D. Dinis (Atas dos Encontros sobre D. Dinis em Odivelas) – FERNANDES et al (LH)

FERNANDES, Carla Varela; DIAS, Isabel Barros; FRESCO João; JÚDICE Nuno; BARBOSA, Pedro Gomes; MATOS, Sofia Correia de; PALMA Victor; D. Dinis (Atas dos Encontros sobre D. Dinis em Odivelas). Lisboa: Edições Colibri – Câmara Municipal de Odivelas, 2011. Resenha de: GOUVEIA, Mário de. Ler História, n.64, p.215-217, 2013.

1 A obra que agora se apresenta, intitulada D. Dinis, corresponde às Atas dos Encontros sobre D. Dinis em Odivelas, publicadas sob coordenação geral de Corália Rodrigues, Ana Santos Silva, Estela Pontes Correia e Rui Boaventura, da Divisão de Cultura, Turismo e Património Cultural da Câmara Municipal de Odivelas, em Lisboa, com a chancela das Edições Colibri e da Câmara Municipal de Odivelas, em 2011. Trata-se do sexto volume da coleção «Patrimónios», inteiramente dedicada a temáticas relacionadas com o património material e imaterial concelhio.

2 O volume é formado por um total de cento e vinte e uma páginas, com reproduções fotográficas a preto e branco. Inicia-se com uma nota de abertura, da autoria de Susana Amador, Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, em que se chama a atenção do leitor para a necessidade de se proteger e valorizar o património concelhio, como fator estruturante da identidade coletiva, muito particularmente no tocante ao legado deixado pelo rei Dinis na localidade, materializado quer no Convento de S. Dinis, hoje classificado como Monumento Nacional, quer no Memorial, interpretado como padrão de couto que demarcaria os limites territoriais da área de jurisdição do Convento. Segue-se-lhe uma nota de agradecimento, subscrita por Mário Máximo, Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Odivelas, em que não só se sublinha o empenho da equipa técnica do Setor do Património Cultural na realização dos Encontros, como também se agradece a todos quantos, entre Docentes, Investigadores e Patrocinadores, tornaram possível a sua concretização.

3 O programa dos Encontros publicado nas páginas iniciais do volume, decorridos a 2 de abril, 7 de maio e 4 de junho de 2009, estruturou-se à volta de três painéis temáticos, desenvolvidos após uma sessão de abertura acompanhada por uma comunicação proferida pela Dr.ª Susana Amador. O primeiro, intitulado «D. Dinis na consolidação do reino de Portugal», tendo como comunicantes os Professores Doutor Bernardo Sá Nogueira (FL-UL/Centro de História), cuja comunicação versou o tema «D. Dinis e a construção do Estado»; o Doutor Hermenegildo Fernandes (FL-UL/Centro de História), sobre «D. Dinis e a definição das fronteiras do reino»; e o Doutor Pedro Gomes Barbosa (FL-UL/Centro de História), sobre «Grupos marginais no período dionisíaco. Mouros, Judeus e outros». O segundo, por sua vez, intitulado «D. Dinis, poeta e músico», moderado pelo
Dr. Miguel de Sousa Ferreira, tendo como comunicantes os Professores Doutor Nuno Júdice (FCSH-UNL), cuja comunicação abordou o tema «A mestria do poema e a poética dionisiana»; a Doutora Isabel Barros Dias (UAb), sobre «D. Dinis e a poesia. Cortes cultas e prática poética (o tema do olhar)»; e o
Dr. Victor Palma (Museu da Música), sobre «Instrumentos musicais do tempo de D. Dinis». O terceiro, por fim, intitulado «D. Dinis, Odivelas e a Ordem de Cister», moderado pelo Dr. Edgar Luís Simões Valles, tendo como comunicantes a Professora Doutora Teresa Alves (FL-UL/Centro de Estudos Geográficos), que não pôde comparecer à sessão, segundo consta do programa publicado no volume; a Dr.ª Carla Varela Fernandes (CMC/Divisão de Museus), sobre «O bom rei sabe bem morrer. Reflexões sobre o túmulo de D. Dinis»; e o Dr. João Fresco e a Dr.ª Sofia Correia de Matos (CMO/Divisão de Cultura, Juventude e Turismo), sobre «D. Dinis e Odivelas». Seguiu-se a cada sessão um período de debate. A cerimónia de encerramento dos Encontros foi presidida pela Dr.ª Fernanda Franchi, Vereadora do Pelouro da Cultura da CMO.

4 Embora estando programadas nove comunicações, o volume agora publicado apenas reúne textos correspondentes a seis, dado que as comunicações proferidas pelos Professores Doutor Bernardo Sá Nogueira e Doutor Hermenegildo Fernandes, bem como a inicialmente prevista pela Doutora Teresa Alves, não foram dadas à estampa. Ficamos, portanto, com a impressão de que o volume, embora reunindo textos interessantes para a compreensão do reinado de Dinis – uma conjuntura de centralização e afirmação do poder e autoridade régios, numa altura em que Portugal havia terminado o processo de «Reconquista» dos territórios controlados pelo Islão, com a tomada de Faro, em 1249, e as suas fronteiras se encontravam definidas na sequência da celebração do Tratado de Alcañices, em 1279 –, pouco ou nada acrescenta ao que se ficou a saber desde que, há poucos anos, José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (FL-UP) publicou uma biografia de referência sobre Dinis (s.l., Círculo de Leitores, 2005). Embora alguns textos se mostrem mais interessantes do que outros, por o respetivo objeto de estudo não ter sido tratado de forma aprofundada por este Docente e Investigador, a impressão com que se fica, uma vez percorrido o volume, é que este não chega a constituir sequer um estado da questão sobre as investigações em torno deste reinado, por aí se compilarem textos que aparentam não ter qualquer relação entre si – apesar de integrados em três painéis temáticos – e que, a bem dizer, apenas reproduzem aquilo que de há muito se sabe sobre o rei, o mecenas, o trovador, o músico.

4 Concluímos, pois, esta breve recensão crítica com uma sugestão que talvez pudesse ser ponderada num futuro próximo pela Divisão de Cultura, Turismo e Património Cultural da Câmara Municipal de Odivelas, a entidade promotora destes Encontros: a realização de um encontro científico que tivesse como ponto de partida não as várias facetas de Dinis, mas sim o património histórico legado por este rei ao atual concelho, muito especialmente o Convento de S. Dinis, Monumento Nacional que ainda aguarda um estudo consentâneo com a sua efetiva importância, no quadro das escassas realizações artísticas de estilo gótico subsistentes nesta zona do País, e que, como é de conhecimento geral, constitui o ex libris da cidade de Odivelas.

Mário de Gouveia – Instituto História Medieval – FCSH-UNL. Doutorando em História Medieval e investigador do Instituto de Estudos Medievais FCSHUNL. E-mail: mario_de_gouveia@yahoo.com.

Consultar publicação original