Ruralização do ensino: as ideias em movimento e o movimento das ideias (1930-1950) | Agnes Iara Domingos Moraes

“Sem sombra de dúvida, um marco na historiografia da educação rural no Brasil”. Essas palavras são da Profa. Dra. Rosa Fátima de Souza-Chaloba, ao comentar, no Prefácio (p. 12), o livro intitulado Ruralização do ensino: as ideias em movimento e o movimento das ideias, de autoria da Profa. Dra. Agnes Moraes, publicado em 2021 e lançado em 2022 pelas editoras Oficina Universitária e Cultura Acadêmica1.

Moraes, professora na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), é integrante Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura e Instituições Educacionais (GEPCIE) e do Grupo de Pesquisa História da Educação e do Ensino de Língua e Literatura no Brasil (GPHEELLB), ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), câmpus de Marília, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). É autora e coautora de diversos artigos, capítulos e livros, dentre outras produções, relacionados à história da educação, especialmente ao ensino primário rural, com ênfase no ensino ruralizado, concepção defendida pelo Movimento pela Ruralização do Ensino, cujo ápice da atuação ocorreu na primeira metade do século XX. Segundo Moraes (p. 21), Leia Mais

Espaço e lugar privilegiado para formação de professores: Instituto de Educação “Fernando Costa” (1953-1975) | Aline de Novaes Conceição

A presente obra é fruto de uma dissertação de mestrado defendida em 2017 no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília. Neste livro, Aline de Novaes Conceição pesquisa como o Instituto de Educação (I.E) “Fernando Costa”, instalado em Presidente Prudente/SP, desenvolveu suas atividades, sobretudo, as finalidades previstas no Código de Educação do Estado de São Paulo.

O livro foi prefaciado por Macioniro Celeste Filho, professor permanente do Programa de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília. A obra é dividida em três capítulos que analisam os diversos aspectos da formação de docente no I.E “Fernando Costa”. Leia Mais

Migrações Contemporâneas: Reflexões e práticas profissionais | José Sterza Justo e Mary Yoko Okamoto

Movimentos coletivos e deslocamentos individuais voluntários e forçados fazem parte da constituição da humanidade, entretanto, a intensificação do ir e vir no mundo atual tem se ampliado dado as condições sociais possibilitadas pela globalização e pelo avanço tecnológico dos meios de transporte e comunicação. Compreender essas dinâmicas, assim como os fluxos e refluxos, além das mobilidades geográficas e psicossociais, os trânsitos e as formações identitárias, são os objetivos centrais da obra Migrações contemporâneas: reflexões e práticas profissionais organizada pelos psicólogos José Justo e Mary Okamoto. O caráter interdisciplinar desse empreendimento, entretanto, justifica-se pela variedade de temas, enfoques, métodos e profissionais que fazem desta obra que veio à baila em 2019.

O primeiro capítulo, batizado Migrações, multiculturalismo e identidades: revisitando conceitos, produzido pelos psicólogos Marcelo Naputano e José Justo busca a partir de uma abordagem conceitual explicar as transformações e abrangências das concepções de cultura, fronteira e identidade. Leia Mais

A escrita da história de um lado a outro do Atlântico | Maria Eurydice de Barros Ribeiro

“O mar uniu, mais do que o que separou”. Os versos de Fernando Pessoa inspiram a reflexão sobre unidade e diversidade entre os universos singulares aproximados pelo processo de expansão portuguesa e fornecem sentido à organização do livro A escrita da história de um lado a outro do Atlântico, projeto encabeçado por Maria Eurydice de Barros Ribeiro e Susani Silveira Lemos França.

Movidas pelo propósito de “resgatar e mensurar as faces de um processo de identificação”, as autoras aludem aos diálogos entre formações históricas situadas dos dois lados do Atlântico e expõem, no texto da introdução, o lamento frente ao fenômeno contemporâneo de abandono de categorias que, em tempos pretéritos, teriam servido ao reconhecimento dos povos e indivíduos e que hoje se vêem abandonadas em favor da difusão dos conceitos de diversidade e do desenvolvimento de ações afirmativas de identidades.

Efetivamente, votadas à resistência, conservação ou transformação, as ações afirmativas de identidades revelam-se, em nosso tempo, não somente legítimas como eficazes no processo de autoconhecimento, de organização e luta dos povos, e estão na base de princípios e de direitos conquistados. Os princípios afirmativos de identidades foram propulsores dos movimentos de descolonização desde a segunda metade do século XX e contribuem, até os nossos dias, para a ruptura com elaborações tradicionais relativas a origem e pertencimento. Em contraponto a esse movimento de dispersão, situam-se os múltiplos esforços, em campos da produção acadêmica como da arte, de identificação e reafirmação de elementos comuns aos povos e sociedades aproximados pelos fenômenos de expansão e dominação portuguesa. Mais do que acentuar as diferenças, esses esforços se orientam pela perspectiva de valoração positiva dos “pactos que foram se firmando ao longo do tempo” e são movidos pela perspectiva de identificação de um fundo patrimonial comum a esses povos e sociedades. Mas o destaque é dado às “raízes” greco-romana, judaico-cristã e árabe como “fontes de conhecimento que ajudaram a definir o mundo português”. É, pois, sobretudo no campo da escrita que essas tradições transplantadas da Europa para o “outro lado do Atlântico” no tempo de dominação colonial devem ser procuradas.

Nos territórios conquistados, o registro escrito, fundamental ao funcionamento e à ação das instituições, serviu de vetor de transmissão de valores, de difusão de práticas e, ao mesmo tempo, de registro sobre as realidades encontradas nas novas terras. Foram fundamentais, portanto, como destacam as organizadoras do livro, para o “autoreconhecimento e conhecimento do outro em um período de afirmação do reino de Portugal para além de suas fronteiras”.

O livro se organiza em duas partes: na primeira, os autores transitam por uma ampla variedade de fontes documentais, a partir das quais buscam refletir sobre distintos objetos e contextos concernentes à História de Portugal e do Brasil; a segunda parte tem como propósito fazer uma reflexão sobre o trabalho dos historiadores, com foco sobre os avanços e os limites da produção escrita portuguesa ou sobre aspectos da História de Portugal.

O texto de abertura da primeira parte, de autoria de Manuela Mendonça (Universidade de Lisboa), é dedicado ao processo de construção da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, desde o projeto inicial, levado a cabo por António Caetano de Sousa (1674-1759), fundador da Academia Real. Mendonça situa a origem da publicação na conjuntura política e cultural pós-restauração, sob o reinado de Pedro II de Portugal. De acordo com a autora, concebido no âmbito da Academia Real e entrelaçado com o projeto correlato de uma história eclesiástica do reino, a História Genealógica foi publicada, entre 1735 e 1748, em 12 tomos, e compreendeu também seis volumes de documentos, inseridos a partir de 1739. A inserção das cópias dos documentos obedecia à intenção de chancelar a obra com a existência de provas e servia, segundo os seus propositores, como garantia de verdade, objetividade e neutralidade no tratamento das matérias.

No segundo capítulo do livro, Maria Helena da Cruz Coelho (Universidade de Coimbra) propõe a abordagem da corte portuguesa enquanto “instituição política de composição tripartide representativa dos corpos da sociedade e com perfil colaborativo em relação ao monarca”. A origem das cortes portuguesas, de acordo com a autora, pode ser situada no processo de implantação das Cúrias Extraordinárias, no início do século XIII. Convocadas pelos monarcas em situação de crise política, as cúrias contemplavam, além da tradicional representação do clero e da nobreza, a presença dos representantes dos concelhos. Além de discutir os processos que resultaram na constituição das cortes, Mendonça traz importantes reflexões sobre as transformações que as afetaram até o final da Idade Média, sobre a composição social e os assuntos tratados em diferentes conjunturas.

A matéria de que trata Dulce O. Amarante dos Santos (Universidade Federal de Goiás), no capítulo seguinte, é constituída pelos prólogos que acompanham a escrita científica ibérica. A autora delimita o campo de investigação: trata-se da produção textual votada ao conhecimento sobre o mundo da natureza como criação divina. Escritos em latim, esses textos, em especial aqueles dedicados a temas compreendidos como próprios à medicina, eram quase sempre orientados a partir de critérios classificatórios, que distinguem e estabelecem correlações entre elementos variados que constituem o universo. Associado a esses textos, o prólogo é tomado como um gênero literário, cuja singularidade reside nas informações que abriga sobre o conteúdo por ele introduzido, sobre a autoria e, também, sobre o público que, no tempo inicial da produção, integra o horizonte de expectativa dos autores. Amarante dos Santos põe em destaque os métodos e os propósitos de composição dos prólogos e procura demonstrar como eles são claramente marcados por estratégias discursivas, orientadas pelos princípios da retórica, que visavam captar a atenção e modificar a percepção dos leitores sobre os conteúdos.

Francisco José Silva Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), no texto seguinte, dedica-se à análise dos Manuais de Confissão elaborados durante os séculos tridentinos. Esses manuais deveriam orientar os confessores encarregados de conduzir os fiéis na contrição e no exame de consciência, atos que deveriam anteceder à confissão. Funcionam como textos de mediação entre a doutrina e a prática. De acordo com o autor, a uniformidade desses manuais reflete o projeto unanimista, levado a cabo pela Igreja e pelo Estado, que orienta a reestruturação da Cristandade nos séculos XVI a XVIII. O seu surgimento deve ser pensado a partir da reestruturação dos conceitos de cristandade e da identidade católica desde o advento da reforma protestante, no século XVI, e o seu desenvolvimento ulterior deve ser situado no processo de secularização que acompanha a difusão do pensamento iluminista e as revoluções burguesas. Gomes põe em destaque as relações e a busca de equilíbrio entre a Igreja e os Estados, de perfil absolutista, que permaneceram ligados ao catolicismo romano. Enquanto a Igreja almejava consolidar a sua imagem como uma ordem independente, os Estados, que dela retiravam os fundamentos ideológicos do poder régio, não só pleiteavam autonomia frente à Sé Apostólica como o direito de intervenção nas estruturas eclesiásticas. É esse o pano de fundo sobre o qual, de acordo com Gomes, se consolida o regime penitencial baseado na confissão auricular. No novo modelo de espiritualidade cristã, cuja origem remonta às reformas dos séculos XII e XIII, a confissão auricular reforça os princípios de individualidade e subjetividade na experiência do arrependimento. Por outro lado, como destaca o autor, as instituições tridentinas que sustentam a introdução da confissão auricular reforçam o papel do sacerdote como mediador com o plano do sagrado e dos sacramentos como “canais de transmissão da graça divina”.

No texto intitulado “Medicina da mulher em Portugal”, Maria de Fátima Reis (Universidade de Lisboa) reflete sobre a atuação de parteiras no campo mais amplo do que se entende como medicina da mulher. Além de um rápido balanço historiográfico sobre o tema, o texto traz o resultado de investigações sobre o regimento das parteiras que, no século XVI, ordenava o trabalho dessas profissionais e definiam os parâmetros para a sua atuação sob a chancela de outros profissionais e subordinada a determinações de natureza religiosa.

Já o texto de Cintia Maria Falkenbach Rosa (Universidade de Brasília) está centrado na análise iconográfica e iconológica de uma cena de natividade – em especial dos elementos concernentes à Adoração dos Magos – que ilustra o Livro de Horas de Dom Manuel I, datado de meados do século XVI. A autora aponta para a singularidade das imagens que ilustram o documento e as associa ao claro propósito de edificação da obra do Rei Venturoso em um contexto de consolidação e expansão do Estado Português.

A primeira parte do livro se conclui com o texto de uma das organizadoras, Maria Eurydice de Barros Ribeiro (Universidade de Brasília). Intitulado “Operários do evangelho”, o capítulo trata da difusão da espiritualidade franciscana no Brasil, tendo por foco conjunto arquitetônico dedicado a Santo Antônio, na cidade de Cairu, no recôncavo baiano. O texto resulta de um exaustivo trabalho de pesquisa documental e bibliográfica sobre história, arquitetura e imagética cristã no período colonial.

O capítulo que abre a segunda parte do livro, dedicada à escrita historiográfica portuguesa e/ou sobre Portugal, é da autoria de Margarida Garcez Ventura (Universidade de Lisboa) e tem por título “O elogio do contraditório”. Em revisita à obra de Zurara, em particular às narrativas sobre a tomada de Ceuta, a autora ocupa-se de analisar os escritos do cronista no intuito de evidenciar a presença do contraditório na discussão dos temas sobre os quais se impunham deliberações por parte da realeza portuguesa no século XV. Nas justificações e objeções ao projeto de conquista de Ceuta e permanência da corte portuguesa no local, a autora identifica o uso retórico do contraditório como elemento constitutivo da memória e da consciência nacional.

A cronística de Zurara também serve de fonte às pesquisas de Susani Silveira Lemos França (Universidade Estadual Paulista), cujo texto se propõe a debater a presença de elementos de abordagem moralizante no tratamento de temas associados à expansão portuguesa. Para tanto, a autora analisa o processo de seleção, atualização e ressiginificação de virtudes exaltadas na narrativa consoante as circunstâncias históricas.

O texto seguinte, de José Rivair Macedo (UFRGS), explora as imagens e os discursos sobre a Costa da Guiné, enunciados nas narrativas portuguesas produzidas entre os séculos XV e XVII. O conjunto documental que orienta a abordagem do tema compreende narrativas memorialistas, roteiros de viagens, literatura de missionários, além de um subconjunto que o autor nomeia como narrativas locais, escritos marcados pela vivência em terras Africanas. As reflexões sobre a natureza e os indicativos de localização das fontes fazem do texto de Macedo um guia fundamental aos estudos sobre representações do continente africano no contexto da expansão portuguesa.

A natureza das fontes históricas é também matéria de discussão no texto de Armando Martins (Universidade de Lisboa). O autor parte da reflexão sobre as relações entre memória e história escrita para discutir duas acepções do termo hagiografia: por um lado, o termo é utilizado para definir a escrita medieval sobre as vidas de santos, compreendendo várias formas, como as vitae propriamente ditas, os relatos de milagres, as narrativas associadas às relíquias etc; por outro lado, a expressão serve ara nomear os estudos sobre textos hagiográficos. As hagiografias medievais, o autor as analisa no panorama das grandes transformações da espiritualidade e do conceito de santidade que ocorreram na Europa ocidental a partir do século XII. O texto se conclui com a apresentação de um quadro analítico em que, a partir de elementos estruturais próprios ao texto histórico, busca-se inferir sobre a natureza do texto hagiográfico.

Já o texto intitulado “Fernão Lopes, o rei D. João I e a historiografia lusobrasileira”, escrito por Adriana Zierer (Universidade Estadual do Maranhão), resulta de importante levantamento sobre pesquisa documental e produção bibliográfica acerca de Fernão Lopes e D. João I. A autora destaca temas, formas de abordagem e fontes relativas à Dinastia de Avis e ao seu mais importante cronista e põe em relevo os historiadores e grupos de pesquisa que, em Portugal e no Brasil, têm a elas se dedicado.

É também na perspectiva da revisão bibliográfica e de reflexão sobre natureza das fontes documentais que Douglas Mota Xavier de Lima escreve as suas notas bibliográficas sobre a história da diplomacia portuguesa do século XV

O livro se conclui com o texto de João Marinho dos Santos (Universidade de Coimbra), que tem como propósito debater a abordagem das cartas e da “relações” dos jesuítas como gênero narrativo historiográfico. O autor principia por delimitar o universo de temas que os jesuítas, em missão missionária na colônia portuguesa da América, instigados pela direção da ordem inaciana, contemplaram em seus escritos sob a designação genérica de “cousas do Brasil”. Aos temas selecionados, Marinho dos Santos procura relacionar as circunstâncias da produção e os potenciais destinatários das cartas e das relações para concluir que “os primeiros jesuítas que escreveram do e sobre o Brasil foram mais memorialistas do que historiadores”, mas que os seus escritos estão em perfeita sintonia com o que se compreende como historiografia dos séculos XVI e XII.

A riqueza do trabalho que ora se apresenta ao público resulta da diversidade de objetos e de fontes abarcados pelos textos que o compõem. Além disso, deve-se destacar o número expressivo de instituições de Portugal e do Brasil que, por meio dos pesquisadores-autores, estão a indicar a renovação permanente da produção historiográfica sobre os contextos civilizacionais que têm o Oceano Atlântico como fronteira, como espaço de interseção, no tempo alargado que remonta à consolidação do Estado Português e se estende por todo o período de dominação colonial.

Rita de Cássia Mendes Pereira – Doutora em História (USP). Pós-Doutorado na Universidade Federal da Bahia (2015-2016). Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Docente do Mestrado em Letras: Cultura, Educação e Linguagens. E-mail: ricamepe@hotmail.com


RIBEIRO, Maria Eurydice de Barros; FRANÇA, Susani Silveira Lemos (Org.). A escrita da história de um lado a outro do Atlântico. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2018. Resenha de: PEREIRA, Rita de Cássia Mendes Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, v.18, n.2, p. 140- 144, 2018. Acessar publicação original [DR]

Marx e a dialética da sociedade civil | Marcos Del Roio

Diante da crise mundial, nos últimos anos, os estudos sobre a obra de Marx voltaram a ganhar força no meio acadêmico. É neste cenário que foi produzida a obra Marx e a dialética da sociedade civil. O livro é resultado do “V Seminário Internacional de Teoria Política do Socialismo”, evento realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília (UNESP/Marília) com apoio do Grupo de Pesquisa Cultura e Política do Mundo do Trabalho e do Instituto Astrojildo Pereira.

O livro é organizado por Marcos Del Roio, professor titular de Teoria Política da UNESP de Marília, e possui quinze capítulos distribuídos em cinco unidades. É um livro interdisciplinar, pois seus autores são pesquisadores das mais diversas áreas das humanidades, como História, Ciência Política, Filosofia, Ciências Sociais e Educação. Leia Mais

Tenho algo a dizer: memórias da UNESP na ditadura civil militar (1964-1985) | Maria R. Valle, Clodoaldo M. Cardoso, Antonio C. Ferreira e Ana Maria M. Corrêa

A obra Tenho algo a dizer faz parte de um projeto desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) buscou rememorar a sua fundação, as conjunturas políticas e sociais dos anos da Ditadura Civil Militar.

O livro foi lançado no ano de 2014, ano em que se completou 50 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil. Através de sua leitura, o leitor é apresentado como o sistema universitário foi burocratizado e perseguido ao longo dos anos do regime de exceção instaurados a partir de 1964. Ao mesmo tempo que eram vítimas deste sistema, as universidades buscaram fazer sua resistência a partir das lutas pela redemocratização dentro da sua comunidade acadêmica. Leia Mais

A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944) – FERRARI (CTP)

FERRARI, Danilo Wenseslau. A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. Resenha de: LIMA, Cleverton Barros de. Atuação de Joel Silveira na imprensa carioca entre 1937 a 1944. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n. 16, p. 76-79, mai./jul. 2014.

O reconhecimento da maestria jornalística do escritor Joel Silveira é algo notório, desde que escreveu, em 1943, a reportagem “Granfinos em São Paulo” para as páginas da revista Diretrizes. Com estilo apurado, pelos anos de escrita jornalística e literária, o autor de Onda Raivosa, título do primeiro livro de contos publicado em 1939, construiu uma marca inconfundível na forma de escrever para a imprensa.

A respeito desta rica produção de Joel Silveira, Danilo Ferrari debate nas 260 páginas do livro A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). Na realidade, a obra é fruto de um trabalho de mestrado com o mesmo título, desenvolvido programa de pós-graduação em História na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Assis, em 2011. A obra também é um marco importante na historiografia sobre Joel Silveira, visto que, os poucos estudos são da área de comunicação social e letras.

O enfoque central desta investigação historiográfica é a profissionalização de Joel Silveira na imprensa carioca entre os anos de 1937 a 1944. Sendo assim, o autor recorreu principalmente aos dois periódicos, Dom Casmurro e Diretrizes, no qual o sergipano trabalhou, inclusive, na condição de diretor. Nestes anos de trabalho profissional nos jornais cariocas, Joel Silveira tornou-se um autor celebrado por seu estilo enxuto, mas evidentemente sofisticado. Reconhecido, inclusive, por Graciliano Ramos, o escritor mais admirado por Silveira, como expresso no seu livro de memórias, Na Fogueira (1998).

Assim, nos três capítulos de seu livro, Danilo Ferrari debate a respeito das nuances de um escritor que procurou seu espaço na imprensa da capital federal com obstinação e zelo de escritor. No primeiro capítulo do livro, o foco do trabalho é a biografia de Joel Silveira, seguida por um debate sobre sua obra memorialística. Neste tocante, o historiador utiliza a estratégia de compreender a autoimagem deste escritor nos diversos relatos em que se coloca como testemunha dos acontecimentos históricos. A primeira parte deste capítulo, se restringe a tratar Joel Silveira com a imagem publica vigente: o escritor que saiu do nordeste para buscar o sonho de tornar-se escritor. Não é sensato discordar desta linha de raciocínio, parte dela embasada na pena de Joel Silveira. Mas, ela é parcial, visto que o sergipano já possuía uma caminhada como escritor, pouco explorado na parte biográfica deste livro e pela historiografia.

Lembro ao leitor que Joel Silveira escreveu seu primeiro ensaio, a respeito do professor de sociologia do Atheneu Pedro II (Aracaju), Florentino Menezes, em 1934; dois anos depois, ele publicou pelo Grêmio Clodomir Silva, a novela vencedora do premio literário deste grêmio, intitulada Desespero; ainda deste momento de formação, o autor foi diretor do jornal A voz do Ateneu, órgão criado pelos alunos do “Grêmio Clodomir Silva”. São todas, experiências inegáveis do jovem escritor Joel Silveira, atraído pela reflexão política, e, sobretudo, pela literatura. Aliás, ao chegar ao Rio de Janeiro, em 1937, ele republicou a novela Desespero, uma declaração de sua paixão pela arte literária, tratada por ele de forma concomitante ao jornalismo. A propósito, essa novela, traz um debate interessante a respeito da condição do sertanejo fustigado pelas constantes secas o que decerto foi escrita em diálogo com romances como, Os Corumbas (1933), do escritor também sergipano, Amando Fontes.

No mais, Danilo Ferrari conclui o primeiro capítulo com um levantamento importante das obras de Joel Silveira e, em sequência, trabalha neste sumário bibliográfico, a produção memorialística. Excetuando-se os dois textos que citei, isto é, o ensaio de 1934 e a novela de 1936, o autor elenca as demais obras de Silveira, no período entre 1939 a 2004. De certo, um recurso imprescindível para os estudos sobre Joel Silveira, visto que, sumariza um quadro maior dos interesses intelectuais durante os mais de sessenta anos de atividade intelectual.

Com base no debate sobre as “escritas autorreferenciais”, Ferrari observa a construção da imagem de Silveira como parte de uma “disputa pela representação legítima de um passado” II·. Então, os embates entre Joel Silveira e outros intelectuais envolvidos na imprensa, como Carlos Lacerda, Samuel Wainer, Rivadavia de Souza e Edmar Morel, são parte da leitura que o historiador empreende em sua pesquisa. Ao que indica, a imagem sugerida neste estudo, parte dos jogos de poder para definir os lugares ocupados durante o período ditatorial, quando os atores utilizam da memória como ferramenta de construção da imagem pública.

No segundo capítulo, intitulado, “Nasce um jornalista: a experiência em Dom Casmurro”, o autor aprofunda seu olhar a respeito do trabalho de Silveira neste importante jornal opositor do Estado Novo. O Dom Casmurro tornou-se um veículo expressivo, desde os primeiros números, naquele fatídico ano de 1937. Fundado por dois conhecidos escritores, Brício de Abreu e Álvaro Moreyra, o jornal trouxe um profícuo debate a respeito da cultura brasileira, com forte ênfase na política inscrita nas questões estéticas. Mesmo ao afirmar-se contrário através do seu primeiro editorial, o Dom Casmurro, entrou na vida cultural brasileira, como forma de inscrever-se politicamente, como bem discutiu Ferrari. A longevidade desse periódico que remonta o período do Estado Novo, bem como, o jornal Diretrizes, sinaliza para a força do debate político que ali transcorria.

Joel Silveira aparece nas páginas do Dom Casmurro ainda em 1937, recém-chegado de Aracaju, e inicia sua participação como jornalista na redação. Ele aproveitou para inserir-se numa ampla rede de intelectuais que colaboravam neste jornal, que de certa forma dava espaço ao campo literário. Na realidade, a promoção intelectual de Joel Silveira, deveu-se, sobretudo, a um espaço de aperfeiçoamento de sua linguagem nos anos em que passou neste jornal; ele escreveu em diversos gêneros literários, como conto, crônicas, poesias, nas várias secções do periódico, sempre utilizando a seu favor o tom confessional, que marcou toda sua trajetória. Essa tática foi utilizada para analisar personagens históricos como Maria Antonieta, por exemplo, num intuito de trazer ao debate político a punição num período censório. Infelizmente, Ferrari pensa nos personagens utilizados por Joel Silveira nos artigos, nestes termos: “o conjunto desses artigos não possuía um objetivo com contornos definidos” III. Na sua acepção, os textos tratavam somente de uma estratégia de encontrar um espaço no jornal. É permissível pensar também que, Joel Silveira além de referendar o importante biografo de Maria Antonieta, Stefan Zweig, utilizou-a para denunciar a atitude impiedosa com os revoltosos. O certo é que, Silveira não escrevia nenhum texto sem uma resoluta estratégia política, no caso da rainha, o problema apontado para época foi à frivolidade. Ou seja, a escrita de perfis por Joel Silveira transita por um ato politico por excelência; entendendo assim, toda a escrita,IV como escrita política.

No último capítulo, intitulado, “Nasce um repórter: a atuação em Diretrizes”, Danilo Ferrari concluiu sua análise ao pensar o tempo de trabalho de Joel Silveira na revista Diretrizes. Antes, ele traz um apanhado interessante sobre esse periódico, ao discutir o papel político deste órgão inicialmente pró Vargas. Dirigido por Azedo Amaral e Samuel Wainer, o jornal, que saiu em abril de 1938, tornou-se espaço de trabalho de Joel Silveira no final de 1940. Apesar de sua vertente autoritária, na pessoa de Azedo Amaral, Diretrizes não manteve um discurso acolhedor das ingerências do Estado Novo. Entre os muitos colaboradores deste periódico, estavam os que não concordavam com a política de repressão, como “Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Rachel de Queiroz, Artur Ramos, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Sérgio Milliet, Manuel Bandeira, José Lins do Rego entre outros” V.

A mudança de Joel Silveira da revista Dom Casmurro para Diretrizes enquadra-se no momento de afirmação como repórter, segundo Danilo Ferrari. Neste novo espaço, Silveira escreveu uma das reportagens mais célebres do jornalismo brasileiro em 1943; “Granfinos em São Paulo”, chegou ao público como uma reportagem bem humorada dos ricos paulistanos e das figuras que mantinham a sociedade de luxo: os operários fabris. Nestas, e em outras reportagens de Joel Silveira, o elemento que traz o debate é a relação entre reportagem e ficção. Neste contexto, o historiador faz menção ao conceito de reportagem ao refletir, por exemplo, as contribuições de Paulo BarretoVI, o João do Rio.

De fato, nas primeiras décadas do século XX, o autor de A Alma encantadora das Ruas (1914-1917) delineou uma busca do repórter pelo ritmo frenético da rua. Apesar disso, é preciso considerar que a tradição do literato envolvido com jornalismo tem uma longa história no jornalismo inglês, quando pensamos em Charles Dickens, ao sair às ruas de Londres perseguindo as diversas ocupações da cidade. O uso das ferramentas literárias nas reportagens não denotou, desde Dickens, numa falta de rigor objetivo e factual; as imbricações de linguagens estiveram no fazer jornalístico, como em outros campos do pensamento. No século XIX, as ruas de Londres e Paris propiciaram na multidão, o espetáculo da pobrezaVII sem precedentes na história. Pensemos, por exemplo, em Jack London, quando se imiscuiu entre os moradores de ruas em Londres e escreveu o aclamado O povo do abismo (1903). Ou até, George Orwerll com os seus relatos sobre a experiência de mergulhar na pobreza extrema nos anos 1920, em Paris e Londres. Todos esses exemplos asseguram o caráter de proximidade entre o escritor e a reportagem e do uso das ferramentas literárias nestes relatos. Por isso, acredito que é necessário transpor as barreiras geográficas e perceber esse movimento de construção de um gênero difuso, pouco ortodoxo.

Com este estudo importante sobre a trajetória de Joel Silveira, a historiografia deixa os receios de trabalhar um autor não consagrado pelo cânon literário; é possível observar, então, novos sopros nos estudos de autores pouco celebrados. A contribuição desta leitura alarga a amplitude dos objetos de pesquisas, pois, problematiza uma percepção míope da trajetória deste escritor. O livro, então, debate sobre autoimagem, mas, sobretudo, nas memórias que Silveira escreveu como estratégia de endossar sua inserção profissional como repórter e, em sequência, recontar sua versão de um tempo passado e vivido, nesta era do testemunho.

Notas

2 FERRARI, Danilo Wenseslau. A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p.40.

3 FERRARI, Danilo Wenseslau. A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p. 81.

4 RANCIÈRE, Jacques. Políticas da escrita. Tradução de Raquel Ramalhete. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

5 FERRARI, Danilo Wenseslau. A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012, p.144.

6 CAMILOTTI, Virgínia C. João do Rio: ideias sem lugar. Uberlândia: EDUFU, 2008.

7 BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX. O espetáculo da pobreza.10ª. Reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 2004.

Referências

BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: O espetáculo da pobreza. 10ª. Reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 2004.

CAMILOTTI, Virgínia C. João do Rio: ideias sem lugar. Uberlândia: EDUFU, 2008.

FERRARI, Danilo Wenseslau. A atuação de Joel Silveira na imprensa carioca (1937-1944). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

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Cleverton Barros de Lima – Mestre e doutorando em História pela UNICAMP, na área Política, Memória e Cidade. Bolsista FAPESP, e-mail: cleverton.lima@gmail.com.

Acesso à publicação original

Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional – CATÃO (Ge)

CATÃO, Rafael de Castro. Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional. [Sn.]: Cultura Acadêmica; Editora da UNESP’, 2012. Resenha de: MAGALHÃES, Suellen Silva Araújo; MACHADO, Carla Jorge. Em busca de um elo entre geografia e saúde. Geografias, Belo Horizonte, 01 de Julho – 31 de Dezembro de 2013.

Lançado em 2012, o livro ‘Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional’, editado pela Cultura Acadêmica/Editora UNESP, é uma publicação oportuna e bem vinda. O autor, Rafael de Castro Catão, é geógrafo graduado pela Universidade de Brasília em 2007 e mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2011. Sua experiência, entre outras, é nas áreas, de geografia da saúde e cartografia, o que lhe permite habilmente entremear esses conhecimentos na produção de um panorama e de um arcabouço teórico conceitual, marcado pelo pensamento geográfico, para o estudo da Dengue no Brasil.

O livro consta de três capítulos, antecedidos pelo Prefácio e pela Introdução; e sucedidos pelas Considerações Finais e Recomendações e pelas Referências Bibliográficas. O Prefácio, escrito pelo professor Raul Borges Guimarães da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, estabelece a premência de obras como a de Catão ante a crise do modelo hegemônico da epidemiologia clínica, a reemergência de uma gama de doenças infecciosas e o aumento da pós-graduação em geografia, a qual permitiu captar demandas sociais, entre as quais àquelas por melhores condições de saúde. Assim, abre o caminho para que o leitor se sinta desejoso de conhecer como o aporte da geografia pode contribuir para elucidar a temática de uma doença transmissível.

Na Introdução o autor relata mudanças socioespaciais ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, que desencadearam um novo padrão de epidemias, quais sejam: mais frequentes e mais abrangentes.

Rafael Catão parte de Milton Santos e de sua teoria espacial para analisar mudanças socioespaciais da dengue, na tentativa – bem sucedida – de relacionar o padrão da doença, sua emergência e expansão mundial, além do surgimento e a intensificação de casos mais graves à mudança do período e a produção desse novo meio geográfico. Enfoca, ainda, o caso do Brasil, onde houve erradicação, mas posterior reinfestação e, deste modo, estabelece a questão chave do livro: se a consolidação e expansão do meio técnico-científico-informacional – um dos mais conhecidos conceitos na geografia no Brasil (MAIA, 2012) – e a ampliação dos processos de urbanização, aliados a expansão mundial da doença, forneceram as condições socioespaciais que fizeram a dengue emergir nos dias atuais como um dos principais problemas de saúde pública do país. É também na Introdução que o autor explica o impacto do sistema de técnicas aplicado à natureza e causador de mudanças à saúde utilizando, entre outros, o exemplo do uso de vacinas no auxilio da imunização. Comenta ainda sobre a expansão das fronteiras agrícolas e econômicas que permitiu e permite a expansão dos meios de transporte e das telecomunicações interligando lugares e pessoas com maior circulação da informação. O autor conclui, então, que a atual configuração no espaço geográfico da doença depende das relações interdependentes estabelecidas entre o homem (social e biológico, individual e coletivo, imune e suscetível) com os vetores (gênero Aedes), o vírus (sorotipos e genótipos) e o meio técnico-cientifíco-informacional, inovando acerca da tradicional tríade epidemiológica meio ambiente, agente, hospedeiro.

O Capítulo 1 ‘Dengue: Emergência e Reemergência’ perpassa pela etiologia da dengue em seus quatro sorotipos, pelas teorias acerca da origem geográfica dos vírus e de seus sorotipos e pelos principais vetores. Os ciclos de transmissão também são abordados dado que seu conhecimento é fundamental para que sejam tomadas medidas de saúde pública e de vigilância de saúde em escala global: o autor ressalta o ciclo urbano endêmico/epidêmico. Finalmente, o autor aborda a difusão mundial da dengue.

O Capítulo 2 ‘Difusão do dengue no Brasil’ trata, entre outros aspectos, do retorno do Aedes aegypti e da dengue ao território nacional: em 1976 o país foi reinfestado, permanecendo desta forma ainda hoje. Nesse capítulo está um belo e oportuno detalhamento cartográfico da reemergência da dengue no Brasil, o que permite ao autor estabelecer uma análise do conjunto do País, onde, após a dispersão geográfica do vetor, as interações espaciais existentes em áreas com circulação viral permitiram e mantiveram até hoje a entrada de novos sorotipos em áreas indenes e infestadas. O papel da cidade reside nesse contexto, ao concentrarem indivíduos e bens, com fluxo intenso e veloz, que difunde e mantém o vírus.

‘Uso do território e o dengue no Brasil’ é o Capítulo 3, que trata dos fatores determinantes da transmissão dos vírus da dengue e do papel do Estado na contenção de epidemias. Rafael Catão faz um relato elegante sobre as formas de abordagem desses fatores determinantes da dengue na literatura brasileira, bem como sobre as fontes de dados. O mapeamento dos determinantes em escala nacional e uma síntese da situação recente da dengue no território também são realizados. Ao final do capítulo, o autor faz uma proposta de tipologia da dengue para a primeira década do século XXI no Brasil: os locais com baixa notificação dos casos de dengue normalmente apresentam uma média de temperatura anual mais baixa, baixa densidade de povoamento, baixo índice pluviométrico, políticas públicas mais eficientes, população mais consciente e poucas rodovias de fluxo intenso que ligam várias cidades. Após o capítulo, seguem as Considerações Finais e Recomendações, nas quais o autor deixa claro que, para compreender em plenitude o fenômeno da epidemia da dengue, perguntas tais como: ‘qual o contexto do dengue em sua área de influência?’ ou ‘como foi o processo de consolidação do dengue nessa localidade?’ necessitam ser feitas e suas respostas procuradas.

Além disso, o autor faz uma comparação crítica da atuação das técnicas de cartografia de síntese e das técnicas de geoprocessamento.

Ao final do livro, fica em evidência a constatação de BARCELLOS (2000): epidemiologia e geografia têm em comum crises ocorridas pelo esgotamento de modelos teóricos ou crises advindas da superação desses modelos em razão de novas realidades. Uma das novas realidades é a reemergência de doenças transmissíveis no Brasil e no Mundo – como a dengue. A obra de Rafael de Castro Catão incorpora o espaço explicitamente na análise da dengue, tornando o elo entre a geografia e a saúde visível e utilizável a pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento.

Referências

BARCELLOS, Christovam. Elos entre geografia e epidemiologia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.16, n.3, Setembro 2000. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102- 311X2000000300004 &script=sci_arttext

CATÃO, Rafael de Castro. Dengue no Brasil – Abordagem geográfica na escala nacional. São Paulo: Cultura Acadêmica/Editora UNESP, 2012.

MAIA, Lucas. O conceito de meio técnico-científicoinformacional em Milton Santos e a não visão da luta de classes. Ateliê Geográfico Goiânia- GO v. 6, n. 4 Dez/2012 p.175-196 Disponível em: http://www.revistas. ufg.br/index.php/atelie/article/view/15642

Suellen Silva Araújo Magalhães – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

Carla Jorge Machado – Departamento de Medicina Preventiva e Social.

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Assentamentos rurais e cidadania: a construção de novos espaços de vida | Mirian Claudia Lourenão Simonetti

Esta coletânea ressalta a importância da reflexão em torno de temas como: movimentos sociais, reforma agrária e assentamentos rurais, haja vista o grande número de publicações referente à essas temáticas nas últimas décadas. Conforme a autora, “os sem-terra, desde os anos 80, introduziram na agenda da política brasileira a temática da terra, da propriedade e suas formas de uso, esse tema continua persistindo na sociedade brasileira. Nas últimas três décadas, juntamente com a grande visibilidade da luta pela terra levada a efeito por diferentes movimentos sociais, apareceram muitos estudos na academia brasileira”(p. 07). Para isso a questão da interdisciplinaridade está presente nesta obra, pois várias ciências como Geografia, História, Sociologia, Economia e Agronomia são interrelacionadas na tentativa de abordar consistentemente os temas em questão – movimentos sociais, reforma agrária e assentamentos rurais – sob as diferentes perspectivas.

O estudo desenvolvido nessa coletânea se divide em três partes. A primeira delas, denominada “A construção de novos espaços de vidas nos assentamentos rurais”, tem como objetivo salientar o modo de vida no interior dos assentamentos rurais. Leia Mais