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Humor Gráfico, Política e História (II) / Fronteiras – Revista de História / 2018
Dando continuidade ao projeto de organização do dossiê Humor Gráfico, Política e História para a Fronteiras: Revista de História, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGH / UFGD), apresentamos aos leitores de nossa revista o segundo volume do referido dossiê. Em nosso propósito de “oferecer espaços de discussões teóricas e metodológicas envolvidas na abordagem da história do humor gráfico em suas múltiplas modalidades, bem como para disseminar as pesquisas históricas que tenham as fontes iconográficas como objetos fundamentais da produção historiográfica” – conforme anunciado em nossa chamada pública inicial – trazemos outros importantes estudos de pesquisadores e pesquisadoras do humor gráfico. Esses autores e essas autoras nos oferecem suas contribuições para desvelar ou compreender a presença e os sentidos das diversas modalidades do humor gráfico nos contextos sócio-históricos contemporâneos e seus impactos na realidade social, política e / ou cultural de seus respectivos tempos históricos.
O segundo volume apresenta sete artigos na sessão principal, encerrando o nosso dossiê. Também compõem esta edição outros três artigos recebidos em sistema de fluxo contínuo, que integram a sessão de artigos livres, além da publicação de uma resenha. Todos os artigos publicados nesta edição de nossa revista, em especial os artigos do dossiê Humor Gráfico, Política e História, são oferecidos aos leitores como resultado de nossos esforços para continuar proporcionando um espaço rico e plural em torno das áreas de conhecimento que estabelecem um diálogo profícuo com o avanço da historiografia contemporânea. Leia Mais
Humor Gráfico, Política e História (I) / Fronteiras – Revista de História / 2018
O projeto de organização do dossiê Humor Gráfico, Política e História para a Fronteiras: Revista de História, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGH / UFGD), começou a ser gestado a partir de nossa participação (organizadores do dossiê) em uma Banca de Mestrado em Comunicação na Universidade Estadual de Londrina (UEL), realizada no dia 09 de maio de 2017. Na ocasião, a mestranda, Fernanda Targa Messias, orientanda do professor Rozinaldo Antonio Miani, defendeu sua dissertação intitulada A consolidação do agronegócio como política agrária nos governos Lula e Dilma e sua representação por meio das charges de Carlos Latuff1. Estimulados pelos debates em torno das potencialidades do humor gráfico nas pesquisas históricas, fora lançado o desafio de organização deste dossiê. A Fronteiras analisou essa possibilidade e nos confiou o desafio de viabilizarmos a sua organização.
Como foi salientado na chamada pública de proposição de trabalhos para o dossiê2, os estudos e pesquisas sobre o humor gráfico ainda são muito restritos, principalmente, no campo da História. Deste modo, a proposição foi estratégica e visou contribuir com uma área extremamente fecunda para os estudos históricos. Depois de proposta, tem-se a certeza do acerto. A Fronteiras foi surpreendida pela quantidade de artigos submetidos para avaliação, e, além da quantidade, destaca-se a originalidade e qualidade dos trabalhos. A surpresa também gerou dúvidas entre os profissionais editores da revista, pois se tratavam de muitos trabalhos com potencial de serem aprovados3; com isso, a edição do dossiê poderia ficar muito extensa. Após reuniões dos editores da Fronteiras, decidiu-se pela publicação de dois volumes do dossiê Humor Gráfico, Política e História. O primeiro volume (Edição Vol. 20, Nº 35 / 2018.1) compõe esta edição da revista; e o segundo volume (Edição Vol. 20, Nº 36 / 2018.2) está previsto para ser publicado no mês de dezembro de 2018. Leia Mais
História das Religiões e Religiosidades / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2013
Apresentar mais uma Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR) é motivo de imenso orgulho e satisfação. Fruto de um esforço coletivo dos editores discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo, a cada lançamento a REHR tem dado passos relevantes na tarefa de se consolidar como meio de interlocução acadêmica na área de História em Mato Grosso do Sul, e no cenário brasileiro. Nesse sentido, destacamos a confiança dos autores de todo o país que contribuem com seus trabalhos e acreditam na seriedade e qualidade da Revista.
Em sua XIV Edição, a REHR traz o dossiê História das Religiões e Religiosidades. O estudo das manifestações religiosas conquistou espaço em diversas áreas do saber acadêmico no Brasil. Pode ser caracterizado como um campo de estudo “composto, fundamentado em um pluralismo metodológico, influenciado por especializações e tradições culturais e institucionais locais e enredado em uma teia de tensões epistemológicas” [1]. A temática é abordada em áreas como a Antropologia, Teologia, História, Sociologia, Geografia, Ciências da Religião, Filosofia, Psicologia, Comunicação, Medicina e muitas outras. De acordo Antonio Gouvêa Mendonça:
As relações com o sobrenatural condicionam os estilos, as normas e a práxis do homem nas suas relações uns com os outros e com a natureza. Mesmo onde a racionalização filosófica ou científica passa por alto na nomenclatura dos deuses, estão presentes configurações de poderes que desenham universos diferenciados pelos quais os homens lutam, às vezes, até as últimas consequências […] feitios que, embora, sob disfarces diversos, são poderes verdadeiramente religiosos [2].
Essa amplitude para estudo é reflexo do próprio campo religioso brasileiro, caracterizado por uma diversidade de crenças, instituições e práticas religiosas. O sagrado está por toda a parte no país. Diversidade que, infelizmente, mascara diversas práticas de intolerância religiosa, de grupos religiosos maioritários contra minoritários e vice e versa. As ideias, crenças religiosas extrapolam as paredes de igrejas, templos, terreiros, sinagogas etc., e se manifestam em esferas como a da política partidária. Basta recordar as últimas eleições presidenciais, na qual, temas como o aborto foram instrumentalizados por diversas lideranças religiosas em prol de um determinado candidato. Cabe lembrar ainda a presença da chamada bancada evangélica, no Congresso, e das polêmicas que recentemente envolveram o Deputado Marco Feliciano, Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal.
Em 2014, será lembrado o cinquentenário do Golpe Militar, período recente da história brasileira, revelador de cicatrizes e feridas; período esse para o qual instituições religiosas, sobretudo cristãs, participaram ativamente dos “dois lados”. Esse momento histórico tem sido relembrado pelas mídias, especialmente devido à atuação da Comissão Nacional da Verdade, instalada em 2012, e que possui um GT específico para investigar a participação de religiosos durante os governos militares, intitulado “O papel das igrejas durante a ditadura”. “Se conheceres a verdade, a verdade vos libertará”; oxalá esse GT tenha êxito.
No âmbito específico da História não é diferente. O estudo do sagrado passou de uma temática marginal há poucas décadas, especialmente devido a uma herança marxista da academia brasileira, para um campo fértil de estudos. O tema norteia diversos grupos de pesquisa, linhas de pós-graduação e periódicos e influencia uma diversidade de publicações.
E, por falar em publicações, no mês de outubro de 2013 em São Paulo, veio a público um caso curioso e que pode ser considerado um divisor de reflexões para o estudo acadêmico das religiões no país. Durante a sessão de lançamento de livros no I Simpósio Regional Sudeste da Associação Brasileira de História das Religiões, o historiador Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, ao apresentar o livro de sua autoria intitulado “A grande onda vai te pegar. Marketing, espetáculo e ciberespaço na Bola de Neve Church” [3] informou aos presentes que um advogado da referida Igreja o procurara instantes antes tentando dissuadi-lo de lançar a obra, afirmando ao autor que o mesmo “iria ter problemas”. Conforme escreveu Eduardo Meinberg em uma rede social “a Bola de Neve já havia entrado com uma Ação de Indenização e um agravo de instrumento [dias antes da data agendada para o lançamento da obra]. A ação pedia que o livro não fosse publicado, que o evento de lançamento fosse cancelado, [e que o autor] não mencionasse mais o nome da igreja em trabalhos futuros, que retirasse de circulação o que [o autor já havia escrito] sobre a igreja, que retirasse a fanpage do livro do Facebook, e estipulava multa indenizatória de R$ 50 mil caso o livro fosse lançado e mais R$ 10 mil diários após o lançamento”. Felizmente, a ação e o agravo de instrumento foram indeferidos por um juiz e por um desembargador (isto antes da noite de lançamento) [4]. Mesmo com ganho de causa, o pesquisador informou nas redes sociais que nos meses seguintes se sentiu intimidado, amordaçado, constrangido. Esse caso teve diversas repercussões nas redes sociais, em periódicos de grande circulação nacional e nos círculos acadêmicos. A Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) [5] e o GT de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH (GTHRR) divulgaram uma Carta Aberta em defesa da referida publicação.
Além das publicações e grupos de pesquisa, é preciso citar os diversos eventos dirigidos a esses historiadores, mas que reúnem estudiosos das mais diversas áreas. Desses, é importante lembrar os encontros nacionais da Associação Brasileira de História das Religiões, realizados bianualmente. A ABHR foi fundada em 1998 com a instalação da Linha de Pesquisa Religiões e Visões de Mundo no Programa de Pós-Graduação em História da UNESP / Assis, e passou a ter caráter nacional em 1999 com a realização de seu I Simpósio, na mesma Universidade. Desde então, a Associação realiza seus encontros maiores a cada dois anos, reunindo grande número de pesquisadores. Nos últimos anos, a entidade foi subdividida em cinco regionais, que promovem igualmente os seus respectivos encontros. Outra contribuição importante da ABHR é a publicação da “Coleção ABHR”, livros que reúnem textos dos respectivos encontros nacionais da entidade. Uma característica dessas publicações é oferecer aos leitores subsídios teóricos para a abordagem das manifestações religiosas. A entidade também é responsável pela publicação da Revista Plura [6], criada em 2010.
É importante citar também as atividades do GT de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH. Esse grupo completou 10 anos de fundação em 2013. Foi criado em 2003 na cidade de Dourados / MS, durante a realização do I Simpósio sobre Religiões, Religiosidades e Culturas [7], na então Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a coordenação do Prof. Jérri Roberto Marin. Esse GT teve sua primeira reunião nacional durante o XXIII Simpósio Nacional da ANPUH, em Londrina / PR, em 2005, quando foi eleita a sua primeira gestão (2005-2007). O GT realizou o seu I Encontro Nacional em 2008, na cidade de Maringá / PR. Desde então, realiza os encontros nacionais a cada dois anos. Posteriormente, o GT também foi subdividido em regionais, que passaram também a organizar encontros. Além dos diversos eventos, o GT é responsável pela publicação da Revista Brasileira de História das Religiões 8, criada em 2008.
Em 2013, a Comissão de Estudos para a História da Igreja na América Latina (CEHILA), completou o seu 40º aniversário. Criada na cidade de Quito, no Equador em 1973, a Comissão reúne diversos estudiosos do cristianismo no continente Americano. Realiza encontros internacionais e a CEHILA-Brasil, também criada em 1973, promove encontros nacionais.
Uma característica dessas entidades dedicadas ao estudo das religiosidades é o deslocamento do olhar investigativo das instituições para as vivências e para as práticas religiosas no cotidiano. Nesse sentido, demanda dos estudiosos um olhar amplo, interdisciplinar; um ecumenismo teórico e metodológico. Esse desafio pode ser vislumbrado na diversidade de temáticas que se desdobram a partir do grande tema religião / sagrado, como pode ser conferido nos artigos do dossiê História das Religiões e Religiosidades dessa edição.
Abrindo o dossiê, Ipojucan Dias Campos compartilha o seu artigo intitulado Código Civil e Igreja: construções, discursos e representações (1916-1940). O autor interpreta as relações de força que se estabeleceram no início do século XX, com a aprovação do Código Civil de 1916, entre República e Igreja acerca da secularização do casamento e da separação conjugal. Assim, vislumbra como os tensos debates em torno da laicização foram intensamente apresentados e enfrentados pelas duas instâncias de poder; isso acontecia porque na ocasião estavam em jogo diretrizes em torno dos princípios por onde a família deveria trilhar a sua formação dita legal.
Vagner Aparecido Marques, em seu artigo A Dupla Vida do Pesquisador: etnografia da conversão ao pentecostalismo de membros do PCC na zona leste de São Paulo apresenta algumas inquietações em campo, durante sua pesquisa realizada para o mestrado em Ciências da Religião pela PUC-SP. Os registros apresentados são resultado de entrevistas com Kadu, personagem principal da pesquisa, membro do PCC e de uma denominação pentecostal. O objeto central do trabalho está no questionamento referente ao ato da conversão ao pentecostalismo, sobretudo o binômio conversão = rupturas, que se sustentou como verdade fundamental ao longo de décadas na Sociologia da Religião e nos estudos sobre o pentecostalismo, mas que, em análises de campo, mostrou-se cada vez menos sólido. Ao converter-se ao pentecostalismo, Kadu não deixou de ser “irmão” do PCC para tornar-se “irmão” da igreja, e essa metamorfose em sua trajetória exigiu alguns cuidados no campo de pesquisa. Tais cuidados são discutidos no texto a fim de contribuir para a discussão sobre o papel do pesquisador no campo, seus posicionamentos, proximidade com o objeto e a necessidade de um distanciamento para análise dos dados e das fontes levantadas.
Em A „Orientação pelo Evangelho‟ e a Consolidação do Espiritismo no Brasil (1860- 1940), Ana Lorym Soares analisa o processo de introdução e consolidação do espiritismo no Brasil entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX. Seu objetivo é examinar a relação estabelecida entre o espiritismo e seus contestadores, entre os quais se pode destacar a Igreja Católica e instituições jurídicas, médicas e sanitárias brasileiras, de modo a evidenciar as táticas utilizadas para sair de uma situação de contestação e alçar-se a um patamar aceito entre as várias opções religiosas do Brasil.
No seu artigo Entre a Fé e o Crime: a atuação do Reformador e da Federação Espírita Brasileira diante dos processos criminais contra cidadãos espíritas (1891-1905), Adriana Gomes discute a atuação do periódico espírita Reformador e da Federação Espírita Brasileira diante de processos criminais que cidadãos espíritas se envolveram por adotarem práticas consideradas contrárias à ordem pública. Estes cidadãos passaram a ser inseridos pelas autoridades políticas, policiais e médicas no que juridicamente ficou denominado de charlatanismo e curandeirismo. No Código Penal de 1890 práticas espíritas foram criminalizadas nos artigos 156, 157 e 158, sobretudo, no artigo 157. Aos agentes sociais envolvidos nos processos criminais, sobretudo advogados e juízes, coube à tarefa de diferenciar conceitualmente o que era religioso e o que era magia. Assim como, o que era crença e o que era exploração num emaranhado de práticas e representações subjetivas do que se compreendia como sendo espiritismo.
Walter Valdevino do Amaral compartilha seu artigo “O Abecedário das Filhas de Maria”: práticas de uma religiosidade católica, que analisa o surgimento da Pia União das Filhas de Maria, sua organização e estrutura interna, seus ritos de iniciação e as suas regras comportamentais, com o objetivo de mostrar como esta associação foi fundamental, para a construção de modus vivendi a ser seguido pelas jovens católicas no final do século XIX e início do XX. Para tal análise, adota o conceito de habitus, proposto por Pierre Bourdieu; e a ideia de disciplina, sugerida por Michel Foucault.
O Rock e a Cultura Evangélica Juvenil: música & identidades é o artigo apresentado por Laís Cândida Ferreira. A autora analisa as formas de inserção do rock no cenário protestante brasileiro, bem como sua influência para a formação de identidades juvenis. Para tal objetivo utiliza como fontes de estudo as canções de duas bandas: Oficina G3, atuante no mercado nacional evangélico desde 1990, e Desertor, representante do cenário underground evangélico desde 1995. A análise das canções em seu conjunto, compreendendo questões estruturais e contextuais, mostrou que essas bandas estão dialogando de forma intensa com o mercado secular, tanto em questões estéticas ligadas à sua performance quanto técnicas, referentes à sua musicalidade. Por outro lado, as ideias que procuram ser transmitidas permanecem ligadas à tradição pietista, mesmo no caso da Desertor que tem letras ligadas à temática punk.
O autor Charles David Tilley Bilbao finaliza o dossiê com seu artigo La Mala Mirada: brujas y vacas. No trabalho, aborda um tema clássico dos estudos antropológicos: o mauolhado. Para isso, analisa como este fenômeno cultural se articula em relação aos animais, particularmente, na pecuária. Essas crenças, inscritas na religiosidade popular, tendem atualmente a desaparecer em certos contextos rurais, ao menos da maneira como o conhecíamos. Por esse motivo, realizou uma pesquisa sobre o tema na província espanhola de Asturias, com especial atenção aos métodos de prevenção e cura do mau-olhado em bovinos.
Na seção de artigos livres, Wilian Junior Bonete compartilha o seu trabalho intitulado Notas sobre o Conceito de Consciência Histórica e Narrativa em Jörn Rüsen e Agnes Heller. Consciência histórica é uma expressão que não representa um sentido comum a todos que dela fazem uso e está, muitas vezes, relacionada a realidades distintas e excludentes entre si. Isto porque possui mais do que um conceito, tornando assim difícil sua definição. O artigo enfrenta esse desafio e reflete sobre os fundamentos do conceito de consciência histórica e narrativa a partir das elaborações teóricas de Jörn Rüsen e Agnes Heller. Esses autores são privilegiados por conceberem a consciência histórica enquanto um fenômeno necessariamente humano, cuja operação mental articula passado, presente e futuro como forma de orientação e compreensão das experiências vividas pelo homem no tempo, no espaço, nas diversas circunstâncias da vida prática cotidiana.
No artigo Sexualidade e a História da Mulher na Idade Média: a representação do corpo feminino no período medieval nos séculos X a XII, André Candido da Silva e Márcia Maria de Medeiros apresentam discursos sobre as mulheres na Idade Média por meio de figuras distintas como de Eva, Virgem-Mãe e Madalena, associando-as à sexualidade e à sedução, que, para a época, constituíam formas absolutamente repreensíveis pela sociedade, estruturada pela cultura patriarcal e religiosa.
Nessa edição, a REHR teve a satisfação entrevistar o professor Luis Fernando Ayerbe. Ayerbe (UNESP), que possui larga experiência com pesquisa nas áreas de História das Relações Internacionais e Estudos Internacionais, atuando, em suma, com os seguintes temas: América Latina Contemporânea, Política Externa dos Estados Unidos e Relações Interamericanas. A entrevista e apresentação do professor foi realizada pelo editor Anatólio Medeiros Arce.
Finalizando a XIV Edição, a REHR apresenta duas resenhas: O Erotismo, de Georges Bataille, resenhada por Wallas Jefferson de Lima; e a obra Alcântara: alma e história, de autoria Albani Ramos e Sebastião Moreira Duarte, resenhada por Daniel Rincon Caires.
Convencidos de que os artigos publicados nesse dossiê contribuirão para um conhecimento acadêmico mais consistente, desejamos também que a leitura possibilite reflexões sobre a necessidade do respeito e da convivência com as diferentes maneiras do viver religioso / cotidiano do outro.
Boas leituras.
Notas
1. GEERTZ, Armin W. O estudo da história das religiões no mundo. In: SIEPIERSKI, Paulo D.; GIL, Benedito M. Religião no Brasil: enfoques, dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2007. Coleção de estudos ABHR, 2ª ed.
2. MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, pentecostais e ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. São Bernardo do Campo: UMESP, 1997.
3. O livro é fruto da dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente o autor cursa o Doutorado em História na Universidade de São Paulo (USP).
4. Trechos do perfil de uma rede social utilizados com autorização de Eduardo Meinberg.
6. http: / / www.abhr.org.br / plura / ojs / index.php / plura / index
7. Nos anos de 2006 e 2009 foram realizadas as 2ª e 3ª edição desse Simpósio. Esses eventos reuniram nas cidades de Dourados (2003 e 2006) e de Campo Grande (2009) um grande número de estudiosos das manifestações religiosas, configurando-se como um dos maiores eventos da temática no país. Além dos anais dos encontros, foram publicados dois livros: “Religiões, religiosidades e diferenças culturais” (UCDB, 2005) e “Religiões e identidades” (UFGD, 2012), organizados pelo prof. Jérri Roberto Marin.
8. http: / / www.dhi.uem.br / gtreligiao / index.html
Fabiano Coelho (editor)
Carlos Barros Gonçalves (pesquisador convidado).
Dourados – MS, Primavera de 2013.
COELHO, Fabiano; GONÇALVES, Carlos Barros. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 7 n.14, jul. / dez., 2013. Acessar publicação original [DR]
Movimentos Sociais e Sociedade / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2013
O ano de 2013 foi especial para a Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). No seu sétimo ano de existência, o periódico conquistou a classificação no estrato B3 do Qualis Periódicos / Capes (área de História). Essa conquista é fruto de muito trabalho, seriedade e esforço coletivo dos editores – discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGH / UFGD) – e dos membros do Conselho Editorial e Consultivo da Revista.
Ao longo de sua existência, a REHR tem se consolidado como um meio relevante na interlocução de pesquisas no âmbito da História e das Ciências Humanas em Mato Grosso do Sul, e no cenário brasileiro. Destacam-se autores e autoras de Instituições de todo o Brasil e, recentemente, de outros países, que contribuem com seus trabalhos. Em todas as suas “chamadas de trabalhos”, a REHR tem recebido uma quantidade considerável de artigos e resenhas, sendo estes de qualidade digna de nota. O interesse e confiança dos pesquisadores e pesquisadoras em publicar no periódico evidenciam sua qualidade e credibilidade.
Nessa perspectiva, é com enorme alegria e satisfação que apresentamos a XIII Edição da REHR, cujo dossiê é “Movimentos Sociais e Sociedade”. A proposição do dossiê se justifica pela relevância da temática e quantidade de pesquisadores que se dedicam a compreender os caminhos e descaminhos dos movimentos sociais, suas relações com os meandros do social, político, econômico e cultural, bem como as diversas experiências dos sujeitos que compuseram / compõem e deram / dão vida a esses grupos. Também, a importância do dossiê se expressa pelo fortalecimento da linha de pesquisa do PPGH / UFGD, intitulada “Movimentos Sociais e Instituições”.
Nesta edição, expressamos os nossos sentimentos e pesar com o falecimento do professor John Manuel Monteiro que, com seus pensamentos e ideais, se tornou uma referência para os estudos sobre os povos indígenas no Brasil. O professor John Monteiro faleceu no dia 26 de março de 2013, vítima de um acidente de trânsito na Rodovia dos Bandeirantes / SP. Era docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reconhecido nacional e internacionalmente por suas pesquisas na área de história indígena. Em sua homenagem, publicamos a crônica do professor José Bessa, intitulada “John, um Negro da Terra”. A REHR se solidariza e estende os desejos de conforto e afeto à família do saudoso professor John Manuel Monteiro.
Abrindo o dossiê “Movimentos Sociais e Sociedade” está o artigo do professor mexicano Carlos Antonio Aguirre Rojas, intitulado O que são os Movimentos Antissistêmicos? [1] . No trabalho, Rojas nos brinda com um instigante texto no qual se preocupa em apresentar sua concepção daquilo que se convencionou chamar de “movimentos sociais antissistêmicos”. Para tanto, inicialmente, analisa as diversas possibilidades de protesto social e a enorme pluralidade das formas e manifestações sociais, que, inclusive, é um claro sinal da imensa dificuldade para caracterizar e definir com mais precisão as suas variadas facetas. Para Rojas, após a revolução cultural de 1968, houve a emergência dos chamados “movimentos antissistêmicos” que expandiram as ações dos “movimentos anticapitalistas”, alcançando pontos que iam além da luta contra a exploração econômica, o Estado e a cultura capitalistas. Os “movimentos antissistêmicos” trouxeram para a pauta de reivindicações elementos como a herança das sociedades de classe, o patriarcado e o machismo, a exploração irrefreada da natureza, além da divisão entre o trabalho manual e intelectual. Assim sendo, os “movimentos antissistêmicos” passaram não apenas a afrontar o sistema capitalista, mas igualmente estenderam sua luta contra outros dois sistemas que o sustentam, quais sejam: o sistema de organização social dividido em classes sociais antagônicas, e segundo, usando um termo de Marx, contra o sistema do reino da “escassez natural”, ou o predomínio do “reino da necessidade”.
Em Multitudes Ambientalistas en Lucha Contra los Agrotóxicos, os pesquisadores argentinos Cecilia Carrizo e Mauricio Berger recuperam, a partir de entrevistas e análise de documentos, três experiências de luta contra pesticidas nos últimos cinco anos em Córdoba, uma das principais províncias produtoras de soja da Argentina, identificando em cada caso, a pluralidade de saberes e práticas em jogo. Assim, recuperam as noções de Multidões e Justiça Ambiental, para contribuir com a autocompreensão das lutas como políticas e a reflexão sobre o anacronismo de seguir chamando sociais as práticas que, fora do sistema político representativo, resistem ao modelo dos agronegócios.
“Nascemos Assim!”: o movimento LGBT brasileiro e o perigo da estratégia essencialista (1978-2012) é o título do trabalho de Tiago da Silva Ferreira. O autor propõe um debate em torno das estratégias que o movimento LGBT brasileiro vem traçando para combater a discriminação sofrida pela população cuja sexualidade diverge da norma heterossexual. Dessa forma, interessa particularmente o foco que o movimento tem dado, especialmente nos últimos anos, ao que chama de argumento biológico. Ou seja, a estratégia de apregoar a aceitação da diferença sexual pela via da naturalização. Recorre a uma breve reconstituição histórica sobre o discurso acerca da homossexualidade a partir do século XIX, passando pela constituição do moderno movimento gay brasileiro em 1978 até chegar ao contexto atual. O trabalho almeja demonstrar o perigo de despolitização que a aposta na naturalização das sexualidades representa para este importante movimento social contemporâneo.
Fabiano Coelho, em Experiências de Pesquisa: reflexões sobre o MST e a construção de representações sobre os presidentes brasileiros (1984-2006), salienta que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde sua criação, esteve presente e atuante em diversos momentos da história do Brasil, como no final da Ditadura Militar, no processo de “abertura política” do país e na consolidação das eleições diretas para presidente, a partir de 1989. Nesse período, o Movimento se projetou como oposição e resistência aos presidentes, representando-os como conservadores, elitistas e “inimigos” da reforma agrária. Por ora, apresenta reflexões iniciais de pesquisa sobre as representações do MST face aos presidentes brasileiros, entre os anos de 1984 e 2006, sendo eles de José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, e Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do Jornal Sem Terra. Destaca também a importância do Jornal Sem Terra como um instrumento político, utilizado pelo MST para elaborar e publicizar representações sobre os presidentes no período delimitado.
O trabalho de Fernando Perli, intitulado O Internacionalismo em Questão: rede de solidariedade em jornais e cadernos do MST (1984-1986), reflete que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se definiu mediante estratégias políticas que articularam um movimento social com abrangência nacional. Nos debates que arregimentaram movimentos sociais rurais de várias regiões do Brasil, os meios de comunicação do MST contribuíram para intensificar contatos, experiências e identidades políticas. O artigo analisa, a partir dos jornais e cadernos do MST, a construção de uma rede de solidariedade que colocou em pauta, num período de definições organizativas do Movimento, o internacionalismo da luta pela terra.
Cláudia Delboni, em Os novos Atores Sociais: a formação do acampamento de Sumaré II no Estado de São Paulo (1980), realiza algumas considerações teórico-metodológicas sobre a participação das mulheres na consolidação do acampamento de Sumaré II, que ocorreu na década de 1980, no município de Sumaré / SP. Os anos de 1980 foram marcados pela eclosão de diversos movimentos, que trouxeram para o cenário político novos atores sociais. O artigo é fruto de sua dissertação de mestrado, que na qual se utilizou da História Oral de Vida para analisar categorias de análise que instrumentalizaram na compreensão da temática, tais como cidadania e identidade.
No artigo Caminhos para a Emancipação em Tempos de Globalização: transformação social e economia solidária, Hermes Moreira Jr. discute as possibilidades da Economia Solidária como proposta de renovação das teorias críticas ao status quo conservador, no intuito de encontrar novos caminhos e novas agendas para a emancipação social e as consequentes possibilidades de transformação da realidade.
Marcos Alan S. V. Ferreira, em seu artigo Violação dos Direitos Humanos em Nome da Segurança Estatal: considerações sobre os eventos de abril de 2003 em Cuba, analisa as violações dos direitos humanos promovida pelo governo cubano em 2003. Nesse sentido, atenta o olhar para a onda repressiva promovida pelo governo cubano em março e abril de 2003, que resultou na aplicação da pena de morte a três sequestradores e na prisão de 75 opositores de Fidel Castro. Esses atos cometidos por Cuba tiveram forte repercussão internacional, com protestos expressados por personalidades de destaque, como os escritores ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez e José Saramago.
O artigo Concepções e Experiências da Educação Popular no Instituto Administrativo Jesus Bom Pastor – IAJES, da autora Mariana Esteves de Oliveira, discute o tema da Educação Popular a partir de algumas experiências vividas por movimentos sociais ligados a uma instituição católica na cidade de Andradina / SP, como representativas das práticas de resistência a partir do ano 1970 até meados dos anos 1990. Seus conceitos, seus teóricos, suas matrizes discursivas se encontram com experiências vivenciadas por homens e mulheres que se puseram em luta a partir das discussões empreendidas no bojo desta Educação Popular propugnada pelo educador Paulo Freire e por teólogos da libertação. Dessa forma, as conquistas e contradições dos grupos conformam, em muito, na própria construção das classes populares na América Latina e contribuem para a reflexão que ilumine os caminhos e descaminhos de uma educação que na atualidade se mostra esquizofrênica e inoperante, incapaz de envolver a juventude e incentivá-la a construir um novo horizonte social, uma nova utopia.
Encerrando o Dossiê, André do Nascimento Corrêa, em Sociedade Agrária: hierarquia entre os criadores de gado vacum de Caçapava (1821-1850), analisa as características socioeconômicas do universo agrário de Caçapava, província do Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XIX. As principais fontes empregadas são os inventários post mortem e o período abordado estende-se entre 1821 e 1850. Realizou-se, também, um diálogo bibliográfico com estudos sobre História Agrária. O autor investiga a concentração de terras e animais nas mãos de poucas pessoas. Entretanto, ao lado desse pequeno grupo concentrador de recursos, havia uma miríade de pequenos produtores, muitos também senhores de escravos. Assim, sinaliza para um universo social mais complexo do que aquele geralmente descrito nas obras que tratam do contexto local no período abordado.
Na sessão de artigos livres, Adriana Gomes em A Criminalização do Espiritismo no Código Penal de 1890: as discussões nos periódicos do Rio de Janeiro, discute a importância dos periódicos que circulavam na capital federal na segunda metade do século XIX: o Jornal do Commercio, O Apóstolo e o Reformador – para a inserção da Doutrina Espírita, a sua divulgação, ataque e a defesa diante da criminalização de algumas de suas práticas no Código Penal de 1890. Nos discursos divergentes e com tons diferenciados dos periódicos, cada um dos grupos em discussão, tinha um objetivo muito claro: transformar os seus discursos em mecanismos de compreensão e legitimação de suas ideias. E com discursos “legítimos”, buscavam convencer o leitor que os seus argumentos eram os mais coerentes em contraposição aos argumentos do discurso do outro.
José Augusto Ribas Miranda é autor do artigo “El Ambiente que se Respiraba en Nuestro Campo, Era la Conviccíon Íntima del Triunfo de Nuestras Armas”: fotografias de efetivos Militares como construção imagética da superioridade bélica do Chile na Guerra do Pacífico (1879-1884). No trabalho, analisa a construção imagética da superioridade bélica chilena na Guerra do Pacífico em fotografias de efetivos militares, presentes no Album Grafico Militar de Chile, de 1909. Por meio da análise das fotografias, realizadas por Eduardo Clifford Spencer, discute como tais imagens atuam como agentes de construção de uma ideia de superioridade bélica chilena para os próprios nacionais, em obra posterior ao conflito.
No artigo Hetáira e o Sympósion: relações de gênero em banquetes na Atenas do V e IV século a. C., Juliana Magalhães dos Santos salienta que para compreender as relações sociais tecidas em consonância com a dinâmica de banquetes (symposia), é preciso atentar para algumas particularidades sobre a festividade e seus participantes. Identificada como figura recorrente em banquetes, as hetáirai (cortesãs) são elementos importantes para apontar as trocas específicas ocorridas durante os banquetes. Nessa perspectiva, indica a sua dinâmica neste espaço de frequência e suas relações afins, além de analisar este circunscrito espaço de trânsito e ação. Como parte importante para a apreciação do tema, é apresentado um breve comentário sobre a sua expressão imagética e as concepções e considerações a respeito de estudos de gênero que tentam compor um olhar sobre o feminino na História e em particular sobre as cortesãs na Atenas do século V e IV a.C.
Em O Caso de Claudia de Quinta e Magna Mater sob a perspectiva dos estudos do Feminino e da Religião Romana, Pedro Paulo Rosa, reflete que Magna Mater, deusa de origem antiga da região da Frígia, está presente nas festividades públicas e femininas do mês de abril em Roma. Os romanos domesticaram a versão antiga dessa deusa – Cibele – e a trouxeram para a cidade de Roma, no contexto histórico da II Guerra Púnica (no final do III a.C.). Nesse sentido, Magna Mater vem suprir o papel de grande mãe dos romanos, bem como se destina não apenas aos rituais religiosos femininos, isto é, de matronas romanas, mas também é uma deusa urbana, que abrange os magistrados, os equestres, e grande parte da população romana. É geral e particular. Feminina, quando se destina à Claudia Quinta e a outras ricas matronas, uma ordem social sagrada; e masculina, quando também representa e salvaguarda o jovem futuro homem de Estado.
Memórias e Raízes: os alicerces da Faculdade de Direito do Piauí (1930-1935) é o título do artigo dos autores Eduardo Gefferson Silva Ferreira e Marcelo Leandro Pereira Lopes. No trabalho, recuperam a memória da Faculdade de Direito do Piauí, o contexto histórico-político e social de sua instalação, e investigam também os atores envolvidos no processo de sua implantação, compreendendo porque sua implantação foi tardia. Também reflete sobre a influência da Faculdade de Recife e da Revolução de 1930 na sua formação, e ainda apresenta o projeto curricular da instituição. Através de pesquisa documental, discute o longo caminho para a abertura da primeira faculdade de Direito do Piauí e percebe sua importância na formação de uma nova camada burocrática.
Otávio Erbereli Júnior, em seu artigo Do Populismo “Clássico” ao Neopopulismo: trajetória e crítica de um conceito, tem como foco central a crítica de Angela de Castro Gomes à utilização dos conceitos de populismo e neopopulismo na caracterização de determinados períodos da vida política brasileira, notadamente 1930-1964. Pelo fato desta historiadora ter por inspiração teórica a História dos Conceitos, achou por bem reconstituir o trajeto de crítica à tradicional História das Ideias, bem como expor as principais formulações acerca do populismo com os quais Castro Gomes irá dialogar e rejeitar. Por fim, expõe sua proposta de adoção do termo trabalhismo em substituição ao populismo.
Ao finalizar a XIII edição da REHR, apresentamos a resenha de dois livros: Cuba e a Eterna Guerra Fria: mudanças internas e política externa nos anos 90, do autor Marcos Antonio da Silva, resenhada por Claudio Reis; e Daniel Rincon Caires resenhou a obra O Epaminondas Americano – trajetórias de um advogado português na Província do Maranhão, cujos autores são Yuri Costa e Marcelo Cheche Galves.
Desejamos agradáveis e proveitosas leituras. Aventurem-se no universo das palavras.
Nota
1. O trabalho foi traduzido pelos pesquisadores André Dioney Fonseca (Doutorando em História – USP) e Eduardo de Melo Salgueiro (Doutorando em História – UFGD), a quem a REHR agradece a gentileza e colaboração.
Fabiano Coelho – Editor
Dourados / MS, Inverno de 2013.
COELHO, Fabiano. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.7, n. 13, jan. / jun., 2013. Acessar publicação original [DR]
Interdisciplinaridade: contribuições para a narrativa histórica / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2012
É com muito orgulho e satisfação que apresentamos mais uma edição Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). No ano de 2012 ela completou seis anos de existência. Sua editoração é e sempre foi fruto de um esforço coletivo dos editores discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo. Nesse tempo, a REHR tem se consolidado como um meio significativo de interlocução de pesquisas na área de História e nas Ciências Humanas em Mato Grosso do Sul, e no cenário brasileiro. Nesta perspectiva, destacam-se os diversos autores e autoras de Instituições de todo o país que contribuem com seus trabalhos e acreditam na qualidade e seriedade da Revista.
Ao propor a publicação da presente edição da REHR, volume 6, número 12, de julho / dezembro de 2012, que aborda o dossiê Interdisciplinaridade: contribuições para a narrativa histórica, este periódico reverbera, de certa forma, partes das reflexões que o célebre historiador Marc Bloch apresentou no clássico texto Apologia da história, ou, O ofício de historiador [1]. A construção da história utilizando-se de conceitos, métodos e mecanismos de diferentes Ciências, além da diversificação da matriz documental e de uma maior divulgação do conhecimento sobre eventos pretéritos da sociedade foram decisivos para que a forma de se compreender o passado sofresse mutações ainda no início do século XX, a partir da publicação da revista francesa Les Annales d’Histoire Économique et Sociale, no ano de 1929. Ciro Flamarion Cardoso na obra Domínios da História escreve que uma das principais características da primeira geração da Escola dos Annales, tendo como seus principais articuladores Marc Bloch e Lucien Febre, era o debate crítico entre as Ciências Humanas, partindo do pressuposto de que não existiam fronteiras estritas e definitivas entre elas [2].
Com o advento da denominada Nova História, por volta de 1970, este traço característico dos Annales também foi latente. Jacques Le Goff [3] e Peter Burke [4] defendiam também a necessidade de garantir um intercâmbio fecundo entre a História e outras Ciências, visando ampliar os horizontes e os campos de atuação do historiador. Após décadas da publicação das ideias de Bloch sobre a importância do consórcio entre história e demais áreas do conhecimento para uma construção holística da história, historiadores e pesquisadores ainda encontraram entraves frente à utilização da interdisciplinaridade como ferramenta para a construção da narrativa do passado. Contudo, o diálogo com outras áreas do conhecimento foi se tornando uma necessidade, e a resistência frente à interdisciplinaridade foi paulatinamente superada. Tal problemática disponibiliza um campo bastante fértil que tem na inserção de conhecimentos da Semiótica, Sociologia, Antropologia, Economia, Artes, Filosofia, Pedagogia, Relações Internacionais, Psicologia, Geografia, Linguística, Arquitetura, entre outras, uma maior diversidade de sentidos para a compreensão das ações e acontecimentos do passado. É neste sentido que a atual edição da REHR apresenta este dossiê. Os trabalhos que compõem a XII edição da REHR são experiências de pesquisa que carregam em seu interior o diálogo com concepções teóricometodológicas de distintas áreas do conhecimento.
O artigo que inaugura o dossiê é A Lei 10.639 / 03, possíveis diálogos, do autor Hermes Gilber Uberti. O artigo reflete sobre as possibilidades de trabalho interdisciplinar a partir do entrelaçamento das narrativas artística e histórica se valendo do uso de imagens enquanto recurso pedagógico. Premissas essas pensadas a partir da lei 10.639 / 03 que almejou dar maior evidência a história e a cultura afro-brasileira buscando romper certos estigmas que foram construídos em torno da figura do negro, tanto durante o período escravista quanto no momento posterior a abolição. Nesse sentido, debate sobre o papel da escola nesse processo de construção de negritudes por entender que se trata de um lócus por onde circularam e ainda circulam uma série de estereótipos envolvendo essa parcela da sociedade brasileira.
Em No Afrouxar dos Espartilhos: uma análise interdisciplinar acerca da formação da identidade ocidental feminina durante Primeira Guerra Mundial sob a ótica da indumentária, Ludimila Caliman Campos objetiva compreender as mudanças no papel social da mulher ocidental ao longo da Primeira Guerra Mundial a partir do contexto norte-americano e inglês. Para analisar as transformações do comportamento social feminino, utiliza como fonte imagens da indumentária da época, entendendo que o vestuário é uma importante expressão comunicativa. Como tal, a roupa é ainda uma linguagem que referencia eficazmente mutações sociais e sinaliza identidades pessoais e comunitárias. Ao final, define o conceito de prêt-à-changer próprio para caracterizar essa mudança de paradigma no habitus da mulher no início do século XX.
Marcelo Eduardo Leite e Carla Adelina Craveiro Silva em Imagens Múltiplas: algumas considerações sobre a(s) fotografia(s) do século XIX pretenderam lançar luz sobre a história da fotografia oitocentista atentando para as questões técnicas, assim como, para a existência de diversas formas de apropriação do fazer fotográfico nesse período. Nesta perspectiva, apresentam brevemente o ambiente cultural no qual esses “modos de fazer” se desenvolveram, vislumbrando os processos pioneiros de reprodução de imagens fotográficas, e, considerando, contudo, que um contexto técnico e ideológico específico é o que faz com que tais processos surjam.
No artigo Representações da Cultura Paraguaia: tradições e memórias na construção identitária de imigrantes e descendentes, Alan Luiz Jara reflete que o Mato Grosso do Sul conta com uma significativa população paraguaia imigrante que, a partir da década de 1970, começou a articular-se em torno de associações culturais. Este movimento de imigração e organização sociocultural foi objeto da primeira parte do trabalho. Adiante, a proposta central debate – tendo como marco o período entre 1990 e 2012 – as formas com que em alguns elementos desta cultura, considerados tradicionais (música, gastronomia, religiosidade, etc.) articulam memórias e, assim, atuam no sentido de construir e reforçar as identidades. Desta forma, entende este último conceito como uma estrutura que reconhece e incorpora as variações de expressão, negando, portanto, as perspectivas holistas. A metodologia utilizada foi a história oral, e as questões colocadas emergem das narrativas de imigrantes e descendentes, produzidas na cidade de Dourados / MS.
O Mundo Antigo a partir dos Escritos de F. Nietzsche: a eterna luta entre a moral aristocrática antiga e a moral judaico-cristã é o trabalho de Thiago Gomes da Silva. Conforme o autor, muitos foram aqueles que contribuíram para a perpetuação de uma série de preconceitos contra a política, a cultura e a própria concepção de existência das civilizações antigas. Em contrapartida, os textos de Friedrich Nietzsche possibilitam, de certa forma, resgatar uma imagem fortalecida do mundo antigo, apresentando-o com uma ótica peculiar. O filósofo também interpreta de maneira distinta a queda do Império Romano e frisa que sua representatividade moral esteve, e ainda estaria presente no próprio movimento que é história da humanidade, numa constante e eterna luta com aqueles valores responsáveis pela queda formal do Império. Uma luta entre as tábuas valorativas que compreendem os conceitos de bom e ruim contra bem e mal, a vigência do embate entre Roma contra Judéia, ou ainda, do Império Greco-Romano contra o Judaico-Cristianismo.
Geane Bezerra Cavalcanti em seu artigo Vigilância e Repressão do DOPS-PE contra as Associações de Moradores do Bairro de Casa Amarela e Adjacências (1955-1964) busca revelar os estudos sobre as intervenções do DOPS-PE sobre as associações de moradores do bairro de Casa Amarela e comunidades circunvizinhas. Justifica-se pela força, resistência e importância, que estas organizações tiveram para a história recente da cidade do Recife. Para desenvolvimento do trabalho se apropria como aporte teórico de Montenegro, Maria da Glória Gonh e Ilse Scherer-Warren. Como metodologia utilizou-se jornais de grande circulação em Pernambuco, bem como os apreendidos pelo DOPS-PE, além das informações referentes às associações de moradores de Casa Amarela, os inquéritos contra moradores, os documentos administrativos e os relatórios da polícia.
Os artistas e as Sociedades nos Estudos de História Comparada ou as Vidas Paralelas é o artigo de Leandro Couto Carreira Ricon, que objetiva demonstrar, através da análise teórica e metodológica, a possibilidade da utilização da produção de artistasintelectuais como fonte para a análise de realidades sociais, políticas e culturais díspares dentro do modelo proposto pela História Comparada. Desta forma, abre um foco de interdisciplinaridade com os estudos artísticos para a construção da História enquanto disciplina. Para tal, construiu um debate através da Sociologia Histórica, da História dos Conceitos, da História Social e da Historiografia Comparativa, buscando relacionar os conceitos de Artista, principalmente aquele proposto por Norbert Elias e de Intelectual.
Em O “grande” como solução à identificação regional: ampliações e retratações das delimitações da região de Dourados – MS, Bruno Bomfim Moreno propõe reflexões sobre a trajetória da utilização da terminologia grande Dourados como instrumento de delimitação da região da cidade de Dourados e municípios vizinhos, abarcando conceitos da geografia, da história e da sociologia. Em um texto envolvente e ilustrado por dados cartográficos e estatísticos, Moreno apresenta também uma reflexão historiográfica acerca da ocupação territorial desta região e como o grande surge como elemento de associação simbólica entre a região e a população local.
O artigo de André Luiz de Vasconcelos é intitulado Batalha de Stalingrado: o documentário como agente da história. O tema em questão é fruto de uma pesquisa que volta sua atenção para a memória relacionada à Batalha de Stalingrado. Para desenvolver a análise, fez-se a escolha de um documentário como fonte denominada “Stalingrad” realizado no ano de 2006 pelos diretores alemães Jörg Müllner e Sebastian Dehnhardt. Esta produção fílmica retrata a questão social de civis e militares, sejam alemães ou soviéticos ao longo da Batalha de Stalingrado. Esse filme documentário tornou-se interessante pelo fato de fazer uso da memória de sobreviventes que estiveram no ocorrido para tentar refazer uma reconstrução do passado vivido.
Recentemente, no início de dezembro de 2012, a UNESCO conferiu ao frevo (dança típica do estado de Pernambuco) o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Exatamente neste momento de júbilo da cultura brasileira e tendo este ritmo nordestino como o plano de fundo para o desenvolvimento de suas ideias, Marcelo Martins Ianino apresenta o artigo Clube das Máscaras O Galo da Madrugada: o maior bloco de carnaval do Brasil é Patrimônio Cultural e tradição em Pernambuco. Narrando a trajetória desse bloco carnavalesco o autor aponta como o Estado se apropriou dessa tradição popular urbana para criar um canal de comunicação com a população. Ainda no bojo da história d’O Galo da Madrugada Ianino fornece dados do processo de patrimonialização das expressões populares, ações lideradas por entidades como a UNESCO, o ICOMOS e o IPHAN cada vez mais frequentes e que representam, sem dúvida, uma seara para o desenvolvimento do ofício do historiador.
Tiago Alinor Hoissa Benfica escreveu o artigo Superar os Achados: método quantitativo para a história do tempo presente. O trabalho apresenta uma discussão sobre a utilização de questionários fechados com questões respondíveis em escala, método próprio para pesquisas na área de história do tempo presente. O debate está alicerçado na teoria das representações sociais. A sistematização e a exploração dos dados realizam-se a partir de recursos da informática.
O artigo intitulado Pelas Ruas, Escolas, Comércios e Propriedades Rurais: o itinerário dos Integralistas em Garanhuns-PE entre os anos de 1935 até 1937 é de autoria de Márcio André Martins de Moraes. De acordo com o autor, a Ação Integralista Brasileira (AIB), criada pelo intelectual católico Plínio Salgado, ocupou importante papel na política nacional nos anos 1930, pautando seus discursos doutrinários no lema: Deus, Pátria e Família. Em Pernambuco foram fundadas 66 sedes, das quais 12 ficaram entre o Recife e região metropolitana e as demais no interior do estado. O objetivo do artigo foi analisar as práticas cotidianas desses militantes em uma dessas cidades, no caso, Garanhuns (1935- 1937), observando as estratégias de atuação desses nos espaços públicos e privados. As atividades políticas e ideológicas dos membros da AIB, não ficavam restritas às reuniões no núcleo local, mas ganharam as principais ruas e estabelecimentos educacionais e comerciais, contribuindo, assim, para a divulgação e popularização do pensamento integralista entre os garanhuenses.
A parceria firmada entre Leandro de Araújo Crestani e Jefferson Andronio Ramundo Staduto tem como resultado O atraso tecnológico no setor agropecuário brasileiro: Lei de Terras de 1850 em perspectiva, uma análise da relação entre a estrutura fundiária do Brasil e a perpetuação de práticas rudimentares no setor agropecuário. Balizado pela Lei de Terras (1850) este texto contribui para o entendimento da proliferação das grandes propriedades rurais desde meados do século XIX a partir dos pressupostos da História Agrária e de conceitos da Economia, bem como a ocupação das terras brasileiras no período que antecedeu 1850.
Finalizando sua XII Edição, a REHR apresenta três resenhas: Memoria y Política en la Historia Argentina Reciente: una lectura desde Córdoba (2009), de Marta Philp, resenhada por María A. Zurlo. A obra Dourados e a Democratização da terra: povoamento e colonização da Colônia Agrícola Municipal de Dourados (1946-1956) (2008), de Maria Aparecida Ferreira Carli é resenhada por André Dioney Fonseca. Fechando essa sessão, Daniel Rincon Caires resenha a obra As Famílias Principais: redes de poder no Maranhão colonial (2012), de autoria de Antonia da Silva Mota.
Desejamos que a leitura desta edição da REHR seja agradável, proveitosa e que estimule novos olhares para a gama de possibilidades em que a História se permite entender. Parafraseando o saudoso e exímio historiador inglês Eric Hobsbawm, que faleceu aos 95 anos em 01 / 10 / 2012, concluímos esta apresentação com uma de suas célebres frases: A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que enquanto houver raça humana haverá história [5].
Notas
1. BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
2. CARDOSO, Ciro F. História e Paradigmas Rivais. In: CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 1-23.
3. LE GOFF, Jacques. A História Nova. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
4. BURKE, Peter (Org.) A escrita da História: novas perspectivas. 2ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
5. HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 15-16.
Fabiano Coelho
Bruno Mendes Tulux
Anatólio Medeiros Arce
(Editores)
Dourados / MS, Primavera de 2012.
ARCE, Anatólio Medeiros; COELHO, Fabiano; TULUX, Bruno Mendes. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 6, n. 12, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]
Estudos sobre Fronteiras / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2012
Apresentar a Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR), volume 6, número 11, de jan / jun de 2012, cujo dossiê tem como tema Estudos Sobre Fronteiras, é uma grande satisfação. Primeiramente, por que a exposição dessa abordagem está profundamente associada à proposta epistemológica do Programa de Pós-Graduação em História da UFGD, instituição de ensino e pesquisa qual a REHR está veiculada. Portanto, a diversidade dos vieses temáticos e a qualidade das reflexões presentes nas páginas a seguir contribuirão para que a temática “fronteira” seja pensada como objeto de múltiplos olhares para historiadores e pesquisadores das Ciências Humanas.
Em segundo lugar, a dinâmica da produção do conhecimento histórico demonstra uma necessidade cada vez mais urgente em divulgar estudos dos mais diversos temas de pesquisa relacionados às múltiplas possibilidades de análises do passado. É, portanto, a diversidade de vertentes analíticas que alimenta a produção intelectual das Ciências Humanas e dão novo fôlego para a compreensão da realidade histórica das sociedades do presente. Fatores como a velocidade dos meios de comunicação, o alcance mundial da internet, a organização dos setores historicamente excluídos da sociedade, por exemplo, são elementos que renovam os limites das relações humanas ao mesmo tempo em que recriam novos contornos dos vínculos entre homens, mulheres e o passado. Historicamente, as fronteiras foram formadas para “distinguir” e / ou separar territórios, povos e culturas. No entanto, as reorientações paradigmáticas das Ciências Humanas fizeram esse conceito angariar significados tanto de aproximação quanto de distanciamento entre grupos étnicos e sociedades urbanamente estabelecidas. As análises históricas, antropológicas, sociológicas, entre outras, atingem proporções que podem ser problematizadas pela discussão da fronteira ou do estudo sobre seus variados significados, entre campos do conhecimento que muitas vezes se completam rumo a uma análise multidimensional.
O deleite de expor tal assunto refere-se à importância dessa questão para a historiografia brasileira. Fronteira foi, inegavelmente, importante objeto para as primeiras análises do passado nacional. No entanto, a compreensão da temática fronteiriça durante muito tempo esteve relacionada aos limites da ordenação geopolítica e diplomática do território. Partindo da concepção limítrofe geográfica dos textos de Adolfo Varnhagen e Capistrano de Abreu a fronteira passou a ser assimilada sob a ótica da conexão entre as sociedades portuguesa, africana e indígena. Foi Sérgio Buarque de Holanda, no clássico Caminhos e Fronteiras (1957), quem apontou que paisagens, hábitos, instituições, técnicas e idiomas heterogêneos interagiam e criavam produtos mistos, re-significando os limites e resultando em novas acepções de fronteira.
A edição traz aos leitores artigos referentes ao dossiê, bem como demais pesquisas sobre temas livres e resenhas. O artigo que abre o dossiê da XI Edição da REHR é Nas fronteiras do Império e um conceito de guerra no século XIX: “nessas terras de fronteiras, vinha sentindo cotidianamente as dificuldades de se fazer a guerra”, que trata da ocupação do Rio Grande do Sul pela análise do conceito de fronteira de guerra, arregimentado à historiografia militar e constituído como uma alternativa de análise do passado pela chamada Nova História Militar. Nesse texto Carlos Eduardo de Medeiros Gama tem como baliza espaço-temporal a fronteira sul-rio-grandense do Império brasileiro durante a primeira metade do século XIX. O autor ressalta a importância em notar que o lócus fronteira sul do Império deve ser interpretado como ponto nevrálgico para o desenvolvimento dos distúrbios sul-americanos do século XIX, espaço de consolidação dos estados platinos e de conexões sociais, econômicas e culturais do espaço fronteiriço.
Alessandro Batistella apresenta uma proposta de análise da construção da identidade paranaense a partir do paranismo, movimento regionalista que surgiu após a emancipação política daquele estado em meados do século XIX e que atingiu o auge de sua popularidade na década de 1920. Dessa maneira, o autor buscou os elementos simbólicos que compõe essa análise, bem como a distinção dos grupos sociais emergidos e excluídos pelo paranismo através da compreensão das características desse movimento. Esta análise está presente no texto O Paranismo e a invenção da identidade paranaense.
Raimundo Nonato de Castro escreve As Representações Indígenas no Processo de Colonização do Brasil. No artigo, o autor reflete que as imagens e os textos, produzidos pelos europeus, serviram para criar imaginários sobre as populações indígenas, passando a ser utilizadas para assegurar e garantir o incremento do processo de dominação colonial. Nesta perspectiva, analisa algumas das observações realizadas pelos navegadores europeus, verificando que apresentam os nativos como seres que necessitavam ser cristianizados.
A formação da fronteira oeste no sul do Brasil é apresentada por Hermes Gilber Uberti. Essa análise é estruturada a partir das estratégias para incorporar o território fronteiriço ao Império brasileiro pela concessão de sesmarias, a criação de núcleos urbanos, e, principalmente, o comércio entre colonos do Vale do rio Jaguari, na região central da província, e a cidade fronteira de Uruguaiana durante o século XIX. As discussões presentes em O Vale do Jaguari no processo de construção da fronteira oeste do Rio Grande do Sul demonstram a questão fronteira como espaço ativo na construção das atividades produtivas e das relações sociais entre os homens da fronteira, utilizandose, para tanto, da metodologia da micro-história.
O artigo de Vanderlei Sebastião de Souza, intitulado As Ideias Eugênicas no Brasil: ciência, raça e projeto nacional no entre-guerras abre a sessão de artigos livres. O trabalho analisa o discurso eugênico no Brasil, destacando o modo como essas idéias mobilizaram setores importantes da elite intelectual do país nas primeiras décadas do século XX. Considerando que a eugenia brasileira deve ser vista como um interessante caso de relação entre ciência e ideologia social, busca compreender que arranjos científico, político e institucional fundamentaram o movimento eugênico, quais foram e o que pensavam os intelectuais, cientistas e autoridades públicas que promoveram esse debate no Brasil. Para tanto, demonstra que os adeptos da eugenia se organizaram como um movimento que procurou articular ciência, raça e nação com vistas à formação de projetos de reforma da sociedade brasileira e de construção nacional.
Fernand Braudel e a Geração dos Annales é o nome do artigo de José D’Assunção Barros, que examina as especificidades do modelo historiográfico proposto pelo principal autor pertencente à segunda fase do movimento dos Annales: Fernando Braudel. Depois de uma discussão inicial sobre o contexto histórico e institucional que preside uma nova fase dos Annales sob a direção institucional de Fernando Braudel, discute a contribuição historiográfica deste historiador francês, enfatizando aspectos como a concepção braudeliana sobre o tempo e a dialética das durações, a importância do espaço para a historiografia braudeliana, o projeto de História Total neste historiador francês, e sua dinâmica de diálogos interdisciplinares.
Antonio Carlos Sardinha, em seu artigo O Percurso Histórico da Organização Política por Direitos Sexuais de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais em Mato Grosso do Sul apresenta os principais resultados de estudo sobre a trajetória histórica e as características que marcaram a constituição do movimento social de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTT) em Mato Grosso do Sul. Recuperar o passado desse movimento social, por meio de pesquisa exploratória, contribui com a construção da memória de luta política pela garantia de direitos humanos a identidades sexuais que demarcaram, a partir da atuação pública, espaço próprio de interlocução em meio às demandas colocadas por outros grupos na esfera de conflito que permeia as lutas sociais.
O artigo El Bonaerense e Tropa de Elite: um debate sobre a segurança pública abordada nas telas do cinema argentino e brasileiro no século XXI, de autoria de Luiz Eduardo Pinto Barros analisa elementos comuns entre as sociedades argentina e brasileira no que se refere à segurança pública de ambas as nações, caracterizada por problemas como corrupção policial, guerra entre traficantes de drogas e deficiências dos governos para superar estes problemas. A análise é realizada a partir do olhar para as produções El Bonaerense (Argentina, 2002), dirigido por Pablo Trapero, e Tropa de Elite (Brasil, 2007), dirigido por José Padilha. As duas produções são heranças do estilo italiano Neo-realista surgido em meados do século XX, com características antihollywoodianas. Essa corrente cinematográfica visa tratar a realidade social como o objeto principal, o que é visualizado nas duas produções analisadas.
Bárbara Figueiredo Souto e Roger Aníbal Lambert da Silva, no artigo Representações e Combates Discursivos: práticas da imprensa nas décadas finais do século XIX refletem sobre como o jornal é uma valiosa fonte para os estudiosos de fins do século XIX e sua utilização na produção do conhecimento histórico. O objetivo do trabalho é discutir certas práticas da imprensa na construção de suas representações e seus discursos, ou seja, as estratégias das quais os jornais se utilizavam para legitimarem suas posições diante da opinião pública. Para tanto, elegeram como foco de análise representações acerca das mulheres e alguns combates discursivos sobre o tema da “rebeldia dos escravos”, objetos de atenção constantes por parte da imprensa nas décadas finais do século XIX.
O Gigante Adamastor Camoniano: nexos entre memórias e profecias é o nome do artigo de Cleber Vinicius do Amaral Felipe. No trabalho, problematiza o papel desempenhado pelo gigante Adamastor na epopeia Os Lusíadas (1572), de Camões. Ao se deparar com este personagem, Vasco da Gama ultrapassa uma fronteira e, do local onde se encontra, o nauta português consegue apreender tanto o “antigo” quanto o “novo”, sob uma perspectiva singular. Adamastor é um hiato situado entre o passado e o futuro, entre o vício e a virtude, entre o comedimento e o excesso. Afinal, o que suas profecias dão a entender? Quais são as memórias forjadas pelo gigante? Enfim, como ele relaciona passado, presente e futuro?
O artigo intitulado De Frente para o Mar: as representações da paisagem litorânea na cidade de Rio Grande (1904-1976), de Felipe Nóbrega Ferreira, analisa as diferentes representações da paisagem, dando a ler um mundo social em suas sensibilidades, entre os anos de 1904 e 1976. Assim, contribui para uma apropriação da idéia da paisagem junto ao campo da história. Para tal estudo, apresenta um conjunto de fotografias que circundam o universo do litoral de banhos.
Vinicius Fattori, em Um Charlatão, Padres Devassos e Escritores Libertinos: popularização de ideias no período pré-revolucionário francês reflete sobre obras e ideias do historiador estadunidense Robert Darnton. Este autor analisa aquilo que poderíamos denominar de “popularização de ideias iluministas”, uma vez que se foca em diversos escritores marginais que pareciam ter como missão pessoal disseminar as ideias do Iluminismo no francês comum pré-revolucionário, uma tarefa que não seria possível aos autores e filósofos clássicos do Iluminismo, com seus complicados tratados políticos. Estas pessoas, charlatães, padres devassos e escritores libertinos costumavam ser muito populares no século dezoito, mas atualmente estão esquecidos.
Em A invenção do Brasil no mito fundador da Umbanda, Mario Teixeira de Sá Junior apresenta uma perspectiva histórico-sociológica da criação da Umbanda no Brasil do início do século XX. Tendo como eixo discursivo a mitologia umbandista de Zélio de Morais o autor buscou contextualizar esse fenômeno cultural aos aspectos históricos da transição do século XIX para a centúria seguinte. Dessa forma, a alteração na estrutura política nacional e a modificação nas relações entre trabalhadores e as classes dominantes contribuíram para a formação da nação brasileira no mesmo momento em que a Umbanda surgia como religião resultante das interações culturais africanas e brasileiras.
O artigo Memórias e Práticas Pedagógicas: a escola multisseriada em Novo Hamburgo / RS e a trajetória da professora Élia Thiesen (1958-1983), de José Edimar de Souza apresenta fatos da trajetória de uma professora cuja docência acorreu na zona rural de Novo Hamburgo – RS, entre 1958-1983. Para tanto, analisa como a trajetória docente se entrelaça à prática pedagógica em classes multisseriadas, considerando para esse fim a memória como fonte documental. A pesquisa, de natureza qualitativa, utiliza metodologia da História Oral valendo-se de entrevistas semi-estruturadas. O referencial teórico fundamenta-se na perspectiva da História Cultural, tendo as memórias como documento. As memórias desta professora permitiram conhecer um pouco sobre os primórdios da escola pública em Lomba Grande enfatizando o processo de construção das Escolas Isoladas.
Resquícios de Al-Andaluz em Norte de África: aspectos da autobiografia de Ibn Khaldun (1332-1406), da autora Elaine Cristina Senko finaliza a seção de artigos livres. O historiador medieval Abu Zaid Abd’ul-Rahman Ibn Khaldun (732-806 H. / 1332-1406 J.C.) revela por meio de sua Autobiografia (parte integrante da Muqaddimah) que seus antepassados teriam origem sevilhana. Nesse contexto do outono da Idade Média se faz pertinente discutir as formas de migração dos muçulmanos de grande parte de AlAndaluz por iniciativas da Reconquista cristã, em que Fernando III (1217-1252 J.C.), filho de Afonso IX rei da Galícia, era o perpetrador indireto da fuga da família Khaldun para a região de Túnis. Essa análise torna primordial, pois que a atuação de muçulmanos em cargos dos governos de Al-Andaluz se apresenta por meio dessa família. Nesta perspectiva, a o artigo demonstra a participação dos antepassados de Ibn Khaldun em cargos específicos e como esses personagens interferiram na maneira de pensar desse erudito.
Em memória ao historiador e indigenista Antonio Jacó Brand, que faleceu no dia 03 de julho de 2012, em Porto Alegre / RS, republicamos a entrevista do pesquisador concedida a REHR, no ano de 2009, em sua VI Edição. A notícia de seu falecimento foi recebida com muita tristeza pelos familiares, amigos e aqueles que conheciam os trabalhos desenvolvidos por Brand, sobretudo, em defesa das populações indígenas. Para além de pesquisador, Brand foi um lutador da causa indígena, atuando junto aos Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, estado em que viveu aproximadamente 30 anos. A dor da perda é enorme, mas as contribuições intelectuais de Brand, sua militância e ensinamentos vivem.
A XI Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão ainda oferece aos leitores duas resenhas. Pedro Paulo Abreu Funari resenha o livro Nazi Germany and the Jews, 1933-1945, do autor Saul Friedländer. A outra resenha é de Daniel Rincon Caires, que resenhou o livro (Des)medidos – A revolta dos quebra-quilos (1874-1876), da autora María Verónica Secreto.
Desejamos uma agradável e proveitosa leitura dos textos publicados. Agradecemos pela credibilidade confiada e que os trabalhos da XI Edição da REHR possam nos instigar a percorrer os caminhos e descaminhos da História.
Fabiano Coelho,
Bruno Mendes Tulux
Anatólio Medeiros Arce
(Editores)
Dourados / MS, Inverno de 2012.
ARCE, Anatólio Medeiros; COELHO, Fabiano; TULUX, Bruno Mendes. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 6, n. 11, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]
História e Mídia / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2010
O Conselho Editorial e Consultivo da Revista História em Reflexão (REHR) apresenta para seus leitores a VIII Edição do periódico eletrônico. A temática do dossiê dessa edição, foi escolhida devido à crescente produção que envolve o uso das mídias, seja como objeto ou fonte de investigação histórica. Com imensa satisfação publicamos o dossiê História e Mídia, a fim de colaborar com as discussões dos historiadores acerca da utilização da imprensa na pesquisa histórica, assim como enriquecer o conhecimento acerca do tema.
Ao idealizarmos esse dossiê levamos em consideração a crescente produção acadêmica que se utiliza a imprensa como fonte e objeto de pesquisa. Além disso, tomamos como referência a crescente influência da mídia no cotidiano das sociedades, já que se utiliza de uma estratégia que procura inserir nas publicações o que é ansiado pelo seu público. A respeito desse aspecto, Robert Darton menciona em O Beijo de LamouretteMídia, Cultura e Revolução que devemos escrever para “imagens de pessoas”, as mais leigas possíveis (1990, p.71). Assim, entendemos a mídia como portadora de um discurso ideológico pelo qual procura influenciar os discursos, propondo representações carregadas de aspectos simbólicos. O fato das publicações dos diversos veículos da mídia se apresentar cada vez mais acessíveis, fez com que o mundo midiático fosse parte inerente do convívio diário humano.
Na historiografia brasileira que discute a imprensa, temos diversos autores e autoras que apresentaram propostas de metodologias que, sem dúvida, auxiliaram muitos dos trabalhos publicados nesse dossiê da REHR, são eles: Tânia Regina de Luca, Maria Helena R. Capelato, Nelson Werneck Sodré, entre outros. Tais autores apresentaram várias maneiras de se pensar historicamente, especificamente, a mídia imprensa. Destacam-se as colocações de De Luca ao considerar o fazer história “dos nos e por meios dos periódicos” através de um texto que merece a atenção dos historiadores, que foi publicado no livro Fontes Históricas organizado por Carla Bassanezi Pinsky (2005). De forma geral, as discussões acerca do universo midiático são muito amplas, dessa maneira a REHR procurou colaborar e apresentar textos que enriquecem tal historiografia.
Na atualidade, percebe-se um crescente aumento de trabalhos ligados à mídia considerada de “massas” como a televisão, rádio, Internet, por exemplo. No Brasil a popularização da mídia no final do século XX e início do XXI, fez com que muitos historiadores ligados à programas de pós-graduação se debruçarem à discussão acerca da cybercultura e do cyberespaço. Em geral, esses termos da atualidade apresentam a emergência de novos espaços de sociabilidade de um ambiente virtual que, com esse tipo de mídia cada vez mais próxima da população, anunciam um tempo em que a Internet permanece inerente ao convívio social de muitos. De certa maneira, assim como outros meios de comunicação, o ambiente virtual têm a Internet como um objeto que vem merecendo atenção dos historiadores, seja pelo apelo ao consumo que possui ou por ser uma ferramenta que auxilia e coloca o internauta em outra esfera de relacionamento humano.
A respeito do dossiê desse semestre (julho- dezembro / 2010) informamos que está repleto de artigos relacionados ao “universo da mídia”, além daqueles norteados por temas livres. A somar, resenhas e uma entrevista são apresentadas também nessa edição. De início temos o artigo Quantas grafias compõem a historiografia? Multimídia e novas linguagens em História de Genaro Vilanova Miranda de Oliveira, o qual cita que as mídias audiovisuais e sonoras que ainda não têm a atenção que merece da historiografia. Conforme o autor seus questionamentos estão centrados na possibilidade de pesquisadores, professores e alunos de História escreverem a partir de “alfabetos” baseados em sons e imagens e não apenas em textos de arquivos. Em um estudo que chama atenção, apresenta-se um método não convencional de escrita, a historiomidiografia. Através de uma proposta metodológica Oliveira propõe o uso de editores de imagem, de som e de ferramentas de Web design para ampliar as formas de narrar à disciplina histórica.
Em a Imprensa e Política no Brasil: considerações sobre o uso do jornal como fonte de pesquisa histórica, Márcia Pereira da Silva e Gilmara Yoshihara Franco discutem a utilização da imprensa como fonte de pesquisa focando as análises do político. As autoras colocam a imprensa como fenômeno da modernidade situando historicamente o advento da mídia imprensa no contexto brasileiro. Dessa forma, são analisados especificamente os jornais utilizando uma abordagem bibliográfica que pretende auxiliar àqueles que se iniciam na escrita histórica.
O trabalho Escrita histórica e escrita midiática: a produção de sentidos históricos e o acontecimento emblemático contemporâneo produzido por Sônia Meneses também compõe esse rol de artigos. Através desse estudo Meneses problematiza entre outros fatores os conhecimentos e acontecimentos históricos do mundo contemporâneo conforme as relações história e mídia. Dessa forma, a autora discute a influência da mídia no processo histórico, relacionando a formação e a relação do acontecimento midiático com o acontecimento histórico.
O trabalho de Juliana dos Santos Pereira e Fabiano Coelho Considerações sobre o “milagre econômico” brasileiro na imprensa douradense (1970-1973) se utiliza do campo político para analisar o discurso da imprensa da cidade de Dourados do atual Mato Grosso do Sul acerca do “milagre econômico”. Dessa forma, os autores apresentam o comportamento do periódico Folha de Dourados diante de um fenômeno que conheceu o surto desenvolvimentista do setor industrial e de sua infra-estrutura. De modo geral, o estudo procura analisar as representações do impresso diante as ações do Estado.
Diego Abelino José Maximo Moreira traz seu artigo O começo do rádio no antigo sul de Mato Grosso: instalação das primeiras empresas e seus objetivos (1930-1970). Nesse trabalho, Maximo analisa a instalação de emissoras de rádio nas seguintes cidades do atual Mato Grosso do Sul: Corumbá, Dourados, e Campo Grande. O autor leu em consideração a origem, capital e dificuldades enfrentadas pelas empresas. Conforme as colocações contidas no texto os proprietários eram de diversas localidades, localizados até mesmo fora do Estado de Mato Grosso.
No que se refere ao artigo A construção fílmica do passado: imagens e narrativas do movimento belicista de 1930, André Luiz dos Santos Franco discute sobre as representação fílmica contida em “Revolução de 1930” de autoria e direção de Silvio Back. O filme remonta ao ano de 1980, cinqüenta anos após o movimento civil militar que, através de um golpe, colocou no poder Getúlio Vargas. De acordo com o autor, o processo histórico onde se localiza o conflito serve de objeto para que o historiador possa compreender os métodos e técnicas utilizadas para originar a representação fílmica.
A seguir apresentamos aos leitores a sessão de Artigos livres dessa edição da REHR, iniciamos com o trabalho de Miguel Pacífico Filho Consenso, anacronismo e violência: a historiografia brasileira sobre a escravidão, que procura colocar em primeiro lugar fatores sobre a historiografia que versa sobre a escravidão, a partir de um confronto entre formulações que possuem sua base no consenso e aquele que considera a violência entre senhores e escravos como sendo plausível. Sendo assim, o autor salienta como tais debates se fundamentaram sob argumentos de anacronismo. Para além de tais questões elucidadas no texto, o autor expõe apontamentos mencionando alguns fatores que demonstra que tais debates extrapolam o universo acadêmico, situando por fim, o seu trabalho de doutoramento na discussão.
Luciano Demetrius Barbosa Lima apresenta o artigo Entre Cabanos e plebeus: a presença da história clássica romana na obra Motins Políticos. O autor toma como referência o livro Motins Políticos ou história dos principais acontecimentos políticos na Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835 do historiador Domingos Antônio Raiol, para abordar questionamentos acerca da utilização por intelectuais brasileiros do século XIX, de fatores ligados à sociedade greco-romana. Lima através de seu estudo percebe tais referências em meio a uma descrição de conflitos políticos-sociais do Pará no texto de Raiol. O autor trata as menções à história Greco-romana a partir da noção de representação.
O artigo de Eder da Silva Silveira Estudo de caso e micro-história: distanciamentos, características e aproximações busca refletir sobre duas modalidades de pesquisa: o Estudo de Caso e a Micro-História. Atravéz de seu estudo o autor objetiva sinalizar algumas das principais características, distanciamentos, relações e aproximações entre Estudo de Caso e Micro-história.
No texto História Oral, Memória, História de Rodolfo Fiorucci sobre o uso da história oral e as publicações acerca da memória na trajetória epistemológica da disciplina histórica. No decorrer de seu texto Fiorucci faz uma breve explanação referente ao uso da história oral no Brasil e, além disso, trata dos métodos e teorias dessa vertente historiográfica.
O artigo do historiador José Costa D’Assunção Barros cujo título A escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento faz uma análise acerca do movimento dos Annales e suas respectivas fases que o compõe. Ao levar em consideração a sua importância para a historiografia, Barros trata de aspectos específicos que versam sobre a identidade dos Annales quanto um movimento. Desse modo, são analisados fatores ligados a interdisciplinaridade, a problematização da História, e as novas proposições nas formas de conceber o Tempo. Conforme esse entendimento o autor situa a discussão levando em consideração os novos rumos do saber histórico promovido pelos intelectuais ligados às fases tal movimento.
Rodrigo Machado da Silva apresenta o artigo Nas páginas descritivas do passado: a escrita da história como discurso para a civilização que traz um estudo sobre o que o intelectual mineiro Diogo de Vasconcellos discute a respeito da função e concepção de História. Através de livros de tal autor, como História Antiga Média de Minas Gerais Rodrigo M. da Silva analisa a construção e recepção da narrativa histórica na produção desse intelectual. Outro ponto abordado é aquele onde o autor do artigo analisa, é sobre a retórica utilizada para inserir Minas Gerais no que o estudioso mineiro tange como “ápice da civilização ocidental” durante o limiar do período republicano brasileiro.
Breno Mendes publica na presente revista uma análise cujo título Nossa (cordial) Revolução: o legado dos desterrados em sua própria terra remonta sua análise em algumas questões referendadas por Sérgio Buarque de Holanda que tiveram relevo na historiografia brasileira. Ao tratar de um tema que vincula esse historiador de renome, Mendes aborda de duas categorias referidas por Holanda: “cordialidade” e “nossa revolução”. O autor propõe analisar nesse texto o lugar social de Raízes do Brasil e na tentativa colocada pelo autor de uma “superação do passado”. Em linhas finais, o autor articulação entre conceitos que foram propostos por R. Koselleck e F. Nietzsche na narrativa de Holanda.
José Carlos da Silva Cardozo produziu e publica seu artigo O Juizado de Órfãos e a organização da sociedade nos anos iniciais do século XX, nesse texto, Silva estuda a atuação do Juizado de Órfãos da capital Gaúcha, Porto Alegre. Conforme os argumentos do autor, a instituição auxiliou para a regularização social de famílias da cidade, as quais enfrentavam uma situação de desagregação familiar, envolvendo menores durante o início do século XX. A partir de fontes que possuem informações sobre as tutelas dos menores, o autor percebe os valores morais nas decisões e desfechos de tutelas dos adolescentes e crianças.
Em Roma Locuta: Causa Finita? O repto da Igreja brasileira ao papado de João Paulo II texto elaborado por Lucelmo Lacerda, que procurou observar a formação do Cristianismo da Libertação e a oposição do Vaticano quanto à posição da primeira. Em seu texto o autor percebe a independência do modelo eclesial vinculados à Teologia da Libertação no interior da Igreja do Brasil. A partir de uma vasta bibliografia e entrevistas o autor propõe reordenar o relacionamento da Santa Sé e Igrejas locais.
Nesta edição a Revista Eletrônica História em Reflexão teve a honra de poder entrevistar o professor Jose Augusto Valladares Padua, professor do Departamento de História da UFRJ, que se dedica a pesquisar e escrever sobre a História Ambiental, figurando como um dos mais respeitados intelectuais brasileiros nesse campo. Influenciado por Warren Dean, seu livro Um Sopro de Destruição: Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888) é, certamente, uma indispensável leitura para os interessados na temática Ambiental sob a ótica do conhecimento histórico.
Para fechar essa edição da REHR, publica a resenha produzida por Ismael Gonçalves Alves, cujo livro resenhado é História da infância em Pernambuco organizado por Humberto Miranda e Maria Emília Vasconcelos.
A Equipe que compõe a REHR deseja para os leitores um ótimo aproveitamento dos textos publicados. Agradecemos a todos a credibilidade confiada e que o labirinto da História apresentado nessa edição colabore para as reflexões de todos!
Camila Cremonese Adamo
Fabiano Coelho
Daniele Reiter Chedid
Cássio Knapp
Fernanda Chaves de Andrade
(Editores)
Dourados-MS, Verão de 2010.
CREMONESE, Camila Adamo; COELHO, Fabiano; CHEDID, Daniele Reiter; KNAPP, Cássio; ANDRADE, Fernanda Chaves de. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 4, n.8, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]
Mundos do Trabalho: história e historiografia / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2010
Apresentar mais uma Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR) é motivo de imensa satisfação. Fruto de um esforço coletivo dos editores discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo, a cada lançamento a REHR tem dado passos relevantes na tarefa de se consolidar como meio de interlocução acadêmica na área de História em Mato Grosso do Sul, e no cenário brasileiro. Para tanto, evidentemente, vale destacar a confiança dos diversos autores de todo o país que contribuem com seus trabalhos e acreditam na seriedade e qualidade da Revista.
Em sua VII Edição, a REHR traz o dossiê: Mundos do Trabalho: história e historiografia. Esta temática permitiu abranger diversos trabalhos com problemáticas referentes aos “mundos do trabalho”, em suas mais diferentes relações. Questões como trabalho e trabalhadores, participação política, formas de organização, resistência e cultura de classes são algumas das perspectivas que abordam os artigos que compõem o dossiê. As abordagens evidenciam também as ações de trabalhadores diante das condições de trabalho desfavoráveis, as resistências e os modos constitutivos de seus universos culturais inseridos na dinâmica do trabalho, tanto no campo quanto na cidade. Sem mais delongas, apresentamos os trabalhos!
Iniciando o Dossiê, em O Mundo do trabalho lembrado e revivido por ex-moradores da “cidade flutuante” de Manaus, Leno Barata Souza preocupou-se em discutir aspectos do mundo do trabalho em Manaus, entre 1920 e 1967, através de narrativas orais. Este período foi marcado pela formação, sobre as vias aquáticas da cidade, de uma expressão cultural marcada por modos de vida próprios que foram pontos de partida para determinadas disputas sociais. Tais disputas tornaram as margens fluviais lugar de memórias para os entrevistados de Souza, especialmente o que diz respeito às sociabilidades do mundo do trabalho. A Zona Franca, inaugurada em 1967, fez desaparecer muitas destas relações sociais, porém, ainda permanecem na memória dos entrevistados, que a utilizam para reconstruir o passado e discutir sobre presente e futuro da cidade de Manaus.
O trabalho de Eric Gustavo Cardin, Os Trabalhadores das vias Públicas de Ciudad Del Este: considerações preliminares sobre os mesiteros e suas associações problematiza aspectos das relações de trabalho estabelecidas pelos trabalhadores das vias públicas da Ciudad Del Este nos últimos trintas anos. Através de pesquisas documentais disponibilizadas pela Associação dos Trabalhadores das Vias Públicas de Ciudad Del Este, levantamentos estatísticos e entrevistas exploratórias de trabalhadores do microcentro, foi possível compreender a história dos trabalhadores e os conflitos existentes na configuração e utilização do espaço público em questão, de modo a surgir, gradativamente, diferentes ocupações e suas respectivas associações e sindicatos. Nesta perspectiva, procurou construir reflexões sobre os vínculos existentes entre as organizações sociais e a municipalidade, além de observar determinadas mudanças no funcionamento e objetivos das associações de trabalhadores, e esboçar algumas considerações sobre o perfil dos mesmos.
Saulo Álvaro de Mello, em Recrutamento Compulsório e Trabalho em Mato Grosso: disciplina, violência, castigos e reações, discute a participação de marinheiros submetidos à violência sistêmica nas embarcações da Flotilha de Mato Grosso (1825 e 1879), evidenciando assim o anacronismo e a violência verificados nas Companhias de Aprendizes Marinheiros e Imperiais Marinheiros em Mato Grosso, tal como acontecia na Marinha Imperial. Foram utilizadas como fontes documentais correspondências, relatórios provinciais e ministeriais como suporte para as discussões, que enfocaram o homem livre pobre, enjeitados, órfãos e vadios, como principais vítimas.
“E ninguém parece sentiu saudade”: narrativas e memórias da diferença, trabalhadores horteleiro no Extremo-Oeste do Paraná é ó título do artigo de Gilson Backes, que propõe investigar as dinâmicas sociopopulacionais desencadeadas nas décadas de 1960 e 1970, no extremo oeste do estado do Paraná, de modo identificar as diferentes maneiras que trabalhadores migrantes circunscreviam suas dinâmicas de trabalho no período em questão.
Raimundo Lima dos Santos discute em Manoel Conceição Santos: de camponês a líder político a história de um camponês maranhense que se tornou um dos maiores articuladores da luta camponesa em resistência ao regime militar do país. Manoel Conceição Santos foi organizador do sindicato de trabalhadores rurais no vale do PindaréMirim, no Maranhão e, posteriormente, participou da organização de entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU). Por estas ações, Manoel Conceição Santos foi perseguido, preso e torturado na ditadura militar, até ser exilado em Genebra, onde, juntamente com outros exilados políticos, organizou a luta contra governos repressivos do período. Após seu retorno ao país, depois de três anos de exílio, manteve sua luta por uma sociedade mais justa, através do trabalho de associações e cooperativas, visando o aperfeiçoamento dessas organizações e o bem-estar dos trabalhadores.
Selva Trágica: imposições e resistências é o artigo de Fábio Luiz de Arruda Herring. A proposta é analisar os pontos históricos da obra de Hernani Donato: Selva Trágica: a gesta no sulestematogrossense. As discussões estão inseridas no cone sul do atual estado de Mato Grosso do Sul, no período correspondente ao início do século XX e problematizam as imposições feitas à cultura dos trabalhadores da Companhia Matte Larangeira e as formas de resistência criadas por eles para manter os elementos constitutivos de sua cultura.
Divino Marcos de Sena, em Camapuã no Período do Ocaso das Monções: população, trabalho, lavoura, exploração e resistências explica como as monções contribuíram para garantir a expansão do território da colônia portuguesa na América, através de saídas da capitania de São Paulo, que tinham por objetivo dar suporte aos núcleos populacionais que se formavam no decorrer do século XVIII e nas primeiras décadas do século XIX. Assim, as monções proporcionaram o florescimento de vários povoados e, entre eles, Camapuã, que se tornou uma importante localidade para dar apoio aos viajantes. A proposta do autor é apresentar algumas características de Camapuã no período final da rota das monções, enfocando o quanto sua existência foi fundamental no período monçoeiro.
O trabalho de Nilo Dias de Oliveira, A Vigilância do DOPS-SP: vigia-se tudo e todos, analisa a prática da vigilância do Serviço Secreto do DOPS-SP durante a década de 1950, que durante o período, recaiu sobre os mais variados personagens da esfera civil e militar do país. Foram evidenciadas como, no período, qualquer tentativa de participação ou engajamento político partidário ou mesmo movimentos reivindicatórios que demonstrasse ser de posição contrária ao estabelecido pelas esferas governamentais tornava-se alvo de suspeita imediatamente.
Encerrando o Dossiê, Jorge Eremites de Oliveira, em Sobre a Necessidade do Trabalho Antropológico para o Licenciamento Ambiental: avaliação dos impactos socioambientais gerados a partir da pavimentação asfáltica da Rodovia MS-384 sobre a comunidade Kaiowa de Ñande Ru Marangatu, apresenta uma avaliação dos impactos socioambientais sofridos pela comunidade Kaiowa de Ñande Ru Marangatu durante e após a construção da rodovia estadual MS-384, no distrito de Campestre, município de Antônio João. O estudo enfoca os muitos aspectos negativos diretos na comunidade, que se estruturaram em dois momentos: o primeiro durante a pavimentação asfáltica e o segundo após sua inauguração, e vão desde a discriminação racial, doenças decorrentes da inalação de poeira e do estresse causado durante a obra até atropelamentos com vítimas fatais.
Na sessão de Artigos Livres, iniciamos com o artigo de Edianne dos Santos Nobre: Porta dos Céus: Juazeiro como lugar de salvação a partir de narrativas femininas (Ceará, 1889-1896). O artigo se propõe analisar as narrativas das beatas envolvidas nos episódios de fé em Juazeiro, de modo a compreender, a partir de tais narrativas, as imagens que fundaram o local como um espaço sagrado e de salvação nas imagens presentes em um conjunto de narrativas femininas no final do século XX.
Literatura e Política na Revolução Mexicana: a visão crítica de Mariano Azuela é o artigo de Warley Alves Gomes que discute como a Revolução Mexicana, marco na história daquele país, teve seus desdobramentos por todo o século XX, principalmente no que concerne o intenso caráter popular e a participação das classes populares, até então à margem da vida política mexicana. A Revolução Mexicana é vista neste artigo a partir da visão crítica de Mariano Azuela, um renomado escritor mexicano, que evidencia como as artes e literatura exerceram um importante papel na reflexão sobre o conflito.
Margarida do Amaral Silva, em Codificação das Diferenças: a invenção do homem latino propõe discutir as desconstruções dos discursos produzidos sobre aqueles dos quais suas vozes sempre foi nula ou irracionalizada pelas teorias vigentes sobre grupos subalternos, no que diz respeito à raça, gênero ou posição social. A subalternidade racial é adotada como perspectiva por discutir e ampliar a visão da idéia de subalternidade das colônias modernas, da racionalização do sujeito e do conhecimento.
Hermes Gilber Uberti, no artigo: Assumindo Outros Papéis: o caso da viúva Francisca Pereira Pinto, teve por objetivo analisar situações ligadas à trajetória da mulher no processo de povoamento e colonização da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, a partir da análise das migrações que Francisca Pereira Pinto realizou ao longo do século XIX naquela região. Alguns papéis foram assumidos por ela, ao longo das andanças, entre os quais o de viúva que a levou, entre outras coisas, a assumir a gerência dos negócios, condição que a fez recorrer a diferentes instâncias do poder para fazer valer seus direitos. Além do patrimônio, estavam em jogo interesses outros, como seu reconhecimento social, sua respeitabilidade e o nome da família que pertencia.
Janderson Clayton Farias Machado, com o artigo: O Despertar do Recife no Brasil Holandês propõe abordar como se estruturou o desenvolvimento experimentado por Recife após a invasão holandesa em Pernambuco, enfocando as transformações que a tornaram um grande centro político, econômico e cultural na América Portuguesa, considerando a importância que a administração de Maurício de Nassau teve e o modo como ficou marcada na história de Pernambuco.
Estados Unidos: o contexto dos anos 1970 e as crises do petróleo é o artigo de Havana Alicia de Moraes Pimentel Marinho, que discute o panorama das várias crises dos anos 1970 dentro da perspectiva dos Estados Unidos. No período em questão, dominava a sensação de forte declínio da economia após os frutíferos “anos dourados” do pós-guerra, deste modo, as conseqüências políticas e econômicas dos acontecimentos e as decisões da política externa serão avaliadas no período proposto.
Finalizando a Edição, apresentamos duas resenhas: O desafio biográfico (2009), de Dosse François, resenhada por Fernanda Lorandi Lorenzetti, e George Zeidan Araújo apresentou a resenha da obra Política, cultura e classe na Revolução Francesa (2007), de Lynn Hunt.
Desejamos prazerosas e profícuas leituras!
Camila Cremonese Adamo
Fabiano Coelho
Daniele Reiter Chedid
Cássio Knapp
Fernanda Chaves de Andrade
(Editores) Dourados – MS, Inverno de 2010.
CREMONESE, Camila Adamo; COELHO, Fabiano; CHEDID, Daniele Reiter; KNAPP, Cássio; ANDRADE, Fernanda Chaves de. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 4 n.7, jan. / jun., 2010. Acessar publicação original [DR]
Bacia Platina: história e representações / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2009
É com imensa satisfação que apresentamos aos leitores a VI Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). Esta Edição traz o dossiê Bacia Platina: história e representações. A Bacia Platina é a segunda maior bacia hidrográfica do mundo. Possui cerca de 3,1 milhões de quilômetros quadrados de superfície, quase metade em território brasileiro (1,4 milhões de quilômetros quadrados). É responsável pela maior parte da produção da energia elétrica consumida no Brasil. Além disso, configura-se como um importante espaço de comunicação e de transporte entre os países que a compõe.
A proposta de um dossiê voltado aos estudos relacionados à região da Bacia Platina surgiu a partir da reflexão sobre o papel exercido pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), enquanto pólo educacional e científico, na região geográfica na qual está inserida. Além disso, por entender que a Região Platina abarca espaços fronteiriços não somente geográficos, mas históricos, culturais e políticos entre Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Trata-se de uma paisagem complexa, historicizada ao longo do tempo e carregada de peculiaridades. Nesse sentido, os estudos voltados à Bacia Platina protagonizam fenômenos históricos significativos que auxiliam na compreensão das dinâmicas sociais que envolvem os grupos que viveram e vivem nestes espaços. Sendo assim, o presente Dossiê objetiva contribuir para a percepção de que muitos dos dilemas e preocupações surgidos no interior de cada uma das Regiões Platinas não repousam unicamente em aspectos econômicos e financeiros, mas também naqueles que perpassam a história e o cotidiano dos personagens desse imenso cenário.
Com a preocupação de ser um espaço em que pesquisadores e estudantes dos mais variados níveis possam ter a oportunidade de divulgar os resultados dos seus trabalhos, a REHR tem recebido artigos, resenhas e resumos de diversas regiões e Instituições de Ensino Superior do Brasil. A significativa quantidade de trabalhos recebidos atesta o reconhecimento e a credibilidade conquistados em seus mais de dois anos de existência. A nossa mais recente conquista foi a qualificação da REHR pela CAPES (2009).
O esforço coletivo dos editores discentes, alunos do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH / UFGD), dos membros do Conselho Editorial e do Consultivo tem se configurado como basilar para a sustentação e desenvolvimento da Revista. Assim, sem mais delongas, apresentamos os trabalhos que corporificam a VI Edição da Revista História em Reflexão. Iniciando o Dossiê, em A Revolução Federalista (1893-1895): o contexto platino, as redes, os projetos e discursos construídos pela elite liberal-federalista, Marcus Vinicius da Costa ressalta o quanto se torna fundamental repensar a questão em torno de formação dos Estados-nacionais, do federalismo, das revoluções, enfim, repensar a história política da Região Platina. Assim, os objetivos do seu trabalho foram compreender os fundamentos que embasaram o discurso da elite liberal-federalista que comandou a Revolução de 1893-1895; o contexto histórico-político platino no final do século XIX, principalmente na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul; as redes formadas pelos grupos de oposição da Argentina (Radicais), do Uruguai (Blancos) e do Rio Grande do Sul (liberais-federalistas); e o discurso e o projeto político construídos pelos liberais-federalistas do Rio Grande do Sul, liderados por Gaspar Silveira Martins. O fundamento teórico no trabalho transita pela História Política e História Cultural, acrescido de um diálogo interdisciplinar.
A autora Lenir Gomes Ximenes, em seu artigo intitulado As Relações dos Índios Terena na Região Platina: imposições e alternativas, apresenta alguns resultados da pesquisa “Os índios Terena de Buriti e o Estado brasileiro”, em andamento no programa de Mestrado em História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Para sua composição foram consultados documentos, como relatórios de presidentes de província, perícia histórica e antropológica; além da bibliografia historiográfica e antropológica do tema. O espaço no qual se insere o estudo é a Bacia Platina, mais especificamente o Pantanal (situado no Brasil, nos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul), e seu prolongamento: o Chaco, que abrange a Argentina, o Paraguai e a Bolívia. O objetivo principal é compreender as relações dos índios Terena neste espaço (Chaco – Pantanal), com outros povos indígenas e com as frentes de colonização. O recorte temporal está centrado nos séculos XVIII e XIX. No entanto, é preciso antes analisar como foi construída a noção que atribui a origem dos Terena ao Chaco paraguaio.
O trabalho de Valéria Dorneles Fernandes, Escravização de Pessoas Livres na Fronteira Brasil-Uruguai: Pelotas (1850-1866) discute que em meados do século XIX, a recém estabelecida República do Uruguai proíbe a escravidão em seu solo. Esta decisão entra em choque com os interesses do Império brasileiro, sobretudo dos senhores de escravos da região Sul. Por conseqüência disso, chegam à polícia da província do Rio Grande denúncias do rapto em solo uruguaio de negros libertos ou nascidos livres, que são vítimas do tráfico de escravos na fronteira e vendidos ilegalmente no Brasil. As denúncias dão início a inquéritos e processos criminais para averiguar os fatos. Assim, seu artigo visa analisar os processos criminais referentes a estes crimes, ocorridos na cidade de Pelotas entre os anos 1850 e 1866.
Luciano Morais Melo, no artigo Fiel da Balança: o Paraguai e a disputa pelos recursos das águas platinas entre Brasil e Argentina (1954-1979) objetiva fazer uma análise do papel representado pelo Paraguai na disputa pelos recursos das águas dos rios da Bacia do Prata entre Brasil e Argentina no período de 1954 a 1979. Através de uma diplomacia pendular, o Paraguai soube tirar enormes proveitos da rivalidade entre os dois grandes vizinhos, atuando como verdadeiro moderador no equilíbrio pelo poder na Bacia do Prata.
Em O Poder Legalizado no Processo de Formação das Fronteiras Econômica e Demográfica no Sul do Estado de Mato Grosso (décadas de 1960-70), o pesquisador Nataniél Dal Moro procura explicitar algumas das ações empreendidas pelo poder legalizado, sobretudo via governo federal, notadamente nas décadas de 1960 e de 1970, para integrar o oeste ao leste do Brasil. Essa integração foi bastante ampla, entretanto, o texto aborda com maior ênfase as integrações econômicas e demográficas.
O autor Luiz Eduardo Pinto Barros no artigo A Dinâmica das Relações de Brasil e Paraguai Sobre a Questão Fronteiriça (década de 1960), ressalta que desde o final da década de 1930 e início dos anos de 1940 o Brasil desenvolveu uma política de busca de aproximação com o Paraguai. Essa aproximação se consolidou com o estabelecimento da ditadura de Stroessner no Paraguai. Mas em meados da década de 1960 já sob a ditadura militar, o governo brasileiro enviou soldados para a região das Sete Quedas, próxima a fronteira com o Paraguai, o que causou um período de tensão entre os dois países. O impasse sobre Sete Quedas foi um caso isolado no histórico das relações de Brasil e Paraguai durante o século XX, mas foi um marco nas negociações que resultaram no acordo para a construção de uma usina hidrelétrica administrada por ambos os países, sendo este o maior tratado político e econômico na história da diplomacia entre Brasil e Paraguai.
Encerrando o Dossiê, Paulo Roberto Cimó Queiroz nos brinda com seu instigante trabalho intitulado O Desafio do Espaço Platino às Tendências de Integração do Antigo Sul de Mato Grosso ao Mercado Nacional Brasileiro: um hiato em dois tempos. O autor discute que o espaço correspondente ao atual estado brasileiro de Mato Grosso do Sul foi incorporado no século XVI aos circuitos do Paraguai colonial, mas já no século XVII, no contexto que S. B. de Holanda denomina refluxo assuncenho, a presença espanhola foi sendo substituída pela luso-brasileira, passando portanto essa região a vincular-se, ainda que de modo inicialmente tênue, ao sudeste da América portuguesa. Em meados do século XIX, com a liberação da navegação brasileira pelo rio Paraguai, essa região voltou, de certo modo, a fazer parte do espaço platino. Nesta perspectiva, o trabalho busca evidenciar que, a despeito das notáveis mudanças induzidas pela livre navegação, esse último período de vinculação ao espaço platino constituiu, na verdade, uma espécie de “hiato”, no interior do processo mais longo representado pela vinculação com o mercado nacional brasileiro.
Na sessão de artigos livres, o professor Alexander Martins Vianna em seu artigo A Desfiguração do Corpo Político em “Ricardo III”, pretende demonstrar o quanto que a materialidade textual do Q1(1597) da peça “Ricardo III” expressa, como tese moral, que a segurança da ordem pública tradicional emergiria se as autoridades patriarcais das grandes casas do reino fossem fortalecidas em cooperação com a autoridade régia. Para tanto, os grandes do reino deveriam abrir mão das vinganças privadas e do faccionismo político, reconhecer a dignidade régia como a encarnação institucional da justiça soberana e das leis civis, assim como, aceitar o dever de adequação de seu comportamento particular aos atributos das dignidades sociais e institucionais que configuram os vínculos de reciprocidade hierárquica do corpo político.
Andrea Dal Pra de Deus, no trabalho A Lei e o Rei na Hispania Tardo-Antiga: uma perspectiva da teoria política de Isidoro de Sevilha (Hispania, século VII), enfatiza que durante o período Tardo Antigo da Península Ibérica, os esforços para se estruturar a instituição monárquica enquanto unidade político-administrativa estiveram passo a passo com a regulamentação jurídica da sociedade política. Um expoente em termos de teorias políticas do período foi, sem dúvida, o bispo Isidoro de Sevilha. Na sua obra Sentenças, dirige três volumes à instrução moral da sociedade política hispano-visigoda do sétimo século. Isidoro de Sevilha vincula o soberano à lei, delimitando que o exercício do poder apenas é garantido ao rei se este guia-se pela justiça e observa os preceitos cristãos.
O pesquisador Francivaldo Alves Nunes em seu artigo intitulado Entre a Agricultura e a Civilização: terra, matas e povoamento no Pará Oitocentista, se propõe a discutir os variados significados da agricultura no Pará das últimas décadas do século XIX; evidenciando que além de uma questão de consumo e produção, a criação dos núcleos agrícolas na região Bragantina, a exemplo da Colônia de Benevides, foi também motivada por preocupações civilizatórias marcadas por um incentivo do Estado para um melhor aproveitamento da terra, do exercício de domínio das matas, promoção do povoamento; e igualmente disciplinarização dos sujeitos sociais envolvidos na construção desse espaço. Assim, destaca que o fomento à produção, reformas das técnicas agrícolas, intensificação dos sistemas de cultivo e aumento da produtividade são diretrizes recorrentes nos projetos de reformulação da agricultura desenvolvidos no Brasil no período imperial. Esses projetos objetivavam estimular a produção agrícola, seja para maior equilíbrio entre os volumes de importação e exportação, seja para atender as demandas do mercado interno. A criação dos núcleos coloniais constituiu-se em ações governamentais que buscavam atender essas demandas relacionadas à produção e consumo. Atribuía-se assim a agricultura uma dimensão econômica, mas também civilizatória.
No trabalho Michel Foucault: uma crítica historiográfica em a Arqueologia do Saber, Eduardo de Melo Salgueiro busca realizar uma análise sobre as principais críticas apontadas pelo filósofo francês Michel Foucault em sua obra A Arqueologia do Saber, publicada em 1969, de onde repercutiu algumas das mais ácidas criticas em relação às ciências humanas e conseqüentemente à historiografia no século XX. Para isso, apresenta de maneira sucinta ao leitor como se deu a trajetória da vida acadêmica desse intelectual francês, expondo as principais características da obra do autor e a importância de suas análises no âmbito das Ciências Humanas.
Em O Historiador Max Weber: a indologia weberiana frente ao historicismo alemão, o autor Arilson Silva de Oliveira explicita que Max Weber se apropriou das exigências metodológicas do historicismo alemão contra toda filosofia iluminista natural e toda filosofia idealista da história. Ele as depurou no intuito de evitar as conclusões do romantismo e dos desvios psicologistas do neo-historicismo. Neste sentido, analisa como ele muniu-se de um método particular, resgatou a racionalidade e a utilizou como parâmetro para compreender historicamente a sociedade indiana frente ao historicismo desencantado de sua época.
Cara ou Coroa? Um jogo entre a teoria das ações de Certeau e a das masculinidades de Connell, de Fernando Bagiotto Botton, em um tom expressamente ensaístico, busca aproximar e ao mesmo tempo confrontar a teoria das ações do teórico francês Michel de Certeau com a teoria das masculinidades do pesquisador australiano Robert Connell. Através desse exercício pretende trazer algumas contribuições teóricas para o estudo das masculinidades nas Ciências Humanas.
Manoel Pereira de Macedo Neto contribui significativamente com seu artigo intitulado Parâmetros Curriculares Nacionais de História: desafios e possibilidades da história ensinada na Educação Básica. Sua proposta é fazer uma análise sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Ensino de História. Para a realização do trabalho, discutiu os PCNs de História, o contexto de sua elaboração, a sua proposta de trabalhar a História a partir de eixos temáticos e a relação entre a História ensinada e a construção da cidadania. Nesse sentido, observou que os PCNs propõem o ensino de História, a partir de eixos temáticos, comprometido com o exercício da cidadania e com a construção de uma sociedade plural e democrática. Contudo, a falta de um maior envolvimento da sociedade na elaboração do documento tem dificultado a concretização dessa proposta.
A autora Alexandra do Nascimento Aguiar, no trabalho A Incapacidade e o Mérito: considerações sobre o direito ao voto (1860 – 1880) pretendeu reconstituir as falas favoráveis e contrárias à seleção do eleitorado e que culminaram na Lei Saraiva em 1881, cuja proibição do direito de voto para o analfabeto foi responsável pela redução do eleitorado para 1% da população brasileira. Nesta perspectiva, discute que entre os anos 1860 e 1880 surgiram publicações e ocorreram debates em defesa da restrição à participação eleitoral sob a justificativa da necessidade de aperfeiçoamento do sistema representativo.
Os pesquisadores Rodrigo Fontanari e Pedro Geraldo Tosi, no artigo Grandes Elites e Pequenas Cidades: hierarquia mercantil e urbana no complexo cafeeiro paulista (1890- 1914) procuraram analisar as relações entre as formas de acumulação de capitais na cafeicultura, intimamente vinculadas à atividade creditícia, e a urbanização em um município paulista: Santa Cruz das Palmeiras, no período de 1890 a 1914. O trabalho baseia-se em recentes pesquisas na área da história econômica que visa à dinâmica da economia e o manuseio de fontes documentais ainda pouco estudadas, dentre as quais os Livros Cartoriais, principalmente as dívidas hipotecárias e os penhores agrícolas. Todavia, explicitam-se como as formas de financiamento interferiram no processo de urbanização, pois as elites centralizavam cifras consideráveis de capitais, reinvestiam-nos em grandes cidades e, ainda, não pagavam os impostos locais.
Fechando a sessão de artigos livres, Thiago do Nascimento Torres de Paula em O Destino dos Filhos de Ninguém: os expostos-adultos da Freguesia de Nª Srª da Apresentação Setecentista, ressalta que seu trabalho é parte de uma pesquisa sobre crianças expostas (abandonadas) na Freguesia de Nª Srª da Apresentação, na Capitania do Rio Grande do Norte, na segunda metade do século XVIII. O objetivo é analisar como a sociedade da freguesia em seu cotidiano construiu espaços de vivência para os adultos que um dia foram enjeitados. Os assentos de batismo foram as fontes utilizadas. Os procedimentos adotados nesta documentação foram: transcrição, fichamento e quantificação. Quantificaram-se os seguintes elementos: naturalidade, gênero, condições de legitimidade dos filhos e os locais de abandono dos tais adultos quando recém-nascidos. A partir daí, o autor observou a presença “regular” dos “protagonistas anônimos” da história em meio à comunidade.
Dando prosseguimento, tivemos a satisfação de fazer uma entrevista com o Prof. Dr. Antonio Jacó Brand (UCDB), que gentilmente se disponibilizou em responder algumas perguntas sobre a sua trajetória de vida profissional, como historiador e indigenista. A sua narrativa é muito interessante, tendo em vista que se tornou uma referência nacional para os estudos sobre os povos indígenas, sobretudo, em relação às etnias Guarani e Kaiowá. Em sua fala, faz observações face a denominada História Indígena, sobre os estudos e pesquisas em relação aos índios de Mato Grosso do Sul, a questão dos direitos e reivindicações desses agentes para a identificação de territórios tradicionais e a função relevante dos pesquisadores e Universidades nesse processo, sobre as ações de grupos ligados a instituições religiosas junto as populações indígenas, a origem e aplicação do conceito de confinamento e as análises críticas de que tem sido alvo nos últimos anos, e em relação as temáticas que vem se dedicando a estudar. Anterior a entrevista, o Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira (UFGD), a quem agradecemos pela gentileza, em Autor, obra e meio: a apresentação de etno-historiador, apresenta aos leitores de forma emocionante e com muita propriedade o professor Antonio Jacó Brand.
Nesta edição, contamos com as seguintes resenhas: Os Dentes Falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII, de Robert Darnton, resenhada por Diogo da Silva Roiz. O autor José Antonio Fernandes nos apresentou a resenha da obra Dourados: memórias e representações de 1964, de Suzana Arakaki; e por fim, a resenha do livro A Misteriosa Chama da Rainha Loana: romance ilustrado, de Umberto Eco, escrita por Lenita Maria Rodrigues.
Encerrando a apresentação dos trabalhos que compõem a VI Edição da REHR, apresentamos ainda dois trabalhos. A Profª. Drª. Graciela Chamorro, em Contribuições para a História Indígena Contemporânea organizou e apresentou alguns trabalhos resenhados, sendo eles heterogêneos e de diversos níveis. Ao apresentá-los, chama a atenção para a pertinência das temáticas tratadas, das metodologias e das fontes utilizadas; para a atualidade das questões que orientaram as pesquisas e para a riqueza dos dados coletados.
Adiante, a acadêmica Regiane Francisca Barbosa, vencedora do Concurso de Redação em comemoração aos 36 anos do Curso de História de Dourados (UFMS / UFGD), em sua redação intitulada O Aluno do Curso de História na Sociedade Sul-Mato-Grossense, descreve em sua visão alguns apontamentos relevantes sobre os estudantes (e futuros docentes) e o curso de História perante a sociedade Sul-Mato-Grossense. No decorrer do ano de 2009 foram realizadas diversas atividades alusivas a essa comemoração na Faculdade de Ciências Humanas da UFGD. O referido concurso foi iniciativa do Centro Acadêmico de História de Dourados (CAHISD) em parceria com os docentes do Curso e com a REHR. Nesta direção, entendemos que o nosso Periódico deva ser um elo entre toda a comunidade acadêmica, nos seus mais diversos níveis, também abrindo espaços para a publicação de textos desse gênero.
Fiquem a vontade para se aventurar no universo das palavras! Desejamos a todos ótimas e prazerosas leituras.
Fabiano Coelho
Carlos Barros Gonçalves
(Editores)
Dourados – MS, Primavera de 2009.
COELHO, Fabiano; GONÇALVES, Carlos Barros. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.3, n.6, jul. / dez., 2009. Acessar publicação original [DR]
História, Produção Intelectual e Cultura Material / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2008
A IV Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão apresenta o Dossiê História, Produção Intelectual e Cultura Material. Trata-se de uma homenagem a VI Semana de História “História, Memória e Produção Intelectual”, realizada entre os dias 27 a 30 de novembro de 2007, na Universidade Federal da Grande Dourados, sob a coordenação de discentes do Programa de Mestrado em História.
O Evento contou com a participação de pesquisadores de várias instituições de MS e Estados vizinhos, além dos professores ligados ao Ensino Básico. A VI Semana de História teve, entre outros objetivos, o debate das dificuldades encontradas na divulgação das pesquisas e estudos realizados no âmbito das Ciências Humanas e as relações entre os órgãos de fomento e as instituições de pesquisa.
Além disso, o Evento visou proporcionar espaço aos graduandos, pós-graduandos e docentes da UFGD para a apresentação / divulgação de pesquisas e estudos em andamento e concluídas, tendo em vista debater as dificuldades encontradas na realização e / ou divulgação dos conhecimentos. Quando se fala em produção de conhecimento, quase sempre se refere à construção de saberes registrada sob a forma escrita. Nos meios acadêmicos essa é, ao mesmo tempo, uma exigência das agências de fomento e uma forma de controle institucional de produção. Se isto só não bastasse, por sermos avaliados pelo que produzimos, nos tornamos “pessoas-produtos”. O próprio jogo institucional nos ordena em pesquisadores melhores e piores, medíocres e brilhantes, nos distribui em níveis hierárquicos sob siglas bem definidas pelas agências de fomento. Passamos a nos olhar com a discriminação que tais classificações acabam por engendrar. Separamo-nos assim, arrogantemente, uns dos outros, dentro do castelo que habitamos (Regina Maria de Souza, 2008, anped.org.br).
Diante dos dilemas e angústias que perpassam o cotidiano dos “produtores de conhecimento”, da difícil tarefa de encontrar palavras adequadas para dar forma aos conhecimentos, a IV Edição da Revista Eletrônica História em Reflexão, mais do que oportunizar o espaço para a divulgação dos trabalhos, ora apresentados, objetiva contribuir para tornar menos frio e solitário a construção e divulgação dos saberes e, a partir de uma perspectiva de “cumplicidade científica” diminuir o “sinônimo” de pessoas produtos que de forma silenciosa e quase imperceptível espreita o dia-a-dia dos construtores de conhecimento.
O primeiro artigo, intitulado “Pintando o Brasil: artes plásticas e construção da identidade nacional (1816-1922)”, de autoria da professora Drª Giselle Martins Venâncio salienta que hoje é praticamente consensual a idéia de que é a prática de tombamento e preservação de bens culturais o que permite a construção da identidade nacional. Assim sendo, o presente texto busca investigar formas plásticas – particularmente a chamada arte do barroco mineiro, as pinturas históricas do século XIX e o modernismo – que, preservados em museus, tombados em seus locais de origem ou reproduzidos em livros e / ou obras didáticas, contribuíram para plasmar imagens de uma memória nacional e para a consolidação da idéia de nação no Brasil.
O autor Pablo Barbosa, em seu texto “Saberes antropológicos e práticas coloniais em Portugal entre 1933 e 1974”, relata que a institucionalização do Estado Novo Português, em 1933, possibilitou, por um lado, que as técnicas etnográficas fossem reapropriadas pelos funcionários coloniais e, por outro, que o saber etnológico, como instrumento político, colaborasse na gestão das populações indígenas. Partindo de uma reflexão sobre a obra antropológica de Jorge Dias, procura analisar, em primeiro lugar, as convergências entre racionalidade científica e racionalidade administrativa dentro de um contexto colonial e em segundo lugar, estudar de que forma o saber antropológico conhece um duplo movimento de instrumentação e de legitimação dentro do universo político português entre 1933 e 1974.
No texto “As relações diplomáticas entre o Barão de Caxias, os Farroupilhas e os Governos Platinos e provincianos durante a Revolução Farroupilha” Jéferson Mendes destaca que durante a guerra contra os farroupilhas, o general e presidente da província do Rio Grande do Sul, Luiz Alves de Lima e Silva, o barão de Caixas, manteve intensa atividade diplomática, militar e administrativa. Assim, discute a correspondência e atividades diplomáticas de Caxias com lideranças do Prata, dos rebeldes e do governo imperial. As fontes que trabalha, se encontram no acervo do Núcleo de Documentação Histórica (NDH), do PPGH-UPF. Nelas ficam demonstradas as estratégias e táticas do barão para vencer os farroupilhas, os procedimentos para neutralizar o apoio externo aos rebeldes e as alianças com líderes platinos.
Amanda Pinheiro Mancuso, em “A História Militar: notas sobre o desenvolvimento do campo e a contribuição da História Cultural” propõe um exercício de reflexão teórica sobre o papel da história militar e as críticas que lhe são freqüentemente dirigidas, articulando essas questões com as reflexões sobre a construção histórica empreendida pela História Cultural, de forma a mostrar que as fraquezas e vulnerabilidades que atingem a produção histórica militar são as mesmas a que está sujeita de maneira geral toda produção historiográfica. O objetivo da autora, não é redimir a história militar e sua produção oficial pelo caráter ideológico comumente incutido nessas produções, mas sim, tornar o leitor atento a essas características que são marcantes nas construções históricas oficiais em função do papel institucional que exercem, de forma a ultrapassar barreiras culturais que se colocam diante dos historiadores e que acabam reproduzindo visões essencializadas sobre “os militares” como categoria de análise.
Em “A religiosidade na dança: entre o sagrado e o profano”, Solange Pimentel Caldeira apresenta um breve histórico da presença da Dança no contexto do sagrado nas antigas civilizações até seu banimento da liturgia oficial da Igreja Católica. Enfoca a tradição dançante mantida nos guetos e a preservação, pela cultura popular, de algumas festas para Santos da Igreja Católica, que chegam ao Brasil vinculadas à questão da tradição herdada do processo de formação da sociedade brasileira, com suas variadas influências e contribuições, como as Festas Juninas, para São Pedro, Santo Antônio e São João, sempre com música e dança e a Festa-Dança de São Gonçalo, que acontece e se perpetua no espaço social e geográfico mineiro, como vivência religiosa-profana.
A professora Fabiane Tamara Rossi, no seu artigo intitulado “Aula de História com Zeca Baleiro: uso da música-canção como recurso didático no Ensino Médio” problematiza a música-canção como elemento utilitário ao Ensino e, mais especificamente, a obra musical de Zeca Baleiro enquanto provedora de temáticas para o ofício do professor de História do Ensino Médio. Para isso faz uso da obra do cantor (de 1997 a 2004), além de reportagens veiculadas na imprensa. Para correlacionar a música e o ensino embasou a pesquisa nos PCNs e Currículo Básico do Distrito Federal. Inicialmente discute a utilização da música enquanto recurso didático em sala de aula. Em seguida, problematiza o universo de referências de Zeca Baleiro, trazendo sugestões para a utilização de suas canções no ensino de História do Ensino Médio.
No texto “Dos Excessos Tropicais à Moderação dos Costumes: um debate sobre a idéia de processo civilizador na obra de Gilberto Freire”, Vanderlei Sebastião de Souza a partir da leitura das obras Casa-grande & Senzala e Sobrados e Mucambos, ambas publicadas por Gilberto Freyre na década de 1930, o objetiva discutir o modo como a idéia de processo civilizador, conforme o sentido desenvolvido por Norbert Elias, pode ser apreendida na interpretação que Gilberto Freyre lança em relação à sociedade e à cultura brasileira.
O artigo “Historiografia e História Cultural: representações de Capistrano de Abreu na historiografia brasileira”, da autora Ítala Byanca Morais da Silva, atenta para o fato de que Capistrano de Abreu, como muitos dos intelectuais que lhe foram contemporâneos, foi objeto de práticas deliberadas de construção da memória, sendo a criação da Sociedade Capistrano de Abreu (1927-1969) a materialização das aspirações dos “discípulos”, amigos e pares de Capistrano de Abreu em torná-lo um personagem memorável para a história da inteligência brasileira. Esta instituição passou por vários momentos representativos da produção historiográfica nacional, e em seus últimos anos de atividade foi dirigida pelo historiador José Honório Rodrigues. Dessa forma, objetiva discutir as representações construídas sobre Capistrano de Abreu por esta sociedade.
Em “Sebastianópolis, ou o Rio de Janeiro em vários tons” Stela de Castro Bichuette terá como foco de estudo a cidade do Rio de Janeiro, muitas vezes chamada de Sebastianópolis por Adelino Magalhães, o qual se desenvolverá tomando como ponto de partida a visão caleidoscópica que o autor tinha da então capital federal. Os contos de Adelino Magalhães trazem para o período do começo do século XX uma literatura de cunho mais social, buscando revelar uma cidade diferente da dos ideais republicanos de higienização, de ordem e de progresso, ou seja, de um modelo de Brasil moderno que a elite política pretendia naquele início de século.
O artigo “O Ciclo Produtivo de Hortelã no Oeste do Paraná: outras memórias”, do autor Gilson Backes, apresenta uma investigação em curso sobre experiências vividas por trabalhadores do ciclo produtivo de hortelã, migrados para o Oeste do Paraná durante as décadas de 1960 e 1970. Tal caminho demarca novos olhares sobre este espaço, valorizando as dinâmicas sócio-culturais processualizadas durante o período, a exemplo do aumento de alunos nas escolas. Este ponto de vista contribui no sentido de pensar e interagir com outras memórias produzidas e / ou que permanecem reelaboradas neste cotidiano, não obstante a insistência de silêncios. As narrativas orais são problematizadas na perspectiva de diálogo, aponta outras interpretações para uma compreensão mais ampliada deste espaço, por sua vez constituído por múltiplas relações, conflitos e temporalidades.
Lúcio De Franciscis dos Reis Piedade Filho, em seu texto “O imperialismo e a representação do Congo em Tintim na África”, discorre acerca do imperialismo em seus contextos histórico, econômico e social, e o impacto dessa política nos países do continente africano. O estudo recai sobre o Congo Belga, e a partir daí será abordada a representação do país em questão na história em quadrinhos Tintim na África. É apresentado, antes e sumariamente, a biografia do autor da obra, o belga Hergé, e o contexto histórico no qual ele se inseria. Na perspectiva do período tratado pela obra, a década de 30 do século XX, levou em consideração os seguintes aspectos: a supremacia do homem branco, os embates entre o colonizador e os colonizados, as missões cristãs “civilizadoras” e a exploração no Congo Belga.
No texto “Representações Femininas na Aristocracia da Florença do Quattrocento”, a autoraMaría Verónica Pérez Fallabrino, tem como objetivo analisar as representações femininas segundo como eram concebidas nos ambientes da alta aristocracia da Florença do século XV. A partir da estreita relação entre História e Literatura, o estudo apoiou-se em obras literárias produzidas por teóricos da época, resgatando através delas o ideal feminino exaltado e reproduzido entre os membros da elite florentina.
O professor Dr. José Adilçon Campigoto em seu artigo “O Código da Vinci e a produção da história na perspectiva hermenêutica”, discute sobre os métodos da hermenêutica e a proposta da interpretação filosófica de Hans-Georg Gadamer para historiadores a partir dos personagens da trama O Código da Vinci, de Dan Brown. Tenta-se descrever e classificar os modos de interpretação utilizados pelas figuras dramáticas diante da resolução de um acontecimento enigmático: o assassinato do curador do museu do Louvre, Jacques Saunière. A metodologia interpretativa utilizada pelo policial Bezu Fache é comparada aos procedimentos dos personagens historiadores, Langdon e Sir Leigh. A atitude interpretativa adotada pela protagonista Sophie compara-se à proposta da hermenêutica filosófica. Um contraponto aos métodos: contextual, psicológico e filológico.
Em “Plutarco e a tradição cultural grega no império”, a autora Maria Aparecida de Oliveira Silva ressalta que a permanência das práticas culturais gregas em plena época romana desperta o interesse dos estudiosos da Antigüidade, em especial daqueles que procuram compreender a natureza da Segunda Sofística. A despeito das dominações militar e econômica impostas aos gregos pelos romanos, esse movimento literário espelha o vigor e a excelência da tradição cultural grega, manifestada em sua literatura, capaz de superar tais barreiras. Por esse motivo, vários estudiosos atribuem à Segunda Sofística um caráter ideológico, no qual os autores gregos desse período escreveriam somente para a divulgação e a manutenção da política imperial. Assim, o artigo discorre sobre o quanto essa análise torna-se insuficiente no caso de Plutarco, uma vez que o intuito desse autor é demonstrar a contribuição grega na formação do Império.
No artigo intitulado “Cenas do Recôncavo: a decadência senhorial na literatura de Anna Ribeiro (1843-1930)”, Marcelo Souza Oliveira objetiva analisar a obra de Anna Ribeiro de Araújo Góes Bittencourt (1843-1930), em especial as produções da década de 1910. Um cruzamento entre os três contos e os romances produzidos nesse período, sobretudo Letícia (1908a), leva o autor a conclusão de que havia uma obsessão da escritora em contar a história da decadência da elite açucareira e escravocrata do Recôncavo baiano, numa perspectiva paternalista. As histórias, as personagens e até mesmo o ambiente que contextualiza as tramas são permeadas por estratégias simbólicas com as quais a autora buscava demonstrar a visão senhorial desse momento histórico.
Astor Weber em seu texto “Os Eyiguayegui-Mbayá-Guaicuru: o tratado de paz de 1791”, pretende mostrar as principais intenções do Governo Colonial português de tornar os indígenas Eyiguayegui-Mbayá-Guaicuru – que se localizavam na Capitania de Mato Grosso – em uma barreira fronteiriça física, objetivando evitar uma possível invasão espanhola àquela região. O Tratado de Paz elaborado em 1791 entre o Governo Colonial português e os indígenas é a fonte histórica analisada no sentido de tecer as reflexões nessa direção. O conteúdo do Tratado mostra que seu teor interessava aos dois lados, tanto aos índios quanto aos portugueses, pois havia a perda da hegemonia local e a aliança vinha no sentido de restabelecer algumas posições. No entanto, uma questão interessante desse episódio é que os indígenas não tinham como saber realmente o teor dessa aliança que ao passar do tempo se mostrou maléfica ao grupo, ocasionando seu declínio demográfico no século XIX.
O artigo “Um acervo de Arte Moderna e Contemporânea e a Identidade Institucional”, do autor Emerson Dionisio G. de Oliveira, procura compreender as narrativas produzidas pelo Museu de Arte de Santa Catarina sobre sua coleção dentro de um quadro mais amplo de difusão da Arte Moderna. Para tanto, constrói uma análise crítica do acervo na relação entre os sujeitos e as instituições, definidos, respectivamente, como doadores e obras doadas ou adquiridas. O museu em questão tornou-se ímpar para essa questão, na medida em que se transformou no mais bem-sucedido empreendimento de ampliação da arte moderna fora dos centros culturais hegemônicos nos anos 40.
No texto “D. João VI no Rio de Janeiro: preparando o novo cenário”, a autora Anelise Martinelli Borges Oliveira ressalta que a transmigração de d. João VI e sua corte para o território brasileiro, em 1808, acarretou várias transformações para a sociedade fluminense e para a corte lusitana. A imagem real foi aclamada e adorada por toda a cidade, conseqüência da representação legitimada na figura do príncipe regente. Assim, entende que tendo em vista remodelar o cenário fluminense, o monarca realiza mudanças nos espaços público e privado numa tentativa de enquadrar a cidade aos moldes europeus da época.
Andrey Minin Martin, no artigo “Terra, Trabalho e Família: considerações sobre a (re) criação do campesinato brasileiro nos movimentos sociais rurais”, apresenta algumas reflexões a respeito da construção da noção de campesinato ao longo das últimas décadas de pesquisa no campo das ciências humanas, abordando algumas de suas principais interpretações. Sem a preocupação de formular um constructo teórico-metodológico desta noção, no sentido de encerrar seu campo de possibilidades de apreensão das potencialidades existentes nas práticas dos sujeitos, buscou a partir das contribuições e da produção de alguns teóricos, apresentar questões que entende como norteadoras para o debate sobre o conceito de campesinato e de agricultura familiar.
Em parceria, Ione Aparecida Martins Castilho Pereira e Arno Alvarez Kern, no artigo “Missões Jesuíticas Coloniais: um estudo dos planos urbanos”salientam que o objetivo do trabalho está centrado no estudo sobre os planos urbanos das reduções Guarani, Chiquitos e Mojos, apontando semelhanças e diferenças, bem como o contexto em que se configuraram. Para tal, tomam por base os resultados das pesquisas realizadas nas missões Guarani sobre urbanidade, espaço e arqueologia, justamente por serem estudos mais diversificados em relação à temática das missões. Como ponto de partida, utilizaremos as plantas dos pueblos de São João Batista (no contexto dos sete povos das missões no Rio Grande do Sul), San José de Chiquitos e Concepción de Moxos (ambas em território Boliviano). Os autores relacionam estas imagens com produções bibliográficas sobre as reduções jesuíticas bolivianas, conhecidas até o presente momento, tendo em vista que este ainda é um assunto pouco conhecido, principalmente, devido à dispersão das fontes sobre as mesmas.
Em seu artigo intitulado “Apontamentos sobre Civilização e Violência em Norbert Elias”, a autora Tânia Regina Zimmermann apresenta discussões acerca dos estudos realizados pelo sociólogo Norbert Elias, a partir de alguns conceitos desenvolvidos por este autor. Civilização e violência são temas constantes e atuais para compreensão do movimento da história. Assim sendo, diferentes acepções e usos destes conceitos foram considerados pelo autor. Relacionam-se no artigo autores como Freud, Peter Gay e Alba Zaluar com Elias. Para Elias, o poder é uma característica de todas as relações humanas e está ligado ao grau de dependência entre os indivíduos seja pela força, pela necessidade econômica, de cura, status, carreira ou por excitação. É destas relações, se apoiando em Norbert Elias, que a autora salienta que são construídos os controles civilizacionais e da violência.
Na sessão de “entrevistas”, a Revista tem a satisfação de publicar uma entrevista com o professor e pesquisador brasilianista Robert Wilton Wilcox. O professor Robert nasceu no Canadá e trabalha, desde 1993 em uma universidade dos Estados Unidos: a Northern Kentucky University, situada em Highland Heights, Kentucky. É um nome conhecido e respeitado nos meios universitários brasileiros, e especialmente sul-matogrossenses, por seus trabalhos sobre a história de Mato Grosso / Mato Grosso do Sul. Fechando a IV Edição da Revista, estão as seguintes resenhas: do livro “Michel Foucault: uma história da governamentalidade” do autor Kleber Prado Filho, resenhado por Ana Claudia Ribas; a resenha feita por Diogo da Silva Roiz e André Dioney Fonseca do livro “A Redução de nuestra Señora de la Fe no Itatim: entre a cruz e a espada”, do autor Neimar Machado de Souza; do livro organizado por Celso Castro, intitulado “Amazônia e Defesa Nacional”, resenhado por Julio César da Silva Lopes; e por fim a resenha do livro “Etnohistorias del Isoso: Chane y Chiriguanos em el Chaco Boliviano (Siglos XVI a XX)”, resenhado por Roseline Mezacasa.
Desejamos a todos ótimas leituras!
Carlos Barros Gonçalves
Fabiano Coelho
(Editores)
Dourados – Primavera de 2008.
Carlos Barros Gonçalves
Fabiano Coelho
GONÇALVES, Carlos Barros; COELHO, Fabiano. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.2, n.4, jul. / dez., 2008. Acessar publicação original [DR]