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Controle social e resistência: instituições, historicidade e efeitos / Tempo Amazônico / 2018
É com satisfação que apresentamos a edição da Revista Tempo Amazônico, revista eletrônica semestral da seção Amapá da Associação Nacional de em História (ANPUH / AP). Esforçando-se para dar conta da multiplicidade dos estudos de história social, exploramos através de um Dossiê com o tema “Controle social e resistência: instituições, historicidade e efeitos”, incorporando diversas abordagens e problemáticas versando sobre educação, religião, raça, identidade e resistência, itens frequentes na agenda de estudo sobre controle social, entendido na definição de Anthony Giddens & Philip W. Sutton (2017) como o conjunto de mecanismos formais e informais empregados para gerenciar os efeitos das práticas coletivas com vistas à produção de conformidade. Nesse sentido, podemos identificar quatro seções na presente edição: a educação como projeto; a questão da relação entre educação e religião; educação e mídia; identidade, resistência e desvio social, para enfim concluirmos como a questão humana em sentido lato. Como pensar nossa história social com e para além das instituições sociais? Com essa indagação convidamos os leitores a refletir sobre os artigos desse volume.
Iniciamos com a apresentação de dois artigos que compõem um largo espectro espaço-temporal para mostrar que a educação implica na elaboração de um projeto político e social. Com o artigo “A Inglaterra Elisabetana (1558-1603): propostas revisionistas para o ensino de História”, de Giovana Eloá Mantovani Mulza, contextualiza-se a convergência entre reforma política e religiosa no período elisabetano como chave para a compreensão e ensino dessa questão transversal, com vistas ao tratamento didático do período em questão. De outro lado, a questão do projeto político na educação ganha abordagem com base no atual contexto brasileiro, no artigo “A racionalidade neoliberal na reforma do Ensino Médio da rede pública do Estado da Paraíba: uma análise do Programa de Educação Integral”, de Maria Eduarda Pereira Leite, que discute a efetividade da ideia de integralidade na educação, tendo em vista a lógica neoliberal que permeia a prática estatal, de modo a identificar uma dissociação entre aquilo que se prevê e aquilo que de fato se provê.
Abrindo a segunda seção, sobre educação e religião, temos o artigo intitulado “Ensino religioso e educação à distância: análises e reflexões de um estudo de caso de formação continuada no Amapá”, de autoria de Alysson Brabo Antero e Marcos Vinícius de Freitas Reis, no qual é tratada a formação continuada mediada por tecnologia na área de ensino religioso, destacando a relação entre religião e laicidade para a prevenção à intolerância. O artigo seguinte, de autoria de Marinete Furtado Carvalho Silva, intitulado “O ensino religioso e sua importância no contexto escolar”, retoma a questão da relação entre educação e religião no ambiente escolar, lançando luz sobre a legislação atinente, destacando a rejeição ao proselitismo e a promoção de valores morais que transcendam o escopo confessional.
A terceira seção se inicia com importante abordagem sobre a relação entre as mídias na educação e sua mediação com vistas à promoção da relação ensino-aprendizagem, em artigo de autoria de Gleidson José Monteiro Salheb, intitulado “Midiatização & mediação na educação: aproximações teórico-conceituais”. A educação “com” e “sobre” as novas tecnologias são passo fundamental para a superação das desigualdades de acesso às informações tendo como base o senso crítico e a busca pela emancipação no contexto da sociedade da informação. Prosseguimos com a temática em tela no artigo seguinte, “Mídia e suicídio: prevenção e posvenção na era digital”, de Luana Izabel da Silva Nunes e Diego Saimon de Souza Abrantes, cujo tema é o tratamento midiático dispensado ao fenômeno do suicídio e suas implicações sociais. A exposição dos artigos dessa seção evidencia a ambiguidade que paira sobre a relação entre os meios digitais e a educação enquanto processo formativo, entre a emancipação e anomia social.
Por fim, na quarta seção, abrigamos artigos que versam sobre questões sociais pungentes na realidade nacional. O artigo coletivo de Kerllyo Barbosa Maciel, Marinete Furtado Carvalho da Silva e Paula Iara de Abreu da Trindade, chamado “Ladrões de Marabaixo: narrativa poética de resistência, memória e identidade cultural”. Aqui as práticas artísticas da cultura popular são pensadas como formas de resistência ante as relações de poder instituídas. A seguir, Haroldo Paulo Camara Medeiros nos traz a reflexão sobre o desvio social abordando o tráfico de drogas. O artigo “Mulas pretas: os inimigos de um país”, articula a relação entre o fenômeno do tráfico e a questão racial como elementos constitutivos de um biopoder sobre corpos negros e uma necropolítica de exclusão social e repressão contra uma população marginalizada e estigmatizada sob o argumento racial. O objetivo político dessa conjunção entre política e raça reside na manutenção da desigualdade social e do status quo. Diretamente conectado a esse tema, o artigo de Juliano Zancanelo Rezende, “Serviço social e questão racial: uma relação ainda a ser melhor ativada”, destaca a necessidade premente de integrar a atuação dos profissionais do Serviço Social no ativo combate ao racismo no exercício profissional e nas relações sociais. Concluímos o presente volume com o artigo de Juliano Bueno Acuña, intitulado “A desumanização: o problema da razão em Nietzsche e Horkheimer”, que sintetiza a necessidade urgente em destacar a dimensão humana das relações sociais, com Nietzsche apontando para o problema da negação do corpo enquanto vida na perspectiva da razão instrumental, e com Horkheimer indicando a necessidade de nos contrapormos ao processo de “coisificação” do homem – nesse sentido, portanto, devemos transbordar nossa humanidade vigente.
Samuel Correa Duarte – Bacharel em Sociologia e Mestre em Ciência Política pela UFMG, Mestre em Planejamento e Desenvolvimento Territorial pela PUC-Goiás, Doutorando em Sociologia pela UECE. Professor da área de Ciências Sociais na UFMA.
DUARTE, Samuel Correa. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.5, n.2, 2018. Acessar publicação original [DR]
Estado e Controle Social / Revista Brasileira de História / 2001
O dossiê Estado e controle social, que a Revista Brasileira de História apresenta aos seus leitores, traz inicialmente um documento de Maurice Halbwachs registrando suas impressões sobre sua eleição para o Collège de France. O autor, que elaborou significativa contribuição teórica para os estudos sobre memória, desvenda neste texto sua própria vida em atividade de memorialista, abrindo perspectivas para a história das ciências humanas e de suas relações com a política. O “grupo de Strasbourg” e suas ramificações no mundo acadêmico francês, suas estratégias de inclusão / exclusão constituem temáticas que remetem à história e à sociologia.
O documento, inédito no Brasil, inicialmente foi publicado na Revue d’ Histoire des Sciences Humaines graças ao trabalho de transcrição e notação de Laurent Mucchielli e Jacqueline Pluet-Despatin. Infelizmente, por motivo de formatação de nossa revista, tais notas foram aqui suprimidas. A apresentação do documento, feita pelos dois autores, contextualiza sua escrita na França ocupada pela Alemanha nazista e revela dados biográficos do autor relacionados à Resistência. O Collège de France é também analisado a partir da perspectiva de campo social dada por Bourdieu, revelando aspectos complexos da inclusão acadêmica dos durkheimianos e de suas ligações com o Estado, até o extremo da eliminação física dos indesejáveis, presenciada por uma instituição incapaz de reagir.
O campo acadêmico e suas relações com o Estado também constituem o tema do artigo de Cláudia Callari, publicado postumamente com a revisão de Lilian Starobinas. Nele, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais é analisado do ponto de vista da produção do saber histórico e sua instrumentalização pela política durante o Império e a República, mediante a construção de narrativas modelares.
João Fábio Bertonha analisa o Estado a partir das concepções do Integralismo, discutindo as relações deste movimento com o fascismo italiano e sua difusão entre os descendentes de italianos no Brasil. Retoma as discussões sobre as relações entre o modelo europeu e a proposta dos seguidores de Plínio Salgado, tendo como referência as variáveis étnica e de classe especialmente em São Paulo, sem perder de vista outras regiões de colonização italiana.
As políticas emergenciais de Getúlio Vargas para minorar os efeitos da seca no Nordeste constituem o tema do artigo de Frederico de Castro Neves. As relações entre o Estado e os retirantes das secas de l932 e 1942 foram focalizadas em sua intenção de controlar a população migrante mediante a implantação de campos de concentração de flagelados, visando evitar saques e depredações.
O período do governo Vargas constitui também o tema do artigo de Elio Chaves Flores, que analisa as representações cômicas da República publicadas entre 1930 e 1954. O traço memorialístico presente nas caricaturas publicadas em jornais e revistas, é aqui confrontado com discursos satíricos e irônicos numa perspectiva de intertextualidade.
A seção de artigos inicia-se com o trabalho de Anita Novinsky sobre os marranos em Minas Gerais no período colonial. A análise de processos de cristãos-novos revela uma identidade específica, antes uma visão de mundo que uma prática religiosa. A Inquisição atuou nas regiões auríferas motivada pela ação confiscatória, revelando nos documentos arquivados em Portugal aspectos da vida dos acusados de práticas judaizantes, tais como as sociedades secretas e as atividades profissionais a que se dedicaram.
O período colonial foi também abordado por Cristina Pompa, que analisou outro aspecto da religiosidade no Brasil, a construção de profetas e santidades. A partir de relatos missionários, a autora analisa o campo semântico da leitura do xamanismo e a interpretação do profetismo tupi-guarani na perspectiva da alteridade, no contexto do encontro entre indígenas e europeus no Brasil.
Néri de Almeida Souza dá continuidade aos estudos sobre religiosidade no artigo sobre a hagiografia medieval portuguesa, no qual aborda os temas de peregrinação, conquista e povoamento a partir da Vida de Santo Amaro. Trata-se de uma narrativa de viagem ao paraíso terrestre cisterciense, que permite a compreensão de relações entre pensamento histórico e pensamento mítico, da Reconquista aos Descobrimentos portugueses.
Descobrimentos constituem o tema do artigo de Paulo de Assunção em análise das descrições feitas por jesuítas sobre as terras brasileiras. A mentalidade do século XVI é ali abordada a partir de relatos que enfatizavam a natureza tropical da região ao sul do Equador.
O artigo de Carlota Boto insere-se também nos estudos sobre Portugal, desta feita abordando o debate pedagógico ali travado no final do século XIX e início do século XX. A partir de periódicos, a autora analisa o tema da hereditariedade como fator determinante da ação educativa e sua influência sobre as concepções de método e conteúdo. Este número contou com a colaboração financeira dos Núcleos Regionais da AMPUH.
Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.40, 2001. Acessar publicação original [DR]