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Darwinismo / História, Ciências, Saúde – Manguinhos / 2001
Estamos chegando ao fim de mais um ano laborioso, e as bagas de suor que escorrem pela face do editor e de seus colaboradores prenunciam um verão daqueles! Quase tão quente quanto o número que depositamos em suas mãos, caros leitor e leitora. Chamo inicialmente a sua atenção para o conjunto interessantíssimo de artigos que formam o ‘dossiê darwinismo’. Provêm do 1º Seminário Internacional de Filosofia e História das Ciências da Vida, realizado na Fundação Oswaldo Cruz, em junho de 2000, por iniciativa de Vera Vidal e Ricardo Waizbort. Esses dois pesquisadores estão à frente do Núcleo de História e Filosofia das Ciências da Vida, da Casa de Oswaldo Cruz, e já promoveram um segundo seminário sobre o mesmo tema.
Ricardo abre o dossiê analisando os aportes da biologia molecular à teoria da evolução, e as perspectivas e problemas associados às abordagens que conectam esta teoria à teoria social. Segundo o autor, a solidez desta ponte depende da eliminação das barreiras que separam o público leigo “da perigosa mensagem de Darwin, que afirma serem nossas capacidades sociais e mentais originadas no reino animal, sem interferência alguma de forças especiais”.
James Lennox, um dos mais renomados estudiosos de Darwin, põe em discussão as relações entre história e filosofia da ciência, e defende a abordagem ‘filogenética’, segundo a qual os problemas conceituais e metodológicos de uma ciência podem ser esclarecidos pelo estudo de sua história, já que por ela são moldados os métodos e as bases desta ciência.
Edson Pereira da Silva narra a história da teoria evolutiva à luz do materialismo dialético, partindo das contradições entre Darwin e o modelo mendeliano para chegar ao debate, ainda atual, entre neutralismo e selecionismo. Por sua vez, Anna Carolina Regner, em denso artigo, analisa a visão de ‘natureza’ presente em A origem das espécies, e o significado que esta visão teve para a sustentação da tese de Darwin de que a seleção natural é o “meio de modificação” mais importante da natureza, a fonte de suas novas espécies.
Aldo Mellender de Araújo analisa o salto qualitativo nos estudos de evolução produzido por Theodosius Dobzhansky, o pesquisador que reuniu, a partir dos anos 1920, duas tradições em conflito, a dos naturalistas, em declínio na virada do século, e a ‘experimentalista’, calcada na redescoberta de Mendel e na constituição da genética como campo disciplinar autônomo.
O físico nuclear e teólogo (que combinação explosiva, hem?) Eduardo Rodrigues Cruz polemiza com Stephen J. Gould e Edward Wilson, propondo a ‘consonância’ em substituição à “consiliência” como programa histórica e filosoficamente mais apropriado à abordagem das relações entre darwinismo e tradições religiosas.
Por último, Maurício Vieira Martins levanta hipóteses históricas e sociais para explicar o surpreendente revival, nos Estados Unidos e em outros países, do “criacionismo”, antiga concepção que atribui a origem do mundo e do homem a um ato de criação divina.
O “dossiê darwinismo” é parte da mais-valia que História Ciências Saúde — Manguinhos extraiu de seus editores este ano, em proveito de vocês, leitores. Em janeiro estarão recebendo a outra parte, o belo suplemento do volume VIII dedicado à ciência dos viajantes.
A fração, digamos, ‘normal’ do presente número compreende quatro bons artigos — destaco o de Hebe Vessuri sobre enfermagem na Venezuela — quatro interessantes resenhas, e a seção que traz imagens da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Estas imagens e o denso texto de Luciana Mendes Gandelman, que as acompanha, complementam à perfeição o belo artigo de Laurinda Abreu sobre o papel das Misericórdias na formação do império português.
Desejamos a vocês, caros leitores, proveitosa leitura, um feliz Natal e um ano novo repleto de saúde, alegria, trabalho, melhores salários e menos violência!
Jaime Benchimol – Editor.
BENCHIMOL, Jaime. Carta ao do Editor. História, Ciência, Saúde-Manginhos, Rio de Janeiro, v.8, n.2, set./dez., 2001. Acessar publicação original [DR].