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Entre márgenes/intersticios e intersecciones: diálogos posibles y desafíos pendientes entre género y migraciones | María José Magliano
La multiplicidad de aristas teóricas, trayectorias colectivas e individuales, apuestas metodológicas y desafíos epistemológicos que confluyen en este libro,se vuelven espacios intersticiales desde los cuales repensar la incorporación de la perspectiva de género al campo de los estudios migratorios en Argentina. Leia Mais
Epígrafes e diálogos na poesia de Machado de Assis – MIASSO (MAEL)
MIASSO, Audrey Ludmilla do Nascimento. Epígrafes e diálogos na poesia de Machado de Assis. São Carlos: EdUFSCar, 2017. 505 pp. Resenha de: RIBAS, Maria Cristina Cardoso. Machado Assis Linha v.12 n.26 São Paulo Jan./Apr. 2019.
O título deste livro, circunscrito a epígrafes machadianas, pode suscitar uma curiosidade mais imediata: como epígrafes, tidas pelo senso comum (do qual, em alguns momentos, somos todos partícipes) como adorno ou ateste de erudição, justificam a existência de um trabalho dessas proporções?
A questão provavelmente advém de uma tendência contemporânea: o automatismo de determinados olhares compromete a percepção das sutilezas discursivas, o que torna quase invisível – a este modo de ver – a presença de textualidades interligadas e justapostas, tidas como acessório do elemento principal. Neste distúrbio de refração ocular, utilizando lentes adequadas para refocalizar o objeto e neutralizar a miopia discursiva, tenazmente instalada no delicado espaço entre a citação e o poema, lado à “paixão pelo gesto arcaico de recortar-colar” (COMPAGNON, 1996, p. 12), Audrey Ludmilla do Nascimento Miasso percebeu a distorção do foco, traduzida em aparente desinteresse, a qual redundou na escassez de estudos sobre o tema.
A pesquisadora estuda o projeto poético machadiano desde 2008, tendo publicado vários trabalhos sobre o tema (MIASSO, 2016). Sua dissertação de mestrado – defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Estudos de Literatura (PPGLit) da UFSCar e orientada por Wilton Marques, professor do Departamento de Letras dessa Universidade -, foi transformada, com apoio da Fapesp, no livro que ora temos em mãos.
Na apresentação do volume, Hélio de Seixas Guimarães refere-se à leitura em espiral das epígrafes machadianas, imagem bastante adequada ao livro de Audrey, justamente por sinalizar a importância da dinâmica de um retorno que, passando pelos mesmos lugares, vai também além deles, formulando novas possibilidades significativas. Para o crítico e pesquisador da USP, a autora busca “examinar um problema aparentemente periférico e menor em seus mais variados aspectos, ampliando seu alcance e tirando dele consequências que extrapolam em muito a delimitação de seu ponto de partida” (GUIMARÃES, 2017, p. 11). E mais: diante da constatação de que as epígrafes vão diminuindo ao longo da obra poética, Hélio Guimarães retoma a imagem da autora em sua hipótese: como se elas escorressem pelos versos e estrofes, misturando-se a elas.
Vale dizer que o livro de Audrey sobre as epígrafes machadianas traz também uma epígrafe quase autoexplicativa, de Jean Michel Massa (1971) – forte presença no livro organizado por Jobim (MASSA, 2001) sobre a biblioteca de Machado de Assis. Pinçada com precisão pela autora, a citação de Massa ilustra a estratégia de citação machadiana, o seu modo de “recorta-cola” tão milimetricamente descrito no livro. Escrita encadeada, a autora trabalha as epígrafes de Machado formulando uma composição epigráfica, desenhando as citações dentro das citações, trazendo à cena a montagem da montagem de Machado, hábil operador que copia, refaz, suprime, traduz, deforma, esquece, modifica, ilumina, erra.
Passando a apresentação espiralada de Hélio Guimarães e a epígrafe de Massa, adentramos o primeiro capítulo. Em tom de convite, a autora nos convoca: “De início, vamos ao encontro de Machado adolescente, contando com seus quinze anos e já poeta” (MIASSO, 2017, p. 37). E segue historiando as primeiras publicações, inclusive aquelas anteriores à fama do bruxo do Cosme Velho e ao seu (re)conhecimento pelo público. Gentilmente, a autora vai pincelando informações consensuais, como o dado de que o periódico de Paula Brito fora o principal meio em que ele publicaria seus versos até 1858. Lançando mão do “nós” – “vamos”… “notamos”… salta aos “nossos” olhos… – na autorreferência da própria voz, vai obtendo um efeito inclusivo e afeito ao leitor, dispersando informações em doses homeopáticas. Curiosamente, a dispersão dos dados atravessa a organização sequencial dos poemas, mobilizando intertextos que se justapõem, segundo a acurada pesquisa da autora, no modo composicional das epígrafes machadianas.
Dentre os inúmeros exemplos que se desdobram ao longo dos capítulos, vão sendo compartilhados os efeitos dessas epígrafes sobre a leitura, inclusive quando rareiam ou deixam de aparecer. Pelas minuciosas descrições apresentadas, não soam como aleatórias. Ao falar de Crisálidas, Audrey ressalta a epígrafe traduzida para o português e extraída das Méditations poétiques (1820), de Alphonse de Lamartine, ainda que, conforme a autora, no Inventário proposto por Jean-Michel Massa não seja citada a obra de Lamartine. A primeira conclusão resultante neste trecho é o efeito da tomada de um poeta romântico francês. Nas palavras da autora, “[…] alerta o leitor de qual será a visão que o jovem crítico apresentará da poesia”. Citando aqui a epígrafe, antecedida pela questão “o que é a poesia?”, lê-se: “uma palavra que o anjo das harmonias segreda no mais íntimo d’alma” (MIASSO, 2017, p. 39).
Nas linhas seguintes (MIASSO, 2017, p. 41), ela faz reverberar, no leitor, o seu propósito: “Tentar encontrar aquilo que saltava aos olhos de Machado no início de sua carreira”. Ao mesmo tempo, vai instalando a dúvida na estratégia machadiana de captação das epígrafes: a proveniência é direto da fonte, ou colhida à epígrafe de outrem, citação da citação, fragmento em segundo ou terceiro grau – como, por exemplo, relata acerca dos versos de Dumas pai no poema “Vem!” (publicado em O Paraíba, 11/4/1858): “se teriam sido retirados de sua fonte primeira, a peça ‘Teresa’ (1832), ou teriam sido reaproveitados da epígrafe de Álvares de Azevedo” (MIASSO, 2017, p. 44). Seguem informações minuciosas acerca deste procedimento – que a autora chama, sem lastro pejorativo, na expressão de Genette (2009), de “aproveitamento de segunda mão” -, bem como de suas repercussões no sentido e no teor composicional dos versos. Deste exemplo bastante detalhado, algumas conclusões merecem realce. Nas palavras da autora: 1. Decorre o possível equívoco de pensar “que a epígrafe funciona da mesma maneira nos diferentes poemas que dela se apropriam”; 2. Urge, portanto, o entendimento de que “A epígrafe não é um corpo extático e não tem seu sentido definido”, mas [a autora cita Compagnon (1996, p. 48)], “muda de sentido segundo a força que se apropria dela: ela tem tantos sentidos quantas são as forças suscetíveis de se apoderar dela” (MIASSO, 2017, p. 45). Com isso, Audrey ativa o diálogo intertextual e intersubjetivo da grafia poética, ressaltando a potência não de sua precisão, mas de sua instabilidade e incompletude.
Ao mencionar outro poema dentre os dispersos que escolhe destacar – “Teu canto” (publicado em A Marmota Fluminense, 15/7/1855) -, a pesquisadora ressalta o fato de a epígrafe ser assinada “pelo próprio Machado”. Em sua análise, conclui que a predileção machadiana em fase inicial de carreira poderia ser pela própria epígrafe, em lugar de considerá-la apenas um meio para reafirmar suas leituras; ou seja, reitera o procedimento como tática para dar pistas ao leitor sobre o que viria ler e produzir. E arremata seu entendimento, aproximando-o do que Genette (2009) chamou de efeito-epígrafe.
A seguir, e em vários outros momentos, a autora sinaliza o quanto as epígrafes sugerem a conexão dos primeiros poemas machadianos com o romantismo francês, relatando que, até 1864, algumas delas são colhidas a Victor Hugo, Alexandre Dumas, Alfred Musset, Gautier e La Rochefoucauld; com o romantismo português de Almeida Garrett e o romantismo brasileiro de Magalhães, Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo. Importante lembrar as fortes conexões anteriores ao Romantismo como a ligação visceral com Shakespeare, com a Bíblia – Machado era fã do Eclesiastes – e, em menor escala, com textos históricos dos livros da Crônica da Companhia de Jesus e da História dos índios cavaleiros.
A autora traz, ainda, o apoio do discurso cronístico machadiano, sobretudo a parte publicada em A Semana, O Cruzeiro e A Marmota. Interessante observar que Machado imita e ressignifica passagens e imagens bíblicas presentes no imaginário ocidental, através da aparente repetição da fonte. A diferença se instala justamente na repetição do evento ou forma imagética, ancorada na suposta fidelidade que a crescente respeitabilidade conferida a Machado garantia junto ao público leitor.
A autora investe tenazmente nas pistas que desentranha às epígrafes machadianas e as rastreia com precisão de escavadora. Movimento propulsor da pesquisa, no início ela aposta na veracidade dos indícios. Sabiamente abre, porém, espaço para a ambiguidade. Onde há fumaça pode haver não apenas fogo, mas lentes embaçadas que impedem a percepção de que indícios podem representar despistes ou funcionar como deflagradores de um turning point na leitura. Machado trabalhou as epígrafes e as respectivas referências com omissão, erro ou detalhamento nem sempre explícitos dos lugares de captação.
Nas palavras da autora, sobre a leitura dos poemas epigrafados incide um “momento de interpretação”, não bastando a percepção da intertextualidade ou o reconhecimento da fonte. Com esta perspectiva, as epígrafes se desdobram e deixam ver o lado informativo sobre os contextos de produção, os dados objetivos circunscritos à publicação pelas editoras, os contratos materiais e pactos de leitura implícitos assinados por Machado, os projetos dos poemas, e a problematização de hipóteses e efeitos de sentido que interseccionam tais esferas no momento da leitura. Por um viés visto até então como menor, o trabalho de Audrey é primoroso e acessa, pelo detalhe, no desfiar da bainha, a complexidade da escrita de Machado em suas eternas e humanas contradi(c)ções. “As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão […]” (ASSIS, 1884, p. 15). Este livro abre, pelas bordas, um espaço interessantíssimo para os leitores e estudiosos de Machado. Vale a convocação.
Referências
ASSIS, Machado de. A igreja do diabo. In: ______. Histórias sem data. Rio de Janeiro: Garnier, 1884. [ Links ]
COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Belo Horizonte: UFMG, 1996. [ Links ]
GENETTE, Gérard. Epígrafes. In: ______. Paratextos editoriais. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. [ Links ]
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Apresentação. In: MIASSO, Audrey Ludmilla do Nascimento . Epígrafes e diálogos na poesia de Machado de Assis. São Carlos: EdUFSCar, 2017. [ Links ]
MASSA, Jean Michel. A biblioteca de Machado de Assis: quarenta anos depois. In: JOBIM, José Luís. A biblioteca de Machado de Assis. Rio de Janeiro: ABL; Topbooks, 2001. p. 21-91. [ Links ]
______. A juventude de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. [ Links ]
MIASSO, Audrey Ludmilla do Nascimento . Epígrafes e diálogos na poesia de Machado de Assis. São Carlos: EdUFSCar , 2017. [ Links ]
______. O diálogo bíblico em “A cristã nova”, de Machado de Assis. In: ALMEIDA, Kenia Maria de; PEREIRA, João Paulo; SILVA, Ayub Glenda (Orgs.). A poesia e a bíblia: entre a reverência e a paródia. Uberlândia: Edibrás, 2016. [ Links ]
Recebido: 25 de Janeiro de 2019; Aceito: 01 de Março de 2019
Maria Cristina Cardoso Ribas – É Professora Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Procientista Uerj/Faperj e membro efetivo do Programa de Pós-graduação em Letras no Instituto de Letras, Uerj e do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Formação de Professores da Uerj. A área de concentração é Literatura, Teoria e História e as linhas de pesquisa são Teoria Literária, Literatura Comparada, Literatura Brasileira e Estudos de Intermidialidade. Concluiu o Pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense. Publicou, entre outros trabalhos, Onze anos de correspondência: os machados de Assis, pela 7Letras e PUC-Rio; “Re-reading Literature in Contemporary Cinema: Intermediality in Machado de Assis’ Story “Father Against Mother” (1906) and Sergio Bianchi’s film How much is it worth or is it per kilo?” (In: Brigitte Le Juez; Nina Shiel; Mark Wallace (Orgs.). (Re)writing without borders: contemporary intermedial perspectives on literature and the visual arts, 2005); “O tempo na narrativa machadiana ou quando a ficção refaz a ciência” (Rivista di Studi Portoghesi e Brasiliani); Estudo a O Alienista: a ciência da loucura e a loucura da ciência, pela EdUerj. E-mail: marycrisribas@gmail.com.
The Guardians in Action: Plato the Teacher and the Post-Republic Dialogues from Timaeus to Theaetetus – ALTMAN (RA)
ALTMAN, W. H. F. The Guardians in Action: Plato the Teacher and the Post-Republic Dialogues from Timaeus to Theaetetus. Lanham: Lexington Books, 2016. Resenha de: ENGLER, M. R. Revista Archai, Brasília, n.27, p 1-10, 2019.
Das Buch von William Altman ist als erster von zwei Bänden den sogenannten Spätdialogen gewidmet. Es behandelt sieben Dialogein der folgenden Ordnung: Timaios, Kritias, Phaidros, Parmenides, Philebos, Kratylos und The aitetos. Der zweite Band, The Guardians on Trial: The Reading Order of Plato’s Dialogues from Euthyphro to Phaedo (Lexington Books, 2016), ist fokuss iert auf die Dialoge, welche nach Ansicht des Autors die Les e ordnung Platons abschließen: Euthyphron, Sophistes, Politikos, Apologie, Hipparchos, Minos, Kriton, Nomoi, Epinomis und Phaidon. In dieser zugleich pädagogischen und dramatischen Ordnung sei der Phaidon der letzte Dialog, weil auf seinen Seiten die heroische Geschichte über Sokrates zum Ende komme.
Schon aus dem Überblick auf diese Ordnung lässt sich erkennen, dass A. eine ganz eigene Auffassung der Entwicklung Platons besitzt. Tatsächlich setzt sich sein ganzes Projekt dem entgegen, was er den Eikos Mythos der Platonischen Entwicklung nennt (S.xiii). Anstatt der weltweit anerkannten Kompositionsordnung, die Platons Denken als ein evolutionäres versteht, bevorzugt A. eine Les e ordnung, die nicht nur Platons Lehrtätigkeit in der Akademie geleitet hat, sondern auch die heutige Le ktüre lenken soll. Angesichts von Platons Gedanken ist die se Ordnung mithin theoretisch unitarisch, weil sie in de n mittleren Dialogen die doktrin elle Einheit fin det, die das gesamte Werk durchd ringt. Obwohl seine wichtigsten Voraussetzungen schon i n der Aristotelischen Philosophie verwurzelt seien, sei der Entwicklungsan satz ein klares Produkt des neunzehnten Jahrhunderts, das man auf den Denker des aeì on nicht ohne schädliche hermeneutische Folgen anwenden könne. Im Gegenteil dazu versu che die Les e ordnung dem Wesen des platonischen Denkens treu zu bleiben, indem sie das Unveränderliche voranstelle (S.197; 424). A. schätz t seinen Vorschlag dennoch ganz realistisch ein: er erhebt keinen Anspruch auf eine unbedingte Wahrheit. Seine bescheidene Absicht beschränkt sich darauf, die Auf merksamkeit der Gelehrten wieder stärker auf diese antike Interpretationsmethode zu richten, die sich bereits in den Tetralogien des Thrasyllos mutatis mutandis be finde (S. xxiii). Indem er diesen Gesichtspunkt verficht, bahnter e inen dritten Weg zwischen den vor herr schenden Paradigmen der Gegenwart, näml ich der Tübinger Mailä nd er Schule und dem Paradigma der Kompositionsordnung. In Wirklichkeit aber visiert er vor allem die Kompositionsordnung an. Denn die erste Schule adoptiere ja das letzte Paradigma und hinsichtlich Platons angeblicher Entwicklung bleib e sie unitarisch, da sie vor dem Hintergrund der ungeschriebenen Lehren in der Lage sei, vor den vielen doktrinellen Wider sprüchen der Dialoge eine einheitliche metaphysis che Lehre a ufzubauen.
Darüber hinaus versucht A., wie bereits in seinem Buch Plato the teacher: the crisis of the Republic (Lexington Books, 2012), einen neuen Terminus in die Studia Platonica einzuführen, nämlich „basanisti c“. Das ist wohl der wertvo llste Beitrag des Autors zu d em Feld. Im Einklang mit dem heutigen Zeitgeist legt er große n Wert auf die dramatischen Eigenschaften der Dialoge, welche für die Rekonstruktion der Les e ordnung wichtiger seien als die philologischen Hinweise, wie etwa die Ergebnisse der sprachstatistischen Methode. Dazu aber fügt er einen pädagogischen Ansatz hinzu, im Lichte dessen viele Passagen der Dialoge – und in der Tatalle Spätdialoge – als Tests konzipiert werden (S. xxiii). Das ist genau die Wende, die er gegen das Entwicklungsparadigma einbringt. Die ersten Dialoge sieht er auch als philosophische und pädagogische Vorbereitung auf die Politeia. D ie Politeia hingegen sei ni cht nur ein weiterer Dialog, sondern Platons unüberwindbares opus magnum, in dem er die Wahrheit offenbare. Die nachfolgenden Dialoge werden d emzufolge als Prüfungen a ngesehen, die das Verständnis der zentralen Thesen der Politeia erproben sollen (S.xviii). Deswegen sind die von der Politeia diplomierten Wächter, wie es sich aus dem Titel ablesen lässt, im Kampf gefordert. Konfrontiert mit den Lehrv erf ormungen und der Ablehnung des Zwei Welten Platonismus müssen sie, in Übereinstimmung mit dem Kriegs gesang der Politeia (534b8 d1), zu ihren dialektischen Waffen greifen.
Hier ist es wichtig zu beachten, dass A. eine produktive Allianz mit den schärfsten Kritikern des Platonismus bildet. Seines Erachtens haben sie volles Recht, nach der Politeia einen Bruch mit den mittleren Dialogen festzustellen (S. xxiv).Ein besonderer Vorzug seines Buches ist es, dass er zugl eich Platon und die Geschichte sein er Rezeption auf eine passionierte und gelehrte Weise erklärt. Das gilt sowohl für vergangene als auch für heutige Autoren, mit deren verschiedenen Ansichten er eine fruchtbare und demokratische Polyphonie schafft. In seiner Diskussion des Timaios, zum Beispiel, verwendet er ein Triangulationsverfahren zwischen John Cook Wilson, einem heftig en Kritiker Platon s, R. D. Archer Hind, einem Anhänger, und A. E. Taylor, dessen Stellungnahme die Lösung dieser Debatte sei, weil er zum ersten M al erkannt habe, dass der Timaios nicht für Platon spreche. Die entscheidende Differenz von A.s Perspektive besteht jedoch darin, d ass er die Wider sprüche der Spätdialoge mit Rücksicht auf die mittleren als vor aus geplante Tests versteht. Mit anderen Worten, Pl aton habe diesen B ruch und sogar seine scheinbare Rückkehr zur Naturphilosophie absichtlich so gestaltet, um die Treue seiner Leser und Studenten zur Politeia zu prüfen.
Wichtige Elemente dieses pädagogischen Ansatzes gründet A. letztendlich auf Parmenides, der auch seiner Wahrheitsphilosophie einen täuschend en Kosmos folgen lässt. Seine Interpretation des Timaios lautet wie folgt: der parmenid e i sche n Doxa hinsichtlich der Wahrheit der Politeia entspreche nd, sei die glaubwürdige und hochkreative Rede des Timaios die erste Prüfung, die Platons Le ser bestehen müsse (S. 93). Die abwesende vierte Figur des Dialogs, die kurz vorder Zusammenfassung der Politeia erwähnt wird (17a), sei gerade der aktive Leser, der schon an der Diskussion der Politeia teilgenommen habe und sie in seiner Seele wie ein lebendiges Gespräch hege. Nach A. ist der entscheidendste Faktor der Rezeption Platons die Tatsache, dass kaum jemand die absichtlichen Fehler des Philosophen erkannt habe. Taylor sei wie gesagt der erste gewesen, der den Timaios als unplatonisch begriffen habe (S. 34). Im Zuge von Aristoteles haben die anderen Gelehrten den pythagoreischen Einfluss auf Platon sehr zum Nachteil der parmenid e ischen Komponente seines Denkens betont. D amit wurde es üblich zu glauben, dass Platon seiner mittleren Lehre ei n e kosmologische Naturlehre gegenübergestellt habe. Laut A. aber ist sowohl der Timaios als auch der Kritias die perfekte Gelegenheit für die Wächter, die durch den Unterricht der Politeia zur Dialektik angeregt wurden, die V erfälschung des Platonismus zu bekämpfen (S. 93). Die se vor sätzlichen Verformungen – wie etwa die These, dass aus den feigen Männern die Frauen geboren seien, die e ine völlig absurde Idee im Vergleich mit der Politeia (S. 92) ist – machen die „ basanistischen “Elemente der platonischen Pädagogik aus, die leider in der Geschichte des Platonismus übersehen worden seien. Üblicherweise habe man die vielen Widersprüche als unwichtig abgetan und versucht, das Gespräch zu rationalisieren und Timaios als Platon s Mundstück anzusehen. Deshalb trete Aristoteles nicht selten platonisch auf, und auch die Unterschiede zwischen Platon und dem Neuplatonismus würden durch diese Deutungstendenz geringer ausfallen, da es sich in beiden Fällen um eine monis tische Weltanschauung handle. Für den Autor hingegen bleib t der Platonismus der „ weltfremden “Ideenlehre immer treu und soll deshalb weder mit Aristoteles noch mit Plotin verwechselt werden (S. 106).
Im Geiste dieser „ basanistischen “Pädagogik untersucht A. auch den Phaidros. In der Les e ordnung folge er dem Timaios und dem Kritias und stelle die rhetorischen Mechanismen vor, mit denen beide Dialoge kritisch analysiert werden können. Sokrates ‘ erste Frage, póthen kaì poî?, versteht A. als einen Hinweis auf die Les e ordnung: aus welchen Dialogen un d zu welchen Dialogen? (S.140). Zugl eich ein Gegengift und ein Gi ft (phármakon), leite der Phaidros den Leser in die Kunst der Antilogik und der Täuschung (apáte) ein, sodass er fähig werde, das Wahre vo m Falschen zu trenne n (S.171). Genauer gesagt lege Platon im Phaidros offen, dass er selbst zu rein pädagogisc hen Zwecken s eine Leser betrüge, denn man könne nur die Wahrheit unterrichten, wen n man ebenfalls das Falsche kenne. Zwei weitere Ideen des Autors müssen in diesem Zusammenhang erwähnt werden. Erstens wird die aus Sammlung und Tren nung bestehende Methode des Phaidros, die man normalerweise für die echte Dialektik hält, von A. als eine Vorbereitung auf den Parmenides und besonders auf den Sophistes aufgefasst, und somit ledig lich als ein dianoetischer Vorgang b z w.
eine alternative Art Dialektik beurteilt. A. gibt drei Gründe dafür an, diese Methode nicht als die echte Dialektik der Politeia anzusehen: a) sie unterteile ständig das Ein e in das Viel e und sammle das Viele in dem Einen; b) sie sei daher eher geeignet, die E ide als rein e Abstraktionen d er p hysikalischen Dinge zu diskutieren; c) und schließlich sei sie nicht imstande, die Leser von der sinnlichen Welt völlig zu entfernen, wie es die nach dem Guten orientierte aufsteigende Dialektik der Politeia tue (S.159-160). Deswegen wird der Phaidros als fair warning betrachtet. Zweitens wird die Schriftlichkeitskritik, ein hochaktuelles Thema, von A. als Platons Bekenntnis seiner eigenen Pädagogik verstanden. Eine Schrift sei bloß ein e hypómne s is für die Vision de s Gute n, die Platon bereits in der Politeia vorgestellt habe (S. 197-198). Und um dies zu leisten, bestehe Platons Kunst als Schri ftsteller gerade darin, das Gegenteil der Wahrheit zu behaupten, sodass der Leser dem Argument zu Hilfe kommen müsse, ganz gleich, wer es verteidige (S. 196). Phaidros ʼ Täuschungskunst lehre also den Leser, dass Platon der Meister einer Kunst sei, welche zu pädagogischen Zwecken betrügen könne, obschon sie die Wahrheit unbedingt voraussetze (S. 198).
Nach dem der Leser die Anti logik kennen gelernt habe, könne er sich dem Parmenides zuw enden, der der beste Ausfluss dieser Kunst sei. Die wichtigste Idee des Autors für die Interpretation des Parmenides besteht darin, dass dieser Dialog eine Reihe von Übung en (gymnásia) zu r wahren Dialektik vorlege, da vor dem Gu ten jede Diskussion des Einen nur ein dianoetisches Drama sei (S. 239). In dies er Thematik sieht A. die Lösung für viele nachfolgende Probleme. Durch die erste Hypothese, die der Autor für die wahre nimmt, müsse der Leser beides lernen: dass die Existenz eines empirischen Einen unmöglich sei; und dass es nur, wie die ganze Mathematik, ein en Mittels tatus besitze. Das Eine aneu ousías sei weder ein Prinzip noch ein Gegebenes, sondern etwas, d as der Mensch durch seinen Intellekt erfinde (Parm. 143a7) (S. 248), und somit solle es nie mit dem unhypothetischen Guten konfundiert werden. Mit der Idee des Gute n und der Trennung zwischen Sein und Werden gehöre es zum Kern des Platonismus, und darüber hinaus habe es vor diesen Dogmen einen pädagogischen Vorrang (S. 252). Im Vergleich zu den wahren Ideen – es gibt für den Autor nur drei: das Gute, das Gerechte und das Schöne –, dere n Definition Parmenides nach den Übungen mit dem Einen von Sokrates fordere (Parm. 135c8 d1), sei das Eine natürlich die weltfremdeste Konstruktion der Dianoia, die zwangsweise die Seele von dem Werden entferne, obwohl es, der Politeia gemäß (511b5; 531c9 d7), ledig lich ein Sprungbett zu der realen Dialektik bleibe.
Der Parmenides erweitere dadurch das Reich der Dianoia, während das Reich der Noesis streng beschränkt werde (S. 275). Der Eindruck, dass er den Platonismus der mittleren Periode zerstöre, oder dass Platon Parmenides im Sophistes abweise, entstehe durch den Fehler, die parm enid e ische Pädagogi kzu verkennen (S. 285).
Wie seine eigene Lehre, wird der Philebos als eine Mischung konzipiert. Und z war eine sehr gefährliche Mischung, da er die drei oben zitierten Fundamentald ogmen des Platonismus an greife und folglich den Bruch mit der mittleren Phase auf eine unmissverständliche Weise vollziehe (S. 309). Weil er von Anfang an auf das Thema des Guten gehe, biete er dem Leser einen schwierigen Streit an (S. 343). Für den Autor gibt es also keinen Zweifel, dass der Dialog den Revisionismus bestätige (S.
297). Seine Verbindung zu m Timaios werde durch die pythagoreische Stimmung offenkundig, die Verbindung zum Parmenides durch die Problematik des Einen (S. 310-313). Eigentlich sei diese Problematik nicht bloß ein anderer Gegenstand, sondern vielmehr we rde der ganze Dialog absicht lich zu dem Zweck gestaltet, sie hervorzurufen (S.
298). Der Dialog füge eine Rehabilitierung des Werdens hinzu, und zwar eine sehr entschiedene, weil Sokrates selbst versuche, das Sein mit dem Werden (génesis eis ousían) zu mischen (S.315-316). Mit Bezug auf das Ei n e habe der Parmenides aber s chon durch die erste Hypothese dem Leser einerseits beigebracht, dass die He rstellung ein es „One out of the Many“, wie etwa Philebos ‘ Mischung des Einen und des Viel en, widersprüchlich und darum falsch sei. Mit Bezug auf den Timaios und das Werden haben die Politeia sowie der Phaidros und der Parmenides ander er seits den Leser angeregt, der Vermischung zwischen Sein und Werden zu widerstehen. D emzufolge gehe es um eine „ basanisti s che “Rehabilitierung des Werdens, die Platon, der Lehrer, für seine Studenten vorberei t et habe (S. 346-7).
Was den Kratylos angeht, bemüht sich der Autor, die vielen Verbindungen zum Naturalismus des Philebos und die Rolle Heraklits zu unterstreichen. Zu diesem Punkt hebt er wieder hervor, dass man die Dialoge immer als Gesamtheit lesen müsse. Die Rekonstruktion der Les e ordnung erwarte von den Lesern, dass sie den vorherigen sowie den nachfolgenden Dialog in Erwägung ziehen (S. 353). Daher präsentiere der Kraty los zwei Thesen: erstens, dass die physikalischen Dinge, in Übereinstimmung mit dem Philebos, eine ousía haben; zweitens, dass die Namen diese ousía offenbaren können, eine Idee, der man in den Etymologien des Eut hyphron, der dem Theaitetos nachgeordnet sei, wieder begegnen werde (p. 355). Der Autor aber erklärt, inwiefern die Annahme der ersten These verantwortlich für die Widerle gung des Kratylos sei (S. 363). Daneben erhellt er, inwiefern beide Thesen auf der Lehre Heraklits beruhen. Heraklit werde noc h ein e sehr wichtige Rolle in der Les e ordnung spielen, da die R ü ckkehr zur Höhle, die sowohl im Exkurs des Theaitetos als auch in der Apologie diskutiert werde, zugleich das Sein von Parmenides und die Fluss Lehre von Heraklit voraussetze.
Diese Art Natur alismus taucht im Theaitetos wieder auf. Doch sein Hauptpunkt sei natürlich der Exkurs über den Philosophen, der genau in der Mitte des Dialogs stehe. Mehr noch, nach A. steh t der Theaitetos in der Mitte der gesamten Spätdialoge (S. 386). Da in der dramatischen Reihe der Euthyph ron dem Theaitetos folge, eine Verbindung, die das Kompositionsparadigm a vernachlässigt habe, sieht der Autor den Exkurs als ganz problematisch an, besonders was die Angleichung an Gott betrifft. Denn Euthyph ron biete ein peinliches und komisches Beispiel, wenn er sich nach dem Exempel des Zeus richte, um seinen eigenen Vater strafrechtlich zu verfolgen (S.392). Dieser Mangel an Mitleid und Selbstbewusstsein sei selbstverständlich etwas, das man nicht von einem Philosoph en erwarten würde. Aber das wichtigste Detail, das die Bedeutung des Exkurses aufschließe, sei Sokrates ‘ Behauptung im Prolog (144c5-8), er sei über das Leben des jungen Theaitetos informiert (S. 393). Weil der Philosoph des Exkurses sich nicht um die realen Menschen kümmer e, sondern nur um den Menschen selbst, sei d ie B ehauptung wahr, dass man Sokrates nicht mit ihm identifizieren solle. Und aus diesem Problem heraus ergibt sich die Debatte, ob Platon Sokrates hier verlässt oder nicht. A. identi fiziert jedoch ein weite res wesentlic hes Problem des Exkurses, das das Rätsel löse. Da er die Rückkehr zur Höhle ausklammer e (S. 392), widerlege er nicht nur die Politeia, sondern auch die Apologie, welche mit dem Theaitetos und dem Euthypron klar v erbunden sei. Mit seinem nächsten Schrit t vor Augen, erklärt A. zum Schluss, wie der Theaitetos sich mit dem Politikos und vor allem mit der Apologie vereint.
Ich habe mich darauf beschränkt, oben einige der relevantesten Thesen des Autors skizzenhaft vor zustellen. In diesem Rahmen kann man natürlich k eine begr ündete Meinung über so viele grundsätzliche Punkte des Platonismus mitteilen. Aufgrund der bewundernswürdigen Gelehrsamkeit des Autors und der Neuheit seiner Perspektive wü rde ich jedoch dem Leser vors chlagen, dass er das Buch im Sinne der antike n Eunoia liest. Neben einer tief gründig en Diskussion erhellt A. Platons Werk mit offensichtl icher Begeisterung und verfügt dazu über viele fesselnde Hypothesen, die berühmte Probleme vielleicht lösen können. Ohne die Wahrheit ihrer vielfältigen Ideen zu bewerten, stellt A.‘s Buch insgesamt eine der gründlichsten und kreativsten nordamerikanischen Platondeutung en dar, die wohl neben den Werke n von Paul Shorey, Gregory Vlastos, H. F. Cherniss und Charles Kahn einen gleichrangigen Platz verdient. Schließlich hat uns A. als ehemaliger Lehrer einiges über Platon s Philosophie mitzuteilen. Darum kann sicherlich jed er undogmatische Leser von seinen intelligenten Einsichten profitieren, während die Dogmatische neinen ehrenwerten Kampf, und zwar eine gigantoma khía perì tês gen éseō s Plátonos, auszufechten finden werd en. 1
Nota
1 Für ihre wertvo lle Hilfe mit dem Stil und den Sprachkorrekturen möchte ich hiermit meinen Freunden, Dr. Sven Meier und Dr. Werner Ludwig Euler, herzlich danken.
ReferênciaS
ALTMAN, W. H. F. (2016). The Guardians in Action: Plato the Teacher and the Post-Republic Dialogues from Timaeus to Theaetetus. Lanham, Lexington Books.
R. Engler – Universidade Federal do Paraná – Curitiba – PR – Brasil. E-mail: reusengler@gmail.com
Enquête systématique sur le rapport de distinction entre les Formes et les particuliers dans les dialogues – PITTELOUD (RA)
PITTELOUD, L. La séparation dans la métaphysique de Platon: Enquête systématique sur le rapport de distinction entre les Formes et les particuliers dans les dialogues. Sankt Augustin, Academia Verlag, 2017. Resenha de: SABRIER, Pauline. Revista Archai, Brasília, n.24, p. 309-315, set., 2018.
This book addresses a crucial topic in Plato’s metaphysics, namely Forms’ separation from sensible things (SEP). Due, at least in part, to Aristotle’s report on the theory of Forms, separation is oft en seen as a central but problematic feature of that theory; it differentiates it from other essentialist theories, especially Aristotle’s, and, according to many critics, it is the feature that makes the theory particularly difficult to defend. In this bo ok (written in French), Luca Pitteloud addresses the following questions: Are Forms separate from sensible things? And if so, what is meant by separation? To answer these questions, Pitteloud undertakes a survey of the whole platonic corpus: starting with the Hippias Major he examines several major dialogues, including Phaedo, Phaedrus, Republic, Parmenides, Sophist, finally concluding with the Timaeus. The outcome of this meticulous and comprehensive survey is that: (1) Forms are separate from sensible thi ngs, and (2) separation means that Forms are related to sensible things in the way that a model is related to its image, namely (2i) sensible things are ontologically dependent on Forms but (2ii) to look at the model and to look at the image is to look at the same thing from two different viewpoints.
This interpretation stands out from the common view about separation, according to which separation centres on the capacity Forms have to exist independently of sensible things. In Chapter 2, Pitteloud tackles the crucial question, addressed in the Phaedo, of the relation between the separation of the soul from the body, and the separation of Forms from sensible things. The core question is whether separation in these two cases is comparable. The major claim th at Pitteloud defends in this chapter is that although Plato does say that the soul is separate from the body, this is different from the way in which Forms are separate from sensible things. Indeed, that the soul is separate from the body means that the so ul can exist unembodied, and this can happen in two ways: (SEP1) when the soul is separate from the body through death and (SEP1’) when the soul is separate from the body through philosophical activity. In other words, talking about how the soul is separat e from the body amounts to talking about different ways the soul can exist: embodied or disembodied. According to Pitteloud however, this is different from separation in the case of Forms and sensible things (SEP) for (i) Plato does not discuss different m odes of being in the case of Forms and (ii) we do not find the idea that Forms must be purified from sensible things, as, it seems, the soul must be when separated from the body.
Pitteloud’s point is not to deny, of course, that there is a sense in which Forms are independent from sensible things, namely in so far as Forms do not depend on sensible things for being what they are. His point is, rather, that this is not what Plato is after when dealing with separation. On Pitteloud’s reading, the question that motivates the topic of separation is the question how Forms are related to sensible things. For there is a tension between, on the one hand, Forms being not only different but also indepen dent from sensible things, and, on the other hand, their being deeply connected with the sensible things that resemble them, participate in them, and of which they are causes. For Pitteloud, this tension can be observed from the two ‘viewpoints’ on Forms, as he himself labels them, that are found in the dialogues: sometimes, Forms and sensible things are described as being two different ontological categories (CAT), whereas, at other times, they are described as comprising two degrees within the same ontolo gical category (DEG). A point that Pitteloud makes in the book is that while Plato seems to favors the (CAT) viewpoint in dialogues like the Phaedo, he ultimately comes to reject it and adopts (DEG). This evolution, or development in Plato’s treatment of s eparation is reflected in the structure of the book, as the six chapters follow Plato’s progression on the topic. Although it is not the purpose of the book to enter the debate between developmentalism and unitarianism, Pitteloud’s analysis of separation i s set up within a familiar pattern of reading Plato’s dialogues according to which the socalled late dialogues are meant to correct issues that arose from Plato’s earlier views. The difficulty that arises from the (CAT) viewpoint is that it is not at all clear to which ontological category sensible things belong. On the one hand, Forms are sharply distinguished from sensible things in that Forms belong to the category of being whereas sensible things are excluded from it. On the other hand, sensible things are something as opposed to nothing at all; hence they cannot simply belong to the category of notbeing. Both horns lea d to a deadend.
The key for understanding separation, and the turning point in Plato’s reflection, is the analysis of the image metaphor in the Republic. In Chapter 4, Pitteloud argues that this metaphor can be understood in two ways that he sees as complementary: (a) For ms are the model of which sensible things are the images, just like a painting is an image made after a model, or just like Socrates’ reflection in the mirror is the image of the real Socrates. (b) Thinking about craftsmanship, a Form is a model in the sen se of being the structure on the basis of which all the particular instances are made. This metaphor brings in two important elements to understand the relation between Form s and sensible things in Pitteloud’s reconstruction. First, if Forms are related to sensible things in the way a model is related to its image, then we need something in which the image appears, which is neither identical with the image nor with the model (e.g. a mirror in the case of Socrates, stone or bronze in the case of the statue).
Second, there is a sense in which looking at the image and looking at the model amounts to looking at the same thing but from a different perspective. For instance, to look at Socrates himself or to look at his image in the mirror is just two different wa ys of looking at Socrates. This applies equally to Forms: they can either be considered in themselves or as they appear in the sensible.
In Chapters 5 and 6 Pitteloud shows how the changes invited by the image metaphor are taken on board in later dialogue s. In the Sophist (Chapter 5), Plato upgrades the status of sensible things, first by drawing a distinction between an image and an illusion, and second by introducing changing things into being, thereby broadening the scope of being. The next, crucial ste p is taken in the Timaeus (Chapter 6), where Plato posits the existence of the Receptacle, that is, that in which sensible things appear. Forms themselves are not in the Receptacle; only their images, i.e. sensible things, are. In this way, the Receptacle is that which provides for the possibility of the image’s existence; without anything in which it can appear, there can simply be no image. The introduction of the Receptacle entails that sensible things are not only ontologically dependent on Forms, but t hey are also ontological dependent on the Receptacle. Being both dependent on Forms and on the Receptacle, sensible things are ‘in between’, they are properly ‘intermediate’. For Pitteloud, taken together, these changes are the sign that by the time of the Timaeus, Plato has abandoned the (CAT) viewpoint and now defends the (DEG) viewpoint. Ultimately, if there are two different categories, they are that of the model and that of the Receptacle. But sensible things are not a different category from Forms, ra ther, both Forms and sensible things are different degrees within the category of being. That the Timaeus does not solve all the problems related to the relation between Forms and sensible things is clear, but for Pitteloud, it contains Plato’s final word about the issue of separation.
Pitteloud’s book has a number of strengths, not least its methodical treatment of the issue of separation. Special mention should be made to the long appendix at the end of the book that provides, amongst other things, a com prehensive account of all occurrences of the terms for ‘paradigm’, ‘image’, ‘copy’ and for ‘separation’ in Plato that is extremely useful. The core of the book, and what makes it stand out from other works on the topic, is the alternative account of separa tion that it defends. It seems that Pitteloud has a point when he argues that we should be careful not to apply the conclusions we can draw from separation in the case of the soul and the body to the case of Forms and sensible things. His own solution, nam ely the claim that the image metaphor is the key to separation, is convincingly argued for and the textual evidence he provides is substantial. More to the point, Pitteloud’s interpretation avoids many of the difficulties that normally arise when dealing w ith separation. To begin with, the view that Forms are separate is often read as implying that Forms are selfsufficient. This is the idea that a Form can exist itself by itself, that it need not enter into any relations to be what it is. This view, howeve r, creates difficulties every time Plato suggests that Forms are related to one another. By contrast, the image metaphor makes clear the respect in which Forms are selfsufficient: namely in respect of their relation to sensible things. Indeed, Forms do no t depend on sensible things for being what they are, whereas the converse is not true. But this by no means implies that Forms are not related to one another. Another typical problem that is often associated with separation is the question of the immanence or transcendence of Plato’s Forms. Now, if we follow this idea that Forms are to sensible things what a model is to its image, then the question whether Forms are immanent or transcendent is of little relevance. For we would hardly be willing to say about Socrates that he is in his reflection, or that he is in the mirror that reflects him. Rather, it is a property of the mirror to be such that it can contain an image of Socrates, and it is his image that is in the mirror, not Socrates himself. Thus with th e image metaphor, the emphasis is on the distinction between Forms, their images and that in which their images appear. This brings me to a last point in favor of Pitteloud’s reading, namely the role it gives to the Receptacle. Often the question is how to conceive of the receptacle, whether it is space or matter. On Pitteloud’s reading however, we need not choose between the two options. Indeed, the Receptacle being that in which the image appears, it is in a sense both space and matter. This sheds new lig ht on this difficult aspect of the Timaeus.
Less convincing however is Pitteloud’s claim that separation requires Plato to move from a (CAT) reading to a (DEG) reading of the relation between Forms and sensible things. The main worry is that Pitteloud see ms to take (CAT) and (DEG) to be plainly incompatible: Plato would hold the one or the other but could not hold both. In other words, Pitteloud seems to rule out from the start the possibility that one can, at the same time, divide existing things in two d ifferent categories and also assert that these two categories are related in such a way that the one is dependent on the other for what it is. It is not clear, however, that this is so. Admittedly, the one does not imply the other, that is, one can defend a two category ontology without at the same time defending the view that there is an ontological dependence between these two categories. But this does not imply that the two are incompatible. It seems that Pitteloud’s rationale for holding the incompatibi lity between (CAT) and (DEG) is that, in the specific case of Plato, the one category is, precisely, the category of being. Hence the following problem: if the one category is that of being, then what can the other be? Now, this is a problem only if by ‘be ing’ here, one means the totality of what there is. For in that case, it seems that there can be no category outside of being. But this is not the only way to conceive of being, and certainly not the only way available to Plato. For Plato himself often use s ‘being’ in the sense of ‘primary being’, and not in the sense of the totality of what there is. So it is not clear why Pitteloud rules out the possibility that (CAT) and (DEG) are compatible. Opposing (CAT) to (DEG) even seems to generate more problems t han it solves. For, as Pitteloud himself acknowledges, there is a passage at Timaeus 48e3 where Timeaus declares that he is now going to distinguish a third kind (triton genos) on top of the two kinds (duo eidê) he already admitted. This is certainly a bac k reference to the previous account of the universe that he gave, but it is also a reference to Phaedo 79a6 which is the basic reference for the (CAT) viewpoint. Moreover, Pitteloud himself suggests that the model and the Receptacle may ultimately be two d istinct categories. But he does not say why what he thought was problematic in the case of sensible things is not longer problematic in the case of the Receptacle. All in all, we might have expected more clarity regarding some of the metaphysical theses de fended in the book. Nevertheless, it remains the case that Pitteloud’s book makes a significant contribution to the field by defending an alternative, and convincing, account of separation.
Pauline Sabrier – Sun YatSen University Zhuhai (China). E-mail: sabrierp@tcd.ie
Seneca: selected dialogues and consolations – ANDERSON (RA)
ANDERSON, Peter J. Seneca: selected dialogues and consolations. Indianapolis: Cambridge, Hackett Publishing Company, Inc, 2015. Resenha de: DINUCCI, Aldo. Revista Archai, Brasília, n.21, p. 337-340, set., 2017.
This volume presents a selection of Seneca’s dialogues and consolations. It is composed of introduction, the translations of selected Seneca’s dialogues and consolations, biographical information of key individuals, glossary of Latin words, and index of historical persons. The five parts of the book are thus briefly described and evaluated below.
The Introduction is divided into eleven sub- sections. In the first subsection, Anderson presents a well-written account of Seneca’s life (p. xi- xiii). Concerning the philosopher’s exile after his implication in an adulterous affair with Julia Livilla, Anderson points out that almost all ancient sources consider Seneca not guilty. A weak point in this argument is that Anderson does not mention the referred primary historical sources, which would be useful to the reader.
The next sub-section deals with the literary qualities of Seneca’s philosophical writings. Anderson correctly points out that literary form and philosophy are, in Seneca, two sides of the same coin, noting that, through these writings, Seneca is simultaneously aiming at showing literary excellence and at philosophically persuading the reader. In the third subsection (“A note on the translations”), Anderson discusses the difficulties to render Seneca’s dialogues in English. In order to achieve this, the translator – based on Lindsay’s Oxford classical text – tries to replicate Seneca’s prose, consistently rendering the following six key words: animus as “spirit”, mens as “mind”, virtus as “virtue”, otium as “retirement”, bonum as “good”and malum as “bad”.
The next sub-section examines the interplay between Seneca and Stoicism. In the historical account of the Stoic school, however, Anderson does not mention Diogenes of Babylon. Some information about him should be provided, as he was the first Stoic philosopher in Rome, being sent to the Eternal City (together with the Academic Carneades and the Peripatetic Critolaus) in 155 BC to appeal a fine, and to deliver public lectures on Greek philosophy, which much impressed the Romans (cf. Aulus Gellius, Attic Nights, vii. 14; Cicero, Academica, ii. 45).
After the historical account, Anderson makes two important assertions: in the first place, in Seneca’s time, Stoicism was a “holistic practice of a set of principles and belief “(p. xviii), which is in marked contrast to the contemporary conception of philosophy; secondly, there are centuries of other philosophers’ reflections behind Seneca’s arguments.
The next subsections present and clarify the following Stoic reflections and concepts that underlie Seneca’s philosophical works: the concept of a providential and living god (p. xx), the celebrated expression “to live according nature”, the idea that each person is responsible for her or his actions through the rational capacity and the use of impressions (phantasiai), the concept of oikeoisis (p. xxii), and the indifferents (adiaphorap. xxiii).
In this latter sub-section, Anderson correctly notes that, for the Stoics, things as wealth (which was the same of Seneca’s case) and poverty are indifferent and, therefore, cannot guarantee happiness (p. xxiv), which is an important thing to note, as sometimes Seneca’s wealthy is regarded as inconsistent with his claims of being a Stoic. In fact, for the Stoics, wealthy can be used for the good or for the bad, as everything else which is indifferent.
The introduction ends with three informative sub-sections: the dating and the addresses of the dialogues and consolations, and a further reading sub-section.
Anderson translates the following Seneca’s works: “On providence”, “On the resolute nature of the wise man”, “Consolation to Marcia”, “On the happy life”, “On retirement”, “On serenity of the spirit”, “On the shortness of life”, “Consolation to Polybius”, “Consolation to his mother Helvia”. The subtitles of these works are the original and correspondent ones in Latin. My only suggestion with regard to the translation of the titles is the rendering of De constantia sapientis as “On the resolute nature of the wise man”, which would be better translated as “On the firmness of the wise man”.
Anderson’s translations of Seneca’s selected works are sound. Elucidative footnotes, mainly concerning individuals and historical facts mentioned by Seneca, are supplied. The book ends with biographical information for key individuals, a glossary of Latin words and an index of historical persons.
In summary, the book provides good translations and plenty information concerning Seneca’s dialogues and consolations. Thus, it is an excellent tool for students and teachers of Latin literature and Stoic philosophy.
Aldo Dinucci – Universidade Federal de Sergipe (Brasil). E-mail: aldodinucci@yahoo.com.br
Platão. Helenismo e diferença – AZEVEDO (RA)
AZEVEDO, Maria Teresa Nogueira Schiappa de. Platão. Helenismo e diferença. Raízes culturais e análise dos diálogos. Coleção Archai. São Paulo: Annablume Clássica, 2012. Resenha de: OLIVEIRA, Francisco de. Revista Archai, Brasília, n.9, p.137-140, jul., 2012.
A obra “Platão. Helenismo e diferença. Raízes culturais e análise dos diálogos “aparece publicada sob patrocínio do grupo Archai, consagrado como Cátedra Unesco Archai, que se dedica às origens do pensamento ocidental. A editora é a AnnaBlumme Clássica, de São Paulo, de cujo conselho editorial faz parte o colega e amigo Gabriele Cornelli, que saúdo também como presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos e enquanto cooperante com o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, em cujo âmbito foi elaborado o belo texto que tenho a honra e o prazer de apresentar.
E começo por me referir à sua autora, Maria Teresa Schiappa de Azevedo, que é bem conhecida pela inteligência, argúcia, capacidade crítica e escrita escorreita e elegante. Além disso, trata-se de uma investigadora que domina como poucos a obra de Platão, por um contacto de longos anos em estudos e traduções sempre de elevada qualidade, numa abrangência e aisance que logo são percetíveis na questão sempre difícil da cronologia da obra platónica, cuja discussão nas p.21-31 é um exemplo de análise especialmente conseguida e com grande capacidade crítica e espírito sintético, na linha de Cornford, embora divergindo dele quanto ao Fedro e ao Crátilo (cf. p.29).
E não se trata de um simples rememorar desta velha questão, pois um dos mais profícuos resultados da investigação produzida é exatamente mostrar como, sobre um tema preciso, o pensamento platónico foi sofrendo evolução ao longo do tempo e graças às vivências do próprio filósofo. Essa evolução é rastreada tanto na evolução do pensamento como a nível da arte do diálogo, incluindo a caraterização das personagens e a sua origem, e a de Sócrates em especial (ver p.175 ss., início da Segunda Parte), bem como a escolha dos cenários dos diálogos. M. T. Schiappa de Azevedo assinalou ainda, de forma magistral, a maneira como essa evolução do pensamento e da arte de Platão correspondia, também, à evolução da Atenas coeva e do resto do mundo grego, que passam por alterações muito significativas, em especial na época em causa, entre Péricles e o período helenístico.
A edição agora em apreço faz juz a todas essas qualidades: bem informada, bem escrita, bem organizada. A obra estrutura-se em 3 partes, para além de uma Introdução:
PRIMEIRA PARTE
1. Pressupostos metodológicos (cronologia, Athenaioi, xenoi e barbaroi;
2. Cronologia
2.1 Athenaioi, Xenoi e Barbaroi 31
2.2. Estatuto genérico nos diálogos platónicos 31
2. O testemunho do Crátilo 47
1. Sócrates em Platão
2. Sócrats e Atenas 59
3. Sócrates e xenoi 74
3. Incidências orientais e recriação platónica 79
1. Música grega e incidências orientais 89
2. Divindades orientais e recriação platónica 93
2.1. As duas Afrodites 93
2.2. Adónis 105
2.3. O dionisismo 119
2.4. o xamanismo 134
SEGUNDA PARTE. Diálogos da primeira e da segunda fases
1. Atenas no contexto helénico 175
2. A cidade 175
- A cidade e os mitos das origens 178
2.1. O Eutidemo e o mito de Íon 178
2.2. O Menéxeno e o mito da autoctonia 185
3. Menção genérica de outros Estados gregos 190
4. Lacedemónios 194
2. Atenas e a Antinomia Grego / Bárbaro 213
1. Contextualização 213
2. O testemunho dos diálogos 217
3. O Grande-Rei 224
4. Nomos / Physis na antinomia Grego / Bárbaro 230
TERCEIRA PARTE. Diálogos da terceira fase (últimos diálogos) 249
1. Atenas no contexto helénico 251
1. Atenienses e Xenoi 251
2. A Academia e a experiência siciliana 260
3. Uma nova vivência de xenia 283
2. Atenas e Bárbaros 291
1. Linhas de evolução 291
2. Egípcios 307
2.1. Contextualização 307
2.2. O Egipto de Platão 311
3. Persas
3.1. Contextualização 327
3.2. A Pérsia de Platão 331
4. Vias de superação da antinomia Grego / Bárbaro 338
Em relação a esta estrutura, acrescem conclusões (p.347) bem apropriadas e muito lógicas e fundamentadas; bibliografia exaustiva e criteriosa; um bom índice de autores antigos e fontes.
Diria somente que me pareceria interessante acrescentar um índice temático, pois temas e conceitos interessantes não faltam nas páginas que preenchem o esquema apresentado.
É o que logo se vê nas páginas introdutórias. Num verdadeiro sumário do estado da questão, a própria autora afirma, na p.12: são “escassos os estudos que tratem a questão incontornável da relação grego/ bárbaro através do texto platónico”, prejudicada, para alguns críticos, “pelo peso do passo 470c-471b da República, onde a cruzada pan-helénica da retórica do tempo se traduz na palavra de ordem “contra os Bárbaros”. Mas é a excepção e não a regra, como espero deixar demonstrado na análise que se segue”.
São também explanados alguns pressupostos metodológicos, que enuncio novamente através das palavras da própria autora (p.15-16):
– “a imprescindibilidade de distinção entre estrangeiro grego (xenos) e estrangeiro bárbaro (barbaros), sem a qual será difícil evitar algumas ambiguidades interpretativas – como sucede no estudo, em vários aspectos aliciante, de H. Joly;
– a importância da língua na perspectivação da dicotomia grego/ bárbaro (e parcialmente, da sua superação), de acordo com as reflexões linguísticas e etnográficas que passam do séc. V a.C. às décadas iniciais do século seguinte, concentrando-se no Crátilo;
– a projecção da figura de Sócrates num conceito de cidadania que congloba valores atenocêntricos específicos, sobretudo presentes na primeira fase dos diálogos (mas nunca de todo abandonados);
– a viragem essencial que eventos decisivos da vida de Platão, nomeadamente a primeira viagem à Sicília e a fundação da Academia, consignam na abertura dos diálogos do último período ao mundo dos xenoi e dos barbaroi”.
Esta súmula permite facilmente entrever a riqueza de conteúdo de um estudo que, logo ao escolher a temática proposta, vai tratar um vasto acervo de questões de grande relevância em termos científicos e de atualidade, e alguns até espinhosos, como a interpretação do papiro de Derveni.
Respigo algumas ideias da leitura que fiz. Schiappa de Azevedo sabe contextualizar muito bem as problemáticas discutidas, mostrando como o fenómeno de aculturação se relaciona com permutas e veículos diversos, incluindo a diplomacia e a guerra, o que se torna evidente nos intercâmbios com a Pérsia após as invasões do continente grego. Aqui, o bárbaro inimigo já tinha uma história de relacionamento com a Hélade desde a época minóica e micénica, e em particular desde o período arcaico, quando a aristocracia usava marcas de vestuário persa como sinal de elitismo, fenómeno a que Miller chama perserie (p.299); o inimigo bárbaro, dizia, verá a sua imagem liberta dos estereótipos tradicionais que baseavam a felicidade do Grande Rei no ouro, ideia desprezada no Teeteto, 175c (p.275; cf. Lísis, 209d, Ménon, 78d ou a embaixada persa nos Acarnenses de Aristófanes); sob a influência de Xenofonte, a Pérsia passa mesmo a fornecer paradigmas de comportamento à sociedade grega (p.336). Mais do que isso, é bem posto em relevo como a evolução cultural está fatalmente ligada a circunstancialismos históricos, como quando o imaginário grego substitui o bárbaro persa pelo bárbaro cartaginês ou osco, agora os verdadeiros inimigos de um pan-helenismo já alargado, em finais do séc. V, aos colonos gregos da Magna Grécia e da Sicília.
O exempo da Pérsia e do Grande Rei é apenas uma faceta da apropriação das sabedorias bárbaras praticada pelos gregos, apropriação que, naturalmente supõe ou cria as condições para o reconhecimeno, nos bárbaros, de um Outro que tem mérito e que pode, até, ser superior aos gregos em domínios específicos, da religião à organização política, a ponto de a imagem da Pérsia ideal — a de Ciro —, lembrar Atenas nos seus melhores tempos (p.333; cf. Carta VII, 332a-b, que classifica Dionísio I de Siracusa como “sete vezes menos sábio do que Dario”, p.336). Isto para não falar noutros sinais da influência assíria, caldaica e mesopotâmica, com que poderíamos relacionar os mitos da República e do Fedro, ou a filosofia dualista do Bem e do Mal, do Alcibíades I.
É esse também o caso do Egipto, cuja fonte de conhecimento primacial, à época, é o livro II de Heródoto, um Egipto exaltado por domínios artísticos, como a música e a dança, e científicos, como a farmacologia, a escrita, o ensino da matemática (veja.-se o mito de Theu, no Fedro e Leis 819bd); a aura de simpatia de que goza em Atenas assenta, além do mais, em alegadas relações entre Atenas e Saís – que, segundo o Timeu, 21e e 23-24, teriam sido fundadas pela mesma divindade (Neith na língua egípcia, Atena em grego) – e que beneficiariam de um intercâmbio regular, estabelecido após a fundação do porto de Náucratis e da colónia de Cirene, bem como do casamento do faraó Âmasis com uma grega. Os atenienses e Platão admiram no Egipto a sabedoria milenar e a estabilidade política de um regime baseado numa hierarquia social que terá servido de inspiração à República e às Leis.
A brevidade implícita nesta apresentação permite-me ainda relevar o modo como a cidade de Atenas é apresentada, e com bom fundamento na obra platónica, como cidade que, apesar do mito da autoctonia ou até graças a ele — e fazendo juz às referidas ligações preferenciais ou até originárias com a Iónia e com Saís —, se vai sabendo abrir à diversidade e à tolerância, primeiro na perspetivação de um ideal pan-helénico, depois a estrangeiros bárbaros, firmando-se no culto de Zeus Xenios (Leis, 953de). Acompanhando este percurso, a Academia funciona, a seu tempo, como instituição aberta a xenoi de toda as cidades gregas e mesmo a estrangeiros – e quadra bem ter sido doado por Anicéris de Cirene o terreno onde se fundou a Academia. Como escreve a autora, p.326: “os sistemas legislativos platónicos mantêm no conjunto o respeito pela diversidade, que os diferentes povos e Estados gregos foram consciencializando na sua evolução comum”.
Em suma, recomendo esta leitura, tanto pelo valor científico como por ser uma imagem expressiva da verdadeira paideia grega, base da tolerância europeia da alteridade. E Schiappa de Azevedo demonstrou cabalmente o enorme contributo de Platão para essa maravilha: “Ao longo do séc. V a. C., o conhecimento e a aceitação mútua de padrões civilizacionais diversos foram ganhando ‘simpatizantes dos Gregos’ (phillelenes) entre os Bárbaros e ‘simpatizantes dos Bárbaros’ (philobarbaroi) entre os Gregos (p.343); ou ainda, a propósito das Leis e do uso polissémico do termo xenos: “o intercâmbio deliberado da condição de xenoi, que os três interlocutores partilham entre si nas fórmulas de tratamento, anula idealmente a dicotomia entre polites e xenos, presente de forma mais ou menos perceptível nos diálogos anteriores”(p.285-286).
Francisco de Oliveira – Universidade de Coimbra. Trabalho desenvolvido no Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, no âmbito do Projecto Quadrienal da UI&D- CECH/FCT POC 2010.