Religiões e religiosidades: dinâmicas institucionais e práticas devocionais (Brasil e Portugal, séculos XVIII e XIX) | Temporalidades | 2021

Basta lermos o jornal ou assistirmos ao noticiário na TV para percebermos que a temática da religião é recorrente em nosso dia a dia. Quem nunca ouviu a expressão bancada evangélica ou escutou que grupos políticos alteraram seus discursos para não desagradar a determinados segmentos religiosos? Quem, nos últimos 20 anos, não se deparou com o conceito de fundamentalismo ou de guerra santa? Não há como negarmos a influência cultural das religiões ainda hoje. Além disso, percebemos uma constante tensão entre diferentes crenças no Brasil. Basta uma busca rápida no Google para localizarmos diversas informações sobre a violência e a intolerância religiosa. O jornal Correio Brasiliense divulgou, no ano de 2019, que as religiões afro-brasileiras são alvos de 59% dos crimes de intolerância no Distrito Federal [1]. O Relatório sobre intolerância e violência religiosa no Brasil (2011-2015) analisou a crescente violência noticiada na imprensa. Segundo os dados, 53% dos agredidos são de religiões afro-brasileiras [2]. O que explicaria toda essa violência? Por que as religiões afro-brasileiras sãos as que sofrem mais ataques? Não são questões simples de serem respondidas, mas são possíveis de serem analisadas à luz da História das Religiões. Marcelo Massenzio, ao analisar a obra de Angelo Brelich, lembra-nos que os fenômenos que atribuímos ao plano da religião podem ser percebidos em distintas sociedades, mas o conceito religião não. Este é uma construção própria do ocidente cristão (MASSENZIO, 2005, p. 179). Leia Mais

Devoções, festas e sociabilidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015

Caros leitores!

É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo primeiro número da Revista Brasileira de História das Religiões!

Nesta edição contamos com artigos em torno da temática “Devoções, festas e sociabilidades”, resultante do V Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH), realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 01 a 04 de dezembro de 2014. Nosso especial agradecimento às coordenadoras do evento, professoras Edilece Souza Couto e Elizete da Silva, que tornaram possível mais um debate qualificado e relevante para a temática das religiões e religiosidades e, junto a isso, a consolidação progressiva do GTHRR. “

Devoções, festas e sociabilidades” foi o tema desta edição do encontro, que oportunizou produtivas discussões, agregando significativas contribuições às nossas pesquisas e à nossa atuação docente. O evento contou com duas conferências proferidas pelas prefessoras Dra. Patrícia Folgeman (UBA) e Dra. Solange Ramos de Andrade (UEM).

As mesas-redondas versaram sobre variadas manifestações religiosas, contando com a presença dos seguintes profissionais: Eliane Cristina Deckmann Fleck (UNISINOS), Marta Borin (UFSM), Renata Siuda-Ambroziak (Universidade de Varsóvia Polônia), Antonio Lindvaldo Souza (UFS), Jânio Roque Castro (UNEB), José Roberto Severino (FACOMUFBA), Cândido da Costa e Silva (UCSAL), Edilece Souza Couto (UFBA), Mauro Passos (UFMG), Francisco Cancela (UNEB), Maria Hilda Baqueiro Paraíso (UFBA), Milton Araújo Moura (UFBA), Artur César Isaia (UFSC), Ileana Hodge (Universidad de Cuba), Vanda Fortuna Serafim (UEM), Fabrício Lyrio (UFRB), Íris Verena Oliveira (UNEB), Marli Geralda Teixeira, Elizete da Silva (UEFS), Lyndon Araújo (UFMA), Vasni Almeida (UFT), Leonardo Ferreira de Jesus (Rede Estadual da Bahia), Marcos Diniz (UECE) e André Luis Mattedi Dias (UFBA).

Essa edição da RBHR propriamente dita compõe-se de trabalhos que evidenciam a proficuidade dos estudos temáticos. O texto que abre as discussões “Festas, Devoções e sociabilidades” é uma contribuição da historiadora Patrícia Folgeman e contempla, de modo emblemático, um esforço que perpassa os demais trabalhos, isto é, pensar a “religião” e suas interfaces com outros conceitos utilizados na historiografia como “religiosidade” e “religiosidade popular”, contemplanto o uso de imagens, a criação e circulação de discursos religiosos e as redes de relações sociais derivadas de grupos e instituições.

O texto de Renata Siuda- Ambroziak trata das devoções marianas oficiais em análise comparativa do Brasil e Polônia, especificamente das crenças e práticas em prol de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora do Monte Claro, evidenciando suas aproximações e singularidades. Ainda analisando as crenças e práticas em honra a Nossa Senhora, Marta Rosa Borin avalia as tensões e conflitos referentes à devoção mariana no Rio Grande do Sul no início do século XX. Sua abordagem avalia as devoções a Nossa Senhora Medianeira Mediadora de Todas as Graças e A Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schöenstatt e as tentativas de consolidação e hegemonia aventadas pelos propulsores de cada devoção.

Eliane Cristina D. Fleck atém-se a devoção e piedade dos índios Guarani manifestas na religiosidade das missões jeusítico-guaranis do século XVII, a partir da documentação das Cartas Ânuas, analisadas pela autora. Mauro Passos, por sua vez, avalia a plasticidade da tradição religiosa e da sociabilidade do Congado no interior de Minas Gerais, salientando as idiossincrasias entre a religião oficial e a religiosidade popular ante tais práticas. Um olhar para as práticas devocionais também é foco de análise de Edilece Souza Couto, que em seu artigo atenta para as irmandades e ordens terceiras existentes em Salvador / BA, analisando as transformações arquitetônicas e legais que incindiram sobre as práticas religiosas ali realizadas.

A cultura e a religiosidade indígena e afro-brasileira também estão contempladas nos artigos de Francisco Cancela, Artur Cesar Isaia e Vanda F. Serafim. Cancela apresenta resultados de sua pesquisa acerca dos rituais mágico-curativos realizados em Porto Seguro entre os séculos XVIII e XIX. O autor evidencia o quanto práticas qualificadas como bebedeiras, batuques e superstições pelas autoridades evidenciavam a criatividade de seus partícipes em afirmar, reiventar e ressignificar valores tidos como oficiais para manter elementos de sua cultura. Para tanto o autor evidencia os intercâmbiso culturais e a socibilidade interétnica que se estabeleceram em um contexto de políticas de políticas assimilacionistas empreendidas pelas lideranças luso-brasileiras. Artur Isaia, em análise acerca do papel e atuação dos intelectuais da umbanda, evidencia seu esforço em compreender e “nomear” (termo do autor) a realidade do país considerando a própria religião como um de seus elementos base, “a” religião nacional. Vanda Fortuna Serafim atém-se ao intelectual Raimiundo Nina Rodrigues para analisar como as crenças e as devoções afro-brasileiras foram lidas pelo autor. Em especial, a autora acompanha as digressões de Nina Rodrigues concernentes ào conceito de festa. Revista Brasileira de História das Religiões.

Encerram o eixo temático dois artigos que versam sobre práticas e discursos. Marcos José Diniz Silva dedica-se a analisar o jornal O Nordeste de matriz católica e a construção de representações e valorações negativas ao espiritismo nos anos 1920. Seu foco prende-se aos mecanismos de condenação da crença espírita em expansão no sertão do Ceará. Por sua vez, o texto de Elizete da Silva pontua o investimento educativo e social dedicado às mulheres pelas religiões protestantes.

A Revista conta ainda com dois artigos livres. Em A cura dos corpos e a libertação das almas, Marilane Machado analisa como os discursos da Teologia da Libertação reverberaram na Pastoral da Saúde de Florianópolis / SC, em um contexto de extrapolamento da ação de instituições hospitalares e religiosas para a atuação junto às comunidades. Ana Rosa Cloclet Silva e Laís da Silva Lourenço, com o texto Entre a política e a religião, atém-se aos discursos difusos pelo semanário O Justiceiro , editado pelos padres Diogo Antônio Feijó e Miguel Arcanjo entre 1834 e 1835. Seguem-se a estes artigos livres duas resenhas, a primeira, de Marcos José Diniz da Silva, que apresenta a obra Do outro lado. A história do sobrenatural e do espiritismo, de Mary Del Priore; e a de Diego Omar da Silveira, que evidencia as discussões existentes na obra Intelectuais e militância católica no Brasil, organizada por Cândido Moreira Rodrigues e Christiane Jalles de Paula.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.21, jan. / abr., 2015. Acessar publicação original

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