latino-americanistas. Pelo contrário, interessa a todos que buscam refletir sobre a escrita da história, com ênfase sobre a (nova) história política e os imaginários sociais. Utilizando o recurso da análise comparativa, Maria Lígia Prado tece a trama do século XIX latino-americano abrindo mão de uma narrativa cronológica, ao promover uma separação temática dos ensaios, sem, no entanto, abandonar, no enredo subjacente, os marcos temáticos da história latino-americana. Assim, o livro começa com a guerra de independência e termina com a discussão dos projetos de identidade nacional, passando por propostas de independência frustradas, por projetos pós-independência, pela consolidação de instituições, pela literatura e vida cultural e, ainda, pela consolidação do Estado Nacional. Em cada um desses tópicos houve a escolha de um foco privilegiado para a análise. Leia Mais
Pré-História do Brasil: As origens do homem brasileiro; O Brasil antes de Cabral; Descobertas arqueológicas recentes | Pedro Paulo Funari e Francisco Noelli
Até princípios do século XX, a história das populações pré-históricas aborígenes que habitaram o atual território brasileiro era um tema pouco conhecido e sobre o qual não existia interesse maior. Afortunadamente, estas concepções, que silenciavam a rica e complexa História desses povos, paulatinamente foram ficando para trás. Precisamente, “Pré-história do Brasil…”, escrita por dois importantes arqueólogos brasileiros, resulta ser uma obra clara e simples que permite ao leitor obter uma idéia geral sobre o processo de ocupação humana do território onde hoje está o Brasil. Por sua vez, possui uma linguagem amena, que evita terminologias complexas, próprias do jargão arqueológico, fazendo com que o livro possa chegar a um público amplo e heterogêneo. Leia Mais
Em busca do Povo Brasileiro – Artistas da revolução, do CPC à era da TV | Marcelo Ridenti
A utopia de uma efetiva aproximação entre os intelectuais, os artistas e o povo brasileiro é o tema central desse livro de Marcelo Ridente, que, em última instância, trata da produção cultural inspirada no âmbito da então sonhada Revolução Brasileira. Apesar das especificidades de cada uma das áreas artísticas abordadas, é possível observar, através do estudo proposto, as diversas problemáticas que nortearam a produção cultural brasileira, em meados dos anos 60 e 70 – um período de intensos debates sobre a viabilidade do projeto de modernização do País. Nessa direção, o estudo privilegia a análise de obras, cuja proposta não escamoteia a intenção do artista em revelar ao espectador a história de sua gente, analisar o presente e projetar o futuro da sociedade brasileira.
A pesquisa de Ridente se insere no âmbito das preocupações que se aproximam dos pressupostos teóricos e metodológicos da chamada História Nova, capaz de reconhecer, em todas as marcas da inteligência humana, objetos de estudo para a disciplina. A história – asseguraria Jacques Le Goff, um dos expoentes da Escola dos Annales – deve perscrutar as fábulas, os mitos, os sonhos da imaginação (1990, p. 107). Nesse sentido, os historiadores, no decorrer do século XX, propuseram a superação das premissas positivistas, responsáveis pelo confinamento das pesquisas aos documentos escritos, e muitas vezes, oficiais. A terceira geração dos Annales ampliou as possibilidades da escrita da história, propondo a utilização de tipos de fontes diferenciadas: documentos que abarcam formas de linguagem não escrita, depoimentos orais, registros judiciais, artísticos, literários, entre outros. Leia Mais
Introducción a la Arqueología Histórica | Charles E. Orser Junior
Este é o principal manual introdutório de Arqueologia Histórica, síntese da experiência de um pesquisador com uma formação múltipla e profunda em Arqueologia, História e Antropologia. O grande mérito da obra é a capacidade de apresentar, historiar e conceituar o desenvolvimento dos principais aspectos teóricos, técnicos e políticos da Arqueologia Histórica, “uma subdivisão autônoma da Arqueologia” com pouco mais de trinta anos de existência.
Para Orser Jr., “a grande maioria dos arqueólogos diria hoje que seu campo de investigação compreende tanto a história como a antropologia, como outras disciplinas relacionadas, incluindo por exemplo a geografia histórica e cultural, a economia política e a cartografia. Assim mesmo, a Arqueologia Histórica não é nem história, nem antropologia, nem sequer uma conjunção das duas. Simplesmente é um amplo campo de investigações que combina um grande número de abordagens”. Sua principal atenção é dirigida às “manifestações materiais de um mundo em rápida transformação depois de 1500 D.C.”. Trata-se, em suma, do “estudo arqueológico dos aspectos materiais – em termos históricos, culturais e sociais – dos efeitos do mercantilismo trazidos da Europa ao final do século XV e que continuam em ação até hoje”. Leia Mais
Representações. Contribuições a um debate transdisciplinar | Ciro Flamarion Cardoso e Jurandir Malerba
Não tenho dúvida de que a publicação desta obra coletiva é oportuna ante o debate e as tendências narrativas observadas na historiografia. É oportuna também em razão da pouca importância dada ao tema pela comunidade de historiadores. Somente nos últimos anos essa comunidade despertou para esse aspecto, e ainda assim de forma tímida, apesar de as representações estarem presentes em todos os objetos de pesquisa e nas formas estruturantes das narrativas historiográficas. Decorre também desse aspecto a dificuldade momentânea de resenhar um livro que contém autores e textos com orientações temáticas e epistemológicas distintas. Na verdade, a obra já recebeu, em seu próprio conjunto, uma resenha do professor Malerba, o qual, na conclusão (p. 269-288), com o intuito de estabelecer a conexão do conjunto de ensaios, propõe um conjunto de idéias para além dos próprios textos. E aqui é necessário fazer-se uma primeira distinção: as representações como objeto histórico para a reconstituição do passado e as representações como objeto narrativo da análise historiográfica. Essa distinção é fundamental, pois ela implica em configurações metodológicas diferentes, as quais, não obstante, podem estar intercambiadas. Talvez o subtítulo do livro “Contribuição a um debate transdisciplinar” possa sugerir um encaminhamento nessa direção. Leia Mais
Iluminismo jurídico-penal luso-brasileiro: obediência e submissão | Gizlene Neder
Neste trabalho, Gizlene Neder centra suas atenções na história das idéias políticas e do poder na constituição do mundo moderno, tendo como referência a Península Ibérica. Procurando empreender uma análise que contemple a compreensão histórica e não uma explicação evolucionária, se propõe a deslindar uma série de aspectos que envolvem a trajetória histórica luso-brasileira.
Numa perspectiva dinamista de compreender o processo histórico, problematiza a modernidade trilhada pelos lusitanos, logo não fica presa à idéia de que as sociedades ibéricas são atrasadas ou inferiores em relação aos povos além-Pireneus. Aliás, para a autora, devemos é olhar a “escolha política” desses povos e, a partir daí, compreender os aspectos econômicos, sociais e jurídicos e suas possíveis implicações na contemporaneidade. Leia Mais
O modelo espacial do Estado moderno: reorganização territorial em Portugal nos finais do Antigo Regime | Ana Cristina Nogueira da Silva
Ana Cristina Nogueira da Silva integra um grupo de historiadores portugueses de inegável qualidade que, sob a coordenação de Antônio Manuel Hespanha, vem desenvolvendo importantes trabalhos acerca do Estado português, em especial dos séculos XVII e XVIII. Fruto de uma dissertação de mestrado apresentada em 1997, na Universidade de Lisboa, O modelo espacial do Estado moderno: reorganização territorial em Portugal nos finais do Antigo Regime, impressiona positivamente sob vários aspectos: problemática pertinente, rica pesquisa documental, ampla e atualizada bibliografia, análise simultaneamente particular e geral dos aspectos abordados. Nela, a autora propõe interessantes questões acerca da história portuguesa do Antigo Regime e induz à reflexão de pontos mais amplos que podem interessar também aos estudiosos de história do Brasil.
Trata-se de um estudo sobre a “Lei da reforma das comarcas” elaborada em 1790, durante o reinado de D. Maria I, o qual visava a uma racionalização administrativa e judicial do território do Reino. A partir daí, os objetivos de Silva consistem em “falar(…)das formas como essa entidade algo abstrata a que costumamos chamar de Estado moderno pensou o seu espaço num momento histórico determinado – os finais do século XVIII” (p.18), mais especificamente surpreender “a partir dos discursos produzidos pelos agentes de uma reforma territorial experimentada em Portugal(…), um novo imaginário político sobre o espaço que surge nesta época – o imaginário estadual -, bem como a forma como ele foi atuado e apropriado pelos diferentes discursos que se produziram no contexto da discussão desta reforma” para, finalmente, “descrever, com base nos mesmo discursos, as lógicas de organização espacial que tal reforma veio pôr em causa” (p.20). Leia Mais
Uri e Wãxi: estudos interdisciplinares dos kaingang | Lucio Tadeu Mota
Aponta caminhos é o que se pode dizer de partida sobre o livro Uri e Wãxi: estudos interdisciplinares dos kaingang, organizado pelos professores Lúcio Tadeu Mota (UEM), Francisco Noelli (UEM) e Kimiye Tommasino (UEL).
Trata-se de uma coletânea de artigos diversos, alguns muito maduros, outros ousados; vários, poéticos e inovadores pela garra comum a todos os textos. É um mérito dos organizadores? Não há dúvida de que também o é. Este livro, elaborado a partir do encontro periódico de diversos pesquisadores dos grupos indígenas jê do Sul do Brasil, nasce pelo seu conteúdo e intenções reveladas como um indicador de caminhos de pesquisa. Ele marca a criação do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etnoistória da Universidade Estadual de Maringá (UEM), congregando pesquisadores de várias áreas, envolvidos com trabalhos de caráter prático e teórico. Leia Mais
Fruitless Trees – Portuguese Conservation and Brazil’s Colonial Timber | Shawn William Miller
Os usos e abusos das florestas tropicais brasileiras na era colonial são tema de mais um livro em língua inglesa. Este texto de Shawn William Miller, professor assistente de história da Brigham Young University (EUA), pode ser lido como complemento ao merecidamente famoso With Broadax and Firebrand, de Warren Dean (já traduzido para o português, com o título A Ferro e Fogo, pela Companhia das Letras, em 1996). Fruitless Trees, embora monográfico e menos ambicioso que o livro de Dean, é bem focalizado, ricamente documentado, bem escrito e fácil de ler. Além do mais, tem uma tese central que deverá gerar polêmica – a de que o monopólio real português sobre as “madeiras de lei” do Brasil foi o principal fator de destruição florestal no Brasil colonial. Ou seja, a “proteção” governamental causou a devastação. Leia Mais
Famílias Abandonadas: Assistência à criança de camadas populares no Rio de Janeiro e em Salvador – séculos XVIII e XIX | Renato Pinto Venâncio
A infância como objeto de pesquisa dos historiadores só apareceu com o livro de Philippe Ariès, L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime (Paris: 1960). Na seqüência dos estudos relativos à criança, surge o interesse pela história das crianças enjeitadas ou abandonadas, como nos referimos atualmente.
Na década de setenta, refletindo a atenção que historiadores e principalmente historiadores-demógrafos davam ao tema da criança (abandonada ou não), foi publicado pela Societé de Démographie Historique um número consagrado ao novo campo de investigação que se abria: a história da infância. Leia Mais
La política en las calles: entre el voto y la movilización (Buenos Aires, 1862-1880) | Hilda Sabato
Após a publicação de alguns artigos acerca das práticas políticas portenhas nos anos da chamada formação nacional Argentina, Hilda Sabato apresenta-nos agora os resultados finais de sua pesquisa. (Sabato, 1992, 1993) Nesse projeto, a historiadora tem se preocupado em perceber como a população de Buenos Aires se relacionou com o poder e quais foram os canais de comunicação legítimos entre Estado e sociedade.
Essa preocupação historiográfica pelas relações governantes-governados não tem sido exclusividade de pesquisadores da Argentina. Tanto lá como aqui, o fim do regime militar e a retomada do processo democrático têm colocado para as ciências sociais a necessidade de perceber as forma como a sociedade estabelece pressão política sobre o Estado. Ou seja, quais as formas possíveis de se exercer a cidadania. Nesse sentido, essa obra sobre o caso portenho é um belo contraponto para o estudo de José Murilo de Carvalho sobre Os bestializados do Rio de Janeiro nos primeiros anos da República (Carvalho, 1987, 1990, 1997). Leia Mais
Colônia e nativismo: a história como “biografia da nação” | Rogério Forastiere da Silva
Uma essência nacional que esteja presente qualquer que seja a situação histórica do Brasil, no passado, no presente e no futuro: essa é a base do pensamento nacionalista construído a partir de cima, usuário da história e de seu ensino para fazer-se presente na memória coletiva. Isso fica claro – exemplo banal, mas com o mérito de ser contemporâneo – na propaganda da Rede Globo para as comemorações dos 500 anos do descobrimento, que não são chamadas dessa maneira. Diversamente, o locutor não se cansa de repetir todos os dias: faltam tantos dias para os 500 anos do Brasil. Não do descobrimento ou do que lhe equivalha. Sem outras palavras, a história que aí se ensina pondera que o Brasil é um ente trazido definitivamente à luz por Cabral e que, a partir daí, existe de forma cada vez mais completa e complexa, alcançando-nos no presente.
Esse olhar sobre a história nacional toma o seu objeto central, a nação, como um corpo, como um sujeito no tempo: existe potencialmente no passado como um embrião, nasce com a chegada dos portugueses à costa, emancipa-se com a Independência e alcança a maturidade num passado bem recente. Segundo Forastieri da Silva, a partir de Antonio Gramsci, essa é a perspectiva que lê a história como biografia da nação, como se a mesma fosse uma vontade ou um desígnio homogêneo, e por isso silencia todos os eventos em que essa unidade é posta à prova. Silencia ou integra, modificando o seu sentido e integrando-o a uma marcha em que tudo conduz, inexoravelmente, para o que há hoje. Leia Mais
Nem tudo era italiano. São Paulo e pobreza (1890-1915) | Carlos José Ferreira dos Santos
A primeira impressão que o livro de Carlos José suscita é de espanto. Será possível que ele pretenda refutar a imensa influência da imigração européia no crescimento e na transformação da cidade de São Paulo entre fins do século XIX e início do XX? Mais especificadamente, será que ele pretende negar a esmagadora presença física e cultural dos italianos na população paulistana e o seu papel decisivo na industrialização e nas lutas operárias daquele momento, conforme décadas de trabalho historiográfico tem demonstrado? [1]
Essa impressão se desvanece com facilidade na leitura do trabalho. Longe de negar o poder do dilúvio italiano que mudou profundamente a vida da cidade naquele período, ele procura anexar a este contexto um dado novo e relativamente pouco explorado: a presença de uma população de trabalhadores pobres nacionais, via de regra negros, que deram uma contribuição decisiva à vida da cidade daqueles anos, mas que permanecem escondidos nas brumas da História. Leia Mais
Multidões em cena: propaganda política no varguismo e peronismo | Maria Helena Rolim Capelato
Conhecida pela sua larga produção intelectual, a profª. Maria Helena Capelato é autora de O Bravo Matutino, Imprensa e ldeologia: O Jornal ”O Estado de São Paulo”, (em co-autoria com Maria Lígia Prado), O movimento de 1932: A causa Paulista, (em co-autoria com Carlos Guilherme Mota), Imprensa e História do Brasil, e Os Arautos do Liberalismo: Imprensa Paulista 1920-l94. Como se pode notar, teve sua preocupação centrada nos anos 30 e em especial no Estado Novo e na análise da imprensa no período, e agora apresenta-nos mais este livro, que é um estudo sobre o varguismo e o peronismo.
Multidões em cena tem como objeto o estudo comparado entre o varguismo e o peronismo no tocante ao significado da propaganda política idealizada e posta em prática, tanto pelo Estado Novo (1937) como pelo Peronismo (1945-1955). Estes regimes, por sua vez, inspiram-se nos métodos de propaganda nazista e fascista, adaptados para a realidade histórica brasileira e argentina, pois, nesse período, estes países têm necessidades de projetar-se enquanto Estado-Nação, e dessa maneira, nada mais adequado do que inspirar-se nas nações ditas civilizadas, daí, a inter-relação de idéias que havia no período do entre-guerras nos países que adotaram políticas antiliberais. Leia Mais
A transfiguração do político: a tribalização do mundo | Michel Maffesoli
Na obra A transfiguração do político: a tribalização do mundo, Michel Maffesoli se propõe a demonstrar que passou o tempo da política, a qual por não estar mais capacitada para enfrentar os desafios do momento, tornou-se objeto de desconfiança geral. A política perdeu a força de atração porque as pessoas não querem mais adiar o gozo, numa espera messiânica do paraíso celeste ou da ação urdida para um amanhã que canta, ou outras formas de sociedades futuras reformadas, revolucionadas ou mudadas. Somente o presente vivido aqui e agora com outros importa.
O autor nos diz que, ao longo da História humana, sempre existiu uma força imaterial, imaginal que deu sustentação ao político. Há sempre na origem de qualquer coletividade uma idéia fundadora: mito, história racional, fato legendário, pouco importa, tal idéia serve de substrato à dominação legítima do Estado. O político é uma instância, que, na sua acepção mais forte, determina a vida social, limita-a, constrange-a e permite-lhe existir. Se referindo à servidão voluntária, o autor afirma que existe uma curiosa pulsão que força a submissão a outro, a aceitar chefes, um efeito de estrutura ou lei natural inexorável que incita a dobrar a espinha e a aceitar de alguém ou alguns a lei: o bem, o verdadeiro, o desejável e o contrário disso tudo. Quando reina absoluto (o que nem sempre acontece), a coerção é a marca do político. Qualquer que seja o nome com o qual se condecora, o detentor do poder cristaliza a energia interna da comunidade, mobiliza a força imaginal que a constitui como tal e assegura o bom equilíbrio entre esta e o meio circundante, tanto social quanto natural. Portanto, todo poder, que tem sua origem legitimada por uma espécie de contrato, de consentimento, pode até mesmo impor a coerção, mas se trata aí, paradoxalmente, de coerção consentida. Para que a coerção política possa funcionar, deve-se aceitar a evidência de sua autoridade moral, deve-se, de certa maneira, ter fé nela. Ou seja, qualquer imposição repousa sobre uma forma de aceitação. Um regime político sobreviverá enquanto corresponder às aspirações da base. Leia Mais
Cartas Anuas de la Província Jesuítica del Paraguay (1641 a 1643) | Ernesto Maeder
Encontrar documentos “perdidos” é uma das compensações para aqueles que labutam em arquivos. Mas é muito mais compensador quando se consegue publicá-los em adequada edição diplomática, com introdução, notas explicativas, índices, ilustrações e análises críticas. Isso constitui valiosa contribuição aos demais pesquisadores e aos leitores comuns, reduzindo as horas a serem passadas em arquivos, na leitura de originais e, na atualidade, uma significativa “redução de custos”. Também pode atingir um público que normalmente não teria fácil acesso para ler um original de meados do séc. XVII, carregado de abreviaturas, escrita nem sempre legível, redigida em espanhol já arcaico, perdido em um canto obscuro do imenso arquivo da Real Academia de la História, em Madri.
A resenha que segue apresenta uma publicação com essas propriedades. O autor dessa bem sucedida empresa, Ernesto J. A. Maeder, é um notório estudioso da História e da Demografia Histórica do Nordeste Argentino e da Província Jesuítica do Paraguai. Além da sua profícua produção, também se destaca pela edição de inéditos e reedição de obras raras. Suas edições compreendem outras cartas ânuas, de 1632-1634 e 1637-1639 (Maeder, 1984, 1990), e reedições com anotações críticas de livros fundamentais há muito esgotados, como a Conquista Espiritual hecha por los religiosos de la Compañia de Jesus en las Províncias de Paraguay, Paraná, Uruguay y Tape (Montoya, 1989) e a Breve relación de las Misiones del Paraguay (Cardiel, 1994). Leia Mais
Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginação social no Brasil | Carlos Fico
Resenhistas
Ana Lúcia da Silva
Referências desta Resenha
FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginação social no Brasil. Resenha de: SILVA, Ana Lúcia da. Diálogos. Maringá, v.2, n.1, 217 -220, 1998. Sem acesso a publicação original [DR]
A (des) construção do discurso histórico: a historiografia brasileira dos anos 70 | Ana Maria de Oliveira Burmester
Resenhista
Jurandir Malerba
Referências desta Resenha
BURMESTER, Ana Maria de Oliveira. A (des) construção do discurso histórico: a historiografia brasileira dos anos 70. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997. Resenha de: MALERBA, Jurandir. Diálogos. Maringá, v.2, n.1, 221 -227, 1998. Sem acesso a publicação original [DR]
Correspondência de Rodrigues Lapa. Seleções (1929 – 1985) | Maria Alegria Marques
Resenhista
André Figueiredo Rodrigues
Referências desta Resenha
MARQUES, Maria Alegria et al. Correspondência de Rodrigues Lapa. Seleções (1929 – 1985). Coimbra: Minerva, 1997. Resenha de: RODRIGUES, André Figueiredo. Diálogos. Maringá, v.2, n.1, 229 -231, 1998. Sem acesso a publicação original [DR]
Houses and Society in Pompeii and Herculaneum | Andrew Wallace-Hadrill
Resenhista
Pedro Paulo A. Funari
Referências desta Resenha
WALLACE-HADRILL, Andrew. Houses and Society in Pompeii and Herculaneum. Princeton: Princeton University Press, 1994. Resenha de: FUNARI, Pedro Paulo A. Diálogos. Maringá, v.2, n.1, 233 -236, 1998. Sem acesso a publicação original [DR]
O protesto do trabalho: histórias das lutas sociais dos trabalhadores rurais do Paraná: 1954-1964 | Ângelo Priori
Em seu livro O protesto do trabalho: histórias das lutas sociais dos trabalhadores rurais do Paraná: 1954-1964, Angelo Priori vai além de uma simples interpretação das lutas e conflitos sociais envolvendo os trabalhadores rurais do Paraná, à medida em que correlaciona as experiências cotidianas vivenciadas pelos trabalhadores, articulando simultaneamente o contexto histórico e suas relações de forças. O autor contempla uma densa reflexão em torno dos conceitos e mediações que perpassam a abordagem dos movimentos sociais. Seu estudo revela e desvela as dimensões contraditórias dos processos de planejamento sociais relacionados ao Estado e às questões regionais.
Priori contribui sensivelmente com a história dos movimentos sociais no campo, priorizando os debates que envolveram os trabalhadores rurais, empregados, sindicalistas, advogados, magistrados da justiça, padres e a imprensa acerca da legislação social e da formação dos sindicatos rurais do Estado do Paraná durante as décadas de 50 e 60. O autor demonstra através de uma extensa documentação que os trabalhadores coloraram para sua inclusão na legislação. Leia Mais
A formação das almas: o imaginário da República no Brasil | José Murilo de Carvalho
Ao ler A formação das almas: o imaginário da república no Brasil, de José Murilo de Carvalho – oportunamente relançado no final de 1995 -, tem-se a impressão de que a obra merece um subtítulo mais extenso, uma vez que não nos fala sobre um (ou “o”) imaginário da República, porém sobre o embate dinâmico para a construção de imaginários e seus respectivos símbolos. Esse sentido, aliás, é fundamental no desenrolar do texto, que procura mostrar sempre as mediações e os conflitos existentes na criação e consolidação dos principais símbolos republicanos.
O livro, mesmo sendo composto por alguns ensaios já publicados, ao lado de artigos inéditos, apresenta uma ótima coerência interna, explorando muito bem o objeto proposto. Inicia a análise pelos modelos políticos e filosóficos norteadores do positivismo, esmiuçando tanto a aplicação prática destes no Brasil, como a adaptação sofrida neste processo. Em seguida, o autor discute as diversas proclamações da República e o conseqüente impasse simbólico – proveniente das lutas pela criação de um imaginário social entre as diferentes vertentes político-filosóficas – externado nas figuras-símbolo de Deodoro, Floriano Peixoto e Benjamim Constant. Depois de abordar o imaginário do “fato” (a proclamação), José Murilo explora a construção de um mito de origem da República brasileira – Tiradentes – e suas diversas apropriações por diferentes (e até mesmo antagônicos) grupos sociais. A etapa seguinte, apresentada pelo livro, é a tentativa (frustrada) da criação de uma simbologia para a própria República, capaz de aproximar Estado e Nação, República e Brasil: a transposição do modelo francês “Marianne”, muitas vezes travestido da musa comtiana Clotilde de Vaux. O autor aborda, então, a criação (ou reciclagem) dos símbolos formais da bandeira do hino nacional, exigidos para qualquer Estado, os quais acabaram por tornar-se muito mais representativos da Nação (Brasil) do que do Estado (República). A obra se encerra com a retomada das questões anteriores, principalmente a aplicação dos modelos filosóficos comtianos no Brasil, visando promover uma reflexão sobre a construção de um imaginário da República capaz amalgamar o Brasil enquanto Nação, isto é: enquanto comunidade de sentido, segundo Bazco (1985), ou comunidade imaginada, segundo Anderson (1989). Leia Mais
Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil | Marilena Chauí
Marilena Chauí escreveu este livro em 1985, inicialmente para um público estrangeiro, só publicando em nosso país no ano seguinte. Focaliza a Cultura Popular no Brasil, procurando definí-la e compreender sua dinâmica.
Em um primeiro momento, Chauí aborda as dificuldades de definição da expressão Cultura Popular, discutindo o conceito de “cultura”, procurando precisar o conceito de “popular”, sobretudo em suas formas predominantes no Brasil, originadas nos pontos de vista “romântico” e “ilustrado”. Contrapondo-se à identificação entre “Cultura de Massa” e “Cultura Popular” – encontrada tanto entre os “liberais” norte-americanos das décadas de 50 e 60, quanto entre os frankfurtianos -, Marilena propõe distinguí-las, relacionando Cultura de Massa à classe dominante (que a elabora e impõe) e Cultura Popular à classe dominada. Analisa o comportamento da segunda diante da primeira, em termos de estratégias de aceitação e recusa; assim, enfatiza “a dimensão cultural popular como prática local e temporalmente determinada, como atividade dispersa no interior da cultura dominante, como mescla de conformismo e resistência”. (p.43) Leia Mais
A História no Brasil (1980-1989) | Carlos Fico e Ronald Polito
Com o segundo volume de A história no Brasil, dos Profs. Carlos Fico e Ronald Polito, da Universidade Federal de Ouro Preto, completa-se a publicação de um ousado empreendimento de pesquisa e análise historiográfica no Brasil. Dando continuidade ao trabalho fundamental de sistematização de informações e crítica, operado até então por alguns poucos mas importantes nomes como Amaral Lapa, Francisco Iglésias e Carlos Guilherme Mota, Fico e Polito fundaram sua avaliação historiográfica brasileira da década de 1980 numa ampla pesquisa sobre os mais variados meios de sua produção/circulação/ consumo, assim como num renovado conceito de historiografia.
A falta de trabalhos de balanço dessa natureza era um mal crônico de que nos ressentíamos os historiadores brasileiros. As análises de maior fôlego, datadas da década de 1970 e início dos 80, tenderam a incidir quase sempre sobre recortes temáticos ou cronológicos da história brasileira, sem pretenderem ou conseguirem proporcionar uma visão mais ampla das principais tendências da produção do conhecimento histórico no Brasil. Certamente tais limitações decorriam da falta de eficazes instrumentos de pesquisa, já acusada por historiodadores como Varnhagen, Oliveira Lima, José Honório Rodrigues, Iglésias e Lapa. Leia Mais
Diálogos | UEM | 1997
Diálogos (Maringá, 1997-) é a Revista do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá – Paraná – Brasil.
A revista Diálogos tem por finalidade publicar e divulgar, preferencialmente, trabalhos inéditos na área de história, evitando sua apresentação simultânea em outro periódico.
Poderão ser aceitos para publicação: artigos e resenhas. O livro resenhado deverá ter sido publicado (ou reeditado) no máximo há dois anos, sendo a edição nacional, e no máximo há três anos, sendo a edição estrangeira.
A revista Diálogos só publica textos de autores com titulação mínima de Doutor. Doutorandos poderão ter seus trabalhos avaliados, desde que apresentados em co-autoria com o orientador.
Doutorandos e mestres poderão apresentar resenhas para avaliação, mesmo sem co-autoria com seus orientadores. Todo autor que tiver publicado pela revista Diálogos se compromete a ser avaliador de artigos nas edições futuras.
Periodicidade quadrimestral.
Acesso livre
Acessar resenhas [Coletar 1997-2007]
Acessar dossiês