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A viagem do Descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral – BUENO (MB-P)
BUENO, Eduardo. A viagem do Descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998 140p. Resenha de: SERAFIM, Márcia Pereira Franco. Um novo olhar sobre a História do Brasil. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.
Escrito pelo jornalista Eduardo Bueno com a consultoria do professor Ronaldo Vainfas, o primeiro volume da Coleção Terra Brasilis apresenta linguagem objetiva e de fácil compreensão. Em 140 páginas, o autor apresenta a História Marítima vivenciada pelos portugueses nos séculos XV e XVI e detalha, entre outras, a expedição comandada por Pedro Álvares Cabral.
Inicialmente é apresentado – de forma rápida, porém minuciosa – um compêndio de como a esquadra de Cabral avistou, no dia 22 de abril de 1.500, nas horas de véspera, a terra que seria posteriormente chamada de Brasil. São descritos os preparativos para a expedição incumbida pelo rei D. Manoel I e detalhes da esquadra comandada por Cabral, composta por 10 naus e 3 caravelas, tida como “um pedaço flutuante de Portugal” (p.18), “muito poderosa em armas e em gente luzidia” (p.19), com fortes influências do Cristianismo e que visava à travessia para a Índia e ao comércio de especiarias, além de tentar demonstrar o poderio militar de Portugal ao Samorim de Calicute, que havia desprezado a expedição anterior comandada por Vasco da Gama Embora a missão de Cabral fosse clara, nada o impedia de investigar os indícios da existência de terras a oeste dos Açores e da Madeira, percebidos por Vasco da Gama e tidos como “provas” pelos defensores da teoria da intencionalidade da descoberta do Brasil (p. 9).
Os capítulos seguintes trazem detalhes da História Marítima Portuguesa. No primeiro – “De Lisboa a Vera Cruz” – são abordados os aspectos da escolha dos capitães das embarcações e breve biografia; seus salários e direitos; do custeio da expedição pela iniciativa privada; das divisões da frota; da composição e da alimentação da tripulação; das características das naus, além das motivações para a decisão e a preparação da expedição de Cabral rumo as Índias.
Sabia-se que, para chegar até a Índia, a esquadra deveria realizar a manobra chamada de “volta do mar”. Ao empreender essa volta, Cabral seguiu as orientações de Vasco da Gama e abriu seu rumo para o sudoeste. Os ventos que o conduziam até a Ásia, o levaram a descobrir o Brasil. Neste ponto, fica claro o posicionamento favorável do autor à teoria da intencionalidade, ao defender que a existência da nova terra era prevista em Portugal desde meados do século XV.
Para compreender essa viagem é necessário analisar o processo expansionista dos portugueses. Assim, o segundo capítulo – “Portugal Conquista o Mundo” – traz, de forma ora sucinta, ora enfadonha, os fatos históricos afetos às ações portuguesas e, principalmente, à descoberta da rota marítima para as Índias por Vasco da Gama.
No terceiro e último capítulo – “A semana de Vera Cruz” – o autor vasculha os principais documentos da época e apresenta relatos dos 10 dias nos quais a esquadra de Cabral ficou aportada no Brasil, como as diferenças culturais e sociológicas existentes entre os indígenas e os portugueses. Retrata ainda as dificuldades de Cabral para chegar a Calicute e os desdobramentos desta chegada, além de seu regresso a Lisboa e o relato de outras expedições portuguesas, como a que levou Américo Vespúcio a batizar o novo continente e a selar os destinos do Brasil.
O apêndice aborda a tese de que a descoberta do Brasil teria sido por acaso. Em contrapartida, apresenta argumentos da intencionalidade do “achamento” de Cabral, entretanto, conclui que ambas as teses não puderam, e talvez jamais possam, ser definitivamente comprovadas. Expõe ainda que no ano de 1.920 surgiu a polêmica de que outros navegantes chegaram ao Brasil antes de Cabral, porém afirma que as consequências práticas dessas viagens foram irrelevantes para o descobrimento sociológico da Terra de Santa Cruz.
Conclui-se que esta não é uma obra que busque a discussão, mas que apresenta uma nova perspectiva sobre a História do descobrimento, mantendo-se fiel à versão oficial que considera os portugueses como navegadores audazes e reveladores dos caminhos para novas conquistas.
Acrescentando muito pouco sobre o contexto europeu da época e até mesmo sobre o processo expansionista da Espanha, principal rival de Portugal na “corrida ultramarina”, Eduardo Bueno considera indiscutível, no decorrer de toda a obra, a intencionalidade dos portugueses no descobrimento do Brasil, entretanto traz importantes dados para que inúmeras conclusões possam ser tomadas pelo leitor, uma vez que o próprio autor cita que “essa é uma questão aberta, e por assim ser só aumenta o seu fascínio” (p. 132).
Márcia Pereira Franco Serafim – CT (T) Marinha do Brasil
Relatos do descobrimento do Brasil — as primeiras reportagens – GUIRADA (RBH)
GUIRADA, Maria Cecília. Relatos do descobrimento do Brasil — as primeiras reportagens. Lisboa: Instituto Piaget, 2001, 305p. Resenha de: NOELLI, Francisco Silva. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.25, n.50, july/dec. 2005.
O diário de Pero Lopes de Sousa, escrito entre 1530 e 1532, é uma fonte de grande importância para a história da fase inicial de exploração do Brasil meridional e da foz do rio da Prata, sendo o segundo documento oficial português conhecido a ser escrito em terras brasileiras. Foi descoberto na Biblioteca Real do Paço da Ajuda, em 1839, depois de estar “escondido” por cerca de trezentos anos. O diário teve dez edições em língua portuguesa, entre 1839 e 1989, mas apenas três foram realizadas a partir da transcrição direta do manuscrito encontrado na Ajuda, a saber: 1) 1839, por Francisco Adolfo de Varnhagen; 2) 1956, por Jaime Cortesão; 3) 1968, por Jorge Morais-Barbosa. Todavia, o códice não é o diário original, mas uma “cópia incompleta e pouco cuidada do que teriam sido as anotações de Pero Lopes”, escrita com letra do século XVI.
A 11ª edição do diário, publicada em Portugal no ano de 2001, por Maria Cecília Guirado, é a melhor de todas, por tratar-se da primeira edição crítica do manuscrito da Ajuda e por apresentar ao leitor, especialista ou leigo, uma série de informações relevantes sobre o contexto da viagem e da redação do diário de Pero Lopes. Esta avaliação resultou de uma cuidadosa e erudita abordagem interdisciplinar, muito contemporânea, entre jornalismo, filologia, semiótica e história, mais o suporte da paleografia, com objetivo de “dar um tratamento jornalístico-semiótico … sem esquecer-se de retirar destes textos quadros significativos sobre a evolução das relações de alteridade, do enfrentamento civilizacional entre indígenas e portugueses”. Além do diário, Guiarado apresenta duas análises curtas, mas importantes abordagens jornalísticas da carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500, e da História da Província de Santa Cruz, publicada em Lisboa por Pero de Magalhães Gandavo, em 1576.
O enfoque central da obra é a questão da comunicação no período do descobrimento, sobre os objetivos dos cronistas ao elaborar suas narrativas e relatórios de viagem. Da competente análise de Guirado, vimos surgir um contexto em que os navegadores e os encarregados de tomar posse das novas terras estavam muito preparados em relação aos conhecimentos da época. Vemos exemplos de matemáticos portugueses, como Pedro Nunes, que em 1537 estava preocupado em aliar teoria e prática, escapando do empirismo utilitário: “manifesto é que estes descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar, mas partiam os nossos mareantes muito ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria, que são as cousas de que os cosmógrafos hão-de andar apercebidos”.
A edição crítica do diário de Pero Lopes é, sem dúvida, a grande contribuição de Guirado às pesquisas e aos pesquisadores dos descobrimentos portugueses. Antecedendo a transcrição paleográfica, vemos uma descrição detalhada do códice da Ajuda, a história completa das dez edições anteriores e a explicitação pormenorizada dos critérios usados na transcrição paleográfica, uma verdadeira aula para orientar iniciantes e profissionais em tarefas dessa natureza. A transcrição é acompanhada de várias notas de rodapé, com esclarecimentos pertinentes, e dos símbolos utilizados nos códigos de transcrição da topografia do manuscrito. Da mesma maneira procede na explicação detalhada dos fundamentos teóricos e dos procedimentos práticos utilizados para elaborar os critérios da edição crítica, incluindo regras para “regularização da epiderme gráfica” e aspectos para fixação da ortografia, em outra aula construída com erudição e fluidez literária.
O texto crítico do códice vem acompanhado de notas de rodapé com explicações sobre detalhes da redação e, com muita propriedade, do cotejo in loco com as variantes de texto encontradas nas edições anteriores. A autora explica que, ao fazer tal procedimento, as anotações “poderão ajudar o leitor a compreender o processo desta edição crítica”.
O texto crítico é seguido por um glossário de “termos de marinharia”, do “léxico comum caído em desuso e outros termos”, dos personagens citados e dos topônimos, baseado em atestações buscadas no mais completo conjunto de obras sobre os referidos assuntos. A inclusão desse aparato é de grande valia, pois é um complemento fundamental para a compreensão exata e completa do diário.
Se a edição crítica realizada por Maria Cecília Guirado passará a figurar como a melhor publicação do diário, é preciso lembrar que a segunda edição de Eugênio de Castro (1940) é a mais completa análise e interpretação, talvez definitiva, sobre o itinerário descrito no diário de Pero Lopes de Sousa. Ambas as obras, em razão do alto nível alcançado pelos seus autores, devem ser consideradas como consulta obrigatória para aqueles que pesquisam sobre as primeiras décadas da presença portuguesa na América do Sul.
Francisco Silva Noelli – Laboratório de Arqueologia, Etno-História e Etnologia, Universidade Estadual de Maringá – UEM.
[IF]A descoberta do homem e do mundo | Adauto Novaes
A descoberta do homem e do mundo é o resultado do primeiro ciclo de conferências promovido pela Funarte sobre os quinhentos anos do descobrimento do Brasil. Segundo o organizador do evento e do livro, Adauto Novaes, até o ano 2000 três outros ciclos completarão a série de palestras sobre o mesmo tema.
A partir do título, pode-se já perceber que a descoberta em questão constitui não apenas a do Novo Mundo e de seus habitantes, conseqüência imediata das grandes navegações, mas igualmente a descoberta de um homem novo a habitar o mundo velho. Dizendo de outra forma: os descobrimentos e o nascimento da modernidade são facetas de um mesmo tempo de passagem, quando o homem europeu descobre-se — ao desvelar a América —, e inventa-se civilizado — ao construir o discurso sobre a diferença, concretizada no selvagem. O ponto de partida da coletânea e de todo o projeto parece então ser o de reforçar claramente a relação existente entre modernidade e descobrimentos, ao ponto de tomá-la quase como natural, suficiente e necessária. Leia Mais